(En)Cena – A Saúde Mental em Movimento

Debate acerca da vivência LGBTQIAP+ dentro do contexto universitário

Por Vitória Cardoso Figueira – vitoriacardoso@rede.ulbra.br

Nas universidades a verdadeira inclusão se concretiza quando se adotam práticas visíveis, como os programas de ações afirmativas, como as cotas. Além disso, essa inclusão depende de uma administração universitária que prioriza a gestão social, o que significa tomar medidas democráticas, igualitárias, participativas, colaborativas e diversas, com decisões que valorizem a solidariedade em vez de focar exclusivamente em aspectos econômicos, conforme Moreira (et al. 2011).

Ainda segundo Moreira, também é crucial promover a inovação social, por meio da criação de projetos que buscam integrar e dar oportunidades aos menos favorecidos. Todos esses elementos se baseiam em um modelo de ação comunicativa e dialógica, em que os envolvidos na ação reconhecem a importância dessas práticas e concordam com sua validade. Embora possa parecer uma utopia, essa abordagem tem o potencial de se tornar realidade com empenho e dedicação.

Em muitos cenários educacionais, ainda não estão adequadamente equipados para abordar as diversas manifestações da sexualidade. Com frequência, os preconceitos e a discriminação são perpetuados nesse contexto, quer de forma velada ou até mesmo de maneira explícita. Isso torna a permanência de indivíduos LGBT um ato genuíno de enfrentamento.

A inclusão deve ser um ato que promova o crescimento humano, organizacional e social por meio de um processo abrangente de compartilhamento de conhecimentos, valores e crenças. Isso implica em integrar as minorias através de práticas que levam em consideração as circunstâncias materiais reais em que vivem, e, ao mesmo tempo, evitar a reprodução dos estigmas e exclusões presentes na sociedade (Magalhães et al., 2017).

E para falar mais sobre a vivência LGBTQIAP+ no contexto universitário, o EnCena convidou Karen Oliveira, lésbica, jornalista e atualmente formada em Psicologia e atuante na área, fazendo uso da teoria Sistêmica e atuante da Terapia Afirmativa, que é para o público LGBTQIAP+ .

Encena: Sabemos que você agora é uma profissional de psicologia. Durante seus estudos, como percebeu a preparação dos futuros psicólogos em relação ao atendimento e apoio às questões específicas enfrentadas pela comunidade LGBT?

 

Karen: Pela minha experiência, no contexto acadêmico faltam debates, inserção de disciplinas focadas na temática e preparação científica. Apesar de sabermos que nas universidades que ofertam cursos de Psicologia há variação de grades curriculares, em geral elas abordam essa temática de forma superficial. Por exemplo, durante toda a minha graduação não foi falado sobre psicoterapia afirmativa, que é focada em pessoas LGBTQIAP+. O meu conhecimento sobre essa vertente foi resultado apenas de estudo próprio. A falta de visibilidade traz consequências negativas tanto para os estudantes, que serão futuros psicólogos, quanto para os que virão a ser seus pacientes. Portanto, ainda falta preparação a nível institucional e capacitação dos acadêmicos quanto a ferramentas, postura e ética no atendimento desse grupo minoritário.

 

Encena: Como mulher lésbica, você sentiu segurança para expressar sua orientação sexual durante os estudos universitários? Poderia compartilhar um pouco sobre sua experiência nesse sentido?

 

Karen: Em alguns momentos sim, mas, como já mencionei, esse debate foi muito raso dentro do ambiente acadêmico durante a minha graduação. Infelizmente, na minha vivência, em algumas situações, faltou acolhimento e não houve muito espaço e/ou visibilidade, causando estresse de minoria e potencialização de mecanismos de defesa.

 

Encena: À medida que você avançou na carreira, atualmente como psicóloga, você sente que a aceitação da diversidade sexual é mais efetiva nos ambientes profissionais do que nos contextos acadêmicos? Por quê?

 

Karen: Acredito que é difícil haver uma aceitação totalmente efetiva, visto que a construção social é heteronormativa e o Brasil é o país que lidera o ranking de mortes pelo crime de LGBTfobia. Há situações de homofobia em todos os espaços. Mas, talvez pela hierarquização institucional existente na universidade, quando existe o título de ser uma profissional, pode ser que haja mais respeito em alguns espaços, além da possibilidade de atendimento ao público LGBTQIAP+. Mas, ainda enquanto profissionais, infelizmente não estamos imunes ao preconceito e às violências.

 

Encena: Em sua opinião, quais são os principais desafios que as universidades ainda enfrentam quando se trata de garantir a inclusão e o respeito aos direitos LGBT?

 

Karen: Acredito que seja necessário as universidades desenvolverem mecanismos de acolhimento, inserção, inclusão, integração, respeito, validação e métodos para a permanência dos estudantes que fazem parte da comunidade. É importante que a temática seja trabalhada com professores, que sejam promovidas palestras, rodas de conversa e projetos que abordem a inclusão. Também há a necessidade da criação de mais disciplinas que falem sobre gênero e sexualidade e que haja, para além do papel, intolerância com os preconceitos que possam ser vivenciados.

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