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Atuação do Psicólogo no Ensino superior: afetividade em Wallon

Fonte: https://bit.ly/2TvasAA

Henri Paul Hyacinthe Wallon nasceu em Paris, França, no ano de 1879. Formou-se em Filosofia, Medicina e Psicologia. Atuou como médico na Primeira Guerra Mundial cuidando de pessoas com distúrbios psiquiátricos. Em 1920, Henri se tornou professor em uma universidade na França e foi encarregado de ministrar sobre psicologia da criança.Foi o primeiro teórico a reconhecer a importância da afetividade no ensino infantil.Era marxista e criticava a forma agressiva de ensino aplicada em sua época. Wallon morreu aos 83 anos na França.

Ao longo da sua vida, Wallon teve interesse cada vez maior pela educação, pois via a escola como um contexto privilegiado para o estudo da criança e foi nas fases iniciais da infância que concentrou seus trabalhos, assim estudando o campo da consciência. E acreditava que a pedagogia oferecia um campo de observação à psicologia e questões para investigação no qual a psicologia pode construir conhecimentos sobre o desenvolvimento infantil oferecendo assim diversos elementos aos educadores para a reflexão sobre o aprimoramento da prática.

Na teoria de Wallon, o processo de desenvolvimento é a integração em dois sentidos, na integração organismo-meio e na integração cognitiva-afetiva-motora. A interação da criança com o meio é uma relação complementar entre os fatores orgânicos e socioculturais. Wallon afirma que estas revoluções de idade para idade não são improvisadas por cada indivíduo. É a própria razão da infância, que tende para a edificação do adulto como exemplar da espécie. Estão inscritas, no momento oportuno, no desenvolvimento que conduz a esse objetivo. As incitações do meio são sem dúvida indispensável para que elas se manifestem e quanto mais se eleva o nível da função, mais ela sofre as determinações dele quantas e quantas atividades técnicas ou intelectuais são à imagem da linguagem, que para cada um é a do meio (Wallon, 1995, p. 210).

Wallon afirma que o estudo da criança exige o estudo do meio ou dos meios em que ela se desenvolve. Sobre o meio, esclarece que é um complemento indispensável ao ser vivo. Ele deverá corresponder a suas necessidades e as suas aptidões sensório-motoras e, depois, psicomotoras. Não é menos verdadeiro que a sociedade coloca o homem em presença de novos meios, novas necessidades e novos recursos que aumentam possibilidades de evolução e diferenciação individual. A constituição biológica da criança ao nascer, não será a única lei de seu destino posterior. Seus efeitos podem ser amplamente transformados pelas circunstâncias de sua existência, da qual não se exclui sua possibilidade de escolha pessoal. Os meios em que vive a criança constituem a “forma” que molda sua pessoa (Wallon, 1975, pp. 164, 165, 167).

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 As necessidades de descrição obrigam a tratar separadamente alguns grandes conjuntos funcionais, o que não deixa de ser um artifício. Os domínios funcionais entre os quais se dividirão o estudo das etapas que a criança percorre serão, portanto, os da afetividade, do ato motor, do conhecimento e da pessoa (Wallon, 1995, pp. 131 e 135).O conjunto afetivo oferece as funções responsáveis pelas emoções, pelos sentimentos e pela paixão.O conjunto motor oferece a possibilidade de deslocamento do corpo no tempo e no espaço, as reações posturais que garantem o equilíbrio corporal, bem como o apoio tônico para as emoções e sentimentos se expressarem.O conjunto cognitivo oferece funções que permitem a aquisição e a manutenção do conhecimento por meio de imagens, noções, ideias e representações. É ele que permite ainda registrar e rever o passado, fixar e analisar o presente e projetar futuros possíveis e imaginários.A pessoa, o quarto conjunto funcional, expressa a integração em todas as suas inúmeras possibilidades.

Outras características do processo no desenvolvimento do conjunto afetivo que vão se expressar são, do sincretismo para a diferenciação, todos os conjuntos funcionais que revelam-se inicialmente de forma sincrética, isto é, apresentam uma forma nebulosa, global, difusa, sem distinção das relações que as unem.Da alternância na predominância dos conjuntos, em cada estágio de desenvolvimento Wallon propõe os seguintes estágios: impulsivo-emocional 0 a 1 ano; sensório-motor e projetivo 1 a 3 anos; personalismo 3 a 6 anos; categorial 6 a 11 anos; puberdade e adolescência 11 anos em diante. E da alternância de direções: Em cada estágio de desenvolvimento há uma alternância de movimentos ou direções. No impulsivo-emocional, personalismo, puberdade e adolescência o movimento é para dentro, para o conhecimento de si. Já no sensório-motor e projetivo e categorial o movimento é para fora, para o conhecimento do mundo exterior.

A afetividade refere-se à capacidade, a disposição do ser humano de ser afetado pelo mundo externo/interno por sensações ligadas a tonalidades agradáveis ou desagradáveis. A teoria aponta três momentos marcantes, sucessivos na evolução da afetividade, a emoção, o sentimento e a paixão.

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Ensino Superior no Brasil

As primeiras escolas de ensino superior foram fundadas no Brasil em 1808 com a chegada da família real portuguesa ao país.Até a proclamação da república em 1889, o ensino superior desenvolveu-se muito lentamente, seguia o modelo de formação dos profissionais liberais em faculdades isoladas e visava assegurar um diploma profissional com direito a ocupar postos privilegiados em um mercado de trabalho restrito além de garantir prestígio social.

Com a independência política em 1822 não houve mudança no formato do sistema de ensino, nem sua ampliação ou diversificação. A elite detentora do poder não vislumbrava vantagens na criação de universidades. Contava-se com 24 projetos propostos para criação de universidades no período 1808-1882, nenhum dos quais aprovados. Depois de 1850 observou-se uma discreta expansão do número de instituições educacionais com consolidação de alguns centros científicos como o Museu Nacional, a Comissão Imperial Geológica e o Observatório Nacional. A ampliação do ensino superior, limitado às profissões liberais em poucas instituições públicas, era contida pela capacidade de investimentos do governo central e dependia de sua vontade política.

O governo provisório de Getúlio Vargas promoveu (em 1931) uma ampla reforma educacional, que ficou conhecida como Reforma Francisco Campos (primeiro Ministro da Educação do país), autorizando e regulamentando o funcionamento das universidades, inclusive a cobrança de anuidade, uma vez que o ensino público não era gratuito. A universidade deveria se organizar em torno de um núcleo constituído por uma escola de Filosofia, Ciência e Letras. Embora a reforma representasse um avanço, ela não atendia a principal bandeira do movimento da década de 1920 por não dar exclusividade pública ao ensino superior além de permitir o funcionamento de instituições isoladas.

O período de 1945 a 1968 assistiu à luta do movimento estudantil e de jovens professores na defesa do ensino público, do modelo de universidade em oposição às escolas isoladas e na reivindicação da eliminação do setor privado por absorção pública. Estava em pauta a discussão sobre a reforma de todo o sistema de ensino, mas em especial a da universidade.O elitismo se refletia no atendimento de parcela mínima da população, sobretudo dos estratos mais privilegiados.

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No cenário atual, os psicólogos se encontram em setores destinados ao atendimento dos alunos como, por exemplo, o Serviço de Orientação ao Universitário (SOU)e o Serviço de Assistência ao Universitário (SAU). A atuação do psicólogo tem foco individual, relacionado ao acompanhamento e atendimento dos acadêmicos, especialmente quanto a problemas verificados no âmbito da adaptação à vida universitária e às novas relações sociais; à insatisfação com a escolha do curso e da profissão; e a questões ligadas diretamente aos processos de ensino e aprendizagem relatados como distúrbios de concentração, falta de motivação, desorganização, não adaptação às metodologias de ensino. (Marinho-Araújo, 2009).

A teoria de desenvolvimento de Henri Wallon é um instrumento que pode ampliar a compreensão do professor sobre as possibilidades do aluno no processo ensino-aprendizagem e fornecer elementos para uma reflexão de como o ensino pode criar intencionalmente condições para favorecer esse processo, proporcionando a aprendizagem de novos comportamentos, novas ideias, novos valores. Daí a importância de o professor encarar a teoria como um conjunto sistematizado de proposições hipotéticas a serem constantemente testadas, verificadas no confronto com os resultados do processo ensino-aprendizagem do aluno, na situação concreta de sala de aula. Assim, ao lado dos conhecimentos teóricos, assumem relevância a sensibilidade, a curiosidade, a atenção, o questionamento e a habilidade de observação do professor sobre o que se passa no processo ensino-aprendizagem.

O processo ensino-aprendizagem só pode ser analisado como uma unidade, pois ensino e aprendizagem são faces de uma mesma moeda; nessa unidade, a relação interpessoal professor-aluno é um fator determinante. Esses atores são concretos, históricos, trazendo a bagagem que o meio lhes ofereceu até então e estão em desenvolvimento, processo que é aberto e permanente.

Fonte: https://bit.ly/2DM1iLz

Outro ponto importante é saber e aceitar que todo conhecimento novo, não familiar, implica na sua aprendizagem, um período de imperícia, resultante do sincretismo inicial. Esse sincretismo inicial vai se desmanchando com as atividades propostas, mas é importante considerá-lo como parte integrante do processo ensino-aprendizagem. À medida que ele evolui, a imperícia é substituída pela competência.

REFERÊNCIAS:

Portal Educação. Uma Breve Biografia de Henri Wallon. Disponível em: https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/educacao/uma-breve-biografia-de-henri-wallon/50839. Acessado dia 29/10/2018.

Ferreira, Aurino Lima, andNadja Maria Acioly-Régnier. “Contribuições de Henri Wallon à relação cognição e afetividade na educação.” Educar em Revista 26.36 (2010): 21-38.

Mahoney, Abigail Alvarenga, and Laurinda Ramalho de Almeida. “Afetividade e processo ensino-aprendizagem: contribuições de Henri Wallon.” Psicologia da educação 20 (2005): 11-30.

Marinho-Araújo, C. M. “Psicologia Escolar na Educação Superior: novos cenários de intervenção e pesquisa.” Psicologia Escolar: novos cenários e contextos de pesquisa, formação e prática (2009): 155-202.

Martins, Antonio Carlos Pereira. “Ensino superior no Brasil: da descoberta aos dias atuais.” Acta Cirúrgica Brasileira 17 (2002): 04-06.

Wallon, Henri, and Ana Maria Rabaça. Psicologia e educação da infância. 1975.

Wallon, Henri, and Cristina Carvalho. A evolução psicológica da criança. 1995.

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