Immanuel Kant – O conhecimento e a razão na perspectiva kantiana

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Immanuel Kant foi um grande filósofo iluminista nasceu em 22 de abril de 1924 em Konigsberg, Reino da Prússia, faleceu em 12 de fevereiro de 1804. O renomado autor alcançou destaque ao desenvolver uma síntese das teorias do conhecimento vigentes no século XVIII que eram opostas e se baseavam no racionalismo continental, fundamentado por autores como Descartes e Leibniz na qual imperava o raciocínio dedutivo e em oposição estava o empirismo inglês de Hume e Locke.

Veiga-Neto, 2002, apud Romagnoli, 2009, p.166, afirma

[…] Nessa proposta iluminista, o formalismo metodológico sustenta-se na neutralidade/objetividade, com forte mitificação da racionalidade. E o homem torna-se um ser basicamente racional, que usa sua capacidade unida a uma cuidadosa observação do mundo exterior, para a produção de conhecimento científico e o consequente domínio da natureza, tendo como meta abordar a natureza essencial das “coisas”, a partir da noção de verdade.

A partir de tais ideais Kant produziu uma nova perspectiva a respeito da metafísica. O saber maiêutico, ou seja, dado a luz por Immanuel foi de importante valia não só para sua época, mas para toda a modernidade, pois esse período histórico esteve fortemente vinculado ao renascimento da ciência.

A obra que será aqui explanada foi denominada pelo próprio autor de Revolução Copernicana Kantiana, pois faz uma alusão à revolução realizada por Copérnico que descentralizou a Terra do universo e passou a defender que esta girava em torno do sol e não o inverso como se defendia até então. Falar-se à de forma breve sobre o cenário científico da época bem como as principais influencias que motivaram o autor em sua composição critica. Por tanto, o objetivo deste trabalho é uma breve apresentação da teoria crítica de Kant. 


 Fonte: http://www.christianhumanist.org

 O LUGAR DA RAZÃO NA TEORIA KANTIANA

A filosofia teve um grande marco no século XVIII, com o filósofo iluminista Emanuel Kant (1724-1804) conforme foi supracitado. Este, influenciado por três correntes científicas, pela física (Newton), pelo racionalismo (Leibniz e Descartes), e pelo empirismo (Hume), desvencilha do aristotelismo por meio das teorias supracitadas como a de Newton, Copérnico, Bacon, e de filosofias como a de Descartes, Leibniz, Locke e Hume.

 Ele faz uma síntese das então teorias do conhecimento, mantendo elementos das duas teorias antitéticas que são o racionalismo e o empirismo, e coloca outro elemento criando uma teoria cujo objetivo era superar a contradição existente e solucionar a não abrangência dos fenômenos.  Assim, enquanto os racionalistas desconsideravam completamente a experiência do sujeito na aquisição do conhecimento, e os empiristas defendiam que a experiência é inerente ao processo e a origem do conhecimento humano, Kant, segundo Deleuze (1963) coloca como principio a necessidade de o objeto se submeter ao sujeito.

Segundo Ferreira (2012), Kant realiza uma mudança na direção de ajuste das extremidades da cognição, deslocando o sujeito, mais especificamente a razão para o polo central. Então, se outrora era o indivíduo que deveria se ajustar ao objeto e um conhecimento verdadeiro era o que mais se aproximava da descrição do objeto externo, agora nessa nova perspectiva para que o conhecimento se dê o objeto é que deve ser regulado pelas capacidades cognitivas do sujeito.

Emanuel baseia-se na revolução Copernicana, marcada pela ruptura de uma visão de mundo alterando o entendimento entre o homem e o universo. Copérnico revolucionou ao defender a ideia de que o Sol era o centro do Universo e não a Terra como se acreditará até então. Tanto na Teoria de Conhecimento de Copérnico, como na teoria de Kant, observa-se uma similitude entre ambas. Como afirma o autor em sua obra Critica da Razão pura

[…] que os objetos se deveriam regular pelo nosso conhecimento, o que assim já concorda melhor com o que desejamos, a saber, a possibilidade de um conhecimento antecipado desses objetos, que estabeleça algo sobre eles antes nos serem dados. Trata-se aqui de uma semelhança com a primeira ideia de Copérnico (KANT, 2001, apud BATTISTI, 2013, p.39).

Sobre a revolução copernicana, Deleuze (1963) explicita que o racionalismo dogmático, na teoria do conhecimento se fundava na ideia de correspondência entre o sujeito e o objeto, tratava-se de um acordo entre a ordem das ideias e a ordem das coisas. Tal acordo tinha dois aspectos, implicava em si mesmo uma finalidade; e exigia um princípio teológico como fonte e garantia dessa finalidade. E numa perspectiva muito diferente, o empirismo de Hume questiona os pressupostos da metafisica afirmando acriticamente a capacidade humana de explicar a essência das coisas do mundo, Hume era direcionado a invocar explicitamente uma harmonia preestabelecida.

Ainda segundo o autor supracitado, a ideia fundamental de que Kant denomina a sua revolução copernicana consiste em substituir a ideia de uma harmonia entre o sujeito e o objeto pelo princípio de uma submissão necessária do objeto ao sujeito. Em sua perspectiva o conhecimento humano reside no próprio homem e não nas coisas que ele julga conhecer. Defendendo então que, a única forma de produzir conhecimento válido é restringir-se ao campo dos fenômenos, ou seja, o acesso às coisas tais como se apresentam para o individuo. A descoberta essencial é que a faculdade de conhecer é legisladora ou, mais precisamente, que há algo de legislador na faculdade de conhecer. Para Kant é a razão que faz as regras, estudando os limites da própria razão.

Kant queria demonstrar que há um mundo externo. Em que não há dúvidas sobre sua existência. Então deve- se ser capaz de dizer quando e por quanto tempo ele existe. Em relação com a consciência, que parece estar em constantes mudanças de pensamentos, e sensações. O “agora” é utilizado para dizer o que se acontece neste momento na consciência. Mas, “agora” não significa uma data ou um tempo determinada, então sempre que se diz “agora” muda-se a consciência. “…para que algo exista, deve ser determinável no tempo, isto é, devemos ser capazes de dizer quando ele existe e por quanto tempo” (BURNHAM; BUCKINGHAM, 2011 p.166).

Kant também investigou como a ciência entendia o mundo exterior. Ele se impressionava com a evolução da ciência. Kant junto com outros filósofos, indagava-se sobre o que era feito de maneira correta sobre a pesquisa científica. Os empiristas afirmaram que o recente sucesso da ciência se devia ao fato de os cientistas dedicarem muito mais cuidado as observações sobre o mundo do que tinha sido previamente também pelo fato de fazerem menos suposições injustificadas baseadas apenas na razão. “…todo o conhecimento provém da experiência dos sentidos, em outras palavras nada é priori… embora uma folha de árvore mude de verde para marrom, e finalmente caia da árvore, ainda é a mesma árvore”. (BURNHAM; BUCKINGHAM, 2011 p.169).

Kant argumenta a nossa experiência de mundo envolvendo dois elementos, a sensibilidade, capacidade de experimentas coisas específicas no espaço e no tempo, essa experiência direta o qual denomina “intuição”, o outro é o “entendimento”, capacidade de ter e usar conceitos. Burnham e  Buckingham (2011), o conceito caracteriza uma experiência indireta com os objetos do mundo externo. Dessa forma, sem conceito não saberíamos da nossa intuição/sensibilidade para tais coisas, e sem a intuição não saberíamos da existência das coisas que foram conceituadas.

Fonte: http://www.notapositiva.com/pt/trbestbs/filosofia/11_as_teorias_do_conhecimento_d.htm

Na sensibilidade está a intuição de uma coisa particular no espaço e no tempo, no entendimento está o conceito de “coisa” tal como o conheci empiricamente e o conceito de coisa como substância que possui um significado geral. Vários Autores, (2011), Logo a intuição e conceito de algum objeto são empíricos, pois como o sujeito poderia saber qualquer coisa a respeito de um objeto sem ter interagido com eles no mundo.

Porém a intuição de espaço e tempo e o conceito de substância são apriorístico, ou seja, é conhecido isolado de qualquer experiência empírica. Dessa forma o conceito de substância é uma precondição para a experiência.

A reflexão kantiana sobre o espaço é específica do seu tempo, circunscrita em um contexto de intensas discussões filosóficas para saber se o espaço é a condição da possibilidade da existência das coisas espaciais ou se é a consequência da relação entre as coisas espaciais, dito de forma mais clara, é uma discussão sobre a concepção de espaço absoluto e relativo. A existência do espaço e da extensão depende necessariamente das forças que as substâncias possuem para estabelecer relações fora de si, e mais, sem força não haveria enlace, sem enlace não haveria ordem, e, por fim, sem ordem, não haveria espaço. Nessa perspectiva, o espaço é concebido como um sistema de relações entre as coisas espaciais que estabelecem relações fora de si, impulsionadas por suas forças, em outras palavras, a estrutura do espaço dependerá da lei que regula as forças próprias de cada coisa espacial. “Para Kant, o espaço não uma substância, mas, sim, o fenômeno da ação dinâmica de uma substância sobre outra, e sua divisão ao infinito não implica na corruptibilidade da unidade constitucional dos corpos simples” (ROSSET, 2014, p. s/n).

Contribuições de Kant 

Partindo desse pressuposto, o autor – segundo Figueiredo (1991) – afirma de um lado não acreditar na capacidade de o homem conhecer a verdade absoluta das coisas em si, de outro toda a questão do conhecimento é radicalmente colocada em termos subjetivos, pois tudo que é conhecível repousa na subjetividade humana, e tal subjetividade não é particular de cada indivíduo, é a subjetividade transcendental e universal do Homem.

Os argumentos de Kant mostram que o espaço é uma intuição a priori, para conhecer algo externo ao sujeito, é preciso conhecer que existe um mundo externo a ele, para isso faz-se necessário conhecer o que significa o externo a ele. Esse conceito traz uma implicação admirável, pois se o espaço é a priori não pertence às coisas do mundo em si.

Então, uma coisa em si, separada da nossa sensibilidade e exterior a nossa mente pode não ter nada haver com o espaço. Burnham e  Buckingham (2011), ao dedicar-se a provar a existência de conceitos a priori Immanuel distingue dois tipos de alteração, variação que diz respeito às propriedades que as coisas têm exemplo a cor de um camaleão, e a mudança que diz respeito a alteração de cor do mesmo camaleão. Nessa perspectiva, a substância muda e suas propriedades sofrem variação.

Kant inicia a ideia de “idealismo transcendental”, ele definiu que espaço, tempo e alguns conceitos são característica do mundo que experimentamos, o qual denominou mundo dos fenômenos, e paralelamente pontua as características do mundo em si que estão desassociados da experiência dos sentidos o qual denomina mundo numênico.

Fonte: http://divagacoesligeiras.blogs.sapo.pt/immanuel-kant-22-de-abril-de-1724-12-490050

As arguições a respeito do conhecimento a priori apresentadas por Immanuel destacam consequências positivas e negativas, a positiva é que a natureza a priori de tempo espaço e alguns conceitos torna possível a experiência de mundo, espaço e tempo proporcionam a experiência matemática na natureza, podendo medi-la conforme valores conhecidos. Vários Autores, (2011), o conceito a priori como substância permite fazer perguntas sobre a natureza, tal como se é uma substância e que propriedades existem de acordo com quais leis. O idealismo transcendental permite que a experiência empírica seja considerada útil para a ciência. Do lado negativo, certos tipos de pensamento, se nomeiam ciência e até parecem ciência mas falham totalmente. Isso acontece porque aplicam a coisas em si intuições como de espaço, tempo e substância, o que é válido para a experiência empírica porém não tem validade para as coisas em si.

A partir do estudo desenvolvido no presente trabalho pode-se destacar em um contexto geral a relevância da composição de tais autores como Kant para o acumulo do conhecimento científico. E em um contexto específico, sistematizado nas ciências humanas como a Psicologia, a teoria Kantiana manifesta-se precursora do que atualmente compreende-se como subjetividade.

Referências

BATTISTI, F. A revolução copernicana kantiana como metáfora para se pensar a construção da autonomia do sujeito que aprende. URIAUM. Frederico Westphalen, 2013.

BURNHAM, Douglas.; BUCKINHAM, Will. O livro da Filosofia. Editora Globo, São Paulo, SP, 2011.

DELEUZE, G. Filosofia Crítica de Kant. Edições 70. Lisboa, 1963.

FERREIRA, A. Kant e a Revolução Copernicana do Conhecimento: uma Introdução. Existência e Arte. Revista Eletrônica do Grupo PET. Ciências Humanas, Estética da Universidade Federal de São João Del-Rei. Ano viii. Número vii, 2012.

ROMAGNOLI, R. C. A cartografia e a relação pesquisa e vida. Psicologia & Sociedade; 21 (2): p. 166-173. Belo Horizonte, 2009.

ROSSET, L. O Problema da natureza do espaço em Kant. Rev. Paradigmas. Ed.09. São Paulo, 2014.