Gestalt-terapia e o pensamento oriental

O envolvimento de Pearls com o Zen-Budismo se deu em três fases. Do qual a primeira, aconteceu na África do Sul, ocasionado pelo fato dele passar por momentos difíceis de instabilidade pessoal e profissional.

Diante dos precursores que contribuíram para a formação da Gestalt Terapia temos o neuropsiquiatra e psicoterapeuta Frederick Salomon Perls, que nasceu em Berlin no ano de 1893, filho de pais judeus e de classe média baixa ele sempre buscou compreender o ser humano, encontrou em vários lugares os conhecimentos necessários para desenvolver seu objetivo. Veras (2013) afirma que o contato com essas correntes filosóficas foi de grande importância para o desenvolvimento da Gestalt-terapia.

Frederick Perls além de se interessar em neurologia e depois em psiquiatria, também se aproximou da Psicanálise e sofreu influências de diversas outras teorias, se tornando psicanalista, mas acabou rompendo com a Psicanálise, pois desenvolveu sua própria visão psicanalítica, porém cada vez mais incompatível com a Sociedade de Psicanálise. Perls então acabou se envolvendo pessoalmente com alguns movimentos terapêuticos e com a filosofia oriental onde ele utilizou de grande parte do seu conhecimento quanto as religiões principalmente o Budismo e o Taoísmo, aplicando-as para o desenvolvimento da Gestalt Terapia. Observa-se a influência do pensamento oriental em sua obra desde seu primeiro livro, Ego, fome e agressão (2002). Ela se faz presente por meio de elementos, imagens e ideias desse universo, e pelo paradoxo do pensamento oriental.

BUDISMO

O budismo surge na Índia no século VI a.C. e assimila conceitos do hinduísmo, como também pela sua tolerância incorpora elementos do taoísmo. Surge então o Ch’an, que posteriormente originará o zen-budismo.  A meditação por sua vez é um dos pilares da prática budista, transformando-se, associando o trabalho e as tarefas do cotidiano chinês à prática meditativa, sendo realizada com vivacidade, atenção e inteireza. O budismo se difere de outros grandes sistemas religiosos, uma vez que não possui a concepção de Deus, tido como tema central nos demais sistemas.

Tem como foco principal a questão do sofrimento, acreditando que a partir da compreensão do fenômeno, se pode haver a superação. Essa visão parte do princípio de que o sofrimento é inerente tanto à condição humana, quanto a de qualquer outro ser. A partir do foco do budismo no sofrimento, e de como se é trabalhado a questão, considera-se o mesmo como uma filosofia de vida. Levando em consideração que de acordo com a visão oriental, não há divisão entre filosofia e religião.

O budismo tem como aspectos centrais questões que dizem respeito a condição humana, como, nascimento, crescimento e outros. Possuindo olhar de impermanência do fenômeno. A partir do reconhecimento da impermanência dos fenômenos, se é possível a ampliação existencial, aproveitando-se de cada momento, assim como do começo de uma nova experiência e do final de outras.

Fonte: encurtador.com.br/dLQ49

PENSAMENTO ZEN-BUDISTA

Ao tornar-se budas, os seres despertam para a natureza verdadeira do ser. Possibilitando ao homem um elevado estado de consciência. É no existir cotidiano que se pode encontrar a centelha para a iluminação, para chegar a esse estado é voltar-se para si mesmo, para o mundo concreto, onde a busca inicia e se encerra.

Prática meditativa visa acalmar a mente superficial mais agitada e alcançar a esfera mais profunda da mente. Para alcançar seus objetivos, o zen recorre a recursos como koans, mondos e a meditação, a existência humana pode ser vista como um enorme koan, cada ser precisa aprender a construir suas respostas criativamente. Nada existe a não ser o aqui e o agora. O homem está ontologicamente doente, pois vive aprisionado à ilusão de reter o fluxo da vida, que não para.

O envolvimento de Pearls com o Zen-Budismo se deu em três fases. Do qual a primeira, aconteceu na África do Sul, ocasionado pelo fato dele passar por momentos difíceis de instabilidade pessoal e profissional. Havia boatos de que Pearls procurava novas formas de lidar com certas frustrações profissionais. Depois seu encontro com o zen foi nos Estados Unidos, quando teve uma experiência de grande fascínio por esse pensamento oriental. Por fim Perls decide ir ao Japão, pare ter uma experiência mais vivencial com essas práticas. “É importante também ressaltar que, nessa trajetória, Perls nunca aderiu ao zen-budismo como religião.” (VERAS, 2013)

Foi através das concepções de Friedlaender – um filósofo expressionista que Perls estabeleceu uma ligação entre Gestalt-terapia e o pensamento oriental. Assim, ele desvendava alguns mistérios e realidades concretas, que poderiam fortalecer as bases filosóficas da Gestalt. Como a meditação, cuja experiência poderiam observar que essa visão interna traria um equilíbrio ou emergiria grandes fatos da vida das pessoas, trazendo assim uma realização desses acontecimentos.

“Também é possível perceber conceitos da filosofia oriental que reafirmam a perspectiva de Perls com base nos elementos da Gestalt. Por exemplo, o processo de formação de figura/fundo e a Gestalt emergente (e toda a fluidez desse processo) ilustram a maneira como o organismo vive suas relações com o meio, ou como os fenômenos acontecem. Tais noções encontram similaridade no pensamento oriental. O zen insiste em reiterar que todos os fenômenos, assim como a vida, estão em um constante fluir no qual nada permanece, a não ser a própria fluidez; em outras palavras, um eterno processo de formação e destruição de Gestalten.” (VERAS,  2013, p.85)

Outro aspecto importante é a relação entre a meditação e a awareness, onde ambas apresentam foco no aqui e agora, por meio da concentração e do acompanhamento de cada momento vivido, ocorre a descoberta daquilo que sempre esteve presente, mas não plenamente consciente. Dessa forma, na Gestalt-terapia o continuum de awareness propõe uma investigação da própria experiência da pessoa, objetivando apreender a experiência do que viveu em sua total essência, dando assim sentido para a pessoa.

Diante do exposto, conclui-se que essa investigação de visão do homem e a busca pela cura são semelhantes na Gestalt-terapia e no zen-budista. Ambos acreditam na confiança do ser, no potencial do ser humano e no seu desenvolvimento. Enfatizam sobre a liberdade, a responsabilidade, o poder sobre si mesmo e a capacidade de expandir a consciência, que é a busca pela transcendência, que é ir mais além de si mesmo.

Então percebemos que tanto a Gestalt-terapia quanto o zen-budista acreditam na transformação do homem quando ele se revela, ou seja, quando ele desabrocha a sua natureza. Enfatizam também a relação existencial, que para a Gestalt-terapia é o entre e o diálogo, para o zen-budista é o  inter-ser.

Fonte: encurtador.com.br/uyzEO

Referência

FRAZÃO, Lilian, M; FUKUMITSU, Karina O (Org). Gestalt-terapia: fundamentos epistemológicos e influências filosóficas. São Paulo. Summus. 2013.