(En)Cena – A Saúde Mental em Movimento

SÓ POR HOJE – relato de experiência de um grupo terapêutico transformador

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Com o intuito de transformar teoria em prática, a equipe formada por Amanda Mendes, Ana Luiza Araújo, Bruna Larissa, Jéssica Dias e Jéssica Sousa escolheu o Centro Terapêutico Recanto Girassol, em Luzimangues, como campo de vivência da disciplina Intervenção em Grupo, orientada pelo professor Sonielson Sousa. A escolha da instituição se deu por meio da indicação de uma das integrantes do grupo, que já conhecia a terapeuta da equipe do Centro, o que facilitou o contato inicial e a comunicação com os responsáveis, trazendo-nos uma sensação de maior segurança desde o início. O ambiente é bonito, grande e conta com animais, o que achamos muito terapêutico. Isso também contribuiu para que nos sentíssemos à vontade e em sintonia com o espaço e as pessoas.

O primeiro contato com a instituição foi através de mensagem, uma das participantes do grupo entrou em contato através de sua conhecida. Após, marcamos uma reunião via meet com a responsável e a terapeuta para apresentar o projeto e alinhar detalhes. Desde o primeiro contato, a experiência foi muito positiva, o Centro Terapêutico demonstrou abertura e interesse na proposta apresentada, facilitando datas para os encontros e materiais para utilização durante as intervenções. A instituição foi muito receptiva e acolhedora, o que passou para nós uma segurança e confiança para iniciar os encontros.

Desde os primeiros encontros presenciais, foi possível perceber o compromisso da instituição com o bem-estar dos atendidos e com a qualidade do trabalho desenvolvido em conjunto. A equipe do Centro Terapêutico mostrou-se sempre disponível para dialogar, ajustar cronogramas e oferecer suporte sempre que necessário. Essa postura colaborativa contribuiu significativamente para o desenvolvimento das intervenções em grupo, fortalecendo o vínculo entre nós e a instituição. A atmosfera acolhedora e o ambiente natural e tranquilo do Recanto Girassol também favoreceram a construção de uma relação de confiança com os participantes das atividades, tornando cada encontro uma experiência rica e significativa.

Nos primeiros encontros, foi comum entre nós o sentimento de nervosismo e insegurança diante da responsabilidade de conduzir as dinâmicas em um ambiente até então desconhecido. A novidade do espaço, das pessoas e das experiências que nos aguardavam despertava em cada uma o receio do novo e o desejo de corresponder às expectativas com sensibilidade e respeito. No entanto, a cada intervenção realizada, saímos com a sensação de superação e com a certeza de que não apenas estávamos proporcionando reflexões e trocas significativas para os internos, mas também vivenciando profundas transformações em nós mesmas. Ao final de cada encontro, levávamos conosco mais do que o cumprimento de uma proposta: levávamos aprendizados, inquietações e olhares renovados. 

O processo, inicialmente marcado por dúvidas, se revelou uma jornada de crescimento coletivo, em que aprendemos não apenas sobre o outro, mas também sobre quem somos em relação ao outro. Chegamos ao primeiro encontro com uma forma de pensar e, ao encerrarmos o último, saímos transformadas. A convivência, o diálogo e a escuta nos mostraram que a intervenção não foi unilateral, pelo contrário, foi um exercício constante de troca, onde todos, sem exceção, estávamos aprendendo uns com os outros, todos os dias. Essa experiência nos marcou profundamente e reafirmou a potência dos encontros humanos na construção de saberes, vínculos e afetos.

Encontros e Vivências no Recanto Girassol

Realizamos cinco encontros no Centro Terapêutico Recanto Girassol nos dias 22 e 29 de março, 5, 12 e 19 de abril de 2025, com as seguintes temáticas: apresentação e arteterapia; técnicas de autorregulação; redes de apoio; autorresponsabilidade; e, por fim, confraternização. Cada um desses momentos contribuiu significativamente para a construção de uma experiência coletiva profundamente enriquecedora, tanto do ponto de vista técnico, quanto, sobretudo, humano. Vivemos intensas trocas, enfrentamos desafios e compartilhamos aprendizados que nos atravessaram de maneiras singulares e coletivas, contribuindo para nossa formação, mas, acima de tudo, para a nossa transformação pessoal.

Primeiro encontro: apresentação e arteterapia

Chegamos ao primeiro encontro carregando sentimentos mistos de ansiedade, insegurança e curiosidade. Por mais que tivéssemos nos preparado com dedicação, era inevitável o questionamento interno: “Será que o grupo nos acolherá? A proposta será bem recebida? Como nos posicionar diante de mais de sessenta homens em um espaço até então desconhecido por nós?”. O desconhecido nos desafiava, mas também nos movia. Ao iniciarmos a atividade de apresentação e arteterapia, nos deparamos com um grupo receptivo, ainda que contido em suas primeiras expressões. No entanto, bastaram alguns minutos de escuta e troca para percebermos que havia ali uma disposição genuína para o

diálogo. A interação foi se construindo aos poucos, e, ao final do encontro, nos sentimos acolhidas. Saímos daquele primeiro momento com o coração aquecido e com uma certeza silenciosa, porém firme: estávamos no lugar certo, fazendo algo que fazia sentido para eles, e para nós também.

Segundo encontro: técnicas de autorregulação

No segundo encontro, a insegurança inicial começou a dar lugar a uma sensação de pertencimento e entusiasmo. Já não éramos mais apenas visitantes naquele espaço; começávamos a nos sentir parte do processo. As atividades propostas, voltadas para o fortalecimento da autoestima e o desenvolvimento de estratégias de autorregulação emocional, despertaram falas profundas e espontâneas entre os participantes. Ficamos genuinamente tocadas com a forma como se permitiram mergulhar na proposta, muitos dividiram experiências íntimas, memórias difíceis e conquistas pessoais. Foi nesse momento que compreendemos, com mais nitidez, que não estávamos apenas aplicando uma técnica: estávamos abrindo caminhos para a expressão, para a escuta e para o acolhimento. Sentimos que o grupo se tornava um espaço de confiança mútua, onde cada palavra compartilhada ecoava em todos nós. Saímos do encontro atravessadas pelas histórias que ouvimos e pela entrega que presenciamos, mais conectadas com os participantes e também com nossa própria escolha profissional.

Terceiro encontro: conhecendo as redes de apoio

O terceiro encontro foi, sem dúvida, um dos mais intensos. A proposta de refletir sobre as redes de apoio mobilizou emoções profundas e nos levou a escutar relatos marcados por histórias de abandono, superação, dor e afeto. Ao falarem de quem esteve ou não esteve ao lado deles em momentos difíceis, os participantes tocaram em camadas sensíveis da existência humana, evidenciando o quanto as relações de cuidado (ou a ausência delas) moldam trajetórias. Houve momentos de silêncio que diziam mais do que palavras. Ali, compreendemos ainda mais a potência de um grupo enquanto espaço terapêutico, mesmo que não estruturado como uma psicoterapia formal. Foi emocionante perceber como os próprios participantes se apoiavam, acolhiam e completavam as falas uns dos outros, construindo um tecido coletivo de pertencimento. E, nesse entrelaçar de vozes, também nos sentimos parte como ouvintes atentas, como facilitadoras do processo, mas sobretudo como humanas diante de outras humanidades. Esse encontro nos lembrou que o cuidado psicológico ultrapassa as técnicas: ele está na escuta sincera, na validação da dor do outro e na construção conjunta de sentido.

Quarto encontro: autorresponsabilidade

Chegamos ao quarto encontro com uma presença mais firme, mais integrada ao espaço e ao grupo. A proposta sobre autorresponsabilidade convidou a nós e aos participantes a refletir sobre os próprios atos, escolhas e consequências. Foi um encontro marcado por uma escuta ativa e por uma atmosfera de respeito mútuo. Notamos um amadurecimento coletivo: os participantes já se sentiam à vontade para expor suas percepções, opinar e acolher o que o outro trazia. Entre falas de arrependimento e desejos de mudança, surgiu um senso de que, apesar dos caminhos trilhados, ainda é possível reconstruir, recomeçar e assumir uma postura mais consciente diante da vida. Esse encontro nos ensinou sobre a importância de não apenas ouvir, mas sustentar o silêncio,

acompanhar o tempo do outro e respeitar a profundidade de cada narrativa. Saímos dali com a sensação de que vínculos estavam consolidados entre eles, e também conosco.

Quinto e último encontro: confraternização

O quinto encontro foi envolto por um misto de sentimentos: alegria, gratidão e uma despedida que nos atravessa de maneira sensível. Já não éramos mais estranhas naquele espaço, éramos parte de uma construção conjunta. A roda de conversa e a confraternização permitiram que celebrássemos o percurso trilhado juntos, revisitando os momentos vividos e reconhecendo os vínculos formados. Em meio a esse clima afetivo, um gesto nos marcou profundamente: o responsável pelo Recanto Girassol, emocionado com os frutos da intervenção, realizou uma chamada de vídeo para o reitor da nossa faculdade, solicitando que a parceria continuasse e que mais estagiários pudessem vivenciar o que vivemos ali. Foi um reconhecimento que validou não só nosso trabalho, mas a potência do cuidado quando realizado com verdade e presença. Receber os agradecimentos dos participantes, ver os olhares tocados e perceber que aquele espaço fez diferença foi transformador. Saímos com o coração cheio: não apenas por termos contribuído com o processo de cada um ali, mas por termos sido também transformadas por eles. Finalizamos os encontros com estereótipos quebrados, medos superados e a certeza de que escolhemos a profissão certa.

Reflexão Final

Vivenciar essa intervenção em grupo foi, para nós, a confirmação da potência transformadora do trabalho coletivo, fundamentado na escuta sensível, no vínculo e na presença verdadeira. Aprendemos que, mais do que aplicar técnicas, conduzir uma intervenção é um exercício constante de humanidade. Estar ali, diante da singularidade de cada sujeito, nos exigiu entrega, empatia e abertura para o inesperado. Cada encontro foi uma oportunidade de escutar, acolher e aprender e, nesse processo, fomos nos transformando. Saímos diferentes de como entramos: mais conscientes da delicadeza que envolve a prática psicológica e da responsabilidade ética e afetiva que ela carrega. Nos emocionamos, nos desafiamos e, sobretudo, nos sentimos parte de algo maior: uma rede de cuidado que se constrói no encontro com o outro. Estar ali foi mais do que uma prática de campo. Foi um mergulho em histórias, um reencontro com a escuta, um aprendizado vivo sobre o valor da palavra e do silêncio. Em meio aos desafios, nos sentimos fortalecidas como grupo, como mulheres e como futuras psicólogas Essa experiência nos atravessou de forma profunda, nos tirou da zona de conforto e nos colocou diante da potência do vínculo, do cuidado e da presença. Saímos gratas, transformadas e mais certas de que a Psicologia não se limita a técnicas ou teorias: ela acontece no afeto, na escuta que acolhe e na relação que humaniza. 

Autoras:

Ana Luiza Araújo: Acadêmica de psicologia, Universidade Ulbra- Palmas – anaalmeidaaraujo203@rede.ulbra.br

Amanda Mendes: Acadêmica de psicologia, Universidade Ulbra- Palmas – amandamendesa.psi@rede.ulbra.br

Bruna Larissa: Acadêmica de psicologia, Universidade Ulbra- Palmas – brunalarissa@rede.ulbra.br

Jéssica Dias: Acadêmica de psicologia, Universidade Ulbra- Palmas – diasjessica025@rede.ulbra.br

Jéssica Souza: Acadêmica de psicologia, Universidade Ulbra- Palmas – jessoousa@rede.ulbra.br

Orientador: Sonielson Luciano de Sousa

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