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O impacto da Automação na Psicologia: encontrando equilíbrio entre a IA e o Trabalho Humano

A rápida evolução da Inteligência Artificial (IA) e da automação vem transformando ao longo do tempo diversos setores em diferentes áreas de atuação, e a Psicologia não está imune a essas mudanças.

Todos os dias, caminhamos a passos largos rumo à evolução e modificação de histórias, cenários, contextos, práticas e afins, tudo por meio da tecnologia. Assim sendo e enquanto as tecnologias avançam, faz-se muito relevante examinar como a automação de tarefas psicológicas pode afetar os profissionais promotores de saúde mental, bem como encontrar um equilíbrio entre o uso da IA e a preservação dos empregos e da dignidade do trabalho humano.

A automação na Psicologia

A automação envolve a utilização de sistemas de controle e tecnologias da informação para minimizar a necessidade de intervenção humana na produção de equipamentos e serviços. No campo das tarefas psicológicas, a automação está se tornando cada vez mais prevalente, com algoritmos e sistemas de inteligência artificial (IA) sendo desenvolvidos para desempenhar uma variedade de funções de maneira rápida e eficiente. Por exemplo, a triagem inicial de pacientes em clínicas de saúde mental já pode ser automatizada através de questionários online e algoritmos de análise de dados. Um estudo realizado pela Universidade de Stanford demonstrou que algoritmos de IA podem ser tão precisos quanto psicólogos na identificação de transtornos mentais comuns, como depressão e ansiedade.

Não somente nisso, a Inteligência Artificial oferece maneiras diversas de apoiar e aprimorar o trabalho dos psicólogos. Algoritmos de IA podem acelerar a triagem e diagnóstico de transtornos mentais, processando grandes conjuntos de dados. Também podem analisar padrões linguísticos em interações terapêuticas, ajudando o profissional de saúde mental a identificar problemas subjacentes ou progresso terapêutico. A IA ainda personaliza planos de tratamento com base em características individuais dos pacientes e fornece suporte teórico e bases da literatura à tomada de decisão clínica. Assustador? Não, inovador.

                                                                                                                                    Fonte: Freepik

Dispositivos vestíveis e aplicativos de monitoramento de saúde mental utilizam IA para detectar mudanças no estado emocional dos pacientes, permitindo intervenções preventivas e/ou precoces. Na formação universitária de psicólogos, simulações de casos clínicos e programas de treinamento virtual desenvolvidos com IA, ajudam estudantes a adquirir habilidades teóricas e práticas referentes à desenvoltura clínica. Em suma, a IA pode melhorar a eficiência, precisão e acessibilidade dos serviços psicológicos, mantendo a empatia como foco central do cuidado.

Implicações no âmbito do trabalho

Todavia, “nem tudo são flores”. O impacto das IAs nos empregos é uma questão complexa e multiforme, com diversas previsões e muitas incertezas. Alguns especialistas preveem que elas terão um grande impacto na automação de tarefas repetitivas e rotineiras. No entanto, outros acreditam que as IAs também criarão novas oportunidades de trabalho, especialmente em áreas relacionadas à tecnologia, como desenvolvimento de IAs, análise de dados e programação. Além disso, as Inteligências Artificiais podem aumentar a produtividade e a eficiência em muitos setores, o que poderia levar a um crescimento econômico e à criação líquida de empregos em outras áreas. É importante notar que tal impacto nos empregos não será uniforme e dependerá de vários fatores, incluindo o tipo de trabalho, o nível de qualificação necessário e a capacidade de adaptação dos trabalhadores às mudanças tecnológicas.

Seria parcial não admitir que a automação levanta preocupações legítimas sobre o futuro das atividades laborais no âmbito da Psicologia. À medida que mais tarefas são automatizadas, há o risco de que certos trabalhos se tornem obsoletos ou sejam substituídos por tecnologia. Já existem relatos de psicólogos que expressam preocupações sobre o impacto da automação em sua profissão, especialmente quando consideradas questões éticas, sociais e legais.

Apesar das preocupações com a automação, é possível encontrar um equilíbrio entre o uso da IA e a preservação do trabalho humano na psicologia. Em vez de substituir completamente os profissionais, a IA pode ser utilizada como uma ferramenta complementar que potencializa as capacidades dos psicólogos. Como já dito por exemplo, sistemas de IA podem auxiliar na triagem inicial de pacientes, permitindo que os terapeutas se concentrem em casos mais complexos e personalizados. Podem ainda analisar grandes volumes de dados e identificar padrões que podem passar despercebidos, sendo assim uma ferramenta valiosa que ajuda a refinar os diagnósticos e os planos de tratamento.

A automação de tarefas administrativas, como o agendamento de consultas e o gerenciamento de registros, pode liberar mais tempo para os psicólogos dedicarem à interação direta com os pacientes. A IA pode ainda fornecer suporte contínuo aos pacientes fora das sessões de terapia, através de aplicativos que monitoram o estado emocional e oferecem intervenções personalizadas (e claro, supervisionadas pelo psicólogo) quando necessário.

À medida que a automação transforma o campo da Psicologia, é fundamental considerar suas implicações nas atividades laborais dos psicólogos e encontrar maneiras de equilibrar o uso da IA com a preservação do trabalho humano, reconhecendo que as inteligências artificiais vieram para ficar. Adotando uma abordagem cautelosa e colaborativa, é possível garantir que a tecnologia beneficie não apenas a eficiência, mas também a qualidade e a integridade do cuidado psicológico.

REFERÊNCIAS

OLIVEIRA, L. M. de; FERNANDES JUNIOR, L. C. C. Aplicabilidade da inteligência artificial na psiquiatria: uma revisão de ensaios clínicos. Debates em Psiquiatria, Rio de Janeiro, v. 10, n. 1, p. 14–25, 2020. DOI: 10.25118/2236-918X-10-1-2. Disponível em: https://revistardp.org.br/revista/article/view/41. Acesso em: 16 mai. 2024.

KAMINSKY, Leah. Como a Inteligência Artificial detecta sinais de doenças que humanos não podem enxergar. BBC Future, 15 mar. 2019. Disponível em: https://www.bbc.com/future/article/20190315-how-ai-can-detect-signs-of-disease-that-humans-miss. Acesso em: 16 mai. 2024.

CARVALHO, A. C. P. DE L. F. DE .. Inteligência Artificial: riscos, benefícios e uso responsável. Estudos Avançados, v. 35, n. 101, p. 21–36, jan. 2021.

 

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