(En)Cena – A Saúde Mental em Movimento

A Caixa Que Não Se Fecha

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Outro dia, me peguei pensando em como a gente guarda as coisas. Não as roupas ou os livros, mas aquelas miudezas invisíveis: um medo que sobrou da infância, um orgulho que a gente finge que não tem, um amor que ainda esbarra nos cantos do pensamento.

Se eu tivesse que escolher um lugar para guardar tudo isso, acho que seria uma caixa. Não uma caixa bonita, dessas de presente caro. Seria simples, talvez feita de papelão antigo, com marcas de fita adesiva remendada e cheiro de tempo.

Ali dentro, eu colocaria o som do meu primeiro “sim” e o silêncio dos meus “nãos” engolidos. Guardaria os risos que explodiram sem motivo e os choros que ninguém viu. Também colocaria cartas que nunca escrevi, e palavras que ficaram presas na garganta por medo ou orgulho.

A verdade é que todos temos uma caixa assim. Alguns escondem no fundo do armário, outros carregam debaixo do braço, meio sem perceber. Há dias em que a gente abre, sem querer, e tudo salta: a nostalgia, a vergonha, a ternura.

E tem dias em que a gente fecha com força. Mas nunca por muito tempo. Porque viver é isso: abrir e fechar caixas internas, olhar para dentro com coragem, rir do que passou, chorar se for preciso, e seguir.

No fim das contas, não importa o tamanho da caixa. Importa o quanto de nós ainda cabe dentro dela.

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