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“The Alienist”: você entraria na mente de um assassino?

Não é raro encontrar boas séries de época (Downton Abbey que o diga). Entretanto, a maioria das produções são romantizadas,  e remetem à ideia de que os anos passados foram, se não agradáveis, dignos de admiração. A série The Alienist, produzida pela Paramount e disponibilizada pela Netflix, apresenta boas doses desse sentimento saudosista. Todavia, não mascara a violência e perversidade, características sem dúvidas presentes na condição humana.

A série apresenta a história do alienista (de acordo com a série, uma pessoa que tratava de outras que estavam alienadas [afastadas] de sua verdadeira natureza), Laszlo Kreizler (interpretado por Daniel Brühl). Este, contatado pelo comissário da polícia de New York, começa a seguir as pistas de um assassino em série, traçando seu perfil psicológico. Em sua busca, ele é auxiliado pelo ilustrador John Moore (interpretado por Luke Evans) e por Sarah Howard (Dakota Fanning).

Fonte: https://goo.gl/ngbs67

Ambientada no final dos anos 1800, é visível a mudança que a chegada do século XX parece proporcionar. Sarah é a primeira mulher a trabalhar para a polícia de New York (ainda que ela lembre constantemente de ser apenas uma datilógrafa), há bordéis exclusivos para a prática de “sodomia” (embora esta não seja uma prática tão moderna assim), há um movimento crescente das mulheres pelo direito ao voto e as práticas de investigação criminal estão avançando (vide a demonstração dos irmãos detetives sobre a importância das digitais em cenas de crimes).

É neste cenário que um assassino em série escolhe suas vítimas (meninos que se prostituem) e as abate em um ritual macabro. O alienista, Laszlo, inteligente e ardiloso, junto a John e Sarah, conduzem as investigações necessárias para entender como funciona a mente do assassino e assim, capturá-lo. A eles se juntam outros personagens secundários, que possuem a incrível qualidade de somar ao roteiro a dose certa de inquietação que um bom thriller psicológico deve causar.

A receita da série é um padrão já visto em outras produções do mesmo gênero e é bem aproveitada. Entretanto, o diferencial se dá pela construção complexa dos personagens, todos eles com motivos críveis e palpáveis para serem quem são. Isto é notável pela atuação dos meninos que se prostituem, suas conversas que denotam o passado difícil e o presente insustentável e seus olhares que escondem mais do que o espectador jamais verá.

Fonte: https://goo.gl/mhdBnQ

A representação da New York do século XIX é tão real que imediatamente imediatamente envolve quem assiste. É uma cidade chuvosa, populosa, encantadora para uns (os ricos e influentes), insuportável para outros (difícil ficar inerte diante das cenas em que as crianças se prostituem em meio ao frio e sujeira), e que fervilha em direção ao futuro, carregando as promessas e medos de que a existência humana é capaz.

A despeito disso, a série perde em retratar mais firmemente as teorias psicanalistas de que o protagonista supostamente compartilha. Há um ganho inegável nas cenas esparçadas entre os episódios, que mostram um pouco da sua prática (uma mocinha que não para de se masturbar, um adolescente que mata os animais dos vizinhos, uma antiga cliente que apresentava uma sexualidade doentia), entretanto, no fio principal, o de descobrir a mente do assassino, a série perde por não retratar mais fielmente os elementos que deixariam clara a influencia psicanalista.

Fonte: https://goo.gl/p9gAEh

Há também furos no roteiro, embora não tão grandes, mas certamente visíveis, que, felizmente, são compensados por uma atuação excelente. Outro ponto a favor da série, são os diálogos que enriquecem os personagens secundários e proporcionam ao telespectador um questionamento a respeito de si mesmo.

Uma série plausível, com certeza recomendável e que agregará ao telespectador, se não o interesse pela “mente” humana, com certeza o questionamento de como o ser humano se torna quem é,  e porque faz o que faz; além da inquietação por perceber que assassinos em série são muito mais próximos de “pessoas normais” do que se pode imaginar.

Ficha técnica

Título: The Alienist

Ano produção: 2018

Classificação indicativa: + 16

Gênero: Drama, Policial

Temporadas: 1ª com 1o episódios (renovada para a 2ª)

País de Origem:  Estados Unidos

Produção: Cary Fukunaga, Eric Roth, Hossein Amini, Rosalie Swedlin, Steve Golin

Roteiro: Caleb Carr, Cary Fukunaga, Hossein Amini

Elenco: Dakota Fanning, Daniel Brühl, Luke Evans, Brian Geraghty, Corey Johnson, Douglas Smith, Ezra Fieremans, Kingston Taylor, Q’orianka Kilcher, Robert Wisdom, Ted Levine

Baseada no romance policial “The Alienist” (Caleb Carr) 

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