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Existe idade certa para estudar?

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Ao voltar o olhar para os cenários da educação superior atualmente, podemos notar algo que era raro há algum tempo atrás. Refiro-me à diversidade de faixa etária entre os alunos que buscam uma graduação no ensino superior. Percebendo esse novo cenário, surge uma pergunta: “Afinal, existe uma idade correta, adequada, para uma pessoa praticar o hábito de estudar e conseguir um diploma?” Acredito que, para responder a essa pergunta, primeiramente, é necessário fazer um recorte da sociedade brasileira, dos diversos motivos que podem levar uma pessoa idosa a buscar uma graduação nessa fase de sua vida.

Segundo dados levantados através do Censo da Educação Superior em 2012, o número de alunos idosos matriculados em um curso de nível superior aumentou em torno de 56% entre 2012 e 2021 (Silveira, 2023). O aumento da população idosa no Brasil contribui para cenários mais diversos e com mais oportunidades oferecidas para essa população, oportunizando também uma desmistificação a respeito do que seria “adequado” ou não para eles, para ambos os lados, os mais jovens e mais velhos.

De acordo com dados do Censo da Educação Superior, 51,3 mil idosos estão matriculados em cursos superiores no Brasil. Através de uma pesquisa realizada com alguns idosos matriculados na respectiva rede, existem diversos motivos que os levaram a ingressar em um curso superior já em uma idade mais avançada (Carvalho, 2024). Entre os diversos motivos que possam ter levado a referida população a ingressar cada vez mais no ensino superior, gostaria de destacar alguns, como o de que muitos não tiveram a oportunidade de adquirir uma graduação em nível superior devido às condições financeiras ou por estarem trabalhando em tempo integral para se sustentar e aos filhos; uma conquista de sonhos antigos; a possibilidade de obter uma nova profissão por ter tido a escolha de estudar o que queria; conhecimento profissional, adquirindo mais conhecimentos a respeito de uma profissão já escolhida; adaptação com tantas novas possibilidades de obter informações e novos conhecimentos através da tecnologia, bem como um reforçador social, proporcionando inclusão social e diminuindo o sentimento de solidão e inutilidade que essa população muitas vezes passa a sentir nesta fase da vida.

Voltemos agora para a pergunta feita no início desse texto. O hábito de estudar, adquirir novos conhecimentos, nunca irá se tornar algo obsoleto e dispensável em qualquer idade que seja. O fato de estar em uma idade avançada não significa que a pessoa idosa já não tenha mais nada a aprender, a se adaptar e a ensinar para as outras gerações, bem como contribuir para o próprio bem-estar e saúde física e mental. 

Há, ainda, muito enraizado na sociedade atual o senso comum de incapacidade da pessoa idosa, atribuindo a ideia de inutilidade, quando, na verdade, existe um mundo de novos conhecimentos, oportunidades e experiências para ela. O contínuo exercício cognitivo traz benefícios para a memória, prevenção de doenças, redução de estresse etc. A sensação de pertencimento e realização é um reforçador social extremamente importante proporcionado pela inclusão dos idosos nos espaços de educação. As constantes interações sociais contribuem para o aumento da autoestima e autoconfiança da pessoa idosa, colaborando para um aumento da independência e uma vida social mais ativa.

Diante do exposto, percebe-se que o estudo, independentemente da idade da pessoa, tende a contribuir de diversas maneiras, tanto para a saúde física, cognitiva e psicológica, corroborando para que a continuidade dos estudos, em qualquer fase da vida, seja algo de extrema relevância para a qualidade de vida das pessoas. Por fim, ao falar sobre esse assunto, acredito ser importante destacar que o ganho que o contínuo exercício educacional na velhice traz não é só para a pessoa idosa, mas para todos os que estão inseridos nesse espaço junto com ela, ocasionando uma nova perspectiva da visão das gerações mais novas a respeito da capacidade, e até mesmo direitos, que os idosos possuem.

REFERÊNCIAS

CARVALHO, Rone. Os 60+ na sala de aula: por que idosos resolvem cursar uma faculdade? VivaBem, 04 de mar. de 2024. Disponível em: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2024/03/04/os-60-na-sala-de-aula-por-que-idosos-resolvem-cursar-uma-faculdade.htm. Acesso em: 07 set. 2024.

GRUPO CUIDAR. Entenda os benefícios de voltar a estudar depois dos 60 anos! Publicado em 26 de dez. de 2023. Disponível em: https://grupocuidar.com.br/entenda-os-beneficios-de-voltar-a-estudar-depois-dos-60-anos/. Acesso em: 07 set. 2024.

SILVEIRA, Evanildo da. Universidade não tem idade. Folha de S. Paulo, São Paulo, 13 jul. 2023. Disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br/universidade-nao-tem-idade/. Acesso em: 07 set. 2024.

 

Autores: Ingrid Alves dos Santos e Luiz Gustavo Santana.

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