(En)Cena – A Saúde Mental em Movimento

Relato de uma quase psicóloga

Compartilhe este conteúdo:

Eu estou aqui, no limiar entre o que fui e o que serei, uma estudante de psicologia quase formada, com o coração apertado e a cabeça à mil. São anos. Anos de mergulho em teorias, práticas, dores alheias e as minhas próprias fissuras. Eu quis tanto ser aquela que salva, que entende, que cura… mas, no fundo, às vezes me sinto tão perdida quanto quem busca ajuda.

A faculdade abriu portas para mundos que eu nem sabia que existiam. Descobri que o silêncio pode ser ensurdecedor, que uma lágrima pode ser mais pesada que mil palavras, e que o olhar que recebo pode revelar um universo inteiro de sofrimento e esperança. Já estive frente a frente com o desespero, com a angústia que sufoca e com a beleza frágil da resiliência humana. E tudo isso me transformou de formas que ainda não sei explicar.

Mas também aprendi a sentir medo. Medo de não ser suficiente, medo de errar, medo de carregar nas costas a responsabilidade de uma vida. Medo do julgamento, da cobrança interna que não me permite descansar. Medo do desconhecido que me espera fora da segurança da sala de aula e dos estágios supervisionados.

Eu sonho com o dia em que terei minha própria prática, em que minhas mãos poderão aliviar um pouco da dor do outro. Mas também temo esse dia, porque sei que estar ali não será fácil. Ser psicóloga é um convite para habitar as sombras, as minhas e as dos outros, e ainda assim, continuar de pé. É um compromisso que exige coragem e vulnerabilidade, que eu estou aprendendo a cultivar.

Às vezes, sinto que carrego o peso do mundo em meus ombros, mas sei que não posso desistir. Porque, apesar do medo, há uma chama dentro de mim que não se apaga. A chama da empatia, da busca por sentido, do desejo sincero de transformar vidas, começando pela minha.

Não sei se estarei pronta quando o diploma chegar. Talvez nunca esteja. E está tudo bem. Porque ser psicóloga é ser eternamente aprendiz, é abraçar a incerteza e caminhar, mesmo quando a estrada parece tortuosa e incerta.

Eu estou pronta para esse desafio. Estou pronta para sentir, errar, crescer e me reinventar. Estou pronta para escutar o mundo e, sobretudo, para me escutar. 

Com amor, Ana Carolina.

Compartilhe este conteúdo:
Sair da versão mobile