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Comunicação (des)encontrada: emojis, memes e ruídos entre gerações no contexto organizacional

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Nas organizações contemporâneas, a comunicação não se limita mais ao que é dito ou escrito conforme padrões formais: os estilos de linguagem digital — emojis, memes, abreviações, expressões visuais e recursos de internet — tornaram-se elementos constitutivos das interações. Quando diferentes gerações convivem no mesmo ambiente de trabalho, surgem tanto oportunidades para enriquecimento comunicativo quanto desafios de compreensão, interpretação e eficiência. A Psicologia Organizacional tem papel central ao evidenciar como essas diferenças comunicacionais afetam o clima interpessoal, o engajamento e o desempenho.

Diferenças geracionais na linguagem digital

A Geração Z e os Millennials cresceram em meio à internet, ao uso cotidiano de smartphones e redes sociais, onde a linguagem visual (emojis, GIFs, memes) funciona como fatores de expressão emocional rápida e de pertencimento. Já gerações anteriores, como a Geração X ou Baby Boomers, tendem a privilegiar uma comunicação mais formal, linear e literal, com menos abreviações ou ícones visuais. Essa divergência não é apenas estetizada: ela se traduz em expectativas distintas sobre clareza, emocionalidade, velocidade e estilo de contato.

No Brasil, por exemplo, cerca de 66% dos entrevistados em pesquisa da Preply relataram usar emojis diariamente, demonstrando que esses símbolos já são parte do repertório comunicativo comum. Também se observa que adesivos (“stickers”) e emojis são usados de forma quase equivalente em conversas informais, e muitos acreditam que eles tornam as mensagens mais envolventes ou ajudam na expressão de humor ou afeto.

Ruídos comunicativos: quando estilos desconectam

As diferenças de estilo geram ruídos que afetam cooperação, confiança e até percepção de profissionalismo. Alguns exemplos:

Implicações psicológicas e organizacionais

Para a Psicologia, os ruídos comunicativos entre gerações podem elevar o estresse, reduzir a coesão de equipe e prejudicar o engajamento. A percepção de que não se é compreendido — ou que sua forma de comunicação não é valorizada — pode afetar autoestima profissional, bem-estar psicológico e sensação de pertencimento. Organizações cujos membros se sentem obrigados a “traduzir” sua forma de expressar para cada interlocutor tendem a gerar fadiga comunicacional.

Por outro lado, quando bem gerida, essa diversidade comunicativa pode favorecer a criatividade, a inovação e maior empatia interpessoal: memórias culturais distintas e diferentes repertórios expressivos podem somar para enriquecer a cultura organizacional.

Novas competências em comunicação organizacional

Diante desse panorama, emergem competências que devem ser cultivadas:

  1. Alfabetização emocional digital: capacidade de interpretar e usar sinais não verbais digitais (emojis, memes, gifs) com consciência cultural, contextual e interpessoal de seus impactos.

  2. Sensibilidade intergeracional: entendimento de que um estilo comunicativo pode não “viajar” igual entre idades/gerações; lidar com isso com flexibilidade, escuta ativa, validação de diferentes formas de expressão.

  3. Consciência de formalidade de canal: definir convenções claras sobre quando usar linguagem mais informal ou recursos visuais — em chats, e-mails, plataformas de projetos —, inclusive em equipes intergeracionais.

  4. Treinamento e políticas organizacionais: promover oficinas ou guias de etiqueta digital, incentivar feedback entre pares sobre comunicação, criar espaços onde se discutam práticas comunicativas desejadas para minimizar mal-entendidos e construir normas compartilhadas.

Conclusão

A comunicação (des)encontrada entre gerações não é um problema irreversível, mas um desafio que convida à reflexão psicológica e ao desenvolvimento de ambientes de trabalho mais inclusivos e adaptativos. Na medida em que organizações valorizem tanto a diversidade de estilos expressivos quanto a clareza, empatia e corresponsabilidade comunicativa, será possível transformar emojis, memes e abreviações de potenciais fontes de ruído em instrumentos de conexão genuína.

Referências

LOPES, Andreia dos Santos; MONTEIRO, Raquel Ponsiano; PRAZERES, Hamilton Tavares dos. Diferenças geracionais na comunicação no ambiente de trabalho: como as gerações se comunicam e como isso afeta a produtividade. Revistaft, Rio de Janeiro, v. 29, n. 146, p. 16-17, maio 2025. Repositório IFAP. Disponível em: http://repositorio.ifap.edu.br/jspui/handle/prefix/1190. 

PREPLY. Pesquisa sobre uso de emojis no Brasil: adesivos, emojis, GIFs e percepção emocional. 2024. (dados sobre porcentagem de usuários e percepções). JC+1

“Emojis mascaram sentimentos? Os limites da comunicação digital” In: Estado de Minas. 31 jul. 2025. Disponível em: https://www.em.com.br/saude/2025/07/7214437-emojis-mascaram-sentimentos-os-limites-da-comunicacao-digital.html.

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