Preta Maria Gadelha Gil Moreira, a Preta Gil, faleceu em 20 de julho de 2025, aos 50 anos, deixando o Brasil em luto. Filha de Gilberto Gil, mãe e avó, construiu uma carreira marcada pela autenticidade: cantora, atriz, apresentadora e empresária, sempre se posicionando em defesa da autoestima, da representatividade negra, da comunidade LGBTQIAPN+ e do direito de cada um ser quem é. Do estúdio aos palcos, passando pelo Carnaval com o Bloco da Preta, sua trajetória foi permeada por luz, coragem e generosidade. O falecimento provocou grande comoção, causando arrepios e lágrimas, como se alguém muito próximo tivesse partido, reforçando o impacto que sua vida e coragem exerceram sobre todos que a acompanhavam. A batalha contra o câncer colorretal, diagnosticado em janeiro de 2023, evidenciou sua vontade imensa de viver, tornando-se um exemplo de coragem, amor e humanidade. Até o fim, enfrentou a doença com persistência, inspirando reflexão sobre a crueldade da perda e sobre como a determinação e a resiliência podem ensinar sobre a vida, mesmo nos momentos mais difíceis.
Nos quase dois anos e meio, enfrentou tratamentos intensos, incluindo quimioterapia, radioterapia e cirurgias complexas para retirada de tumor, como a retirada de parte do intestino e uma histerectomia total abdominal. Em agosto de 2024, a doença recidivou, atingindo diferentes regiões do corpo e, diante do esgotamento das opções convencionais no Brasil, buscou tratamentos experimentais nos Estados Unidos. Mesmo em meio à dor e ao desgaste físico, manteve serenidade, refletindo sobre sentimentos de culpa e sobre o auto-perdão, compreendendo que o câncer não se limita a escolhas individuais. Durante o tratamento, descobriu traições e decidiu se separar, descrevendo essa fase como uma “bomba dentro de uma bomba” e encarando o processo como um “tratamento dentro de um tratamento”. Reconheceu que cada pessoa enfrenta fatores diferentes na vida e reforçou a importância da saúde mental, física e emocional, destacando que nem todos têm acesso a apoio psicológico. Com o acompanhamento de uma equipe multiprofissional, conseguiu suporte adequado e entendeu que a saúde emocional, espiritual e social é fundamental para o enfrentamento de uma doença grave.
A primeira visita durante esse período difícil foi do pai, quem ela considerava um orixá vivo, que a ajudou a compreender a finitude da vida, mostrando que o fim é uma realidade para todos, e que não escolhemos o dia de partir. Ao longo da jornada, enfrentou questões delicadas relacionadas a relacionamentos, afinal, mulheres muitas vezes permanecem em casamentos abusivos ou são abandonadas ao receber diagnósticos graves, precisando se submeter a parceiros que não contribuem emocional ou financeiramente. Preta teve forças para se priorizar, tomando a decisão de se separar e reconhecendo que não fazia sentido permanecer em uma situação em que não era cuidada da maneira que merecia. Descobriu uma relação extraconjugal que explicava aspectos do casamento que a incomodavam e, para processar tudo, realizou terapia. O amor recebido de suas redes sociais foi infinitamente maior que as experiências negativas, e manteve ferramentas de proteção para preservar sua saúde mental, afastando-se de comentários de fofocas e haters. Durante uma crise intensa de ansiedade, com sensação de falta de ar e taquicardia, o impacto não ocorreu imediatamente após a separação, mas posteriormente, à medida que processava a situação e as “fichas caíam”. Entendeu todo o processo de cura como uma reabilitação.
A fé foi outro pilar essencial em sua trajetória: confiança em si mesma, na medicina, na espiritualidade e, sobretudo, no amor. Amigos como Carolina Dieckmann, Bela Gil, Fernanda Paes Leme e Gominho, junto à família, formaram uma rede de apoio sólida que sustentou cada etapa da jornada. Alguns amigos abdicaram de momentos e compromissos pessoais para estar ao lado dela, reforçando o quanto uma amizade verdadeira faz diferença nos momentos de maior dificuldade. Esse suporte coletivo complementou os cuidados médicos, evidenciando a importância da solidariedade e do cuidado mútuo.
Preta quebrou tabus ao expor vulnerabilidades, não escondendo a bolsa de ileostomia e mostrando cicatrizes e momentos de fragilidade. Sua volta aos palcos, chamada de “prescrição médica”, simbolizou resistência e reencontro com a alegria de ser quem era. Sua trajetória evidencia que cuidar da saúde mental, emocional, espiritual e social é tão essencial quanto qualquer procedimento médico, mostrando que a vida merece ser vivida até o último instante, com afeto, dignidade e esperança.
O Brasil perdeu uma estrela, mas o legado permanece: um testemunho de amor à vida, força diante da dor, cuidado consigo e com os outros, e inspiração para viver com coragem, fé e verdade, mesmo nos tempos mais difíceis.
Referências:
BRASIL. CNN Brasil. Morre a cantora Preta Gil aos 50 anos. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/brasil/morre-a-cantora-preta-gil-aos-50-anos. Acesso em: 12 set. 2025
BRASIL. Correio 24 Horas. Quem são os amigos que formaram a rede de apoio de Preta Gil durante o tratamento contra o câncer. Disponível em: https://www.correio24horas.com.br/em-alta/quem-sao-os-amigos-que-formaram-a-rede-de-apoio-de-preta-gil-durante-o-tratamento-contra-o-cancer-0725. Acesso em: 12 set. 2025.
BRASIL. Gshow. Preta Gil e Rodrigo Godoy: relembre as polêmicas da separação do casal. Disponível em: https://gshow.globo.com/cultura-pop/famosos/noticia/preta-gil-e-rodrigo-godoy-relembre-as-polemicas-da-separacao-do-casal.ghtml. Acesso em: 15 set. 2025.
BRASIL. Metrópoles. Entenda tratamento experimental que Preta Gil realizava nos EUA. Disponível em: https://www.metropoles.com/saude/entenda-tratamento-de-preta-gil. Acesso em: 15 set. 2025.
BRASIL. Terra. Morte no Dia do Amigo: Preta Gil teve suporte de pessoas próximas ao longo do tratamento. Disponível em: https://www.terra.com.br/diversao/gente/morte-no-dia-do-amigo-preta-gil-teve-suporte-de-pessoas-proximas-ao-longo-do-tratamento%2Ccfb52a221cb4d0d71176d5029a69850f6k5zscsc.html. Acesso em: 15 set. 2025.