Reflexões sobre uma vida

Neste mês de agosto, mais precisamente dia 15, foi meu aniversário. Não me importo muito com isso, nunca importei. Os meus sim, adoram, fazem apologia sobre.

Não há como, de alguma forma não me contagiar com tantas manifestações de carinho vindas de todos os lados. Este ano me quedei a prestar atenção em cada uma dessas mensagens (são todas lindas e com particularidades e minúcias únicas).

Vi que as pessoas que me amam e consequentemente admiram, lembram-se de mim como eu era, isso me fez pensar em um trecho da canção Lista de amigos de Osvaldo Montenegro: “Quantos defeitos sanados com o tempo eram o melhor que havia em vc.”

Tentei sanar várias coisas que eu julgava que eram defeitos e que algumas pessoas apontavam como sendo, no entanto, as pessoas me lembram e me enaltecem através do que deixei para trás.

Deixei de falar o que eu achava, na hora do fato ocorrido (isso incomodava), deixei de dançar, cantar alto e de falar palavrões (nem eram tão palavrões… eram sim rsrs). Deixei de ser tãooooo sincera, as pessoas não gostam, preferem seguir cegas, deixei que elas seguissem cegas, não sou a palmatória do mundo.

Segundo Selwyn Duke em 2009, “Quanto mais à sociedade se distancia da verdade, mais ela odeia quem as revela” (SELWYN DUKE, 2009)

Até semestre passado, brigava, ficava indignada, com os grupos de faculdade, como assim, como essas pessoas não se comprometem com suas responsabilidades escolares, como deixam nas costas do outro um dever que também é dele, como conseguem ficar nas costas do colega que se mata de estudar?

Em 2013 a APA já tinha uma definição para estes comportamentos e o denominava de narcisista, dando-lhe a seguinte descrição: “Indivíduos com falta de empatia e senso de direitos, tendo comportamento explorador e usando os demais em benefício próprio” (APA, 2013).

Pois bem, hoje sei que esta forma de agir pertence apenas ao outro, sigo sem questionar.

Talvez eu tenha apenas me anestesiado, tornado sem propósito, minha intencionalidade de chamar a atenção do outro com meus cartazes vermelhos brandindo dentro de minha ilusão de mudança de comportamentos. Meu grito foi se tornando solitário, assim como na poesia, meu poema se tornou preso, inacabado e não dito.  Não me importo mais com isso, e continua acontecendo, todo o tempo.

Fonte: Imagem de Sasin Tipchai por Pixabay

Enfim, em todos os casos cansei de julgamentos, cansei de pessoas sem compromisso. Hoje faço o que tenho que fazer e de uma forma ou de outra, continuo aprendendo, com os meus erros, e com o dos outros.

Perdi o melhor que havia em mim? Talvez sim, mas me sinto mais em paz sem ter que gritar erros tão aparentes de quem não quer enxergar. Talvez também, confesso, eu esteja acometida por um profundo enfado numa luta com o que tenho de ideal e o que existe de realidade. Talvez eu esteja frustrada com minhas ações sem efeito, talvez…

Penso também, que meu discurso poderá ter alguma empáfia de boa moça, não é minha intenção, talvez eu esteja (claro, que estou), bem inacabada e por isso, vejo sombras distorcidas através da minha própria caverna.

Escrevi este texto ano passado, e ele nunca me pareceu tão atual, a única ressalva que eu faria é que neste ano poucas pessoas se lembraram, talvez tenha sido pelas máximas que descrevi no ano passado, já não sou tão esfuziante como antes, sigo minha trajetória sem alarde, e sem querer seguidores, nem de likes faço questão.

As pessoas no dia a dia gostam de quem lhes prestem reiteradas curtidas, quem lhes cultuem, os egos estão inflados, e cada vez mais egoístas. A famosa frase faça ao outro o que desejas para ti, não se aplica na contemporaneidade, o que se aplica é fazer a mim, só a mim e se der tempo entre um minuto e outro, faço ao outro, mas apenas se der tempo.  Posso estar sendo pessimista, atribuo ainda ao meu enfado, talvez esteja longe da verdade do outro, mas o que seria a verdade no outro, e em mim mesma?

Sobre as verdades Nietzsche diz,

“As verdades são ilusões que foram esquecidas enquanto tais. Metáforas que foram gastas e que ficaram esvaziadas de seu sentido, moedas que perderam o seu cunho e que agora são consideradas, não só como moedas, mas como metal.” (NIETZSCHE, 2005, p.13). Citação que reitera minha forma atual de crenças.

De ontem afirmo o que digo, de hoje, acredito que minha imaginação percorreu um caminho solitário e utópico, me levando a ter considerações menos afetiva em relação aos meus próximos, o que indubitavelmente me leva ao mesmo patamar de comportamento dos mesmos, porém, a mim imputo o enfado, mas jamais a irresponsabilidade de desistir do que a mim é conferido.

Continuo me parabenizando, entre tropeços e percalços, continuo lutando e tentando mesmo em desesperança, fazer do meu entorno um lugar melhor. Enfim, feliz niver pra mim e para quem está por fazer. Sejam quem quiserem ser, mas tentem ser uma versão melhor de vocês mesmos.

REFERÊNCIAS

AZZI, Isabel Cristin de Souza (2007). Realidade: uma razão que não se explica, mas se crê. https://doi.org/10.1590/S1516-14982007000200007  . Disponível em: https://www.scielo.br/j/agora/a/NgGGQV5PtFLJCYh3xvKHJDD/?lang=pt#. Acesso em 24/08/2022

CANDIDO, Juaridi;  et.al (2020) Essa eu vou postar: Explorando as relações entre narcisismo, uso do Instagram e a moderação da autoestima. Psicol. Conoc. Soc. vol.10 no.2 Montevideo  2020  Epub 01-Ago-2020. Disponível em: https://doi.org/10.26864/pcs.v10.n2.3 . www.scielo.edu.uy/scielo.php?pid=S1688-70262020000200038&script=sci_arttext. Acesso em 24/08/2022.

PACHECO Clarissa (2022). Frase sobre “ a Sociedade se distanciando da verdade”, não é George Orwell. Disponível em: https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/george-orwell-quanto-mais-a-sociedade-se-distancia-da-verdade/. Acesso em 24/08/2022