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Sua história de amor: padrões que podem levar ao sofrimento

O livro de Kelly Paim e Bruno Luiz Avelino Cardoso (2022) elenca a terapia do esquema no entendimento de padrões que estão presentes no modo de nos relacionarmos visando compreender a dinâmica do amor. Em algum momento da sua vida você já notou semelhanças entre as pessoas que você se relaciona? Que suas escolhas amorosas te levam a se relacionar com pessoas que têm as mesmas características?  Os autores enfatizam que esse livro contribui tanto para profissionais quanto para o público em geral entender o que nos leva a essas escolhas. 

Os autores ressaltam que as histórias de amor começam a ser escritas na infância, isso porque passamos pela aquisição dos esquemas emocionais que são desenvolvidos quando necessidades emocionais básicas não são supridas ou são supridas em excesso no decorrer do nosso desenvolvimento. 

Ao modo que nossas experiências vão se repetindo e sendo armazenadas, começamos a acomodar informações cognitivamente e emocionalmente, isso acontece precocemente na experiência com nossos cuidadores. Além do comportamento dos nossos cuidadores influenciarem o nosso, é necessário considerar que aspectos socioculturais também influenciam.  

Para os autores, esquemas disfuncionais são construídos a partir da vivência de experiências recorrentes carregadas de altos níveis de estresse e privações na infância e adolescência e que se perpetuam em toda vida da pessoa. Assim, na vida adulta quando deparamos com algo que se apresenta de forma ameaçadora, nos comportamos de três formas como estilos de enfrentamento que estão relacionados às respostas de sobrevivência da nossa espécie: evitação (fuga), hipercompensação (luta) e resignação (congelamento).

Evitação

A evitação é um estilo de enfrentamento que teria como intenção principal a proteção do provável sofrimento causado pelas relações. O indivíduo, por medo da rejeição, desamparo, abandono, abuso, entre outros, fecha-se emocionalmente e foge das relações. Entretanto, mesmo que a intenção seja defender-se de marcas dolorosas da história e memórias de experiências traumáticas de outras relações, o indivíduo revive as dores pelo padrão solitário estabelecido. 

Hipercompensação

Nesse caso, a pessoa tem respostas comportamentais no sentido de impedir que os seus medos se confirmem. Então, o controle, o sufocamento, exigências exageradas sobre a outra pessoa e até mesmo abusos são utilizados, tudo para que as frustrações de vivências de insatisfação um dia já sentidas na sua história de vida não se repitam. Com esse tipo de postura, as outras pessoas não conseguem entender, validar, suprir adequadamente suas reais necessidades emocionais. Em muitos casos, essa estratégia afasta as pessoas do convívio e mantém a solidão.

Resignação

A resignação a padrões nocivos ou insatisfatórios de relacionamentos pode ser uma estratégia para não sofrer ainda mais, acalmando medos profundos de possíveis retaliações, desamparo e abandono. A busca assertiva por direitos e necessidades reais é temida, pois isso poderia gerar incômodo no outro. Contudo, atitudes complacentes e passivas alimentam a subjugação, a insatisfação e a sensação de estar sozinho(a) mesmo acompanhado(a) ou de que não pode ser você mesmo(a) e expressar-se naquela relação. 

Paim e Cardoso (2022) salientam que vivemos em busca de suprimento das necessidades básicas e temos modos de funcionamentos que são ‘acionados’ como se fossem botões para cada tipo de situação, e o modo de funcionar tem a ver com alguma informação que faz lembrar de uma situação do passado, assim, você pode se sentir mais emocional, vulnerável ou inseguro e triste e também zangado e impulsivo. Segundo os autores, existe um modo criança feliz que é muito importante, onde se sente feliz e radiante que é quando você tem as necessidades de segurança, apoio, empatia, validação, cuidado, valorização, respeito, autonomia, limites, desejos e necessidades considerados, lazer, espontaneidade e expressão emocional legítima. 

Os autores abordam um dizer popular que remete a escolhas amorosas frustrantes chamado “dedo podre”, mas explicam que é comum para muitas pessoas, pois a escolha amorosa acontece a partir do que nomeiam de química esquemática, que ocorre mediante ativação dos esquemas mentais e memórias emocionais dolorosas que foram construídos em nossa história de vida.

Ao longo do texto é enfatizado que a repetição dos padrões podem levar ao sofrimento, esclarecendo que pessoas podem escolher umas às outras com base em suas histórias, pois os esquemas são viciantes e resultam em repetições de padrões que culminam em situações angustiantes podendo levar a padrões destrutivos e traumáticos que podem ocasionar negligência, desvalorização, rejeição, violências, abandono, abuso, entre outras. 

Para alento dos leitores, é possível haver uma mudança de rumo da nossa história, ou seja, você pode ter relações saudáveis, às vezes é necessário ajuda de psicoterapia, mas eles deixam algumas dicas essenciais como identificar os esquemas, se atentar as escolhas, assumir suas responsabilidades, transpor medos e romper com ciclos destrutivos, vencer sua crítica interna, ter atitudes mais saudáveis e alimentar a sua criança feliz. 

Durante toda leitura os autores nos levam a reflexão para entendimento da construção da nossa história e dos esquemas que criamos a partir de então e como impactam na hora de escolhermos nossas relações amorosas. Um fator que se mostra indispensável é o autoconhecimento, pois assim poderá conhecer melhor a sua história de amor e aprender estratégias saudáveis para uma nova história onde se sinta acolhido emocionalmente.

Referências

PAIM, K.; CARDOSO, B. L. A. Sua história de amor: um guia baseado na terapia do esquema para compreender seus relacionamentos e romper padrões destrutivos. Porto Alegre: Artmed, 2022.

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