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O Cortiço e o reforço do racismo

O livro “O Cortiço” feito por Aluísio de Azevedo foi produzido em uma época na qual uma corrente literária conhecida como Naturalismo estava em seu apogeu. Ambientado nas moradias precárias e insalubres da capital do Rio de Janeiro no ano de 1890, a obra narra a ascensão social de João Romão, protagonista ambicioso e muitas vezes demonstrando uma conduta egoísta. 

João Romão é dono de pequenas propriedades, inclusive do próprio cortiço em que mora, o que proporciona a ele uma renda maior do que os moradores locais, pois estes são explorados por ele para manter sua riqueza. O clímax da trama se inicia pela rivalidade que este protagonista cria com seu vizinho, conhecido como Miranda, no qual apresenta maior status social por estar incluso na classe burguesa. Este, por sua vez, frequenta lugares e consome conteúdos da burguesia, como teatro, cinema, restaurantes e artes voltados para esta classe.

Fonte: Google Imagens

 

João Romão cobiçava sua posição assim como a facilidade dele em frequentar tais lugares e consumir tais conteúdos, mas mesmo enriquecendo, não conseguia. Fica perceptível ao decorrer da história as características dessa corrente literária, como a animalização dos personagens na descrição do autor assim como a tese de que o homem é produto do meio. Ou seja, o meio no qual o ser humano está inserido faz com que ele molde suas vontades, anseios, personalidade e comportamentos para se inserir naquele lugar, para pertencer a um grupo, uma comunidade. 

Fonte: Google Imagens

 

João Romão começa a planejar o casamento com a filha de Miranda, mas mantém uma amante que vive em subalternidade, trabalhando incessamente para ele e o protagonista tenta se livrar dela para enfim se casar com a filha do seu rival e enfim adquirir a posição social tão almejada. A partir disso é possível inferir que essa história tem inúmeras problemáticas, mesmo sendo um clássico da literatura nacional.

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No decorrer da leitura desse romance, percebe-se que há um viés muito racista e carregado de preconceitos sobre a população negra, como por exemplo, o uso do termo “mulata” e a hiperssexualização da mulher negra. Mesmo que o intuito da corrente seja animalizar os personagens, acabou que deu espaço para reforçar estereótipos, como estes, de que o povo preto geralmente é mais sexualizado e menos capaz de tarefas complexas, reforçando também o papel serventil, no qual a pessoa preta é colocada, de que sempre deve estar em uma posição de servir. 

 

Fonte: Google Imagens

    

Além disso, a obra discrimina também a ascensão da burguesia e como ocorre a exploração do proletariado, de forma explícita e um tanto distópica. Por fim, escancara que o homem, dependendo onde ele esteja, ou o transforma em uma pessoa de boa índole ou uma pessoa de mau caráter, pois os determinantes para isso encontra-se no ambiente em que está inserido. 

Ficha Técnica

Título: O Cortiço 

Autor: Aluísio de Azevedo

Editora: FDT

Páginas: 248

Ano: 1890

País: Brasil

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