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Megamente e o sentido da vida

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O filme Megamente (2010) pode ser lido como uma metáfora sobre a busca pelo sentido da vida, fenômeno estudado pela Logoterapia de Viktor Frankl. A trama acompanha um personagem que, desde a infância, foi colocado no lugar de vilão por causa das circunstâncias que o rodeavam: sua aparência, a exclusão, rejeição e a imposição de papéis sociais. Essa experiência remete ao que Frankl (2011) afirma sobre a condição existencial, ainda que a liberdade humana seja limitada pelas circunstâncias, sempre permanece uma margem para a escolha de atitude diante delas.

Ao assumir para si a identidade de vilão, Megamente encontra, num primeiro momento, um sentido para a sua vida. Para Frankl (2008), não existe ser humano que não esteja em busca de significado, mesmo quando este parece distorcido, ainda assim cumpre a função de orientar a existência. O personagem vive como se o conflito com Metro Man fosse sua razão de ser. No entanto, quando finalmente vence o adversário e conquista a cidade, o sentido que o sustentava desaparece. Essa situação pode ser interpretada a partir do conceito de vazio existencial, descrito por Frankl (2011) como a sensação de falta de propósito que emerge quando os antigos referenciais de vida deixam de cumprir sua função.

A narrativa mostra, então, um processo de ressignificação. Diante do vazio, Megamente se vê forçado a repensar sua trajetória. É nesse momento que se abre a possibilidade de assumir um novo papel: o de herói. Essa mudança revela um outro aspecto da Logoterapia: o sentido da vida não é algo estático, mas dinâmico, mutável conforme o contexto e a atitude da pessoa (Frankl, 2005). Ao escolher proteger a cidade, Megamente transforma a sua história pregressa e encontra uma nova forma de viver.

O aspecto mais marcante é que o sentido encontrado não se reduz à realização pessoal, mas se volta para algo maior: a relação com a cidade e com os outros. Frankl (2005) destaca que o sentido da vida se manifesta em três vias: pela realização de uma obra, pela experiência de valores e pelo enfrentamento do sofrimento inevitável. No caso de Megamente, a escolha de se tornar herói reflete a via da realização de algo significativo que ultrapassa o próprio ego. Sua decisão rompe com o ciclo de vazio e exclusão e abre caminho para uma vida orientada pela contribuição ao coletivo, mostrando que há possibilidade de ressignificar o passado e encontrar novos sentidos, mesmo depois de caminhos marcados por dor ou rótulos sociais. Frankl (2008) lembra que “quem tem um porquê, enfrenta quase qualquer como”, e a trajetória desse anti-herói que se torna herói dá corpo a essa máxima.

O filme simboliza, portanto, a condição existencial de todo ser que busca razões para existir. Embora seja um alienígena, a trajetória de Megamente reflete dilemas tipicamente humanos: a imposição de rótulos sociais, a experiência do vazio, a necessidade de ressignificação e a liberdade de escolher novos caminhos. Frankl (2011) argumenta que a vida sempre possui sentido, independentemente das circunstâncias, e cabe ao indivíduo descobri-lo.

FICHA TÉCNICA

Título original: Megamind

Ano: 2010

País: Estados Unidos

Gênero: Animação, Comédia, Aventura, Super-herói

Duração: 95 minutos

Classificação indicativa: Livre

Produção

Direção: Tom McGrath

Produção: Lara Breay, Denise Nolan Cascino

Roteiro: Alan J. Schoolcraft, Brent Simons

Estúdio: DreamWorks Animation

Distribuição: Paramount Pictures

 

 

Referências

FRANKL, V. E. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. 35. ed. Petrópolis: Vozes, 2011.

FRANKL, V. E. Psicoterapia e sentido da vida. 6. ed. São Paulo: Quadrante, 2005.

FRANKL, V. E. A vontade de sentido. 3. ed. São Paulo: Paulus, 2008.

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