“Elsa e Fred, um amor de paixão” e a relação com os arquétipos puer-senex

Ellen Risia Moraes Alves – ellenrisia@rede.ulbra.br

O filme Elsa e Fred um amor de paixão foi lançado em 28 de julho de 2005, na direção de Marcos Carnevale, um filme argentino, que traz uma reflexão fazendo com que o público tenha um olhar e maneiras que pode ser encarado a terceira idade. O filme aborda a história de dois senhores, sendo que Fred vivia uma solidão, desde o falecimento de sua esposa. 

Devido à tristeza de Fred, por influência de sua filha, mudou-se de casa. Logo conhece a nova vizinha, Elsa, que vai até ao apartamento dele para entregar um cheque devido a um estrago no carro. Alfredo não aceita o cheque. Então se inicia uma nova amizade que após começam a namorar. Fred com o seu jeito conservador começa a namorar uma mulher disposta a viver os padrões fora do comum. 

A história vivida pelos dois personagens envolve os arquétipos de uma maneira intensa. Ao assistir ao filme é possível ativar os arquétipos que possuem relação com imagens arquetípicas emitido de alguma forma padrões universais. Elsa possui um espírito jovial e gosta de aventuras, e Fred mais apático, sendo indiferente às situações em que estava vivendo. 

Elsa com 75 anos, e Fred com 80 anos, ambos na terceira idade, procuram viver um romance entendendo que não existe a expressão “tarde demais” para amar e sonhar. O amor e os sonhos são capazes de impulsionar uma pessoa para continuar sua jornada. Quando um indivíduo deixa de sonhar ou amar perde o combustível para prosseguir. 

De acordo Jung (2007), o querer viver e o querer morrer estão intimamente ligados, pois quando uma pessoa não aceita vivenciar a plenitude da vida, certamente também não aceitará o seu fim. Quando gera uma reação evolutiva em uma pessoa, é possível notar uma aceitação da passagem do tempo, englobando as fases boas, e as fases ruins encara com um refinamento da personalidade.

É possível observar os personagens do filme Elsa & Fred. Ambos conseguem expressar os arquétipos puer-senex e a maneira como vivenciam essas imagens arquetípicas nesse romance. 

No filme, o personagem Fred representa o arquétipo do senex representando um distanciamento do puer e a forma em que muitos vivenciam a velhice de maneira negativa. Fred viveu uma vida durante 40 anos, na mesma casa, com a mesma esposa, trabalhando no mesmo local, e se dedicando só à família.  

O que muito parece é que Fred nunca cometeu deslizes em sua vida e jamais pensou em viver algo promíscuo. Ao ficar sem a sua esposa, Fred possuía uma condição financeira boa, porém deprimido, passivo, vivendo na dependência das orientações da filha. Mesmo tendo boas condições, ele era pobre, pois não tinha o maior valor da vida, entendendo os processos da velhice.

Embora Elsa tenha também características de inconsequentes, foi uma pessoa que viveu o arquétipo do senex que não se distanciou do puer seus dias felizes, procurando aproveitar o hoje, executando seus planos, buscando aprimorar sua personalidade. Concedendo voz a sua alma, ela vive dias mais leves. 

Criatividade, amável, afetuosa, eram as qualidades de Elsa, pois não tinha recursos financeiros próprios. Vivia na dependência de um dos filhos considerado bem sucedido, e possuía mais um filho que era artista sem reconhecimento dependendo dela para sobreviver. Apesar de depender financeiramente do filho, continuava mandando em si, não obedecendo ao filho. Demonstra através da sua vida que o maior bem que um ser humano pode alcançar é a saúde mental.   

Fred sendo um velho senex, em conversa com Elsa, descobre um sonho que ela possuía ao visitar a Fontana di Trevi. Ela também vai se envolvendo e fazendo descobertas da vida de Fred, como era a relação dele com a esposa falecida, se viviam felizes. Percebendo o quanto Fred era tristonho, o incentiva a viver uma simples rotina, mas que seria capaz de trazer mudanças à vida. Certo dia, Elsa vai à casa de Fred, para saborear um licor juntos, ela toca um piano, eles ressaltam sobre o surgimento de uma amizade rara ou um novo relacionamento. 

Elsa demonstra que a sua vida se parece com um rio, não se arrependendo do que passou não se preocupando com o amanhã, vivendo somente o presente e deixando fluir livremente, sem muitas cobranças. Ela não compartilhava com ninguém sobre a sua doença, pois todas as semanas que saía para fazer hemodiálise, dizia que ia tomar chá com as amigas. 

O arquétipo do puer foi fundamental na vida de Elsa, pois traz vitalidade, sabedoria para aproveitar as possibilidades que o momento presente oferece e para ser feliz com isso. Fred, que não tinha nenhuma doença grave, estava sempre cheio de remédios e só falava em doença e morte. Ele não está doente, mas é um homem doente, operando fortemente o arquétipo do senex.

No início do filme Fred muito sozinho, ficava sempre com o seu cachorro, e uma grande cumplicidade com o seu neto. Mas com Elsa entrando em seu caminho, mostra a ele como é viver sem rotina, experimentando algo novo e simples a cada dia. Certa noite ela o convida para um jantar em um dos melhores restaurantes de Madri, mas o assunto que Fred encontrava para falar era sobre o ácido úrico, e colesterol. 

Elsa o exorta para que aproveite a vida, pois ela levava a vida como uma eterna adolescente. Diante da conta de um valor muito elevado ela sugere que saiam do restaurante sem pagar. Fred passa mal por ter feito uma loucura dessa pela primeira vez, tendo que procurar um médico. Elsa pede desculpas pelo excesso, acontece o primeiro beijo e dormem juntos pela primeira vez. 

Fred foi mudando aos poucos, tendo mais autonomia, podia detectar a intrusão da filha e fazer restrições a ela, por exemplo, entrar em casa ou tocar a campainha sem avisar. Diante de tantas mudanças em seu pai, sua filha perguntou se ele havia decidido morrer, e ele respondeu com firmeza que finalmente havia decidido viver, como Chaplin diz: “o homem não morre quando deixa de viver, mas sim quando deixam de amar” Eles viviam uma vida simples todos os dias: andavam de bicicleta, cantavam, iam ao parque, comiam biscoitos, namoravam nos bancos da praça, jantavam a luz de velas e dançavam.

Elsa como sempre intensa, ao apresentar Fred à família assumindo-o como namorado, é repreendida, recebendo julgamentos, ela simplesmente diz: Avante que a vitória é nossa!

Fred, certa vez a encontrou fazendo hemodiálise e tentou compreender melhor sobre a doença com seu amigo médico. Quando soube da gravidade do estado dela, decide então realizar o sonho de Elsa, que era visitar a Fontana di Trevi. 

Ele comprou a passagem, e deixou apenas uma carta para a filha dizendo que gostaria de investir na felicidade, pois na vida existem coisas que não tem preço. Em Roma, curtiram todos os lugares possíveis, visitando principalmente a Fontana di Trevi e ela o encorajou a entrar na fonte, e disse a ele que o amava mais do que nunca.

O filme termina com ele indo ao cemitério com o neto, levando flores para o túmulo dela, vivendo de maneira diferente da primeira esposa. Dessa vez entendendo os processos, não havendo tristeza, mas guardando apenas as boas recordações vidas juntos. O neto de Fred ao ler a data do nascimento que estava no túmulo, ele sorri e a chama de “caloteira” por ter o enganado.  

O filme relata através dos personagens a maneira que escolhemos para viver e demonstram através dos arquétipos quais podem definir a vivência das pessoas. Fred com o seu modelo limitador e repleto de proibições do velho senil, ou Elsa seguindo um modelo criativo e evolutivo, demonstrando que possui domínio sobre a sua vida, apesar de estar vivendo na maturidade, não perdeu o brilho, a alegria, disposição, que fazem parte das características do puer, mostrando uma imensa virtude para deixar as coisas no passado e ir à busca do novo, 

De acordo com Hillman, (2001), que ao envelhecer as pessoas consigam manter o vigor, criatividade, habilidade, vivendo dentro dos limites possíveis que a vida pode proporcionar. Entendendo que as pessoas são periódicas, cada um possuindo seu ritmo e vivenciando seus processos. 

REFERÊNCIAS

Elsa & Fred (2005). Filme. Direção de Marcos Carnevale. Espanha/Argentina: Imagens Filmes.

HILLMAN,J. (2001). A força do caráter e a poética de uma vida longa. Rio de Janeiro: Objetiva.

JUNG, C. G. [s.d.] A energia psíquica. In: Obras completas de C. G. Jung, vol. VIII/1. 9. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2007.

MONTEIRO, Dulcinéia Da Mata Ribeiro (Org.). Puer-Senex: dinâmicas relacionais. 2ª edição, Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.