O Ódio que você semeia e o Racismo Estrutural

“Ter coragem não quer dizer que você não esteja com medo. (…) Quer dizer que você segue em frente apesar de estar com medo”. Esta é uma das frases marcantes mencionadas no decorrer do longa “O ódio que você semeia” do diretor George Tillman Jr, baseado no livro da autora Angie Thomas. O filme retrata sobre os impactos do racismo através da história de Starr (Amandla Stenberg) que vê o seu amigo khalil (Alger Smith) ser assassinado por um policial que supôs que o jovem estava com uma arma, no entanto ele estava apenas com uma escova.

Partindo desse momento crucial do filme, a trama se desenvolve no confronto interno da jovem Star entre se entregar ao sentimento do medo, ou fazer aquilo que é correto. Em uma sociedade permeada pelo racismo estrutural, e por muitas vezes velado, evidenciar um filme como este é de uma grande importância, pois expõem uma realidade que ainda é vivenciada diariamente por diversas pessoas que por sua cor experiencia situações constrangedoras e por vezes humilhante, o que pode interferir diretamente na saúde mental desse grupo específico.

As pessoas alvo do racismo experimentam diariamente vários sintomas físicos e psicológicos causados ​​por estados permanentes de estresse emocional, angústia e ansiedade, bem como características transitórias de distúrbios comportamentais e de pensamento. Por fim, a exposição diária a situações humilhantes e constrangedoras desencadeia um processo caótico com muitos componentes psicológicos e emocionais 1.

Fonte: encurtador.com.br/dvKQY

A violência com que as autoridades policiais operam, repercute de forma direta na interrupção da vida de pessoas negras, pois em sua grande maioria a sua atuação é aliada à brutalidade direcionada em grande parte às pessoas negras pelo simples fato da pele da sua cor.

Segundo estudo da Fundação João Pinheiro em colaboração com o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), pessoas negras são quatro vezes mais propensas do que brancos a sofrer violência policial durante abordagem. Os pesquisadores traçaram o perfil dos envolvidos e determinaram que quase 7 das 10 pessoas abordadas pela polícia que foram mortas ou feridas eram negras. 36% dos mortos ou feridos pela polícia estavam desarmados. Em 65% dos casos, a vítima não atirou contra os policiais, que geralmente estavam mais presentes 2.

Atualmente a forma da abordagem policiais está sendo discutida de forma intensa, em decorrência de diversos casos de atuação violenta voltada às pessoas negras, tais como em casos como o de George Floyd, Breona Taylor e seu namorado, Kenneth Walker, o adolescente Guilherme Silva Guedes entre diversos outros casos ocorridos. Esses acontecimentos trágicos reforçaram os debates sobre o fenômeno do racismo e a discriminação institucional experimentada por uma das minorias que é a população negra.

Desse modo maiores discussões acerca da temática são necessárias, pois deve haver maior conscientização e compreensão de como o racismo funciona, a diversidade de suas manifestações e seu impacto nas pessoas. É importante estudar e reconhecer esse impacto para que as consequências da agressão racial não continuem sendo ignoradas, subestimadas e invisíveis.

Ficha Técnica

Título: O ódio que você semeia,  The Hate U Give (Original)

Ano produção: 2018

Dirigido por:  George Tillman Jr.

Estreia: 6 de dezembro de 2018

Duração: 132 minutos

Gênero:  Drama

Países de Origem: Estados Unidos da América

Referências

1 – FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Violência contra população negra. Minas Gerais: Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), 2018.Disponível em: <http://www.fjp.gov.br/index.php/servicos/81-servicos-cei/70-violenciapoluçãonegral-nobrasil>. Acesso em: 20 de fevereiro de 2021.

2 – Damasceno, Marizete Gouveia e Zanello, Valeska M. Loyola Saúde Mental e Racismo Contra Negros: Produção Bibliográfica Brasileira dos Últimos Quinze Anos. Psicologia: Ciência e Profissão [online]. 2018, v. 38, n. 3 [Acessado 20 fevereiro 2022], pp. 450-464. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1982-37030003262017>. ISSN 1982-3703. https://doi.org/10.1590/1982-37030003262017.