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Criança em foco: como proteger emocionalmente crianças e adolescentes da violência silenciosa dentro de casa

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Agressões ainda são confundidas com formas de educar, um erro que precisa ser revisto com urgência.

Sempre em pauta, a violência contra crianças e adolescentes tem sido um ponto de preocupação para profissionais que atuam na proteção e no bem-estar da infância e da juventude. Um levantamento da pesquisa Atlas da Violência 2025, divulgado recentemente, aponta que a residência aparece como local majoritário de ocorrências das agressões.

A violência no lar muitas vezes é naturalizada ou justificada como “educação”. Essa ideia precisa ser urgentemente desconstruída. Conforme explica a psicopedagoga e escritora infantil Paula Furtado, infelizmente, a casa, que deveria ser o lugar mais seguro do mundo, é para algumas crianças o território da dor silenciosa. Isso ocorre porque a agressão doméstica em diversas situações não é apenas física ou visível, é também emocional, simbólica e estrutural. Têm casos em que os agressores são pessoas próximas, que deveriam exercer cuidado. E o menor, que ainda não sabe nomear ou compreender o que sente, internaliza esse sofrimento.

Para transformar essa situação, é fundamental criar um ambiente emocionalmente seguro por meio de uma escuta ativa — ouvir com o coração antes de interpretar com a razão — e priorizar o acolhimento e o apoio. “A criança que sofre em silêncio precisa de um adulto que veja além do óbvio. Que escute o não dito. E também que se importe o suficiente para parar e perguntar: ‘o que está doendo aí dentro?’”, explica Paula.

Embora cada ser seja único, alguns comportamentos merecem a atenção dos responsáveis, visto que os sinais de sofrimento emocional nem sempre são gritantes, o que pode dificultar a detecção dos casos. Um psicopedagogo, psicólogo ou terapeuta podem ajudar a decifrar essas manifestações. O sofrimento costuma se revelar por meio de um silêncio repentino, alterações no traço dos desenhos ou brincadeiras agressivas.

“Educadores devem estar atentos a comportamentos, faltas e olhares perdidos. Enquanto os pais devem observar alterações no sono, apetite, regressões, explosões de raiva, desculpas frequentes para faltar às aulas ou apatia. A criança demonstra suas emoções de maneiras diversas”, detalha a profissional.

Paula acrescenta que a maneira de se expressar entre os sexos é um pouco diferente quando sofrem um abuso. As meninas tendem a internalizar o sofrimento (culpa, tristeza, retraimento). Já os meninos, externalizam (agressividade, impulsividade, irritação).

A exposição à violência pode afetar de forma devastadora uma criança ou adolescente. Entre as consequências mais graves estão a perda da confiança básica, prejuízos à memória, atenção e capacidade de estabelecer vínculos. Isso pode levar ao desenvolvimento de transtornos de ansiedade, depressão, dificuldades de aprendizagem, automutilação, entre outros. “O impacto emocional molda não apenas o presente, mas também o futuro dessa criança. A criança ferida continua atuando na vida adulta, não raramente, até no papel de agressor”, afirma.

Paula lembra que a violência contra a criança está presente em todas as classes sociais e que combater o abuso infantil é responsabilidade de toda a sociedade. Ela destaca a importância de acionar os canais oficiais de denúncia, como o Disque 100 (Disque Direitos Humanos), o Conselho Tutelar e o Ministério Público. Escolas, postos de saúde, igrejas e comunidades também podem atuar como pontos de atenção, acolhimento e encaminhamento.

Paula Furtado

Sobre Paula Furtado

Paula é pedagoga, formada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com especialização em Psicopedagogia, Neuropsicopedagogia (Facon-SP), Educação Especial, Arte de Contar Histórias e Arteterapia pelo Instituto Sedes Sapientiae e Leitura e Escrita, também pela PUC-SP. A profissional já atuou como assessora pedagógica em escolas públicas e particulares.

Paula Furtado atende crianças e adolescentes com dificuldades de aprendizado, incluindo casos complexos envolvendo traumas e situações de vulnerabilidade emocional. Nesta área da educação, a pedagoga ministra cursos para formação de educadores nas instituições de ensino público e particular e realiza palestras para pais sobre a importância de contar histórias.

Autora de mais de 100 livros infantojuvenis e criadora de jogos pedagógicos inovadores, Paula também escreve para revistas especializadas em educação e infância.

Informações à Imprensa – Way Comunicações

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