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Naruto e a Jornada do Herói: o ninja que nunca volta com sua palavra

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Naruto Uzumaki, protagonista da obra de Masashi Kishimoto, é um herói que se aproxima da realidade humana: inquieto, brincalhão, desastrado, sonhador e determinado, ele se mostra hiperativo e impetuoso, características que dialogam com a singularidade do herói japonês. Como aponta Silva (2019), o herói tradicional japonês é enxergado pela sociedade restaurador da ordem, que respeita hierarquias, regras e normas sociais; entretanto, Naruto se apresenta de forma contraditória, para passar a ideia do herói como uma contradição cultural, quebra paradigmas, desafiando as normas impostas pela cultura e impondo sua própria filosofia de vida, mantendo a fidelidade à sua palavra e à sua missão.

Desde os doze anos, Naruto carrega um peso muito grande: sua história o levou a portar a Kyuubi, a raposa de nove caudas, selada em seu corpo por seu pai, durante o ataque que ela fazia na aldeia da folha, sua aldeia de origem. A raposa iria destruir tudo, mas, como último ato, seu pai sela a Kyuubi (raposa de nove caudas) no Naruto para proteger a Aldeia da folha. A Kyuubi revela-se como uma força mística e simbólica, capaz de devastar ou proteger, dependendo de como é usada. Naruto manifesta traços psicológicos da raposa, astúcia e brincadeira, mas sem tendências vingativas, indicando que a narrativa enfatiza a construção ética do herói e sua integração com o inconsciente.

Ao ser desprezado por seus colegas e considerado fraco por muitos, Naruto enfrenta um processo contínuo de superação, despertando seu poder interior e sua identidade heroica conforme a história no anime se desenvolve. Apesar de ser visto como um fracassado, ele possui desde o início uma crença inabalável em si mesmo e uma filosofia motivadora que o impulsiona a perseguir o sonho de se tornar Hokage, um líder absoluto e maior cargo que se pode ter na aldeia, capaz de proteger sua aldeia e manter o equilíbrio. Em sua jornada, ele nunca se deixa guiar por normas rígidas ou expectativas externas, sempre deixando isso claro na célebre frase: “Esse é meu jeito ninja!”.

A jornada de Naruto reflete o arquetípico processo de individuação descrito por Jung (2014).  O confronto com a Kyuubi representa o encontro com a sombra: os aspectos internos que ele rejeita ou teme. Ao mesmo tempo, o distanciamento social e a busca por reconhecimento simbolizam o esforço de Naruto em se compreender e se integrar ao grupo. Esse processo mostra que, ao encarar e aceitar as partes de si mesmo que estavam em conflito, ele caminha em direção à integração da sua personalidade, aceitando todos os seus lados, sem rejeitar nenhuma parte de si mesmo, trazendo à realização de sua totalidade como ser. Paralelamente, Campbell (1992) observa que o herói enfrenta um chamado que desafia a ordem estabelecida, representado, no caso de Naruto, pela necessidade de superar os medos e o preconceito da comunidade, bem como superar seus próprios limites.

O exílio simbólico do protagonista que é rejeitado e marginalizado em sua própria aldeia por ser diferente, sem saber a verdade sobre sua linhagem familiar, como sendo o filho do quarto Hokage, reforça a dimensão mítica da narrativa, lembrando figuras arquetípicas como o Rei Arthur, que só reconheceu seu destino ao retirar a espada da pedra. Dessa forma, Naruto emerge como um herói que, mesmo isolado, persevera em sua missão, integrando poder, ética e responsabilidade social.

   A história do Naruto nos mostra que o verdadeiro herói não se mede apenas por força física, mas sim pelo compromisso com a própria palavra, pela capacidade de enfrentar provações internas e externas, pela resiliência de nunca desistir e pela habilidade de transformar tanto a si mesmo quanto os outros, construindo um legado que transcende o individual e atinge a comunidade.

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