A Psicologia sob a Perspectiva do Terceiro Setor na Proteção Infantil

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O livro Manuais da psicologia – vol. 3 – psicologia organizacional aborda alguns aspectos acerca da atuação do psicólogo na ONG de proteção infantil, visto que certamente é um tema de grande relevância nos dias atuais, destacando-se a importância de conhecermos o público alvo da instituição e quais são as pessoas que utilizam os serviços dessa instituição. Sabe-se que as pessoas que utilizam os serviços são crianças no processo de interação e socialização com as demais, isso se deve ao fato do rompimento das práticas de convivência uns com os outros.

Importante salientar que seja no espaço social ou familiar sabe-se que a cada dia que passa, o distanciamento familiar vem tomando cada vez mais esse espaço, devido a vulnerabilidade social em que as famílias se encontram, pela falta de diálogo e por estar sendo cada vez mais deixado de lado a imposição de regras e limites por parte das famílias.

A ONG em linhas gerais conta com um cenário de crianças e são analisados seus contextos familiares, tendo acompanhamento social na realização de visitas e atividades interventivas, assistindo essas crianças de maneira integrativa e humanizada, algo que as faz sentir melhores consigo mesmas e aptas a encarar as adversidades da vida. Netto afirma em seus achados que: o limite parece claro: nenhuma ação profissional (e não só dos assistentes sociais) suprimirá a pobreza e a desigualdade na ordem do capital. Mas seus níveis e padrões podem variar, e esta variação é absolutamente significativa – e sobre ela pode incidir a ação profissional, incidência que porta as possibilidades da intervenção que justifica e legitima o Serviço Social. O conhecimento desses limites e dessas possibilidades fornece a base para ultrapassar o messianismo, que pretende atribuir à profissão poderes redentores, e o fatalismo, que a condena ao burocratismo formalista (2007, p. 166).

Fonte: encurtador.com.br/ixyQ8

As crianças que se apresentam como público alvo nesse cenário se encontram com déficits econômicos, sociais e culturais, exigindo alternativas que venham ajudar essas famílias a mudar em à forma que estão vivendo se distanciando cada vez mais umas das outras, fazer com que percebam as consequências que acarretarão com esse novo modelo de vida que está sendo adotado e que compreendam a necessidade de mudança, para que consigam reverter essa realidade e com isso possam melhorar a qualidade de vida familiar.

Na atuação do psicólogo é preciso compreender que é preciso que a relação entre a demanda e a cobertura do atendimento esteja voltada para se compreender as consequências que a falta desses vínculos pode ocasionar, visto que, é notória nos dias atuais uma grande e preocupante falta de socialização, onde as pessoas estão cada vez mais se distanciando umas das outras, mesmo as que moram na mesma casa.

FICHA TÉCNICA

Título: Psicologia Organizacional – Coleção Manuais da Psicologia para Concursos e Residências (Volume 3)
Autores: Camila Ferreira Oliveira / José Bonifácio do Amparo Sobrinho / Laila Leite Carneiro / Roberta Ferreira Takei

Páginas: 296
Edição:
Ano: 2018
Editora: Sanar

REFERÊNCIAS

IAMAMOTO, Marilda V. Psicologia em tempo de capital fetiche: capital financeiro, trabalho e questão social. 6 ed. São Paulo: Cortez, 2011.

NETTO, José Paulo. Desigualdade, pobreza e Psicologia. Rio de Janeiro: UERJ. Revista em Pauta. 2007. n. 19, p. 134-170.

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Agência de modelos celebra o Dia Internacional do Albinismo

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Data é comemorada neste domingo (13) e chama atenção para esta causa 

No próximo domingo (13) é celebrado o Dia Mundial de Conscientização do Albinismo. Instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2015, a data tem como objetivo chamar a atenção para que sejam eliminadas todas as formas de violência e preconceito enfrentadas por pessoas com albinismo em todo o mundo, apoiar sua causa – desde suas realizações e práticas positivas até a promoção e a proteção de seus direitos. Pensando nisso, a agência Max Fama fez este editorial com alguns dos seus modelos.

“Queremos chamar atenção para esta causa mostrando que quem tem albinismo é capaz de fazer tudo”, relata a produtora de moda da agência de modelos Max Fama, Carolina Souza. “Sabemos que ainda existe muito preconceito, mas é pura falta de informação. Isso só vai diminuir ou acabar se a gente falar sobre o tema e alertar sobre a causa. Por isso fizemos este material cheio de amor”, finaliza.

Fonte: Jorge Luiz Garcia

Vale lembrar que o albinismo é uma desordem genética na qual ocorre um defeito na produção da melanina, pigmento que dá cor à pele, cabelos e olhos. A alteração genética também leva a modificações da estrutura e do funcionamento ocular, desencadeando problemas visuais.

Não existe, atualmente, nenhum tratamento específico e efetivo, pois o albinismo é decorrente de uma mutação geneticamente determinada. Pessoas com albinismo devem iniciar o acompanhamento por profissionais de saúde assim que o problema for detectado.

Fonte: Jorge Luiz Garcia

O albinismo não é contagioso, não compromete o desenvolvimento físico e mental nem a inteligência de seus portadores. Infelizmente, muitos são cercados de mitos e preconceitos que têm impacto negativo sobre sua autoestima e sociabilidade.

Vamos celebrar este dia com amor e informação, são as únicas maneiras de combater o preconceito!

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Proteção Exagerada ou Cuidado Necessário?

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Após a criação das Leis Trabalhistas, em alguns momentos, a sociedade questiona se o direito do trabalhador coloca em maus lençóis o empregador, argumentando que a lei protege muito o empregado e cobra muito do contratante dos serviços. Esse discurso esteve em volga principalmente com aquisição dos direitos das empregadas domésticas, onde muitas pessoas enunciavam que seria caro agora manter uma pessoa trabalhando nas nossas casas ou ser muito difícil do empregador estar na legalidade. Mas será que de fato as leis trabalhistas trazem este cunho de proteção excessiva aos trabalhadores?

O Direito do Trabalho surge com a Consolidação das Leis Trabalhista- CLT, em 1943. Até este momento a atividade do Trabalho era caracterizada com altas jornadas, em locais insalubres, sem período de descanso, baixos salários, em algumas situações provocando inclusive a morte de colaboradores. Este decreto surge para regulamentar a relação do empregado com o empregador, tentando garantir melhores condições de trabalho, determinando a carga horária, o contrato trabalhista, período de descanso e entre outros aspectos.

Vale ressaltar ainda, que o trabalho significa atividade de produção do homem sobre o mundo, entende-se também que nesta relação de trabalho com o trabalhador há uma produção de subjetividades. Considerando o contexto desta produção do trabalhador anterior a lei, compreende-se que aquele trabalhador tinha a sua produção mediada por um ambiente de escravidão, onde não era possível dar dignidade àqueles trabalhadores. Um ambiente que produz estes estigmas em curto prazo de tempo vai enlouquecer as pessoas. Entende-se que estes estigmas e o contexto eram mantidos desta maneira, pois o objetivo dos empregadores era gerar lucro e para isto, os seres humanos se transformavam em máquinas. Como os trabalhadores eram máquinas não era preciso entender que aqueles sujeitos cansavam e nestas condições poderia ocasionar acidentes de trabalho; trabalhar em locais insalubres poderia provocar males à saúde, ou ainda, que a baixa remuneração não poderia afetar nada nos desejos e reconhecimento daqueles sujeitos. Enfim, nada disto era levado em consideração, pois eram máquinas. O pior que estas questões geravam prejuízo para o empregador, porque em determinadas situações ficava sem o colaborador e o lucro.

Com a criação das leis trabalhistas, este discurso foi alterado, pois estas normas possibilitaram que o trabalho produzido seja com dignidade, transformando o sujeito que outrora era máquina em homem. Entendendo que quando garanto as leis trabalhistas para aquele sujeito, eu olho, trato e cuido do mesmo como um ser humano. Vários estudos, começando por Elton Mayo, demonstraram que quando o sujeito é tratado como ser humano aumenta a sua produtividade, gerando benefício para o empregador.

Apesar destas leis trazerem esta possibilidade de humanizar o trabalho, o Direito Trabalhista segue alguns princípios em sua base, os quais são: da norma favorável ao trabalhador, da condição mais benéfica e a irrenunciabilidade dos direitos.  A primeira diz respeito da elaboração, hierarquia e interpretação das normas devem beneficiar o trabalhador. O segundo princípio é referente às vantagens conquistadas no trabalho não devem serem reduzidas. O terceiro enuncia que o trabalhador não pode deixar de receber ou ser aplicados os seus direitos. Observando estes princípios, nota-se que em todos estes privilegiam a figura do trabalhador, sendo assim, é possível sentir até piedade do empregador.

No entanto, quando lançamos este olhar de piedade para o empregador não é levado em consideração os requisitos para que o trabalhador apresente um vinculo trabalhista, os quais são: o empregado ser pessoa física, o trabalho apresentar continuidade, relação de subordinação do empregado para com o empregador, haver salário, a prestação de serviços devem ser realizados pessoalmente. Analisando estes fatores citados acima, destaca-se que quem muitas vezes pode perder a expressão de seus desejos, vontades, escolhas é o empregado, e não o empregador, uma vez que é necessária a relação de subordinação. Desta maneira, o Direito do Trabalho traz apenas condições para que esta subordinação não seja transformada em escravidão.

Logo, as manifestações realizadas a favor do empregador devem ser escutadas e respeitadas, pois, as leis foram criadas para beneficiar o colaborador. Acima de tudo isto, deve ser analisado a produção de subjetividade que está implícita nos discursos destas manifestações e de outras, já que estes discursos constroem práticas e subjetividades.

 

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Onde Vivem os Monstros: há algo selvagem em todos nós

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“…existe algo selvagem dentro de todos nós.”

O filme é baseado no Best-Seeler americano “Onde vivem os monstros”, de Maurice Sendak, e conta a história de Max, uma criança solitária que vive com a mãe e a irmã. Ele ama brincar, tem uma imaginação fantasiosa e muito fértil. Tem dificuldade para lidar com o “Não”, e se torna impulsivo, agressivo e inconsequente quando contrariado.

Max se sente muito só. Sem ter com quem brincar, vê na mãe a figura de referência e deposita nela toda sua carência.

Quando o namorado da mãe vai jantar em sua casa, ele se sente ameaçado. E, com medo de perder sua mãe, ele começa a agir impulsivamente e de maneira infantil, chegando a morder sua mãe. Pode-se destacar aqui um dos mecanismos de defesa do ego: a regressão.

Quando percebe sua atitude rude e fora de contexto, ele sente-se na obrigação de fugir, e sai correndo pela cidade, sem direção certa, fantasiado de lobo.

Max chega ao litoral, e vê um barco abandonado na água, entra nele, e depois de atravessar o mar agitado chega a uma ilha diferente de tudo o que já viu. A ilha é habitada por seres inimagináveis, sete monstros enormes: Carol, Douglas, Janeth, Ira, Alexander, Touro e KW. Seres antropozoomorficos muito fortes.

A viagem é um mergulho profundo no mundo fantasioso de Max, e vital para sua maturação. Nesse lugar, fora da realidade, e interagindo com esses seres o garoto consegue lidar com o mundo real, e aprende regras de convívio social.

Há uma identificação instantânea entre Max e cada um dos monstros. É importante frisar que casa um dos seres tinham características muito humanas, e cada uma muito próxima com a realidade de Max: Carol era impetuoso, intenso, dramático; não por ser um ser mau, mas por estar perdido e se sentir abandonado. Douglas (a ave) era o grande amigo de Carol, e mesmo quando é agredido e perde uma asa, continua fiel à sua amizade. Alexander (o bode) é carente, inseguro, e se sente negligenciado, incompreendido. Judith é muito agressiva, inconsequente, fala o que vem à sua cabeça. Ira é amável e companheiro, sempre está ao lado de Judith. Touro era sempre calado, e nunca fala nada, mas no final do filme, demonstra ser melancólico e amigável. KW – dócil, gentil, maternal, e sempre evita discutir.

Em seu primeiro contato com o grupo, Max se percebe que todos estão muito infelizes, e que eles estão se fragmentando, mas o garoto ainda não entende o motivo. Para não ser devorado, Max se diz ser rei em outro mundo, com poderes especiais. Ao prometer fazer com que todos sejam eternamente felizes ele acaba sendo eleito rei.

Todos os monstros aceitam a autoridade de Max, e os primeiros momentos de governo são cheios de muita diversão. Ele está feliz em meio aquele grupo, é quando ele começa a conversar com KW, um monstro feminino, que carrega traços de sua mãe. Ela é seu referencial de segurança e proteção.

Com o passar do tempo Max fica cada vez mais intimo do grupo e começa a perceber os problemas que surgem ali, e que a maioria é causada por Carol. Ele se projeta em Carol e consegue ver nele características particulares suas. Melhor que ninguém Max consegue entender porque o monstro tem aquela atitude agressiva e desesperada quando percebe que o bando está se desfazendo, mas inserido no contexto, ele entende como aquilo afeta todo o grupo, e passa a refletir sobre sua própria postura em relação à sua família.

A ver todos tristes, Max sugere que brinquem de “Policia e Bandido” jogando bolo de barro uns nos outros. Logo a brincadeira passa de divertida para agressiva. E ao ver que Alexandre se machucou na brincadeira, ele entende que para cada escolha sua existe uma consequência.

Com o fim trágico da brincadeira KW decide se afastar do grupo, e Carol culpa Max por isso. Ao perceber que ele não é rei, e que não tem poderes sobrenaturais nenhum, Carol começa a perseguir o garoto pela floresta cheio de fúria. Max consegue se esconder no estomago de KW, e é ai que o garoto entende como ele próprio age com sua família.

Na manha seguinte, ele decide que é hora de voltar para casa, se desculpa com os monstros e conta a verdade, inclusive para Carol. Nesse ponto, quando ele enfrenta todos os “seus” monstros, ele consegue superar todo o medo que estava da mudança, o medo profundo e inconsciente que Max tinha de amadurecer.

Na frase final de KW ao se despedir de Max: “eu poderia comer você de tanto amor”, é que entendemos o ato de profundo desespero e medo de perder a mãe que motivou Max a mordê-la, neste momento ele demonstra um arrependimento genuíno.

Max volta para casa, e ainda é noite. Ele percebe que nada mudou ao ser recebido calorosamente e cheio de amor por sua mãe. E nesse ponto, no final do filme a reflexão que fica é: Que tal encarar seus monstros?

FICHA TÉCNICA DO FILME:

ONDE VIVEM OS MONSTROS

Título Original: Where The Wild Things Are.
Direção: Spike Jonze.
Roteiro: Spike Jonze e Dave Eggers, baseado em livro de Maurice Sendak.
Elenco: Kalia Prescott,  Mark Ruffalo, Max Pfeifer, Madeleine Greaves; 
País: Estados Unidos
Ano: 2009
Gênero: Drama

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procurando nemo

Análise das contingências do filme “Procurando Nemo” e sua utilização no setting terapêutico

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“Procurando Nemo” conta a história de dois peixes-palhaço, Marlin e Nemo, pai e filho. O início da história apresenta a base de sustentação de muitas das motivações e medos dos personagens principais, pois a Coral (o peixe-mãe de Nemo) morre ao tentar proteger seus filhotes. Marlin estava junto, mas não conseguiu proteger Coral, nem as crias. Somente uma ova sobreviveu ao ataque. Nemo, o sobrevivente, além de ser criado apenas pelo pai, nasceu com uma das nadadeiras diferenciadas (era bem menor que o normal). Agregando esse fato à questão de ser o sobrevivente de uma tragédia, eis o cenário ideal para uma criação superprotetora e insegura. No primeiro dia de escola, Nemo – ao discutir com seu pai – vai em direção ao alto-mar e é capturado por um mergulhador. Daí inicia-se a jornada do pai a procura do filho.

Nessa jornada, Marlin conta com a ajuda de um peixe chamado Dory, uma criatura otimista, engraçada e com sérios problemas de memória. Enquanto isso, Nemo passa a viver em um aquário no consultório do dentista que o capturou. Nesse aquário faz novos amigos e estes tentam lhe ajudar a voltar para o pai e a se livrar da sobrinha do dentista (uma criança mimada que costuma matar seus pobres peixes). O desafio, o ato de bravura, a dor, a perda, a necessidade de superação, a amizade e o amor entre pais e filhos formam a tônica que fizeram desse filme um sucesso de público e crítica. Com “Procurando Nemo”, a Pixar ganhou o Oscar de melhor animação e fez um conto belíssimo sobre as buscas que travamos dentro do oceano de significados que compõe cada um de nós.

As contingências encontradas no filme e que podem ser relevantes em um contexto clínico serão dispostas a partir da contingência de Três Termos:

S —  R  –>  S, onde:

• S indica estímulos ambientais.
• S antes do R – ambiente antes da ação.
• R indica resposta (ou comportamento).
• O traço, uma probabilidade de a resposta ocorrer.
• A seta uma certeza que haverá conseqüência.
• S depois da seta – o ambiente depois da ação.

As contingências apresentadas acima podem ser usadas em diversos contextos clínicos, a saber:

– Suponhamos uma situação em que os pais enviam o filho para a terapia por acreditarem que a criança não tem limites. Depois das entrevistas realizadas, de alguns encontros com a criança e seus pais, a psicóloga entende que a criança está apenas realizando ações relativa a sua idade e o que ocorre é que os pais em questão são muito protetores, pois já perderam um filho em um trágico acidente. Como tal situação envolve uma criança cujos pais estão reforçando a incidência de um comportamento rebelde justamente por não darem espaço à criança de vivenciar coisas comuns a sua idade, é interessante que a psicóloga – em um dos encontros – convide os pais para participar do processo e mostrar o filme para eles e a criança.  A analogia para tal situação do filme é clara, nesse aspecto é até interessante que não haja maiores explicações por parte da psicóloga. Mas que, a partir da exposição do filme, sejam trazidas à tona certas variáveis de controle que possam ser usadas para uma mudança do comportamento tanto dos pais, quanto da criança.

– A vida cotidiana de pessoas extremamente desconfiadas não deve ser das melhores, pois se há uma desconfiança extrema, então todas as decisões tendem a cair sobre a própria pessoa, já que estas não confiam no outro o suficiente para compartilhar certos aspectos da vida. Um ponto interessante do filme é a amizade que surge entre Marvin e Dory mesmo sendo tão diferentes. Tal diferença até contribui para que eles possam vencer os desafios que lhes são apresentados. Nesse contexto, a cena em que Marvin tem que deixar uma difícil decisão nas mãos de Dory é emblemática, pois ali ele prova que, finalmente, confiou nela. A ideia que fica é a de que a busca dos dois é um trabalho em equipe, uma jornada conjunta. Tal ideia pode ser muito bem utilizada no setting terapêutico.

– Um ponto divertido no filme, ainda que quase trágico, é a luta dos três tubarões contra o desejo de comer peixe. Ali é mostrada o quão complexa é a fuga do que se acredita ser “sua real natureza”. Talvez o pior tipo de preconceito seja aquele que a pessoa carrega dentro de si por achar que está presa a um tipo de comportamento ou a um estereótipo. Compreender que a maior luta que se trava não é com o outro, mas sim consigo mesmo, é um desafio extremo. As variáveis necessárias para a mudança de comportamento, consideradas em função de um dado ambiente, têm que provocar o entendimento da contingência pelo próprio indivíduo. Ou seja, muitas consequências negativas não são percebidas pelas pessoas, é como se as respostas das quais essas se derivaram não tivessem um link entre si ou, melhor, que tais links não fossem claros para o indivíduo que os provocou.

– Muito interessante também a questão de relacionarem o Marlin a um comediante em potencial por ele ser um peixe-palhaço. Essa passagem do filme é uma maneira lúdica de mostrar à criança questões relativas a determinados preconceitos, por exemplo, de credo, classe social etc. Não precisamos ser simplesmente aquilo que nosso contexto histórico-social nos impõe, pois apesar de ser histórico e social, o indivíduo também é reflexo de suas contingências, do comportamento que tem no tempo presente. E isso é algo que deve ser considerado em qualquer análise comportamental, ou seja, que a força de um passado não pode ser fator decisivo para engessar o presente e subtrair o futuro.

De uma forma geral, essas situações apresentadas corroboram com a ideia de que filmes podem ser usados para o entendimento de contingências. Mesmo histórias lúdicas ou metafóricas podem, em um dado nível, contribuir muito para que o indivíduo entenda certas operações capazes de estabelecer determinados comportamentos. Ao invés do terapeuta apontar diretamente tais conseqüências que advém de determinados comportamentos do sujeito, é mais apropriado promover a descoberta disso pela própria pessoa. Essa descoberta pode ser construída a partir de várias situações e, nesse ínterim, a história de um filme ou de um livro pode ser uma delas.

REFERÊNCIAS:

OLIVA, V. H. S.; VIANNA, A.; NETO, F. L.. Cinematerapia como intervenção psicoterápica:características, aplicações e identificação de técnicas cognitivo-comportamentais. Disponível em: http://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/vol37/n3/138.htm. Último acesso: 27/06/2010.

SKINNER, B, F. O comportamento verbal. São Paulo: Cultrix, 1978.

VANDENBERGHE, Luc. A Análise Funcional. In: M. Z. S. Brandão; F. C. S. Conte; F. S. Brandão; Y. K. Ingberman; V. L. M. Silva; S. M. Oliani. (Org.). Sobre Comportamento e Cognição. Contingências e Metacontingências: Contextos Sócio-verbais e o Comportamento do Terapeuta. 1 ed. Santo André, SP: ESETec, 2004, v. 13, p. 62-71.

 

FICHA TÉCNICA DO FILME:

PROCURANDO NEMO

Título original: Finding Nemo
Diretoção: Andrew Stanton, Lee Unkrich
Roteiro: Andrew Stanton, Bob Peterson, David Reynolds
Ano: 2003
País: EUA/ Austrália
Gênero: Animação

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pequena miss sunshine

A pequena Miss Sunshine: um estudo sobre a dinâmica familiar

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“O verdadeiro fracassado não é alguém que não vence.
O verdadeiro fracassado é aquele que tem tanto medo de não vencer
que não chega a tentar”. – Vovô

O filme ‘A pequena Miss Sunshine’ gira em torno de uma família que atravessa um período de grandes dificuldades, cada integrante da família em sua individualidade nos mostra seus desafios e limitações, Richard é o pai frustrado com seu programa de auto-ajuda que deveria fazer das pessoas vencedores porém não consegue aplicar nem mesmo à sua própria vida, Sheryl a mãe que precisa se desdobrar para ajudar o marido, o irmão gay Frank, que tentou o suicídio depois de uma desilusão amorosa, o filho adolescente Dwayne mantém meses um voto de silêncio inspirado por Nietzsche a fim de conseguir se tornar um piloto de aviões, a pequena Olive que sonha em ser miss e ensaia diariamente uma coreografia com o avô que é viciado em heroína. Nem de longe possuem sua saúde mental perfeita, mas em prol do sonho de Olive de se tornar miss embarcam numa viagem, que além das surpresas no percurso, a apresentação de Olive traz para a família mudanças inimagináveis!

O desenrolar da história se dá na viagem de dois dias que a família faz rumo à Califórnia para Olive participar do concurso Pequena Miss Sunshine. O roteiro entrelaça os personagens de forma brilhante e eficiente, com argumentos que mantêm a história movendo sempre em frente como com a Kombi amarela em que viajam que precisa ser empurrada a cada parada. Mesclando frustrações com superação o filme também mistura pitadas de humor e drama e pela simplicidade da história envolve a todos.

A dinâmica familiar do filme enfatiza a questão da individualização dos que compõem a família e dividem o mesmo espaço, são preocupados com o sustento orgânico e saudável, no que diz respeito à situação financeira, todavia é visível o desinteresse de cada integrante desse grupo no que diz respeito ao implicar-se com as angústias e sofrimentos psíquicos dentro do ambiente familiar para com os outros constituintes da configuração total nomeada família. Tal fato aparece de modo sutilmente sintomático ao passo em que a família é apresentada aos observadores de modo individual, cada um com o seu nome, unicamente com o seu primeiro nome, e implicados em seus sofrimentos psíquicos e interesses pessoais. A ausência de um sobrenome que marca a identidade e demarca laços de parentesco e hipotética união – de forma tradicional e historicamente explicável – começa no filme como a primeira e principal característica marcante presente na família em questão, onde a desorganização ligada ao amparo psíquico e emocional é retratada com o pacto de silêncio do filho, o vício em drogas do avô, a tentativa de suicídio do tio, a preocupação e importância dispensadas pelo pai no que diz respeito ao “sucesso acima de tudo”, a mãe que visivelmente sofre ao notar a dinâmica familiar desorganizada e não consegue administrar a questão emocional relacionada a esse convívio e, finalmente, a filha mais nova que sendo uma criança, aparece no filme como o único laço que entrelaça as situações em que a família age em conjunto em prol de algo que beneficie a cada um de um modo singular.

Acerca das variáveis que determinam e influenciam a família, vale ressaltar as: ambientais, econômicas, social, cultural e política. Considera-se que, mesmo sendo uma família enquadrada dentro da classe média o ambiente de relação de todos desorganizado, sendo que a família é composta por seis pessoas que moram em uma casa com três quartos. Onde tio e o filho dividem um quarto, o avô dorme na sala, a filha dorme em um quarto e o casal divide o outro quarto. Já a questão cultural fica evidenciada no momento e que se pode perceber a dinâmica familiar na hora da refeição, onde todos se sentam à mesa para comerem juntos. Outro momento, em que a questão cultural aparece de maneira explicita, está no incentivo à competição em concursos de beleza e como esses eventos moldam a maneira das pessoas se comportarem em função desse tipo de competição.

Existem traços coerentes com as características das famílias Operaria e Burguesa no que diz respeito aos papeis sexuais de manutenção da casa e sustentação dos filhos, do mito da prosperidade a alcançar, do lar ser um lugar de refúgio e é um microssomo privado, além dos valores individuais buscados sejam de eficiência e competência, onde se motiva a competição e superação de limites.

Um ponto de análise interessante consiste no desempenho das funções da família. Biológicas: A família garante a sobrevivência e subsistência desta – mesmo que o filme não retrate completamente a fase em que os filhos eram recém-nascidos, porém como a família é ‘saudável organicamente’ e é possível perceber que a função biológica foi atendida. As funções psicológicas são exercidas por membros secundários. O avô da atenção e incentivo para Olive e o pai não exerce papel autoritário, mas sim financeiro, exerce também uma pressão psicológica em todos, pois não admite o fracasso individual. O tio exerce o papel de única pessoa com quem Dwayne se relaciona o que pode ser chamada de relação fraternal. E por fim a mãe demonstra preocupação com a família, se preocupando em maioria do filme com a realização das funções biológicas. Há sobreposição de fases, haja vista que a família encontra-se na fase de expansão, primeiramente com a aquisição do Tio Frank ao seu dia-a-dia e a presença do avô, porém quando o avô falece ocorre a fase da substituição.

O filme traz uma crítica violenta ao culto à beleza, aos estigmas de vencedores e perdedores, sugerindo que a vida não é um concurso permanente. A vida é fracassar, perder, cair, e, por fim, levantar-se para novamente empurrar aquela velha kombi no caminho certo. Talvez o sucesso não sejam todas as conquistas, mas sim todas as tentativas. Onde o ponto alto da história é a apresentação de Olive no concurso, em meio a meninas super-produzidas como bonecas de borracha a protagonista da história brilha pela naturalidade infantil que não traz a vitória no concurso, mas a vitória da família frente às suas adversidades.

‘Há dois tipos de pessoas nesse mundo, vencedores e perdedores.’ São frases como esta que permeiam os diálogos entre as personagens de Little Miss Sunshine” – pessoas que, como muitos de nós, não conseguem escapar ao sentimento clichê de sentirem-se obrigados ao sucesso, tanto profissional, quanto emocional…

FICHA TÉCNICA DO FILME:

PEQUENA MISS SUNSHINE

Título original: Little Miss Sunshine
Diretor: Jonathan Dayton, Valerie Faris
Roteiro: Michael Arndt
Elenco: Steve Carell, Toni Collette, Greg Kinnear, Alan Arkin;
Ano: 2006
País: EUA
Gênero: Comédia Dramática

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