(En)Cena – A Saúde Mental em Movimento

Saúde e Acolhimento das Pessoas Trans é tema de 4º Fórum Permanente de Saúde Mental

O evento aconteceu no dia 3 de abril, as 14h, no Auditório Central do Ceulp. Fizeram parte da mesa como mediadores: Dhieine Caminski (Psicóloga Especialista em Saúde da Família e Gerente de Saúde Mental da Secretaria de Saúde de Palmas), Byanca Marchiani (Presidente da Associação das Travestis e Transexuais do Estado do Tocantins), Jéssica Bernardo Rodrigues (Área Técnica do Departamento de Apoio à Gestão Participativa/SGEP/MS). O evento foi voltado para a importância de um profissional da área de saúde estar bem preparado para efetuar um acolhimento humanizado aos transexuais.

Bianca relatou que não teve muito apoio de associações durante seu processo transexualizador, já que aqui no Estado do Tocantins as mesmas são escassas. Com 7 anos usando hormônio, surgiu nela a necessidade de organização, como a aceitação do nome social e uma boa elaboração do serviço de saúde publica para este publico. Declarou sentir muita necessidade de uma história de mudança da narrativa de vida dos transexuais, já que a maioria se encontra na prostituição.

De acordo com dados da Atrato – Associação Das Travestis e Transexuais Do Estado Do Tocantins, foi registrado que 90% dos travestis e transexuais que residem em Palmas estão na prostituição por falta de oportunidades de trabalho. O quadro de escolaridade se encontra com  apenas 59,4% das trans que estudaram até o 3º ano do ensino médio e em relação a violência física, 96,4% já sofreram ataques físicos, até mesmo pela própria família. No ano de 2017 foram registrados em Palmas apenas 3 casos de transfobia e homofobia, sendo que acontece com frequência e devido ser sempre alvo de violência e desrespeito, muitas trans se abdicam de irem em busca de seus direitos.

Outro assunto discutido foi que a estigmatização da população trans dificulta no resultado de um bom acolhimento, ainda há uma dificuldade de entender que são pessoas como qualquer outra, sendo preciso a necessidade de reconhecer a humanidade no outro. Outra questão que dificulta é o fato da comunidade supracitada estar sempre em estado de exasperação, isto porque é sempre alvo de violência. De acordo com a Atrato foram registrados no Brasil 3,7 a cada 100 mil pessoas do grupo LGBT sofrem violência, enquanto em Palmas este numero é extremamente alto, sendo 15,8 a cada 100 mil.

Em outro momento, Felipe Pinheiro relatou que iniciou seu processo transexualizador por conta própria, não teve direcionamento e a partir de muita procura foi garimpando os profissionais de saúde para lhe ajudar no processo. Relatou ter sentido muita desrespeito devido a demora por parte de profissionais em agilizarem seu processo, não se sentindo amparado. E ressaltou a importância de fazer exames rotineiros para não colocar a saúde em risco.

Rafael outro mediador que compôs a mesa, disse que é preciso uma ampliação do acesso da comunidade trans aos programas de saúde e direitos oferecidos, com respeito a totalidade. O mediador fez um questionamento ´´Por que precisamos discutir este assunto?“ em seguida respondendo que ´´somos uma sociedade marcada pelo escravismo e patriarcado, mulheres e negros sem autonomia. Este cenário vem se modificando, mas se encontra muito presente o machismo, o racismo e a LBGT fobia“.

Rafael ainda ressaltou a importância de um espaço de informação para discussão de gênero, pois o resultados das mesmas são determinantes sociais e é necessário que se faça parte da política de saúde. É preciso uma maior reflexão, com intuito de garantir acesso em todos os espaços da sociedade, seja na saúde, lazer ou trabalho. Declarou ´´muitos profissionais da saúde não assumem a discriminação, mas reproduzem através de aceitação de comentários e da reprodução de humor negro. Precisamos compreender a nossa responsabilidade enquanto profissionais e sociedade. O Estado brasileiro precisa se responsabilizar pela vida e segurança destas pessoas“.

Por fim o fórum terminou com perguntas/reflexões do publico presente. A acadêmica de Psicologia do Ceulp Ulbra, Monique Débora, relatou que é visível a quantidade dês colegas de curso que ainda se mantém neutros, e muitos justificam com a religião. A acadêmica gerou reflexão. ´´O que Deus fala pra você não tem de ser imposto pra vida do outro. Não existe uma Psicologia Cristã. O curso de Psicologia do Ceulp favorece, mas muitos acadêmicos não adentram a este campo. Que psicologia estamos construindo? Precisamos de mais psicologia e menos cristianismo. Podemos ser cristãos e ainda assim ter uma postura cientifica, a psicologia é uma ciência e não uma religião“, declarou.

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