(En)Cena – A Saúde Mental em Movimento

Um panorama geral da Psicologia Escolar

Petros Cardoso Barbosa (petroscardoso@gmail.com)

O psicólogo escolar desempenha um papel crucial no ambiente educacional, fornecendo suporte psicológico para alunos, professores e pais. Suas funções técnicas podem variar, mas geralmente incluem a realização de avaliações psicológicas para identificar necessidades educacionais especiais, dificuldades de aprendizagem e habilidades cognitivas e emocionais dos alunos. Além disso, eles auxiliam os alunos na exploração de opções de carreira e no desenvolvimento de habilidades para a tomada de decisões relacionadas à educação e ao futuro profissional. (Oltramari et al., 2020)

O psicólogo escolar também intervém em situações de crises, como bullying e traumas, oferecendo apoio emocional e estratégias de enfrentamento. O aconselhamento psicológico individual ou em grupo é uma parte essencial de suas responsabilidades, abordando questões emocionais, sociais e acadêmicas. A colaboração próxima com professores e pais é fundamental para desenvolver estratégias de ensino e aprendizagem que atendam às necessidades dos alunos. Em um panorama cultural e político, pode-se dizer que:

Consideramos que uma atuação do psicólogo, diante das questões escolares, deverá considerar os seguintes elementos: compromisso com a luta por uma escola democrática e com qualidade social; ruptura epistemológica relativa à visão adaptacionista de Psicologia e a construção de uma práxis psicológica frente à queixa escolar; conhecimento das políticas públicas vigentes. (Souza, 2010, p.143)

Além disso, este profissional desenvolve e implementa programas de prevenção para questões como abuso de substâncias e comportamento anti-social. Eles também mediam conflitos entre alunos, professores e pais, promovendo a comunicação eficaz e a resolução construtiva de problemas. O suporte ao desenvolvimento social e emocional dos alunos é uma prioridade, incentivando o desenvolvimento de habilidades interpessoais e a construção de relações saudáveis. (Cardoso ; Malbergier, 2014)

A avaliação da eficácia dos programas escolares relacionados ao bem-estar emocional e ao desenvolvimento acadêmico dos alunos é outra responsabilidade importante. O psicólogo escolar também pode encaminhar alunos para serviços externos, como clínicas de saúde mental, quando necessário, e colaborar com outros profissionais de saúde. Em resumo, esses profissionais desempenham um papel fundamental na promoção do bem-estar integral dos estudantes, contribuindo para um ambiente escolar saudável e apoiando o desenvolvimento acadêmico, emocional e social. (Marinho-Araújo, 2010)

Um Relato Regional da Psicologia Escolar Tocantinense

O dia a dia do psicólogo escolar na rede pública de ensino regional é permeado por desafios. Como se trata de uma área de atuação relativamente nova, foi estabelecida recentemente através da lei 13.935 (de 11 de dezembro de 2019) e os estados começaram a contratar esses profissionais paulatinamente. O Tocantins é um dos primeiros estados a colocar essa legislação ativamente em prática.

Esse espírito de novidade no início trouxe ares caóticos, principalmente no que se diz respeito à organização do campo de trabalho e no encontro da psicologia com a pedagogia. Esta última em seu habitat natural prestes a ser também ocupado por outras áreas do conhecimento, logo aos profissionais pertencentes à pedagogia um processo de adaptação e adequação também foi crucial para a manutenção de bons ambientes de trabalho.

Nesse sentido, o maior desafio sem dúvidas é o ajuste entre as duas áreas do conhecimento. Apesar do encontro teórico em algumas partes bem específicas da base das duas áreas, em nomes como Piaget ou Winnicott, a práxis e o resto das áreas de conhecimento envolvidas tendem a divergir bastante em essência. Essa cobrança vinda da área já consolidada no ambiente educacional, por certo ajustamento de quem chega aos maneirismos preestabelecidos é imensa.

Dessa forma, no cotidiano a maior parte dos profissionais da pedagogia não conseguem entender algumas minúsculas da atuação específica da psicologia escolar. Vale então nas próximas linhas um pequeno lembrete da real função do psicólogo dentro de uma escola.

O psicólogo escolar tem como principal função e tarefa o cuidado com a saúde mental no ambiente escolar, de maneira amplificada, observando a escola como uma instituição em primeiro lugar. É um trabalho feito primeiramente de maneira ampla, para se conseguir mudanças e impactos a longo prazo. Na maior parte das vezes o psicólogo escolar vai buscar atingir o maior corpo de estudantes possível para alcançar um objetivo específico.

Um trabalho individualizado é praticamente impossível de ser feito com qualidade, devido à quantidade de alunos atendidos por escola. Em uma realidade onde as escolas contam com mais de 500 alunos matriculados, a perspectiva de um trabalho clínico neste local se torna inviável.

Portanto, é mais lógico pensar em ações que vão se consolidar de maneira a atingir um macro contexto. Ações como: nas datas relevantes ao calendário acadêmico fazer palestras; trabalhos em grupo com as turmas dessa forma podendo ser trabalhos pontuais entrando nas salas ou de longo prazo com grupos operativos; também existe um trabalho de acolhimento de demandas específicas com manejo individual dos casos que vendem por demanda espontânea ou por solicitação de outros funcionários da instituição de ensino.

Esse último ponto é o mais complexo de todos, jamais pode ser confundido com terapia ou atendimento individualizado em um estereótipo clínico, pois na verdade se trata de uma adaptação do acolhimento para a realidade escolar com os recursos disponibilizados pela escola, tudo com a finalidade de potencializar a saúde mental do estudante em um momento de maior necessidade ou intervenções em situações de crise. Se o acompanhamento a longo prazo for identificado como uma necessidade, de prontidão o psicólogo escolar deve fazer um encaminhamento para a rede, seja ela a rede pública de atendimento de saúde, com as várias opções que o SUS oferta, ou mesmo para profissionais que atendem de maneira privada, se for de desejo da família do estudante assistido.

Sobre o acolhimento, ainda é importante esclarecer que este deve ser executado com precisão e profissionalismo na área da saúde mental, ou seja, para um profissional que observe de fora e que não seja da área da psicologia pode parecer um atendimento psicológico individualizado, devido aos trejeitos clínicos que atravessam essa prática. Mas é muito importante ressaltar que no ambiente escolar não se conta nem com vapor adequado e não se pode cultivar a expectativa de uma continuidade em um processo Clínico de atendimento.

Em virtude de tudo citado é válido recapitular que, no início da inserção dos psicólogos no contexto escolar dominado pela pedagogia o principal desafio era a aceitação dos velhos profissionais pela inserção dos novos profissionais em um espaço com dinâmicas já pré-estabelecidas; aos poucos os psicólogos escolares vem construindo identidade de trabalho no estado do Tocantins, eles vem crescendo em qualidade de serviço em número de profissionais e demonstrando a diferença que a presença desses profissionais da Saúde mental pode fazer no ambiente escolar, para saúde mental tanto do corpo docente quanto do corpo discente.

REFERÊNCIAS

CARDOSO, Luciana Roberta Donola; MALBERGIER, André. Problemas escolares e o consumo de álcool e outras drogas entre adolescentes. Psicologia Escolar e Educacional, v. 18, p. 27-34, 2014.

MARINHO-ARAUJO, Claisy. Psicologia Escolar: pesquisa e intervenção. Em aberto, v. 23, n. 83, 2010.

OLTRAMARI, Leandro Castro; FEITOSA, Ligia Rocha Cavalcante; GESSER, Marivete. Psicologia Escolar e Educacional: processos educacionais e debates contemporâneos. 2020.

SOUZA, Marilene. Psicologia Escolar e políticas públicas em Educação: desafios contemporâneos. Em aberto, v. 23, n. 83, 2010.

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