“Muito Além do Peso” – a realidade assustadora da alimentação infantil
14 de novembro de 2023 Nayara Batista de Araújo
Filme
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Come o que vê pela frente, tudo o que seja atraente, é uma fome absorvente.
O documentário Muito Além do Peso, lançado em 2012 dirigido por Estela Renner, revela a realidade da alimentação infantil e as implicações da publicidade de alimentos. Através de uma investigação feita por diversas regiões do país, na qual foi possível mostrar o quanto os efeitos de uma má educação alimentar podem trazer prejuízos à posteridade, pois, a alimentação infantil quando não é conduzida sob os cuidados de um adulto, educando-a para uma alimentação saudável consequentemente acabam se tornando crianças que sofrem com obesidade e outras complicações.
São apresentadas crianças que já fazem uso de medicação para tratamento de doenças crônicas. Com isso, percebe-se as consequências de uma alimentação desregulada no aumento da incidência de doenças graves como quadros de hipertensão, diabetes tipo 2 e colesterol alto, além de problemas respiratórios, dificuldade para dormir, sensibilidade nas articulações, entre muitos outros.
Logo no início do documentário, a música cantada por diversas crianças transpõe o que acontece com a maioria das crianças que estão com excesso de peso, visto que, os efeitos dessa má educação alimentar é capaz de trazer malefícios às novas gerações, que sofrem precocemente.
“Gente, tô ficando impaciente, come frio, come quente, come o que vê pela frente, tudo o que seja atraente, é uma fome absorvente”
Para mais, é relatado que uma das grandes preocupações da população em relação às causas de mortes são as derivadas de homicídios, assassinatos e etc. Contudo, em uma tabela apresentada no documentário é possível perceber que as principais causas de mortes nos Estados Unidos são devido a problemas cardíacos, podendo ter sido evitadas se fossem tratadas. Segundo Elza et al. (2004) a prevenção da obesidade desde idades precoces pode ser uma alternativa para reverter o aumento acelerado dessa doença. Os estudos de intervenção da obesidade infantil em longo prazo, são escassos, porém necessários para o desenvolvimento de políticas públicas efetivas.
Outrossim, a entrevistadora pergunta a várias crianças acerca de alimentos saudáveis como frutas e legumes para saber se elas as conhecem ou até mesmo se já experimentaram. No entanto, algumas crianças não sabem identificar os nomes desses alimentos, mas conseguem detectar o nome e os componentes de salgadinhos e biscoitos. Além disso, optam por comerem alimentos que são industrializados. De acordo com o documentário, 33,5% das crianças no Brasil sofrem sobrepeso.
Um dos fatores prejudiciais que influenciam na desinformação de uma alimentação mais saudável refere-se a linguagem publicitária, uma vez que as crianças passam grande parte do tempo conectados às telas. Posto isso, é de suma importância que os pais estejam atentos e forneçam a seus filhos informações que estimulem e forneçam alimentos que sejam mais nutritivos.
Fonte: IBGE
Em conformidade com o documentário, se os pais não intervirem o quanto antes em uma alimentação adequada, seus filhos podem viver menos devido ao ambiente alimentar que é construído. Posto isso, deve-se observar quais alimentos estão sendo distribuídos às crianças. Conforme Tenório et. al. (2011), a prevenção da obesidade desde idades precoces pode ser uma alternativa para reverter o aumento acelerado dessa doença. Os estudos de intervenção da obesidade infantil se fazem necessários para o desenvolvimento de políticas públicas efetivas.
Fonte: Pixabay
Posto isso, é de suma importância este documentário, tendo em vista o alerta acerca da realidade assustadora da alimentação infantil. Uma questão muito relevante na área da saúde é a tendência culpabilizante que individualizar um comportamento pode ter. Deve-se levar em consideração a má qualidade da alimentação, a insegurança alimentar e financeira, dentre outros.
Fonte: Pixabay
FICHA TÉCNICA
Título original: Muito Além do Peso
Elenco: Nenhum
Ano: 2012
País: Brasil
Gênero: Documentário
Referências:
Mello, Elza D. de, Luft, Vivian C. e Meyer, Flavia. Obesidade infantil: como podemos ser eficazes?. Jornal de Pediatria [online]. 2004, v. 80, n. 3 [Acessado 17 Setembro 2023], pp. 173-182. Disponível em: <https://doi.org/10.2223/JPED.1180>. Epub 05 Ago 2004. ISSN 1678-4782. https://doi.org/10.2223/JPED.1180.
Tenorio, Aline e Silva e Cobayashi, Fernanda. Obesidade infantil na percepção dos pais. Revista Paulista de Pediatria [online]. 2011, v. 29, n. 4 [Acessado 17 Setembro 2023], pp. 634-639. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0103-05822011000400025>. Epub 17 Fev 2012. ISSN 1984-0462. https://doi.org/10.1590/S0103-05822011000400025.
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“Som da Liberdade” – a face violenta e adoecida da sexualidade
O filme Som da Liberdade é um grito de socorro de todas as crianças escravizadas sexualmente no mundo
“Sound of Freedom” ou “Som da Liberdade” em português, é uma produção independente, na qual o diretor mexicano Alejandro Monteverde lança um alerta ao mundo sobre a exploração e o tráfico sexual infantil através de uma história baseada em fatos reais, vividos pelo ex-agente especial do Governo Americano Tim Ballard interpretado por Jim Caviezel.
O longa-metragem começou a ser escrito em 2015 e filmado em 2018 com produção da 21st Century Fox. Em 2019, a The Walt Disney Company comprou a 21st Century Fox e o filme foi engavetado por 5 anos, até que a pequena Angel Studios, responsável também por produzir a série bíblica de sucesso “The Chosen” (‘Os Escolhidos’) recomprou o filme e adquiriu os direitos da obra cinematográfica para lançá-lo comercialmente.
O filme tem a seguinte sinopse: Tim Ballard (Jim Caviezel) é um agente federal dos Estados Unidos que atua para desmantelar redes de pedofilia na internet e prender os envolvidos. Ao final de uma operação, o policial se encontra frustrado e incomodado com os resultados das operações e decide ingressar em uma missão de vida: abandonar a sua carreira de policial para fundar a sua própria ONG com o objetivo de ir atrás de criminosos responsáveis por formar uma ampla e complexa rede internacional de tráfico infantil na Colômbia. O objetivo de cada operação é encontrar e resgatar o maior número possível de crianças sequestradas.
Devido ao conteúdo forte e por vezes indigesto, é preciso dar os parabéns ao diretor, pois fez um bom trabalho ao não mostrar cenas de sexo, mas dar asas à imaginação do telespectador ao presenciar os rostos indignados e nauseados dos policiais diante do que seriam os abusos causados às crianças. O filme é forte e nos causa uma tensão e indignação diante do que existe quando o assunto é tráfico de crianças para abuso sexual. Durante todo o filme senti meu corpo tensionar os músculos, olhos lacrimejarem e um nó na garganta que durou por muitas horas mesmo depois que o filme terminou.
Fonte: Pixabay
O processo de ajudar sobreviventes de abuso sexual é longo e complicado, mas sempre possível
Psicologicamente falando sabemos que o processo de ajudar sobreviventes do tráfico é longo e complicado, pois os que sobrevivem e são resgatados exalam vulnerabilidade e desesperança. Entre os danos psicológicos causados pelos abusos, independentemente da faixa etária, estão: TEPT – transtorno de estresse pós-traumático, dissociação, medo, ansiedade, rejeição, depressão, redução da qualidade de vida.
Em muitos casos pode surgir o transtorno de despersonalização que ocorre quando um indivíduo tem a percepção sobre si mesmo alterada. Segundo o DSM – Manual Diagnóstico e Estatístico de Distúrbios Mentais, este transtorno caracteriza-se por sensações de irrealidade, apatia, amnésia, impressão de que está separado do corpo, perda do controle, ataques de pânico, depressão, ansiedade, sono, estresse, cansaço e outros. A pessoa pode dizer que se sente irreal ou como se fosse um autômato, sem controle sobre o que faz ou diz. Ela pode se sentir física ou emocionalmente entorpecida. Essas pessoas podem descrever a si mesmas como um observador de sua própria vida ou como um “zumbi”, tamanho o sofrimento e trauma pelo qual passou. O efeito que o abuso sexual tem em suas vítimas vai para além dos danos físicos, afetando, principalmente, a saúde mental delas.
Deb O’Hara-Rusckowski é uma enfermeira de cuidados intensivos que cofundou a organização Global Strategic Operatives for the Eradication of Human Trafficking (Agentes Estratégicos Globais para a Erradicação do Tráfico Humano). Também é Delegada da Ordem de Malta nas Nações Unidas, e está abrindo uma casa segura em Massachusetts para mulheres e meninas que foram vítimas de tráfico. Conforme informações dela em entrevista dada a sites de notícias e com base em pesquisas baseadas em evidências, as meninas e mulheres traficadas, frequentemente precisam de cuidados médicos. Segundo ela, é comum que mulheres cheguem com um osso quebrado devido a uma agressão, ou uma menina apresente uma infecção devido ao trabalho sexual em que estava envolvida. Em muitos outros casos as meninas estão grávidas e necessitam de acolhimento e apoio para esta fase. Com relação aos meninos abusados, ela enfatiza que também são necessárias casas seguras para eles, pois “sentem uma vergonha particular, e precisam de cura depois de escapar ou serem resgatados”.
Um alerta assustador de ‘Sound of Freedom’ é mostrar que o abusador pode ser qualquer pessoa, por vezes, as mais improváveis. Pessoas “comuns” podem se envolver nisso e começar a agir como um viciado que não consegue parar, e que escravizado pelo vício não mede esforços e nem pensa se está machucando ou promovendo o terror físico e psicológico de crianças.
Fonte: Pixabay
A cada 24 horas, 320 crianças e adolescentes são explorados sexualmente no Brasil
Segundo a Organização Mundial da Saúde, dos 204 milhões de crianças com menos de 18 anos, 9,6% sofrem exploração sexual, 22,9% são vítimas de abuso físico e 29,1% têm danos emocionais. Os dados mostram que, a cada 24 horas, 320 crianças e adolescentes são explorados sexualmente no Brasil, no entanto, esse número pode ser ainda maior, já que apenas 7 em cada 100 casos são denunciados. O estudo ainda esclarece que 75% das vítimas são meninas e, em sua maioria, negras.
No Brasil sabemos que conforme dados do Ministério dos direitos humanos e cidadania, o Disque 100 (Disque Direitos Humanos) registrou mais de 17 mil violações sexuais contra crianças e adolescentes de janeiro a abril deste ano. Nos quatro primeiros meses de 2023 foram registradas, ao todo, 69,3 mil denúncias e 397 mil violações de direitos humanos de crianças e adolescentes, das quais 9,5 mil denúncias e 17,5 mil violações envolvem violências sexuais físicas como abuso, estupro e exploração sexual e psíquicas. E aqui entra a parte da realidade mais difícil de encarar, pois segundo os dados do Ministério: “A casa da vítima, do suspeito ou de familiares está entre os piores cenários, com quase 14 mil violações”. Vale lembrar que não estamos falando de números e sim de crianças.
Os fatores que contribuem para esta prática de exploração sexual são muitos e faz-se necessário romper o silêncio e dar voz às vítimas e àqueles que nesta causa se empenham para que haja mais discussão e informação a respeito do assunto nos mais diversos âmbitos.
Uma das partes emocionantes do filme, fala de um personagem que ao finalizar o ato sexual viu que abusava de uma menina muito mais jovem que ele e fala da tristeza que viu nos olhos dela e de como percebeu que ele era a causa da sua dor. O agressor só queria se divertir, não estava pensando na outra pessoa, ou que aquela outra pessoa poderia ser uma criança que havia sido vítima de tráfico sexual desde os seis anos de idade. Após ter esse entendimento, ele colabora para libertar crianças do tráfico. Aqui cabe uma reflexão de que o abusador necessita de ajuda e tratamento. Os transtornos parafílicos podem ser tratados e sempre é possível buscar ajuda. Conforme o DSM – Manual Diagnóstico e Estatístico de Distúrbios Mentais, os transtornos parafílicos são fantasias, impulsos ou comportamentos recorrentes, intensos e excitantes sexualmente que causam sofrimento ou incapacitação e que envolvem objetos inanimados, crianças ou outros adultos não consentidores, causando o sofrimento ou humilhação de si mesmo ou do parceiro com potencial para causar dano.
Por fim, vale dizer que o filme causou muita controvérsia e uma polarização entre direitistas e esquerdistas, conservadores e progressistas e sobre a qual optei por não abordar, tendo em vista que “Sound of Freedom” é uma oportunidade de falar sobre o que está acontecendo no mundo e que o tráfico sexual de crianças não se trata de uma teoria conspiratória, é algo real, latente e atinge a todos independente de classe social, partido político ou cor da pele. Crianças estão sendo sequestradas, escravizadas e sexualizadas e os danos psicológicos e consequências em suas vidas incluem graves danos.
Certo é que não devemos ignorar este alerta. Em dada parte do filme o protagonista diz a um potencial apoiador financeiro da ação policial: “Você se importaria se fosse o seu filho? Se não dermos atenção, poderá acontecer com você, com um filho seu.” E é verdade! Sei que não conseguiremos acabar com o tráfico sexual de crianças e nem conseguiremos bons resultados sozinhos, mas sei que ao nos unir e ampliar o olhar político e social, bem como os cuidados de saúde pública para esses transtornos podemos independentemente de partido, política, religião ou qualquer outra coisa, recuperar pessoas e ressignificar vidas. Quem sabe até devolver os sonhos de outrora. Lutemos para que o som da liberdade chegue aos cativos e por pessoas que visem proteger as crianças e sua inocência.
Fonte: Ministério dos Direitos Humanos
Denuncie pelo Disque 100, pelo app Direitos Humanos ou ligue 180.
No nosso dia a dia, o filme nos leva a lembrar que a denúncia é a melhor forma de prevenir a violência sexual contra crianças e adolescentes. Havendo qualquer suspeita ou confirmação de algum caso, denuncie pelo Disque 100, pelo app Direitos Humanos ou ligue 180. A denúncia é anônima!
Referências:
COMBATE AO ABUSO E EXPLORAÇÃO SEXUAL INFANTIL: O que nós podemos fazer?. Unicef. Org, 2023. Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/blog/combate-ao-abuso-e-a-exploracao-sexual-infantil. Acesso em 11 de outubro de 2023.
DISQUE 100 REGISTRA MAIS DE 17,5 MIL VIOLAÇÕES SEXUAIS CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NOS QUATRO PRIMEIROS MESES DE 2023. Gov.br, 2023. Disponível em: <https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2023/maio/disque-100-registra-mais-de-17-5-mil-violacoes-sexuais-contra-criancas-e-adolescentes-nos-quatro-primeiros-meses-de-2023 >. Acesso em 11 de outubro de 2023.
MANUAL MSD. Versão saúde para profissionais da saúde, 2023. Disponível em: https://www.google.com/search?q=trsnatorno+parafilico+dsm&oq=trsnatorno+parafilico+dsm&gs_lcrp=EgZjaHJvbWUyBggAEEUYOTIICAEQABgWGB7SAQkxMzY3MmowajeoAgCwAgA&sourceid=chrome&ie=UTF-8. Acesso em 11 de outubro de 2023.
MANUAL MSD. Versão saúde para a família, 2023. Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-de-sa%C3%BAde-mental/transtornos-dissociativos/transtorno-de-despersonaliza%C3%A7%C3%A3o-desrealiza%C3%A7%C3%A3o#:~:text=A%20pessoa%20tamb%C3%A9m%20pode%20dizer,ou%20como%20um%20%E2%80%9Czumbi%E2%80%9D. Acesso em 11 de outubro de 2023.
O TRÁFICO SEXUAL DE CRIANÇAS NÃO É UMA CONSPIRAÇÃO DA EXTREMA DIREITA. Gazeta do povo, 2023. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/cultura/o-trafico-sexual-de-criancas-nao-e-uma-conspiracao-da-extrema-direita/?ref=veja-tambem. Acesso em 11 de outubro de 2023.
RESENHA DO FILME SOM DA LIBERDADE (2023) COM JIM CAVIEZEL. Leia e assista, 2023. Disponível em: https://www.leiaeassista.com.br/resenha-do-filme-som-da-liberdade-2023-com-jim-caviezel/. Acesso em 11 de outubro de 2023.
SAÚDE MENTAL: OS IMPACTOS DO ABUSO SEXUAL NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA. Childhood.org.br, 2023. Disponível em: https://www.childhood.org.br/saude-mental-os-impactos-do-abuso-sexual-na-infancia-eadolescencia/#:~:text=Ansiedade%2C%20depress%C3%A3o%2C%20s%C3%ADndrome%20do%20p%C3%A2nico,em%20adolescentes%20v%C3%ADtimas%20de%20abuso. Acesso em 11 de outubro de 2023.
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A infância atravessada pela tecnologia e por redes sociais
Reflexões sobre a influência das tecnologias no desenvolvimento infantil
(EN)Cena entrevista Adriane Carvalho, psicóloga clínica especialista em TCC (Terapia Cognitiva Comportamental) que tem o trabalho focado na ansiedade e no atendimento a jovens adolescentes, assim como a mulheres. Nessa entrevista conversamos com Adriane sobre as relações entre as mídias sociais e o uso delas por jovens e crianças.
(En) Cena- Adriane, as mídias sociais têm se tornado cada vez mais presentes no cotidiano das pessoas, inclusive das crianças. Na sua perspectiva, como o uso das mídias sociais influenciam crianças e jovens?
-As mídias têm tomado uma proporção grande na vida das crianças e jovens, porque eles nasceram nessa geração tecnológica, e geralmente já fazem o uso, seja monitorado ou não pelos pais, eles já possuem acesso a whatsapp, instagram, youtube entre outros. As redes acabam sendo motivo de distração e entretenimento como na época em que a TV fazia esse papel, e a influência dependerá muito de quais os conteúdos essa criança e jovem tem acessado.
(En) Cena- O uso indiscriminado e sem acompanhamento das redes sociais pode ser um ambiente perigoso para crianças e jovens, uma vez que nem sempre sabemos quem são as pessoas do outro lado da tela. Assim, temos visto cada vez mais as mídias sociais sendo utilizadaspara pedofilia. Como você vê essa questão?
-Acredito que assim como a rede social pode promover diversão, brincadeira e entretenimento, ela pode ser muito perigosa. No que se refere a pedofilia é de suma importância que os pais tenham acesso às contas que os filhos acessam e com quem conversam. Na vida presencial os pais não vão deixar o filho ir para a casa de um coleguinha que não conhecem ou não sabem das procedências familiares, é necessário que a mesma postura seja tomada no que se refere aos cuidados de com quem esse filho está conversando no ambiente virtual, afinal esse ambiente também é real e no caso de crianças que sofrem pedofilia, os traumas psicológicos são causados da mesma forma.
(En) Cena- Qual o papel dos pais e/ou responsáveis pelas crianças e jovens na prevenção desse tipo de violência no contexto virtual?
-Orientar as crianças e os jovens sobre os perigos, e essa orientação talvez será repetitiva, mas ela tem que acontecer.Entender que dependendo da idade do seu filho, você precisa sim monitorar o que ele acessa e com quem conversa, as crianças e adolescentes não possuem uma psique desenvolvida o suficiente para perceberem quando estão em risco, por isso os pais precisam sim, estar tendo acesso aos conteúdos acessados.
(En) Cena- De que forma a psicologia poderia prevenir ou intervir sobre esses casos?
-Conscientizando tanto crianças e adolescentes sobre os riscos reais que esse ambiente pode promover, com palestras, oficinas, grupos e até mesmo nos atendimentos individuais. Para os pais também promover rodas de discussão para que os mesmos percebam e ajam em favor da proteção das crianças/adolescentes, entendendo que nem sempre as redes sociais são apenas distração, mas também podem oferecer riscos.Em casos onde a criança já passou pela violação de um pedófilo, a terapia irá trabalhar em cima das queixas da criança para superação do trauma e diminuição dos prejuízos acarretados nos pensamentos, emoções e comportamentos.
(En) Cena- Em um caso recente um homem foi preso por estupro pela internet depois de conversar e influenciar um menino de 10 anos. Esse contato entre eles foi feito por 3 anos antes de o homem ser preso, quais os alertas que os pais/responsáveis, ou mesmo a sociedade como um todo, podem estar sensíveis para perceber indícios disso?
-A conscientização dos adultos e responsáveis, sobre o quanto crianças e adolescentes não terão maturidade para interagirem em rede social sozinhos e sem monitoramento. Não aceitarem que a criança tenha contato com pessoas desconhecidas do rol de amigos dos pais ou que são apenas “amigos virtuais” , pois essa criança pode estar sendo enganada. Algo que também devemos nos atentar são as idades que cada aplicativo ou meio midiático indica para se fazer o uso, creio que uma ótima medida, seria os pais ou responsáveis monitorar para que seu filho não tenha uma rede social até a idade permitida pelo próprio
app.
(En) Cena- Com as mudanças e possibilidades das redes sociais, os pais ou responsáveis de crianças muito novas também tem um espaço e um meio de expor crianças, essa exposição de imagem muito cedo e feita de forma constante pode ter consequências psicológicas para elas?
-Não podemos afirmar que tenha consequências, pode ser que sim e pode ser que não. Por que vai depender de outros fatores, como: essa exposição atinge essa criança de que forma? Esses pais sabem lidar com essa exposição? Já vimos varias crianças que cresceram sendo alvos da mídia, e de holofotes e que não tiveram prejuízos significativos em sua saúde mental, mas também vemos o extremos de crianças que cresceram nesse meio e se tornaram adultos problemáticos, logo precisamos entender que são vários fatores envolvidos que determinam se a pessoa terá ou não prejuízos psicológicos no futuro. Talvez a criança fique mais exposta a consequências, no entanto não podemos afirmar
que terá.
(En) Cena- Até que ponto os pais podem verificar as redes sociais dos filhos, sem que isso seja uma invasão da privacidade ou individualidade?
-Em algumas idade, como dito anteriormente o cuidado deve ser lidado como aquelas perguntas básicas que os pais fazem aos filhos quando estão indo para a casa de um colega que eles não conhecem, ou seja sempre, explicando o motivo de estar monitorando o celular.Em caso de adolescentes, o indicado é o diálogo antes de monitorar, mostrar para esse filho que não é uma questão de invasão, mas de cuidado e amor.
(En) Cena- Como os pais podem abordar temas como esses com os filhos, para que eles também fiquem cientes?
-Sempre que possível. Podem usar das manchetes ou de casos que aconteçam com pessoas próximas, para alertar a criança/adolescente sobre os perigos. O assunto pode até parecer chato para o filho, no entanto através da repetição, eles vão aprendendo a ficar em alerta com a situação.
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Anos nem tão dourados: a triste infância de Ciça
4 de fevereiro de 2023 Sônia Cecília Rocha Rocha
Conto
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“Enquanto fenômeno socialmente construído, incorporada como legítima e, mesmo, como imperativo, a violência prende-se às próprias condições de constituição e de funcionamento de uma sociedade de homens livres.” (ADORNO, 1988, p. 5).
No dia 15 de agosto de 1956 às 18 horas de um dia de sexta feira, nascia Ciça, um belo bebê saudável que pesava 4 kg. Ciça veio de uma gravidez não desejada, num lar disfuncional e muito, muito pobre de recursos materiais, bem como emocionais. O bebê era a quarta de uma família de seis agora, a mãe trabalhava dia e noite lavando trouxas enormes de roupas, que mal dava conta de carregá-las. Maria era linda e loira, olhos azuis da cor do mar em calmaria, só a cor que lembrava a calmaria. Sua pele muito branca fazia um contraste dolorido com o sol quente. As condições de trabalho eram precárias, três bacias, água tirada na cisterna puxada por uma corda, onde tinha um balde pendurado, (chamava-se sari).
O sol castigava, pois não havia proteção, o trabalho era realizado durante o dia todo debaixo daquele sol escaldante, ou da chuva, tinha quatro filhos para alimentar. O pai de Ciça aparecia de vez em quando com um pacote de arroz, e por meses a fio não se ouvia falar dele. Na época pouco se sabia sobre a história deste moço, por onde andava, o que fazia, pensava na família? Pois bem, em meio a estes eventos, lá ficava o bebê, vez ou outra a mãe aparecia para amamenta-la, com pressa, o serviço urgia, se fez necessário estancar o leite e passar para a mamadeira, não havia tempo, assim o irmão mais velho poderia providenciar o mingau e ela estaria com mais tempo para as lidas do dia. Maria era uma mulher sisuda, de poucas palavras, sorrisos raros, quase inexistentes, e bastante violenta, Ciça saberia disso anos mais tarde.
Ciça cresceu e apesar dos pesares, cresceu saudável, aos cinco anos já tinha consciência do mundo ao seu redor e de seu lugar nele. Era uma garotinha linda; assim como a mãe, era sisuda, de poucas palavras, sem sorrisos, mas por motivos diferentes, achava ela.
Os dias eram sempre molhados, úmidos, assim como sua alma. Imagem de Elisa Riva por Pixabay
A partir desta idade Ciça atesta se lembrar de cada detalhe de sua angustiante e melancólica vida. Ela já tinha obrigações dentro da minúscula casa, que contava com um cômodo e um puxadinho sem paredes para o fogão feito com seis tijolos, tinha também uma prateleira onde os alumínios brilhavam. Maria já introduziu Ciça no exercício de varrer, arrumar cama (só tinha uma para todos) e aos bofetões lhe ensinava a brilhar panelas, e como dizia ela, ensinava a ser “gente”.
Ciça sofria agressões por fazer e fazer mal feito, por não fazer, por chorar, por não chorar, ela era o pano de fundo das amarguras de Maria. Suas mãozinhas pequeninas não conseguiam segurar direito as coisas, portanto não tinha o domínio que Maria exigia dela, até aprender, seu corpo sofria, sua cabeça não entendia o ódio que aquela mulher nutria por ela. Por fim, foi se naturalizando, vai ver que a vida era aquilo mesmo. Por incrível que pareça Ciça amava aquela mulher, achava-a linda e como ela queria por um minuto sequer que ela a amasse, mas deveria ter algo torto com Ciça, algo com que fizesse que a Maria sentisse aversão por ela. Sim, a culpa era da Ciça. É evidente que era, ninguém morde uma criança até sangrar, sem que a criança seja torta.
Aos cinco anos e meio Ciça pegou um livro de sua irmã folheou e sem a menor dificuldade leu uma página, Maria não acreditou, julgou que a menina estivesse inventando e pegou o livro e leu a página, e não, Ciça não estava mentindo, e pela primeira vez em sua pobre vidinha ela ganhou um abraço da mãe que ficou maravilhada, pois a filha nunca havia ido à escola. Maria não sabia que a irmã mais velha sempre lia para Ciça, à luz de uma lamparina, ou à luz da lua, momentos em que Ciça poderia voar e sonhar. Nestes dias peculiares, sua irmã a introduziu no mundo das letras, era pouco, mas Ciça tinha avidez em aprender. E foi assim que se deu, foi um anjo que compadecido presenteou Ciça com este momento do qual ela se lembra até hoje.
A menina acordou no outro dia disposta, depois daquele abraço ela se encheu de esperança, com planos coloridos para um futuro melhor, embora ela não soubesse o que era futuro, pensou que as coisas seriam diferentes agora. Finalmente sua mãe a amaria, ora, porque não, afinal houve aquele delicioso abraço, não se pode agredir depois de um abraço, não tem como voltar atrás depois de amar. Ela descobriu que o mundo dos adultos, nem sempre tinha regras, continuidade, era como um filme com um roteirista macabro. Maria acordou e com a grosseria costumeira já colocou Ciça para brilhar as panelas e com promessas de muita surra caso não brilhassem. Ciça só a olhou desolada e uma lágrima furtiva rolou por sua face. Foi sua primeira grande decepção, mal ela sabia que viriam muitas outras.
Com o tempo as obrigações de Ciça aumentaram muito, com sete anos já haviam mudado de casa umas 10 vezes, sempre era no fundo de alguma casa, e as habitações eram sempre miseráveis. Nesta última casa em questão, havia um fogão a lenha e a menina foi presenteada com um banquinho, para que subisse e assim poder cozinhar. Sim, o almoço seria agora por sua conta. Maria explicou a Ciça como fazer arroz, foi rápido, e ela fez, da maneira que entendeu. As mãos tremiam, o pavor do insucesso era grande, pois as consequências seriam desastrosas. Pois bem, na medida em que o arroz foi cozinhando ele foi crescendo, crescendo, por fim derramou, era arroz demais para a panela. O desespero se instalou e se justificou, Maria entrou e quando viu aquilo, colocou a mão naquele arroz quente e numa fúria mortal, esfregou no rosto de Ciça, queimando todo seu rosto. Uma semana de babosa no rosto e uma tristeza de morte na alma.
Ciça aprendeu a dor de não ter sapatos. Imagem de Azmy Talibi por Pixabay.
Ciça nesta época aprendeu a cozinhar, quando tinha algo para cozinhar, ela não sabia se ficava alegre quando não tinha, ou ficava triste por não ter, ela conhecia a fome de perto. Os sentimentos de Ciça eram confusos entre ser triste ou ter um alívio da tristeza, aliás, os únicos sentimentos aos quais ela tinha intimidade eram medo, vergonha, tristeza, angústia e um monte de porquês embolado em sua garganta. Neste período Ciça entra na escola, “Escola Estadual Professor Chaves”, era uma escola chique para a época, lá estudavam tanto ricos como pobres, isso também foi o calvário de Ciça. A menina não tinha calçados, ia com o uniforme limpo que brilhava, porém, descalça. Logo, virou chacota da turma. A segunda decepção, ela não pensava que crianças também poderiam ser cruéis.
Ciça frequentou a escola por um ano, saiu-se mal em todas as matérias, se sentia a pior das criaturas. Seu irmão Valmir que era seu único e melhor amigo, era mais inventivo e ousado, a vida dura o tinha tornado um mini adulto. Ele achou um pé de botinas, e no outro pé ele enfaixava com tiras de pano e mancava, fingindo estar machucado e assim rompeu o pré-primário. Ciça não, passou a se esconder no mato até a aula acabar, mas não era de todo perdido, estudava nos livros, neste ano, apesar dos parcos resultados, aprendeu a ler corretamente, fazia contas mais ou menos, mas adorava, como ela adorava o livro de histórias. Lia avidamente e com isso tomou gosto pela escrita, o que se tornou seu refúgio. Um dia desses de esconderijo, a menina se encontrava debaixo de uma árvore perto de uma cerca de arame, e chovia muito, caiu um raio que arrebentou a cerca, Ciça ficou intacta, se instalou nela uma esperança que ela seria um ser especial, isto passou a movê-la.
O tempo passou, sua mãe nunca descobriu que ela não terminou os estudos, mesmo porque, não havia tempo para estes pormenores, a escola nunca a procurou, e com isso Ciça fez 10 anos. Tornou-se uma linda garota, de cabelos muito negros e longos, dignos de elogios de quem os visse. Ela não se dava conta disso. Mudou-se com a família para o estado de Goiás, onde a pobreza deu uma arrefecida, mas a fúria de Maria não. Nesta época, Maria teve mais dois filhos, mas Maria tinha que trabalhar, agora ganhando um pouco mais. Os cuidados com os irmãos eram por conta de Ciça, a menina lavava, passava, cozinhava e cuidava dos irmãozinhos, não havia tempo para estudos, a noite quando o pai aparecia, ele lhe dava algumas lições. Quando Maria chegava checava todo o serviço realizado, caso houvesse alguma coisa fora do lugar, ou mal feito ao seu olhar, o lindo cabelo de Ciça era usado como cordas enlaçando a mão de Maria que neste movimento arremessava a cabeça de Ciça nas paredes. Uma nova modalidade de violência se instalou.
A vida seguia, nesta época além de escrever Ciça adora cantar, e o fazia muito bem, cantava o dia todo naquela lida infernal que a deixava exausta. Um dia sua irmã ao chegar do trabalho, deparou-se com Ciça com os cabelos desgrenhados, perguntou o que houve, ele já sabia, mas queria saber dela. Ciça relatou e ela incontinente pegou Ciça pela mão e levou-a em um salão, sua irmã também tinha os cabelos longos e lindos. Sentaram as duas e ela disse: corte nossos cabelos curtinhos, e assim foi feito. Foi a maior prova de amor que alguém já havia dado a ela. Nunca mais a menina esqueceu, como também, nunca mais ela deixou o cabelo crescer, nunca mais conseguiu, foi como se quisesse cristalizar aquele momento de entrega genuína da irmã, bem como preservar dentro de si aquele sentimento de que alguém de verdade a amava.
Em tempos difíceis, ter com quem contar é um tesouro. Imagem de OpenClipart-Vectors por Pixabay
Ciça sempre pôde contar com sua irmã doravante, isso a fazia mais feliz, lhe dava um mínimo de segurança. A menina voltou a estudar, mas sempre fazia supletivos, cursos rápidos e sem embasamentos, mas aprendi muito, era uma devoradora de livros, ganhou prêmios de melhor redação, foi pro jornal e tudo; sempre passava nos testes de emprego, era dedicada em tudo que fazia, tornou-se uma adolescente sem problemas, educada e obediente. Porém com ela se arrastou pelo resto da vida, um sentimento enorme de baixa autoestima. Começou a trabalhar fora aos 12 anos de idade, todos em casa tinham que trabalhar, a vida já não era tão difícil, tinha comida na mesa. Maria era fria, porém, suas agressões haviam diminuído bastante, era quase uma mãe nesta época. Ciça se tornou especial? Não, não se tornou, o raio não fez efeito, mas se tornou um ser humano que não replicou a violência e está quase se formando aos 66 anos, acho que isso a torna quase normal, o que já é lucro para ela.
Aconteceu no em maio o 3° Simpósio Tocantinense de Avaliação Psicológica. O evento, foi realizado no Centro Universitário Luterano de Palmas (CEULP/ULBRA), abordou a avaliação psicológica aplicada a diferentes campos de atuação do profissional de psicologia, dentre elas a avaliação psicológica forense.
O Simpósio, recebeu a psicóloga Janinne Costa Rodrigues (CRP 23/1861), mediadora da oficina “Avaliação Psicológica no Contexto Forense: Um Olhar para Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência”. Egressa do curso de psicologia do CEULP/ULBRA. Especialista em psicologia clínica na abordagem da Gestalt-Terapia, formada pelo Instituto Carioca de Gestalt-terapia (ICGT). Estagiou na equipe multidisciplinar da Defensoria Pública do Estado do Tocantins. Na área de psicologia jurídica desde 2017, hoje atua como supervisora dos entrevistadores credenciados no projeto Depoimento Especial.
Nesta entrevista a psicóloga destaca pontos importantes acerca do cenário da avaliação psicológica forense voltada para crianças e adolescentes vítimas de violência, esclarece dúvidas acerca da temática e conta ainda um pouquinho do que podemos esperar da oficina.
Fonte: Arquivo Pessoal
(En)Cena – Como começou seu percurso ? O que te despertou interesse por essa área?
Comecei no Estágio I da faculdade, onde fomos conhecer os campos de atuação de Psicologia e acabei conhecendo os campos da Psicologia Jurídica, sendo o IML.
(En)Cena – Existem diferenças entre a psicologia jurídica e a psicologia forense? Se sim, quais?
Sim, a Psicologia Jurídica é uma área da psicologia e dentro dela tem subáreas: psicologia forense, psicologia criminal, psicologia penitenciária e psicologia investigativa.
A Psicologia Jurídica é o estudo do comportamento humano perante a Lei, e a Psicologia Forense é quando esse estudo ocorre dentro do Tribunal da Justiça, fórum, defensoria pública, etc.
(En)Cena – Quais os principais aspectos de diferenciação entre a utilização da avaliação psicológica no contexto clínico e forense?
A avaliação psicológica na clínica é uma avaliação de um sofrimento psicológico, de uma demanda de desenvolvimento humano, algo que demonstra um cuidado e apoio com o avaliado. Já a avaliação forense tem a finalidade de auxiliar uma demanda trazida pelo agente jurídico, sobre uma questão legal, tem caráter mais investigativo.
Fonte: encurtador.com.br/htEI4
(En)Cena – De que forma a demanda de avaliação psicológica forense chega ao profissional de psicologia?
Falando sobre a realidade do Estado do Tocantins essa demanda pode chegar através da rede de proteção, ou das partes do processo, por exemplo quando os genitores estão em disputa de guarda, então um pede para fazer avaliação da criança com intuito de revelar qual será o ambiente mais seguro para a criança viver. Também pode ser solicitado por um advogado da parte.
(En)Cena – No caso de avaliação psicológica para crianças e adolescentes vítimas de violência existem protocolos especiais para condução do processo de avaliação? Se sim, quais?
Sim, um dos protocolos mais utilizados é o protocolo NICHD para entrevista investigativa no ambiente forense. E também tem o Protocolo Brasileiro de Entrevista Forense, que é utilizado para realização da audiência de Depoimento Especial
Fonte: encurtador.com.br/cgqH4
(En)Cena – Quais competências poderiam ser definidas como fundamentais para um profissional de psicologia que deseja atuar na área de avaliação psicológica forense voltados para crianças e adolescentes vítimas de violência?
Acredito que é necessário ser imparcial, ter uma bagagem de estudos na área, compreender os limites pessoais e profissionais, entender que está trabalhando em prol do direito da criança e do adolescente, entender sobre o trabalho multidisciplinar (agente da justiça, rede de proteção).
(En)Cena – O que os nossos inscritos podem esperar desse encontro?
Podem esperar que vou tentar trazer um resumão sobre a avaliação psicológica no âmbito forense e vou contar um pouco da minha história trabalhando nessa área. Se preparem, pois essa área é encantadora!
A oficina de “Avaliação Psicológica no Contexto Forense: Um Olhar para Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência”, mediada pela psicóloga Janinne Costa Rodrigues (CRP 23/1861), será realizada na sala 221, no dia 25 de maio de 2022.
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3º Simpósio de Avaliação Psicológica conta com oficina de Avaliação psicológica e o SUS
12 de maio de 2022 Beatriz Maranhão dos Santos
Mural
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No dia 25 de maio acontece o 3 simpósio de avaliação psicológica, que terá como seu local de encontro a Universidade Luterana de Palmas.
Como parte do simpósio acontecerá oficinas voltadas para diferentes contextos da avaliação psicológica, sendo um deles a oficina: Avaliação psicológica e o SUS . O evento contará com a presença da psicóloga e egressa do SUS Lisandra Maciel de Sá, especialista em neuropsicologia, pelo instituto de pós-graduação-IPOG ,também residente em saúde da família e comunidade no município de Palmas-TO. A oficina em questão será ministrada na sala 207 do bloco 4 (prédio do CEULP/ULBRA) com previsão de início às 14hs da tarde.
O tema Avaliação psicológica e o SUS, tem entrado em evidência, pela busca de uma psicologia que vá além de uma profissão liberal, trazendo novas discussões da psicologia com outros campos de atuação e de conhecimento . Nesse sentido, de acordo com CFP(2019) a relação entre a Psicologia e a saúde no âmbito da Atenção Básica (AB) é profundamente nova; é uma área em formação, seja por cronologia— a portaria que define a atuação do Núcleo de Saúde da Família (NASF) foi publicada em 20082 — seja por assentar um modo efetivamente diferente de entender o lugar da(o) psicóloga(o) e sua relação com o trabalho.
Fonte: Arquivo Pessoal
A lógica curativo-individualista ainda deixa psicólogas(os) impotentes frente às expectativas de gestores, equipes multiprofissionais e usuários de receberem uma postura clínica de escuta protegida e individual, como atesta Perrella (2015), Leite, Andrade e Bosi (2013), Alexandre e Romagnoli (2017). Os currículos das graduações de Psicologia por muitas vezes não têm contribuído para a superação dessas dificuldades. Na pesquisa feita pelo CREPOP, os respondentes identificaram os vazios curriculares quanto à inserção do profissional da Psicologia nas políticas públicas e em especial na saúde coletiva, o que traz desafios a serem enfrentados no contexto da atenção básica do SUS, (CREPOP, 2019)
Diante a tal contexto para acadêmicos de psicologia e profissionais da área, este evento se faz importante, proporcionando uma imersão de novos conhecimentos práticos, ao saber da avaliação psicológica e o SUS, identificando as possíveis formas de atuação. Ao abranger o olhar para novas oportunidades, a oficina trará a relação que o campo da psicologia estabelece com a saúde coletiva, mostrando as construções do saber ao se pensar em um cuidado integral em saúde. Refletindo as relações teóricas e éticas na atuação da avaliação psicológica, sua ligação com o SUS e sobre as possibilidades de fazer psicologia nesse contexto.
O simpósio também contará com Palestra de abertura e fechamento, mesas redondas, oficinas de avaliação psicológica e apresentações culturais. No dia 25 de maio de 2022 das 8h às 19h. As inscrições podem ser realizadas através do link.
REFERÊNCIA
Conselho Federal de Psicologia (Brasil). Referências técnicas para atuação de psicólogas(os) na atenção básica à saúde / Conselho Federal de Psicologia, Conselhos Regionais de Psicologia e Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas. 2. ed. Brasília : CFP, 2019. Disponivel em <https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2019/11/CFP_atencaoBasica-2.pdf> acesso em 06 de maio de 2022.
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Estratégias Lúdicas: a inserção da criança com deficiência no ambiente escolar
13 de abril de 2022 Josélia Martins Araújo da Silva Santos
Mural
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Sabemos que a inserção da pessoa com deficiência no ambiente escolar é um tema constantemente debatido no campo social, seja pela busca em entender como o processo se desencadeia, buscando agir pontualmente em situações emergenciais, inclusive pela busca de elencar aspectos relevantes na influência desta inserção no ambiente escolar.
O livro destaca por inúmeros fatores relacionados à inclusão da pessoa com deficiência no contexto escolar de maneira holística, onde o sujeito seja entendido por completo, entendido e respeitado. A atuação do psicólogo possui importância extremamente significativa na busca por tais objetivos e justamente por este motivo é tão importante falarmos acerca da temática abordada.
Importante salientar que a atuação do psicólogo nesse processo inclusivo possibilita a compreensão de fatores familiares e sociais na influência do desgaste ou desmotivação escolar, algo essencial quando se fala sobre sermos empáticos ao lidarmos com as dores e mazelas alheias.
Fonte: encurtador.com.br/sMS13
Precisamos discutir cada vez mais perspectivas sobre a mudança contínua de um cenário que têm gerado exclusão ao invés de promover a inclusão, e esse é um desafio diário no campo de atuação profissional, algo que precisamos despertar em todos os profissionais inseridos neste contexto, afinal a partir do momento em que verdadeiramente trabalharmos juntos então poderemos ser a iniciativa que o mundo precisa.
Interessante à discussão acerca desta temática, porquê de alguma maneira é extremamente necessário que desencadeemos uma ampla reflexão acerca da inclusão social, inclusive torna-se plausível mencionar que para isto devemos nos amparar em uma análise multiprofissional que seja capaz de compreender a pessoa com deficiência dentro do próprio contexto que esteja inserida, ajudando-a de forma eficaz e contundente.
Fonte: encurtador.com.br/btBFH
[…] a Escola pode melhor do que nunca e, em todo caso, pela única maneira concebível numa sociedade que proclama ideologias democráticas, contribuir para a reprodução da ordem estabelecida, já que ela consegue melhor do que nunca dissimular a função que desempenha. Longe de ser incompatível com a reprodução da estrutura das relações de classe, a mobilidade dos indivíduos pode concorrer para a conservação dessas relações, garantindo a estabilidade social pela seleção controlada de um número limitado de indivíduos, ademais modificados por e pela ascensão individual, e dando assim sua credibilidade à ideologia da mobilidade social que encontra sua forma realizada na ideologia escolar da Escola libertadora. (Bourdieu; Passeron, 1992, p. 175-176).
O livro em questão justifica-se em realizar um debate construtivo acerca deste assunto, onde consequentemente mostra-se junto a uma diversidade de ideias distintas, onde antes de qualquer opinião deve-se priorizar o bem-estar da pessoa com deficiência e a garantia de que haja minimamente respeito ao analisar e discutir a temática no âmbito social.
FICHA TÉCNICA
Autora: Kelem Zapparoli
Formato: 14x21cm
Idioma: Português
Capa comum – 2 de janeiro 2012
Páginas: 152
Ano de publicação: 1º edição – 2012 / 2º edição – 2014
Referência:
BOURDIEU, R. K. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro, WVA, 1997.
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A Psicologia sob a Perspectiva do Terceiro Setor na Proteção Infantil
9 de abril de 2022 Josélia Martins Araújo da Silva Santos
Mural
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O livro Manuais da psicologia – vol. 3 – psicologia organizacional aborda alguns aspectos acerca da atuação do psicólogo na ONG de proteção infantil, visto que certamente é um tema de grande relevância nos dias atuais, destacando-se a importância de conhecermos o público alvo da instituição e quais são as pessoas que utilizam os serviços dessa instituição. Sabe-se que as pessoas que utilizam os serviços são crianças no processo de interação e socialização com as demais, isso se deve ao fato do rompimento das práticas de convivência uns com os outros.
Importante salientar que seja no espaço social ou familiar sabe-se que a cada dia que passa, o distanciamento familiar vem tomando cada vez mais esse espaço, devido a vulnerabilidade social em que as famílias se encontram, pela falta de diálogo e por estar sendo cada vez mais deixado de lado a imposição de regras e limites por parte das famílias.
A ONG em linhas gerais conta com um cenário de crianças e são analisados seus contextos familiares, tendo acompanhamento social na realização de visitas e atividades interventivas, assistindo essas crianças de maneira integrativa e humanizada, algo que as faz sentir melhores consigo mesmas e aptas a encarar as adversidades da vida. Netto afirma em seus achados que: o limite parece claro: nenhuma ação profissional (e não só dos assistentes sociais) suprimirá a pobreza e a desigualdade na ordem do capital. Mas seus níveis e padrões podem variar, e esta variação é absolutamente significativa – e sobre ela pode incidir a ação profissional, incidência que porta as possibilidades da intervenção que justifica e legitima o Serviço Social. O conhecimento desses limites e dessas possibilidades fornece a base para ultrapassar o messianismo, que pretende atribuir à profissão poderes redentores, e o fatalismo, que a condena ao burocratismo formalista (2007, p. 166).
Fonte: encurtador.com.br/ixyQ8
As crianças que se apresentam como público alvo nesse cenário se encontram com déficits econômicos, sociais e culturais, exigindo alternativas que venham ajudar essas famílias a mudar em à forma que estão vivendo se distanciando cada vez mais umas das outras, fazer com que percebam as consequências que acarretarão com esse novo modelo de vida que está sendo adotado e que compreendam a necessidade de mudança, para que consigam reverter essa realidade e com isso possam melhorar a qualidade de vida familiar.
Na atuação do psicólogo é preciso compreender que é preciso que a relação entre a demanda e a cobertura do atendimento esteja voltada para se compreender as consequências que a falta desses vínculos pode ocasionar, visto que, é notória nos dias atuais uma grande e preocupante falta de socialização, onde as pessoas estão cada vez mais se distanciando umas das outras, mesmo as que moram na mesma casa.
FICHA TÉCNICA
Título: Psicologia Organizacional – Coleção Manuais da Psicologia para Concursos e Residências (Volume 3) Autores: Camila Ferreira Oliveira / José Bonifácio do Amparo Sobrinho / Laila Leite Carneiro / Roberta Ferreira Takei
Páginas: 296 Edição: 1ª Ano: 2018 Editora: Sanar
REFERÊNCIAS
IAMAMOTO, Marilda V. Psicologia em tempo de capital fetiche: capital financeiro, trabalho e questão social. 6 ed. São Paulo: Cortez, 2011.
NETTO, José Paulo. Desigualdade, pobreza e Psicologia. Rio de Janeiro: UERJ. Revista em Pauta. 2007. n. 19, p. 134-170.
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O “Encanto” das relações transgeracionais na formação das crenças
Encanto, filme da Walt Disney Animation Studios, lançado em dezembro de 2021, literalmente “encantou” o público e está prestes a concorrer ao Oscar de 2022 na categoria de Melhor Filme de Animação e Melhor Trilha Sonora.
O filme conta uma história extraordinária sobre uma família que possui poderes únicos, e vivem nas montanhas da Colômbia em uma casa mágica.
A história e a construção dessa narrativa iniciam quando a jovem Alma Madrigal foge com seu marido e seus filhos trigêmeos, Julieta, Pepa e Bruno por causa de um conflito armado, e o marido acaba morrendo tentando proteger eles e outras pessoas da vila. Alma consegue salvar seus filhos, e a vela que ela estava segurando adquire poderes mágicos – um “milagre” – e acaba derrotando seus perseguidores. Depois disso eles se refugiam nas montanhas, e formam uma comunidade ali.
Cada membro da família em um dado momento da vida é contemplado com um dom único, com habilidades sobre-humanas, e com esses dons eles servem esta comunidade, todos com excessão de Mirabel, a filha mais velha de Julieta, que é a protagosnista calorosa e espirituosa do filme.
Desde o início do filme, se pode perceber na fala da Mirabel um pouco da dinâmica desta família. A avó trata ela de forma diferente dos outros, ela é vulnerável ao desprezo desta família, que a exclui em vários momentos por ela não ter recebido um presente (por razões desconhecidas). A própria existência de Mirabel é vista como prejudicial à família. Espera-se que ela permaneça em um canto, fora de vista. Ela é deixada de fora dos retratos de família e menosprezada.
Fonte: encurtador.com.br/nxCRX
A postura da avó é de muita arrogância, é autoritária, impondo e centralizando o seu poder. Durante o enredo percebemos sua rigidez e agressividade, inclusive responsabilizando a neta da possível destruição da família, após uma previsão feita por seu filho Bruno, que tem uma visão que ameaça a morada mágica da família e, após isso ele se retira para um exílio para proteger ela e a si mesmo, bem como sua família, pois a matriarca Madrigal não tolera rachaduras em suas fundações.
Dentro da psicologia chamamos isso de ambiente invalidante, onde por mais que a família pode ser a coisa mais importante para um indivíduo, ainda assim pode ser impregnada de toxicidade e ser motivo de adoecimento psíquico. No enredo, por exemplo, a sensação dela de não fazer parte daquela família, de não conseguir corresponder às expectativas da matriarca, o peso de tudo isso, somados ao medo e à culpa impactam muito Maribel. E neste olhar psicológico, podemos perceber a autenticidade emocional da protagonista.
Ao contrário do que muitos pensam, sentir-se bem ou feliz o tempo todo não é uma receita para o bem-estar, como descobriram os pesquisadores da emoção.
Pessoas com maior flexibilidade de experimentar emoções positivas e negativas em seu ambiente apropriado mostram maior capacidade de resiliência do que pessoas com menos flexibilidade. Embora Mirabel abra o filme com uma introdução otimista dos poderes da família, desviando as perguntas das crianças da vila sobre o dom dela, e mesmo que durante a cerimônia milagrosa de seu primo mais novo ela diz para si mesma: “Não fique chateada ou com raiva. “Não se sinta arrependida ou triste.” “E eu estou bem, estou bem demais; mas me sinto deixada pra trás, não dá mais…, e mais pra frente, “eu não estou bem”, ela continua expressando sua frustração por não ter um dom mágico e estar cansada de “esperar por um milagre”.
Fonte: encurtador.com.br/fpzDE
Talvez seja exatamente porque ela não está completamente emaranhada na família que ela adquire a capacidade de ver as coisas como elas são, não como elas idealmente deveriam ser. Assim, só ela pode ver as rachaduras na casa da família muito antes de qualquer outra pessoa (exceto o tio Bruno). A avó acha suas preocupações ameaçadoras e a repreende fortemente, dizendo que ela está imaginando coisas, ou pior, causando a destruição da família.
“Honrar o milagre” era a coisa mais importante para esta avó. Para ela, o valor desta família esta intimamente atralado ao milagre, desta forma percebemos as crenças e o funcionamento dessa família, a tradição, no que eles acreditam, e o que fala mais alto. Eles deveriam manter esses dons a qualquer custo (inclusive ao custo da saúde psicológica dos familiares).
Luíza, por exemplo, se mostra muito ansiosa, tendo que aguentar um peso que ela já não sente que tem forças para suportar. Ela não sabia dizer não, assumia a responsabilidade de ajudar e satisfazer as expectativas de todos. Izabela também, por ter que ser perfeita, fazer tudo certinho, manter seu padrão de beleza, e o custo desta autoimagem. Mas o dom estava acima de tudo, da liberdade e das necessidades dos membros dessa família. A avó se mostra completamente decepcionada com Mirabel, e fica claro como ela não estava disponível para validar as emoções dos seus filhos e netos.
Nenhum deles tinha liberdade de escolha, e nem abertura para falar como se sentiam em relação ao dom recebido, e o que ele representava na sua vida.
Vai se percebendo os inúmeros sofrimentos e prejuízos emocionais, inclusive na formação nas crenças nucleares de todos eles. A forma como o adulto se relaciona com a criança é internalizado pra ela, essa percepção do mundo a criança aprende na relação estabelecida com a família. Onde tem aceitação, amor, liberdade, ela começa a perceber o mundo a partir dessa relação, e da mesma forma quando existe uma relação disfuncional, autoritária, rigorosa, exigente e rígida vai trazer a criação de crenças disfuncionais que acompanham o indivíduo ao longo de toda a vida.
Segundo a Terapia Cognitivo Comportamental, as crenças nucleares são formadas desde a infância, se solidificam e se fortalecem ao longo da vida. Elas representam o nível cognitivo mais profundo, são ideias absolutistas e rígidas, enraizadas e cristalizadas, e formam como é chamada – a tríade cognitiva, que nada mais é do que o jeito de se perceber como pessoa, perceber os outros e enxergar o mundo.
Um terapeuta da TCC consegue fornecer ferramentas suficientes para colaborar com a mudança do sistema de crenças distorcidas do paciente, para assim, permitir que o sujeito que sofre com a visão irreal de si, dos outros e do mundo consiga fazer uma reestruturação cognitiva e adquirir uma flexibilidade psicológica, conseguindo modificar sua percepção, sua forma de se sentir e de se comportar para melhor, proporcionando à pessoa uma vida mais realista, adaptativa e leve.
O filme consegue captar esse belo encontro entre as gerações, cheio de dor e tristeza, mas também de esperança, nesta dualidade da família.
No final, a avó Alma encontra Mirabel chorando no rio onde seu marido Pedro morreu, e finalmente assume a responsabilidade por colocar muita pressão sobre a família e admite que esqueceu que seu verdadeiro presente não eram seus poderes e milagres, mas sim a própria família. Seu modo rígido de conduzir a família se tornou disfuncional, e ela então flexibilizou esse modo de funcionamento para haver a reconciliação entre elas.
Na conclusão do filme, Mirabel não recebe poderes em forma de magia, mas ela recebe seu lugar na família e, por sua vez, descobre como a geração de sua mãe e a dela carregavam o peso de seus poderes. Seu dom especial é o amor e seu controle sobre o grande coração da família. Assim como a casa foi sendo construída ao redor deles, os Madrigals se reconstroem como uma família que pode ser inteira e estável. Eles ganham uma nova base, uma fundação que lhes permitirá ser quem eles querem ser, com dons ou sem dons. Eles são mais fortes do que eram no início, tudo graças à capacidade de Mirabel de ser vulnerável. A beleza e o amor que vem das histórias das famílias, as pressões implacáveis e a tristeza muitas vezes produzida deste contexto familiar, é um convite a olharmos mais de perto, de entender a história e a origem das tradições. Podemos conhecer os pais e familiares que enterraram seus traumas em nós e aprender com eles, assim como Maribel fez quando perdoou a avó. Podemos tentar enxergar além do sofrimento transgeracional, esta bagagem trazida pelos nossos antepassados, buscando tirar o melhor proveito dessas experiências, tanto boas como ruins, e aprender com elas.
FICHA TÉCNICA
Título original: Encanto
Ano de Produção: 2021
Diretores: Byron Howard, Charise Castro Smith e Jared Bush