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ISTs, Aborto e Consentimento: Como Sex Education Revoluciona o Ensino Sexual

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A série Sex Education, lançada pela Netflix em 2019, tem se destacado como uma importante ferramenta de educação sexual para adolescentes. Com uma abordagem realista e acessível, a série aborda temas como infecções sexualmente transmissíveis (IST), aborto, consentimento e assédio sexual, trazendo à tona questões frequentemente evitadas em ambientes familiares e escolares. Ao longo de suas duas temporadas, a produção se torna uma plataforma para discussões sobre sexualidade, refletindo a necessidade de uma educação sexual mais abrangente e informativa.

A contemporaneidade é marcada pela integração da tecnologia em diversas esferas da vida, e a série se insere nesse contexto ao utilizar a linguagem da cultura pop para educar. Segundo Moreira (2003), os meios de comunicação exercem uma função pedagógica ao socializar indivíduos e transmitir códigos de funcionamento do mundo. Assim, Sex Education não apenas entretém, mas também educa, oferecendo uma visão crítica sobre a falta de informações adequadas sobre sexualidade nas escolas.

A série se destaca por abordar temas complexos de forma leve e acessível, o que a torna uma ferramenta eficaz para a educação sexual. A narrativa não se limita a apresentar os problemas, mas também oferece soluções e caminhos para o autoconhecimento e a responsabilidade sexual. Essa abordagem é fundamental em um mundo onde muitos jovens têm acesso a informações distorcidas sobre sexualidade, frequentemente veiculadas por meio de mídias sociais e outras plataformas digitais.

Um dos temas centrais abordados na série são as ISTs. A produção critica a abordagem tradicional da educação sexual, que muitas vezes se limita a uma perspectiva biológica e higienista. Furlani (2008) destaca que essa abordagem não é suficiente, e a série ilustra essa carência ao mostrar um surto de clamídia na escola, revelando a desinformação dos alunos sobre a transmissão e prevenção de doenças. Essa situação evidencia a urgência de uma educação sexual que vá além da mera informação sobre doenças, promovendo um entendimento mais profundo sobre a sexualidade.

A série retrata o pânico que se instala na escola após rumores de que a clamídia poderia ser transmitida pelo ar, levando os alunos a usarem máscaras. Essa histeria coletiva demonstra a falta de conhecimento sobre a doença e a necessidade de uma educação sexual mais eficaz. Como apontado por Rossi, Freitas e Chagas (2012), a educação sexual deve incluir discussões sobre saúde sexual e reprodutiva, abordando não apenas as doenças, mas também o prazer e a intimidade. Da mesma forma que a desinformação sobre as ISTs causa medo e estigma, outros temas relacionados à saúde sexual, como o aborto, também são cercados por tabus e preconceitos, que podem ser desfeitos.

O aborto é tratado com sensibilidade na série, especialmente através da personagem Maeve. O abortamento, embora legal no contexto britânico, é frequentemente cercado de tabus e controvérsias. Oliveira (2018) argumenta que a discussão sobre o aborto deve ser desmistificada, respeitando o direito da mulher sobre seu corpo. A série apresenta o abortamento como uma escolha difícil, mas necessária, destacando a importância de fornecer informações adequadas e acesso a serviços de saúde seguros.

Na série, Maeve enfrenta a pressão de uma gravidez indesejada e busca um serviço de saúde para realizar o abortamento. A cena em que ela é abordada por manifestantes pró-vida ilustra a polarização do debate sobre o aborto, refletindo as tensões sociais em torno do tema. A série, ao retratar essas questões, contribui para a desestigmatização do aborto e promove uma discussão mais aberta sobre os direitos reprodutivos das mulheres.

Além disso, Sex Education aborda o assédio sexual de forma contundente. A personagem Aimee, que sofre assédio em um ônibus, representa a realidade de muitas mulheres que enfrentam essa violência diariamente. Pinotti (2019) define o assédio sexual como qualquer ação sem consentimento, e a série ilustra as consequências psicológicas que isso pode ter sobre as vítimas. Aimee, ao lidar com seu trauma, exemplifica a necessidade de uma educação que promova o respeito e a compreensão sobre consentimento.

A série não apenas apresenta o assédio como um problema, mas também mostra como as vítimas podem ser afetadas psicologicamente. Aimee, após o incidente, desenvolve um trauma que a impede de usar transporte público, refletindo as consequências profundas que o assédio sexual pode ter na vida de uma mulher. Magalhães (2011) destaca que o assédio sexual gera sentimentos de constrangimento e humilhação, e a série aborda essas questões de maneira sensível e realista.

Por fim, a série enfatiza a importância da sororidade entre as mulheres, mostrando como a união pode ser uma forma de resistência contra a violência e o assédio. Através de diálogos e situações que promovem a empatia, Sex Education se torna um espaço de reflexão e aprendizado sobre a sexualidade, empoderando os jovens a discutir suas experiências e a buscar informações.

A cena em que Aimee se reúne com outras meninas para compartilhar suas experiências de assédio ilustra como a sororidade pode ajudar as mulheres a se unirem em torno de suas lutas comuns. Essa união é fundamental para combater a cultura do estupro e promover uma sociedade mais justa e igualitária.

Em conclusão, Sex Education se estabelece como uma produção relevante na discussão sobre educação sexual. Ao abordar temas como IST, aborto e assédio sexual de maneira acessível e realista, a série não apenas entretém, mas também educa, contribuindo para a formação de uma geração mais informada e consciente sobre sua sexualidade. A importância da mídia como ferramenta educativa é inegável, e Sex Education exemplifica como a cultura pop pode influenciar positivamente a formação de valores e atitudes em relação à sexualidade.

A série não apenas fornece informações valiosas, mas também desafia normas sociais e promove discussões que são frequentemente evitadas em ambientes familiares e escolares. Dessa forma, Sex Education se torna um modelo de como a mídia pode ser utilizada para educar e empoderar os jovens, preparando-os para enfrentar os desafios da sexualidade de maneira saudável e responsável.

Nome: Sex Education

Gênero: Comédia dramática

Origem: Reino Unido

Criadora: Laurie Nunn

Elenco Principal: Asa Butterfield, Gillian Anderson, Emma Mackey, Ncuti Gatwa, Connor Swindells.

Direção: Ben Taylor, Kate Herron.

Roteiro: Laurie Nunn, Sophie Goodhart.

Produção: Jon Jennings, + ver todos.

Ano de Estreia: 2019.

Plataforma: Netflix.

Número de Temporadas: 4.

Duração dos Episódios: Aproximadamente 50 minutos.

Outros Detalhes: A série aborda temas como sexualidade, relacionamentos, amizade, família e questões de identidade, tudo isso ambientado em um contexto escolar. 

Referências bibliográficas


BERNARDI, M. A deseducação sexual. São Paulo: Summus, 1985.
FIORINI, J. S. Educação sexual na escola: currículo e práticas. Marília: Oficina Universitária; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2020. Disponível em: https://books.scielo.org/id/7mdtb.
FURLANI, Jimena. Abordagens contemporâneas para a educação sexual. In: FURLANI, Jimena (Org.). Educação sexual na escola: equidade de gênero, livre orientação sexual e igualdade étnico-racial numa proposta de respeito às diferenças. Florianópolis: UDESC, 2008, p. 18-42.
MAGALHÃES, J. Assédio sexual no ambiente escolar. São Paulo: Cortez, 2011.
MOREIRA, A. S. Cultura midiática e educação infantil. Educação e Sociedade, Campinas, vol. 24, n. 85, p. 1203-1235, 2003.
NUNES, C. Desvendando a sexualidade. 7. ed. Campinas: Papiro, 1987.
OLIVEIRA, D. K. de. A criminalização do aborto e a eterna confusão do direito com a religião. Disponível em: https://canalcienciascriminais.jusbrasil.com.br/artigos/520056973.
PINOTTI, J. A. Sexo e juventude. São Paulo: Ed. Moderna, 2019.
ROSSI, D.; FREITAS, M. L.; CHAGAS, A. Educação sexual e juventude: limites e possibilidades. Revista Brasileira de Educação, v. 17, n. 50, 2012.

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