A Jaula e o poder do condicionamento

           O Filme A Jaula é um drama que traz à tona a violência do sequestro de uma criança e todo enredo do filme se trata do desafio da filha nascida em cativeiro. Os personagens, Paula e Simón, que são marido e mulher, encontram no meio de uma rodovia a pequena Clara que estava sozinha andando somente na faixa branca da estrada.

          Já de início, chama muito a atenção a criança ver carros vindo em sua direção no entanto em momento algum tenta correr para as extremidades da rua, para evitar ser atropelada por algum carro que a pegasse de surpresa, logicamente, este não é um comportamento seguro. No entanto, Paula e Simón pegam a garotinha e a levam para o hospital, quando a menina acorda, pega no mesmo instante um giz e faz um quadrado e somente ali dentro daquele quadrado ela fica tranquila e sem agitação ou agressividade, comportamento que também foi visto quando ela é levada para a casa dos protagonistas.

         A cada momento em que a menina era exposta pela psicóloga a possibilidade de apagarem o quadrado ela se desregulava e o mais rápido possível tentava restituir o seu lugar seguro. Quando Paula pede uma explicação, a criança fala “castigo”, como se certamente fosse ser punida se ousasse sair de dentro daquele quadrado, o que mantinha a criança sempre nestes espaços devidamente delimitados, logo, Clara cria um espaço em toda a casa feito com giz para que a menina pudesse andar pela casa.

Figura 1 – Cena do filme Jaula onde a personagem Clara cria um quadrado feito de giz e fica ali. Fonte: encurtador.com.br/nsuJV

         Para entendermos o porque essa criança se comportava desta forma, se faz necessário ressaltar que durante muitos anos, vários estudiosos tentaram entender o comportamento humano, como as pessoas se comportam, por que emitem comportamentos em alguns ambientes e não emitem esse mesmo comportamento em outros ambientes e buscando encontrar uma forma de controlar e modificar comportamentos. Um dos nomes mais conhecidos por fazer estudos e testes com humanos, focado unicamente em observação e modificação de comportamento, foi  Watson, que conduziu uma experiência com o pequeno Albert.

         Neste experimento Watson desenvolveu um modelo comportamental onde um estímulo é emparelhado com algo seja positivo ou negativo e isto faz com que este estímulo que no início era neutro agora se torna algo agradável, ou algo aversivo, que gera repulsa ao indivíduo.

Figura 2 – Imagem do Experimento do Pequeno Albert. Fonte: encurtador.com.br/lBCDI

     Skinner(1982), definiu outro modelo de observação e modificação de pensamento, conhecido como condicionamento operante, onde os comportamentos não são somente emitidos porque foram emparelhados, mas os comportamentos são regulados, seja reforçados ou colocados em extinção, por causa das consequências.

            Quando vemos Clara se comportar desta forma e ter muito medo de sair de dentro desta jaula feita de giz por estar certa de que algo ruim aconteceria, se dá exatamente porque algo está condicionado em sua mente, de que o único lugar em que ela não seria punida é dentro daquela jaula, provavelmente a cada vez que essa criança saia de dentro daquele cercado de giz era punida severamente, o que fez com que isso se tornasse uma regra para ela, fazendo com que de forma alguma ela se comportasse de forma diferente.

            Neste caso específico foi algo provavelmente feito e firmado na mente daquela criança, e somente a medida que, no final do filme, ela dava passos pra fora da jaula que na verdade era apenas uma prisão mental, ela pode perceber que não era como já havia sido condicionado em sua mente, que não seria castigada instantaneamente, que poderia ser livre para se salvar e salvar a Paula.

             Para Clara, sair dessa jaula era uma questão de vida ou morte, foi o que a moveu a caminhar para fora, muito provavelmente você também tem suas prisões, traumas e realidades que deixaram marcas profundos que hoje fazem com que tome atitudes que muitas vezes nem consegue compreender por que as faz, simplesmente faz como se nem conseguisse lembrar quando isso começou, ou se realmente essa é a melhor opção a ser feita.

            Corremos um grande risco deixando coisas da nossa vida e da nossa história como que um campo minado onde a qualquer momento que alguém pisar, algo explode sem muita explicação, para Clara este condicionamento foi desejado por seu sequestrador como forma de mantê-la sobre seu poder, no entanto conosco muitas vezes nós é que causamos estes condicionamentos pela forma como lidamos com o que nos aconteceu, ou muitas vezes por não termos tido a maturidade necessária para lidar com aquilo naquele momento.

          A longo prazo as relações são colocadas em “xeque” por causa deste campo minado que estende pela história de muitos homens e mulheres, é preciso com coragem e disposição, reabrir os processos e reformular e ser cada vez um pouco mais livre diante dos acontecimentos e sofrimentos do passado, diante do horizonte belíssimo que pode vir a ser futuro.

Referências

SKINNER, Burrhus Frederic. Seleção por conseqüências. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, v. 9, n. 1, p. 129-137, 2007.