Os direitos humanos são um conjunto de normas que regulamentam a proteção da população a fim de fornecerem dignidade de todos os seres humanos na íntegra. A história do direito humano é um pouco antigo, em meados da segunda guerra mundial, pois quando a sociedade se viu privado de sua liberdade a sociedade presenciou um momento chave para a elaboração de normas que protegessem não somente a vida, mas a dignidade de todos os indivíduos, independentemente de credo, cor ou classe social.
Para Bobbio (2004, p. 1):
Direitos do homem, democracia e paz são três momentos necessários do mesmo movimento histórico: sem direitos do homem reconhecidos e protegidos não há democracia; sem democracia, não existem as condições mínimas para a solução pacífica dos conflitos (BOBBIO, 2004, p. 1).
A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 assume que “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos”, ou seja, todos têm seis direitos pelo simples fato de serem da espécie humana. Ainda, a mesma Declaração afirma que tais direitos devem ser protegidos pela lei, um ideal comum a ser atingido por todos os povos e nações. Deste modo, a Organização das Nações Unidas (ONU, 2015) afirma que os direitos humanos são direitos inerentes a todos os seres humanos, independentemente de raça, sexo, nacionalidade, etnia, idioma, religião ou qualquer outra condição.
Os direitos humanos tem por caraterística principal a sua mudança a originalidade, no qual este depende da civilização, o tempo e a época histórica perpassada, ou seja, ela será aplicada a partir dessas perspectivas, além do mais possui uma caraterística preconizada é que está é heterogênea, pois os direitos humanos possuem diversas pretensões entre si se tornando uma caraterística bastante interessante.
Conforme Accioly, Silva e Casella (2011, p. 502), os direitos fundamentais podem ser agrupados em direitos de primeira, segunda e terceira geração. Seguindo essa mesma linha de pensamento os direitos de primeira geração são a reafirmação do direito à liberdade, onde esses direitos foram resultados de teorias filosóficas iluministas e liberais e das lutas contra o despotismo. Por isso tem-se a ideia da abstenção da atuação do Estado para o pleno exercício dos direitos. Assim, o Estado não pode coibi-los, evitando suas violações. São os direitos civis e políticos.
Os direitos de segunda geração são os econômicos, sociais e culturais, os quais necessitam de uma ação positiva do Estado, só podendo ser usufruídos com o seu auxílio. Zambone e Texeira (2012, p. 56) declaram que a segunda geração diz respeito aos direitos de prestação, que são ações positivas do Estado.
Por final temos os direitos humanos de terceira geração, no qual de acordo com Bobbio (2004, p. 21) incluem os direitos individuais tradicionais, que são os direitos de liberdades, os direitos sociais, que consistem em poderes, e os de terceira geração, no caso das Cartas mais atuais. Os primeiros exigem obrigações negativas do Estado, limitando as ações dos órgãos públicos para proteger o ser humano. Os segundos impõem obrigações positivas. É importante observar que as gerações de direitos são complementares umas às outras.
Portanto, os direitos humanos nessa perspectiva de contextualização, onde este respectivo tema é bastante extenso e que também não foram criados de uma hora para outra. Possuem uma evolução histórica, em que as lutas sempre estiveram envolvidas. A Declaração Universal de Direitos Humanos é um grande exemplo: foi cunhada após a terrível Segunda Guerra Mundial. Assim, a luta para a concretização dos direitos humanos, e também dos direitos fundamentais dentro de cada país, é um processo que ainda não acabou. Após a conscientização de que existem direitos, vem a etapa de concretizar esses direitos, ou seja, fazer com que todos possam usufruí-los. Neste quesito, os entes estatais, União, Estados, Distrito federal e Municípios são essenciais para a consolidação dos direitos básicos do homem.
Referências:
ACCIOLY, Hildebrando; SILVA, G. E. do Nascimento e; CASELLA, Paulo Borba. Manual de Direito Internacional Público. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. 976p.
BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. 212 p.
ZAMBONE, Alessandra Maria Sabatine; TEIXEIRA, Maria Cristina. Os Direitos Fundamentais nas Constituições Brasileiras. Revista do Curso de Direito da Faculdade de Humanidades e Direito, São Paulo, v. 9, n. 9, p.51-69, 2012. Disponível em: https://www.metodista.br/revistas/revistasims/index.php/RFD/article/viewFile/3542/3199 Acesso em: 29 de agosto de 2023.
Compartilhe este conteúdo:
Por que somos monogâmicos? Reflexões sobre a prática da monogamia em nossa sociedade
23 de fevereiro de 2023 Giselle Carolina Thron
Insight
Compartilhe este conteúdo:
O ideal do relacionando monogâmico obtendo como final feliz o casamento Fonte: pixabay.com.br
Afinal, por que somos monogâmicos? Refletir sobre a prática da monogamia e não-monogamia em uma sociedade mononormativa carregada de valores patriarcais e de estereótipos de gênero é uma tarefa de certo modo difícil. Podemos responder a pergunta inicial com uma simples frase: “porque é o certo!”. Mas de onde veio o conceito de certo ou errado na forma de se relacionar afetivo-sexualmente? Em primeiro lugar, gostaríamos de ressaltar que esta reflexão não se refere a determinar o que é certo ou errado nos padrões de relacionamentos, mas sim, abrir o debate sobre a forma de relacionamentos possíveis.
Desde sempre nos é ensinado modos de nos relacionar em sociedade, assim, entende-se que comportamentos sócio-afetivos-sexuais nos são ensinados. Em uma sociedade baseada em valores patriarcais, religiosos, heteronormativos é difícil pensar que existem outras possibilidades de nos conectar afetivo-sexualmente com o outro. Para ser feliz precisamos: crescer, estudar, casar, ter filhos. Esta é a norma que nos é ensinada. E de onde vem esta norma?
Nossa primeira reflexão parte da ideia do amor romântico que foi popularizado no século XIX o qual pode nos ajudar a entender a atual monogamia como norma de relacionamento. O amor romântico é entendido como uma construção sociocultural advinda dos romances trovadorescos do século XI onde o amor era idealizado como o sublime da perfeição. O amor cortês jamais seria alcançado pois era considerado a sublimação da perfeição. Este conceito foi disseminado através de poemas e peças teatrais que encantavam o espectador de modo a desejar aquele amor para si, perseguindo este desejo por toda sua vida. O romance Tristão e Isolda, história medieval originada da literatura celta e popularizada na literatura francesa no século XII, representa bem este sentimento.
Voltando ao século XIX, a literatura nos mostra vários exemplos de romances tendo como plano central a luta pelo amor: heteronormativo, branco, burguês. Valores estes tão bem representados na literatura onde o casal lutou durante toda a história para ficarem juntos no final, claro, ao conseguirem finalmente o “casamento” a história acabava. Afinal, Capitu traiu Bentinho? Esta é a indagação que persiste até os dias atuais, uma vez que seria impensado, até para os dias de hoje, Capitu amar Bentinho e Escobar, pois a norma se baseia na tese mononormativa de que só é possível se relacionar com uma pessoa e principalmente para as mulheres.
O século XX trouxe a popularização do cinema e os grandes clássicos hollywoodianos mantendo o mesmo ideal de amor, onde o casal deveria sempre optar por uma pessoa para amar e se relacionar para o resto de suas vidas. A popularização do cinema invadiu classes socioculturais diversas e atingiu todas as faixas etárias com as adaptações dos contos de Grimm pela gigante do entretenimento Disney e a famosa figura da princesa encantada que deveria esperar seus príncipes para que finalmente tivesses sua salvação de uma vida de maus tratos. Mesmo que o perfil das princesas Disney tenha mudado com o tempo, animações como Frozen e Moana representam bem estes perfis, ainda se persiste a figura da princesa que precisa necessariamente encontrar seu par, casar e “ser feliz” no castelo nas nuvens.
Em contraposição ao ideal masculino de ter sua “princesa” que deveria ser a imagem de um “anjo”, figura idealizada como dócil, terna, feminina e obviamente virgem, o “príncipe”, forte, másculo, protetor e atencioso foi idealizado através de personagens a exemplo dos filme Ghost, do Outro Lado da Vida ou Top Gun, Ases Indomáveis, com trilhas sonoras marcantes para fixar ainda mais no público o ideal romântico que perpetuam no imaginário coletivo como grandes exemplares de pares perfeitos, ou seja, o amor romântico idealizado e sobretudo, único e exclusivo, até mesmo após a morte.
O advento da internet e a popularização das redes sociais tem nos influenciado e hoje a figura dos “influencers” ditam como devemos nos comportar. Fotos e vídeos de casais “perfeitos” fazem com que o grande público anseie por uma vida igual e o mesmo modelo de mononormativo de relacionamento. Se por um lado a popularização das redes sociais continua reafirmando um modelo de relacionamento mononormativo percebe-se também que o discurso tem se ampliado e hoje vemos o debate de relacionamentos não-monogâmicos como formas válidas de se relacionar afetivo-sexualmente. Debates que seriam impensáveis há algumas décadas. Hoje, podemos ver uma crescente onda de relacionamentos não-monogâmicos como o poliamor, relacionamentos abertos, swinger e outras práticas e modelos de relacionamentos.
Mesmo com a abertura do debate sobre variados tipos de relacionamentos ainda observa-se que o assunto está envolto de tabus e preconceitos. Ao examinar alguns comentários em posts e reels que se referem aos relacionamentos não-monogâmicos a maioria das pessoas se posicionam de maneira agressiva e/ou crítica e dirigem comentários como: “falta de maturidade”, “se quer liberdade não namore/case”. O que revela que o assunto deve ser cada vez mais debatido e normalizado.
Atualmente podemos observar diferentes formas de se relacionar Fonte: pexels.com.br
Podemos então creditar o costume ocidental da monogamia apenas ao ideal de amor romântico? Na verdade, é difícil dizer que uma norma socialmente aceita é debitada apenas a um fator e este texto se propõe a realizar reflexões, deste modo, a segunda reflexão que propomos tem relação a questões ligadas a fatores econômicos.
Durante o desenvolvimento das sociedades humanas houveram mudanças de costumes e desde que se descobriu como ser social os indivíduos se relacionam de diversas maneiras. Em sociedades nômades, há milhares de anos, acreditava-se que as mulheres engravidavam por influência de poderes divinos, não havia o ideal de família nuclear e os filhos eram responsabilidade de toda a tribo. A partir do momento que se entendeu que as mulheres engravidavam através de relações sexuais com homens, houveram novos arranjos pois viu-se que as mulheres poderiam assegurar sua maternidade e aos homens ficava a dúvida. (Almeida, 2021).
A partir daí começou-se a definir relações exclusivas para se assegurar a paternidade e o direito de herança. Este foi a tese levantada pelo economista, filósofo, sociólogo e jornalista alemão Friedrich Engels em sua obra A origem da Família da Sociedade Privada e do Estado (1884), onde ele explica a formação da família nuclear e monogâmica pela ótica da sociedade capitalista, sendo assim, não seria possível outro modelo de família (relações afetivas/sexuais) que não assegura a manutenção da propriedade privada através da certeza da paternidade.
Segundo Engels a família era uma forma de organização social baseada na cooperação e na comunidade de bens, onde não se tinha a noção de propriedade privada e a relação entre homens e mulheres eram igualitárias. Com o desenvolvimento das forças produtivas e da agricultura, a propriedade privada surgiu como forma de controlar os recursos naturais, o trabalho humano gerou a divisão da sociedade em classes e a exploração do trabalho humano gerou a divisão da sociedade em classes e divisão de papéis sexuais, onde os homens seriam responsáveis pelo sustento e proteção e as mulheres seriam as responsáveis pelos trabalhos familiares e a manutenção dos filhos e da casa, embora a necessidade de trabalho pesado ainda continuaram como tarefa feminina.
Desta forma, as sociedades igualitárias e comunitárias foram sendo substituídas pela norma de famílias nucleares e mononormativa, assim, não haveria a possibilidade de dúvidas quanto à paternidade e o direito à herança estaria garantida aos filhos legítimos. Outro fator importante envolve o ideal patriarcal de assegurar, além do patrimônio (capital) que a mulher fosse também uma propriedade masculina ficando ligada ao homem através do casamento e da maternidade. Mas, e quanto às famílias de classes econômicas mais baixas que não teriam patrimônio a ser passado? O que se argumenta é que além do capital financeiro a sociedade que tem o patriarcado como base, mesmo sem herança para ser passada para as futuras gerações, o peso da continuidade, ou seja, “meu filho levará meu nome” sendo este considerado também um patrimônio a ser passado.
Chegamos, então, ao final destas reflexões com o intento de abrir e ampliar o debate sobre o modo como as pessoas se relacionam afetivo/sexualmente. Podemos então responder a pergunta inicial deste texto, por que somos monogâmicos? Entendemos que há muitas questões envolvidas e este texto discute apenas duas delas, há ainda muito a ser discutido e podemos e devemos nos questionar: Afinal, há uma norma? Esta norma pode/deve ser pensada/discutida? Por que devemos aceitar que nos relacionamos de maneira que outras pessoas acreditam ser o certo? Por que não podemos nos relacionar com quem ou como nos sentimos melhores/completos? Afinal, nascemos para sermos felizes e a forma como nos relacionamos afetivo/sexualmente é de grande importância.
Referências:
ALMEIDA, A. L. de. Contribuições da Psicologia Social Acerca da Monogamia Compulsória. Belo Horizonte. 2021. 24p. Disponível em: chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://jornaltribuna.com.br/wp-content/uploads/2021/06/AS-CONTRIBUICOES-DA-PSICOLOGIA-SOCIAL-ACERCA-DA-MONOGAMIA-COMPULSORIA.pdf. Acesso em: 18/02/2023.
VIEIRA, E. PRETTO, Z. Mulheres não monogâmicas: Trajetórias em uma sociedade Mononormativa. Repositório Universidade RUNA. Dezembro/2021. Disponível em: https://repositorio.animaeducacao.com.br/handle/ANIMA/20369 . Acesso em: 19/02/2023.
Compartilhe este conteúdo:
Caso Amber x Depp: o panorama do atual cenário de violência doméstica
29 de outubro de 2022 Sandra Aparecida Lopes Ramalho
Insight
Compartilhe este conteúdo:
Não é de hoje que a violência doméstica é presente na sociedade. Relatos de agressões verbais podem ser extraídos de uma época que isso sequer era entendido como uma forma de agressão contra o parceiro.
Na dinâmica do casal, o homem sempre esteve apontado como o algoz do relacionamento e o principal causador da violência doméstica. Esta situação é tão reiterada que na modernidade dos tempos, foram criadas diversas leis para coibir a reiteração dessas condutas.
A Lei Maria da Penha e a criação do tipo penal do Feminicídio são exemplos legais da proteção que é concedida pelo Estado em detrimento da mulher, que dada a sua vulnerabilidade física diante do homem, possui um resguardo legal superior a este.
Esta proteção não se limita ao Brasil, no mundo inteiro a sina se repete. O caso de Amber x Depp é o exemplo global mais recente que se tem sobre a violência doméstica. Tudo começou em meados de 2016 com publicações feitas pela atriz alegando supostas violências domésticas que havia sofrido e que, mesmo não indicando o nome do ator Jhonny Depp, atingiram a carreira do ator em cheio.
Houve uma crescente comoção e, à época, era o assunto mais comentado nas mídias sociais. O desfecho da história acabou tomando rumos totalmente distintos em 2022. Depois de uma árdua briga judicial, com diversas testemunhas sendo ouvidas e gravações de áudios que mostravam um comportamento agressivo por parte daquela que se dizia vítima, houve um choque global, muitos ficaram reflexivos sobre como uma mulher poderia ser a autora de violência doméstica também.
Amber, em uma das gravações ainda incita Depp a informar sobre suas brigas, dizendo coisas como “Vai lá, diga ao mundo: Eu, Jhonny Depp, um homem, sou vítima de violência doméstica. E eu fui agredido, e veja quantas pessoas vão acreditar ou ficar do seu lado. Por que você é grande e mais forte”.
A condenação recíproca de Jhonny Depp e Amber Heard no litígio norte americano trouxe à tona para o público geral que o comportamento agressivo não escolhe gênero, muito embora seja um terrível fato de que haja mais feminicídio do que “hominicídios”.
Sendo diagnosticada como portadora dos Transtornos de Personalidade Histriônica e Borderline, Amber passou a ser vista pelos tribunais da internet, assim como pela corte estadunidense como uma pessoa instável e capaz de fazer os atos que lhe foram imputados, inclusive decepar o dedo do ator.
Fonte: encurtador.com.br/szBMU
A comoção resultante deste caso, evidenciou a quantidade de denunciações caluniosas que ocorrem em todo o país contra homens por parte de suas ex-companheiras que se diziam vítimas de agressões e até estupro. Situação que vem crescendo no Brasil, e abrindo os olhos do Poder Judiciário para observar quando há verdade na fala da pretensa vítima.
A reflexão principal, como dito, é de que não existe um lado próprio a ser defendido nestas situações. Sim, historicamente falando, as mulheres sofreram e ainda sofrem demasiadamente com a violência doméstica, mas, atualmente, já está sendo possível observar que esta balança não pende para um único lado.
Com as respectivas delimitações geográficas, cita-se o caso de um homem que foi vítima de cárcere privado por sua então companheira na cidade de Araguaína- TO, na qual o agrediu por 05 (cinco) dias ininterruptos dada a suspeita de traição.
Fonte: encurtador.com.br/fju16
Vendar os olhos para a violência doméstica sofrida pelos homens por parte de suas companheiras, é vendar os olhos para a verdadeira justiça. Não devemos banalizar e generalizar o comportamento masculino, tampouco tratar como situações raras e isoladas as agressões femininas, que, muitas vezes, ocorrem no campo psicológico.
Violência doméstica, assim como qualquer outro tipo de violência, independente do sexo ou orientação sexual, é crime passível de punição severa e privação da liberdade, devendo ser denunciada e apurada. Não podendo ser utilizada como arma para benefício de um único grupo.
REFERÊNCIAS
SANTOS, Guilherme Geha dos; e MELLO, Gustavo Adolfo Ramos. Pacientes, problemas e fronteiras: psicanálise e quadros borderline. Psicologia USP [online]. 2018, v. 29, n. 2 [Acessado 21 Outubro 2022], pp. 285-293. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/0103-656420170101>. ISSN 1678-5177. https://doi.org/10.1590/0103-656420170101.
BRASIL, Lei nº. 11.340, de 7 de agosto de 2006, (Lei Maria da Penha).
DESCONHECIDO. AF notícias. Homem mantido em cárcere privado pela esposa apanhava todos os dias: ‘eu não aguentava mais’. Disponível em: <https://afnoticias.com.br/central-190/homem-mantido-em-carcere-privado-pela-esposa-apanhava-todos-os-dias-eu-nao-aguentava-mais> acesso em 20 out 2022.
Compartilhe este conteúdo:
Reflexões sobre uma vida
27 de agosto de 2022 Sônia Cecília Rocha Rocha
Relato
Compartilhe este conteúdo:
Neste mês de agosto, mais precisamente dia 15, foi meu aniversário. Não me importo muito com isso, nunca importei. Os meus sim, adoram, fazem apologia sobre.
Não há como, de alguma forma não me contagiar com tantas manifestações de carinho vindas de todos os lados. Este ano me quedei a prestar atenção em cada uma dessas mensagens (são todas lindas e com particularidades e minúcias únicas).
Vi que as pessoas que me amam e consequentemente admiram, lembram-se de mim como eu era, isso me fez pensar em um trecho da canção Lista de amigos de Osvaldo Montenegro: “Quantos defeitos sanados com o tempo eram o melhor que havia em vc.”
Tentei sanar várias coisas que eu julgava que eram defeitos e que algumas pessoas apontavam como sendo, no entanto, as pessoas me lembram e me enaltecem através do que deixei para trás.
Deixei de falar o que eu achava, na hora do fato ocorrido (isso incomodava), deixei de dançar, cantar alto e de falar palavrões (nem eram tão palavrões… eram sim rsrs). Deixei de ser tãooooo sincera, as pessoas não gostam, preferem seguir cegas, deixei que elas seguissem cegas, não sou a palmatória do mundo.
Segundo Selwyn Duke em 2009, “Quanto mais à sociedade se distancia da verdade, mais ela odeia quem as revela” (SELWYN DUKE, 2009)
Até semestre passado, brigava, ficava indignada, com os grupos de faculdade, como assim, como essas pessoas não se comprometem com suas responsabilidades escolares, como deixam nas costas do outro um dever que também é dele, como conseguem ficar nas costas do colega que se mata de estudar?
Em 2013 a APA já tinha uma definição para estes comportamentos e o denominava de narcisista, dando-lhe a seguinte descrição: “Indivíduos com falta de empatia e senso de direitos, tendo comportamento explorador e usando os demais em benefício próprio” (APA, 2013).
Pois bem, hoje sei que esta forma de agir pertence apenas ao outro, sigo sem questionar.
Talvez eu tenha apenas me anestesiado, tornado sem propósito, minha intencionalidade de chamar a atenção do outro com meus cartazes vermelhos brandindo dentro de minha ilusão de mudança de comportamentos. Meu grito foi se tornando solitário, assim como na poesia, meu poema se tornou preso, inacabado e não dito. Não me importo mais com isso, e continua acontecendo, todo o tempo.
Fonte: Imagem de Sasin Tipchai por Pixabay
Enfim, em todos os casos cansei de julgamentos, cansei de pessoas sem compromisso. Hoje faço o que tenho que fazer e de uma forma ou de outra, continuo aprendendo, com os meus erros, e com o dos outros.
Perdi o melhor que havia em mim? Talvez sim, mas me sinto mais em paz sem ter que gritar erros tão aparentes de quem não quer enxergar. Talvez também, confesso, eu esteja acometida por um profundo enfado numa luta com o que tenho de ideal e o que existe de realidade. Talvez eu esteja frustrada com minhas ações sem efeito, talvez…
Penso também, que meu discurso poderá ter alguma empáfia de boa moça, não é minha intenção, talvez eu esteja (claro, que estou), bem inacabada e por isso, vejo sombras distorcidas através da minha própria caverna.
Escrevi este texto ano passado, e ele nunca me pareceu tão atual, a única ressalva que eu faria é que neste ano poucas pessoas se lembraram, talvez tenha sido pelas máximas que descrevi no ano passado, já não sou tão esfuziante como antes, sigo minha trajetória sem alarde, e sem querer seguidores, nem de likes faço questão.
As pessoas no dia a dia gostam de quem lhes prestem reiteradas curtidas, quem lhes cultuem, os egos estão inflados, e cada vez mais egoístas. A famosa frase faça ao outro o que desejas para ti, não se aplica na contemporaneidade, o que se aplica é fazer a mim, só a mim e se der tempo entre um minuto e outro, faço ao outro, mas apenas se der tempo. Posso estar sendo pessimista, atribuo ainda ao meu enfado, talvez esteja longe da verdade do outro, mas o que seria a verdade no outro, e em mim mesma?
Sobre as verdades Nietzsche diz,
“As verdades são ilusões que foram esquecidas enquanto tais. Metáforas que foram gastas e que ficaram esvaziadas de seu sentido, moedas que perderam o seu cunho e que agora são consideradas, não só como moedas, mas como metal.” (NIETZSCHE, 2005, p.13). Citação que reitera minha forma atual de crenças.
De ontem afirmo o que digo, de hoje, acredito que minha imaginação percorreu um caminho solitário e utópico, me levando a ter considerações menos afetiva em relação aos meus próximos, o que indubitavelmente me leva ao mesmo patamar de comportamento dos mesmos, porém, a mim imputo o enfado, mas jamais a irresponsabilidade de desistir do que a mim é conferido.
Continuo me parabenizando, entre tropeços e percalços, continuo lutando e tentando mesmo em desesperança, fazer do meu entorno um lugar melhor. Enfim, feliz niver pra mim e para quem está por fazer. Sejam quem quiserem ser, mas tentem ser uma versão melhor de vocês mesmos.
REFERÊNCIAS
AZZI, Isabel Cristin de Souza (2007). Realidade: uma razão que não se explica, mas se crê.https://doi.org/10.1590/S1516-14982007000200007 . Disponível em: https://www.scielo.br/j/agora/a/NgGGQV5PtFLJCYh3xvKHJDD/?lang=pt#. Acesso em 24/08/2022
CANDIDO, Juaridi; et.al (2020) Essa eu vou postar: Explorando as relações entre narcisismo, uso do Instagram e a moderação da autoestima. Psicol. Conoc. Soc. vol.10 no.2 Montevideo 2020 Epub 01-Ago-2020. Disponível em: https://doi.org/10.26864/pcs.v10.n2.3 . www.scielo.edu.uy/scielo.php?pid=S1688-70262020000200038&script=sci_arttext. Acesso em 24/08/2022.
PACHECO Clarissa (2022). Frase sobre “ a Sociedade se distanciando da verdade”, não é George Orwell. Disponível em: https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/george-orwell-quanto-mais-a-sociedade-se-distancia-da-verdade/. Acesso em 24/08/2022
Compartilhe este conteúdo:
Entorpecidos por desempenho: exaustos e dopados na sociedade do trabalho
O sofrimento oriundo do “famoso” desempenho no trabalho hoje se eterniza mais que uma categoria a ser estudada pela psicologia, mas também como uma chave para ser entendida e percebida em uma dimensão subjetiva e com significado e sequelas bem mais profundas do que se imagina. Toda a exaustão provocada pela eterna necessidade de fazer acontecer no ambiente laboral tem tomado de contas da vida do sujeito trabalhador e por que não dizer do seu ser?
A cobrança por ser bom, por ser o melhor, por ser o mais dinâmico, pró-ativo, promovedor de situações novas no trabalho tem aberto um espaço para um sofrimento muitas vezes silenciado pelo próprio sujeito detentor da dor. Este é o retrato de muitos trabalhadores nos ambientes organizacionais contemporâneos. O ativismo laboral acirra a competição, o que por sua vez aciona um ciclo desenfreado de atitudes que mais tem a ver com autodestruição do que com desempenho laboral. Tenho que concordar com a escritora Eliane Brum (2016) que “conseguimos a façanha de abrigar o senhor e o escravo dentro do mesmo corpo”: Em nós!
Nesse ínterim quero aqui destacar dois fatores, um é o nosso corpo adoecido, maltratado, doído pelo excesso de trabalho e o outro é a nossa mente cansada, triste gritando: “estou entorpecida e dopada imergida na cobrança interminável por desempenho”.
Fonte: Imagem por wayhomestudio no Freepik
Os consultórios de psicologia lotam com encaminhamentos médicos de pacientes em busca de saúde mental para enfrentar a lide daria, semanal e mensal de trabalho. A intensidade e continuidade da reprodução laboral conduz o sujeito a estados de canseira mental prejudicando suas funções executivas: memória, atenção… O trabalho que hoje (quase) pós-pandemia parece que não acaba mais, com tanta demanda acumulada de tanta coisa que exige quase sempre uma “hora extra”, um “eu termino em casa” ou “eu faço a noite” ou “eu adianto mais tarde em casa”, enfim é sempre uma desculpa atrás da outra para patrões e empregados correrem atrás da mesma coisa: O desempenho exemplar no trabalho.
O problema é que ambos esquecem que enquanto se direcionam para as metas, muitas vezes intermináveis, escravizam a alma reduzindo o sujeito trabalhador a um mero reprodutor de operações. Situação que muito se assemelha com a história da reprodução sistemática do trabalhador em uma frente de esteira e máquinas de uma fábrica interpretada pelo ator Charles Chaplin no filme tempos modernos, onde mostra de forma crítica e cômica a alienação do trabalho causada pela busca de desempenho e intensidade laboral. E como aconteceu no filme, onde o ator foi parar no centro de saúde, acontece na vida real onde trabalhadores adoecidos pelo trabalho buscam saídas na medicalização e nas terapias psicológicas. Quando chega neste ponto o colaborador uma vez depressivo e exausto, consumido pelas demandas e metas de desempenho laboral, se torna o depressivo e inválido da guerra institucionalizada e internalizada da sociedade do desempenho. Sim ele é mais um na fila do INSS! Será esquecido logo e substituído por outro sujeito que aceite ser chicoteado. O mais importante nessa história é que nesta situação o agressor e vítima se fundem e a violência é instaurada de forma intensa, profunda e silenciosa. Neste ponto só resta uma coisa: Sofrer os impactos da depressão laboral ou hoje em dia muito conhecida como a síndrome de Burnout.
Devemos repensar sobre ser multitarefa, está em um lugar e em vários lugares ao mesmo tempo através de celulares, internet, vídeos-chamada, reuniões e mais reuniões que na maioria das vezes são acrescentadas à sua rotina física de trabalho, não sendo uma em detrimento a outra, mas o trabalho e a reunião ao mesmo tempo de trabalho. Para mim, por minha conta e risco, afirmo que ser multitarefa representa hoje em dia um atraso civilizatório, pois afeta a saúde mental e física não atendendo as demandas iniciais propostas pelo trabalho. O excesso de rotina produz um estado de dor e espasmos, onde de acordo com Eliane Brum (2016) um espasmo anula outro espasmo e quando tudo é grito, não há mais grito. Ou seja no final do dia, é só mais um final de dia com a sensação de ter lutado mais uma luta, intervindo em processos, repetido operações, estando esgotados e entorpecidos pelo desempenho no trabalho.
Fonte: Imagem de John Hain por Pixabay
Concordo com o autor Byung-chulhan em seu livro A Sociedade do cansaço que diz: “A sociedade do trabalho e a sociedade do desempenho não são sociedades livres. Elas geram novas coerções. A dialética do senhor e escravo está, não em última instância, para aquela sociedade na qual cada um é livre e que seria capaz também de ter tempo livre para o lazer. Leva, ao contrário, a uma sociedade do trabalho, na qual o próprio senhor se transformou num escravo do trabalho. Nessa sociedade coercitiva, cada um carrega consigo seu campo de trabalho. A especificidade desse campo de trabalho é que somos ao mesmo tempo prisioneiro e vigia, vítima e agressor. Assim, acabamos explorando a nós mesmos. Com isso, a exploração é possível mesmo sem senhorio”.
REFERÊNCIAS
Exaustos-e-correndo-e-dopados | Brasil | EL PAÍS Brasil (elpais.com)
Steven Universo (ou Steven Universe, nos Estados Unidos) é uma série animada norte americana produzida por Rebecca Sugar para o canal televisivo por assinatura Cartoon Network. Você pode conferir mais sobre o desenho neste link.
No episódio “Off Colors”, ou “Descoloridas” em português, temos uma abordagem sobre o olhar da sociedade sob as pessoas consideradas diferentes.
Sinopse: Depois de escapar das diamantes, Steven e Lars encontram e fazem amizade com as “Descoloridas”, que são um grupo de Gems “defeituosas” que vivem escondidas da sociedade Gem.
Após Steven e seu amigo Lars terem escapado das Diamantes, vilãs principais do desenho, eles se encontram presos em um planeta diferente e sem possibilidade de escapar. Ao tentarem se esconder dos robôs que os perseguiam, acabaram caindo em uma caverna profunda, onde encontraram uma Rutilite conjunta, como irmãos siameses.
Ela diz que quer ajudar, e mesmo surpresos com a aparência dela, Steven e Lars se encontram sem opções e aceitam. Seguem Rutilite pelos túneis até encontrar um Jardim de Infância abandonado, onde outras gems fugitivas se encontravam.
As gems eram Padparadscha, Rhodonite e Fluorite, que explicam ser um grupo de gems não pertencentes àquela sociedade, pois eram consideradas defeituosas e anormais. Padparadscha não conseguia prever o futuro como as Safiras, apenas conseguia dar previsões de coisas que já aconteceram.
Rhodonite é uma fusão entre uma Pérola e uma Ruby, na sociedade gem apenas gems iguais podem se fundir, nunca diferentes, elas então foram sentenciadas a serem destruídas.
O mesmo aconteceu com Fluorite, que é uma fusão de 6 gems diferentes que convivem em harmonia.
Elas foram taxadas de “Descoloridas”, gems que são consideradas anormais e defeituosas e não tem uso para a sociedade, sendo forçadas a se esconderem indeterminadamente para não serem destruídas.
Na sociedade gem, cada gem possui uma função predeterminada. A fusão é permitida, mas apenas em casos de gems iguais, sendo uma alusão aos relacionamentos heteroafetivos do mundo real. No desenho, a fusão de gems diferentes foi vista com total estranheza pela sociedade gem, sendo considerada obscena e uma ofensa. Qualquer gem que fizesse isso seria destruída.
Rutilite e Padparadscha também nasceram diferentes. Rutilite nasceu siamesa, o que logo causou medo em todas as Rutilites comuns, que ficaram com medo e se afastaram dela, as considerando uma abominação.
Padparadscha é um tipo de Safira, mas diferente delas não consegue prever o futuro, apenas eventos que já ocorreram, sempre falando coisas que acabaram de acontecer em momentos do episódio. Ela faz uma referência sutil a atrasos cognitivos, como pessoas que possuem TDAH, dislexia ou autismo, que também sofrem preconceito e estigmas na sociedade
Posteriormente, Steven se torna amigo e acolhe as Descoloridas, dizendo que a Terra é um lugar que também possui gems como elas, sendo um lugar livre para serem elas mesmas sem precisar viverem escondidas ou preocupadas com preconceitos, abrindo uma nova possibilidade de vida para o grupo.
Compartilhe este conteúdo:
O Auto da Compadecida: um paralelo acerca da realidade no Brasil
Difícil um brasileiro não conhecer essa maravilhosa obra cinematográfica, carregada de cultura, saberes, emoção e várias críticas sociais, que demonstram muito a realidade do Nordeste e também do Brasil, que conta com uma das características mais marcantes do país, a comédia que envolve toda uma trama e se faz interessante do começo ao fim da obra.
O Auto da Compadecida é um filme dirigido por Guel Arraes e é baseado na obra de Ariano Suassuna, oriundo de sua peça teatral de mesmo nome. Sua obra começa em 1955 sendo escrita e posteriormente adaptada para a televisão em 1999 como minissérie e para o cinema em 2000, tendo uma duração de 1 hora e 44 minutos, com versão estendida de 2 horas e 38 minutos.
O enredo do filme se passa na época do cangaço brasileiro, nos arredores da cidade de Taperoá no sertão da Paraíba, onde os protagonistas Chicó (Selton Mello) e João Grilo (Matheus Nachtergaele) mostram as dificuldades de um cenário de pobreza e miséria, sendo os mesmos obrigados a arrumarem serviços que pagam pouco e que em sua maioria são exploratórios.
Fonte: encurtador.com.br/dCQSV
No filme podemos verificar que Chicó e João Grilo vivem então em extrema pobreza, sendo assim com os impactos citados nas condições de vida e estão constantemente em busca de satisfação das necessidades de alimentação, como por exemplo na cena em que João Grilo e Chicó trocam seus pratos de comida ruim pelo bife da cadelinha de seus patrões Seu Eurico (Diogo Vilela) e dona Dora (Denise Fraga), que são donos de uma padaria, os quais nas palavras de João Grilo não deram nem um copo d’água quando ele esteve doente e acamado por três dias.
Dantas, Oliveira e Yamamoto (2010) nos trazem que a condição de pobreza está relacionada aqueles que não tem renda suficiente para o mantimento de roupas, alimentos, despesas pessoais, educação, habitação entre outros. Enquanto que aqueles abaixo da linha de pobreza são considerados indigentes, que vivem em busca da satisfação de necessidades vitais, como alimentação por exemplo.
Segundo Silveira (2020) com base nos dados do IBGE (2019) a atualidade brasileira conta com 13,5 milhões de pessoas que vivem abaixo da linha de pobreza. O dados apontam ainda que um em cada quatro brasileiros sobreviveram com menos de 436,00 R$ por mês no ano de 2019. Estes dados em 2020 podem ter tido uma redução por conta do auxílio emergencial em decorrência da Pandemia.
Fonte: encurtador.com.br/SVZ47
Ao relacionar tal situação, podemos falar acerca do atual cenário brasileiro, que ainda possui mão de obra de forma exploratória, ou comumente chamado de trabalho escravo, com péssimas condições. Acerca disso Sakamoto (2005, p. 11) explica que:
O sistema que garante a manutenção do trabalho escravo no Brasil contemporâneo é ancorado em duas vertentes: de um lado, a impunidade de crimes contra direitos humanos fundamentais aproveitando-se da vulnerabilidade de milhares de brasileiros que, para garantir sua sobrevivência, deixam-se enganar por promessas fraudulentas em busca de um trabalho decente. De outro, a ganância de empregadores, que exploram essa mão-de-obra, com a intermediação de “gatos” e capangas.
No Brasil há também um forte índice de violência e de pobreza, que se mostram como um fator de risco, pois, geralmente trazem um déficit na educação das comunidades pobres, altos índices de evasão escolar, condições de trabalho exploratórios e situações que levam muitos à criminalidade, bem como situações de conflitos nas favelas que muitas vezes envolvem pessoas inocentes. Nesse contexto, Borges e Alencar (2015) nos revelam que os processos de democratização não se mostram satisfatórios para mudar o quadro de violência arraigada historicamente em que injustiças sociais e violações de direitos humanos sempre foram frequentes, sendo assim a ausência do Estado culmina em mais crescimento da exclusão social e da pobreza, a partir daí Dornelles (2006, p.220) completa que:
Assim, na prática a democracia, para uma grande maioria da população brasileira, restringe-se ao ritual das eleições. Uma pratica onde a democracia é limitada e se restringe à formalidade institucional de um Estado de Direito que pune, controla e violenta as classes subalternas, os setores em situação de precariedade, excluídas dos benefícios e dos direitos efetivos de uma sociedade moderna.
Fonte: encurtador.com.br/owSV6
Vemos na trama um dos personagens que em decorrência das consequências da violência torna-se o cangaceiro Severino de Aracajú (Marco Nanini), que aos oito anos de idade teve os pais brutalmente assassinados por militares e presenciou toda a cena, tal evento traumático levou Severino a se tornar um grande criminoso no filme demonstrando sua turbulência psíquica, onde o mesmo realizava atrocidades e fazia também duras críticas ao povo da cidade, que não lhe deu comida e nem esmola, destratando-o fortemente enquanto disfarçava-se de andarilho pela cidade.
Dentre as críticas feitas, vale ressaltar também a corrupção envolvendo dinheiro e poder, nesse aspecto praticamente todos os personagens se envolvem, como por exemplo a relação do Padre João (Rogério Cardoso) e do Bispo (Lima Duarte) que se mostram mais em prol dos ricos do que dos pobres, e que conseguem realizar certos favores em troca de dinheiro. Dentre as cenas, uma demonstra João Grilo e Chicó indo pedir que o padre João “benza” a cadela (de dona Dora) que estaria doente, o mesmo se recusa a benzer pautado em normas religiosas e então João Grilo começa a dizer em alto e bom tom que a cadela seria do Major Antônio Moraes (Paulo Goulart), um rico fazendeiro da região, após isso o padre aceita fazer tal ação por achar que a cadelinha seria do Major, porém antes do padre realizar a benção, o animal morre, e o mesmo se recusa a fazer um enterro, sugerido pela dona, em latim, mas o faz após João Grilo criar uma história em que a cadelinha teria deixado um testamento para a igreja deixando uma quantia em dinheiro (Dez contos de Réis) que logo depois é aceito também por parte do Bispo.
Fonte: encurtador.com.br/gAMY9
Apesar de ser um assunto delicado, vemos constantemente corrupções no país, não só políticas como comumente aparecem nos jornais, mas também de autoridades religiosas. Um fator que também chama atenção e que acontece bastante são as alianças entre igrejas e candidatos/políticos, sendo assim há uma grande influência social ligada à igreja relacionada com as decisões democráticas. Dentro dessa perspectiva De Souza e Simioni (2017, p.468) fomentam tal relação da seguinte forma:
Essa apropriação de preleção política por grupos religiosos é bastante alarmante, já que eles não apenas selecionam o discurso estatal e apoiam candidatos, mas, muitas vezes, participam diretamente na legitimação democrática, ancorando seus discursos, abertamente, no código religioso, sendo espantoso o número de cadeiras ocupadas pela bancada religiosa, além da sua atuação em processos judiciais importantes.
O filme traz bastante essa relação social de controle, tanto da igreja, como das figuras importantes sobre os menos afortunados, sendo o impacto maior voltado àqueles com menos condições. Por outro lado, também mostra a religiosidade de forma vantajosa em algumas cenas, como por exemplo, na cena em que João Grilo se diz um portador da mensagem de Padre Cícero (Considerado santo católico por muitos fiéis), pedindo que o Capitão Severino de Aracajú, que é grande devoto, não faça mal às pessoas de Taperoá e cancele o ataque à cidade por pedido do “Padim padre Cícero”.
Fonte: encurtador.com.br/lmH24
No filme também se fala no aspecto religioso, no qual podemos interpretar como um fator de proteção, quando a Compadecida (Fernanda Montenegro), diz que o pobre passa por muitas dificuldades e em específico na seca do Nordeste oram pedindo por chuva como forma de contornar o sofrimento. Sabemos aqui que a religiosidade tem também influências positivas, principalmente em relação a enfrentamentos de doenças e sofrimentos psíquicos (como fator estruturante da psique), sendo assim pode contribuir na geração de pertencimento, vínculo e bem-estar aos que costumam frequentar espaços religiosos (FARIA E SEIDL, 2006).
Vale ressaltar aqui também a presença de uma figura religiosa, o Cristo (Maurício Gonçalves), de cor negra, onde comumente a figura de Jesus é retratada em obras como alguém de olhos claros e pele branca, e aqui ao aparecer gera até mesmo comentários racistas por parte do Protagonista João Grilo ao dizer: “O senhor pode não ter a cor das melhores, mas fala bem que faz gosto” e também em outra cena ao final, onde João discorda que o personagem poderia ser cristo disfarçado de mendigo e diz “Jesus Pretinho daquele jeito?”.
Fonte: encurtador.com.br/mGS29
Ao falar então de preconceito racial, vale citar um estudo realizado por Turra (1995) onde a mesma revela que os brasileiros sabem que há racismo no Brasil, porém em sua grande maioria negam ter preconceito racial, mas demonstram racismo de diversas formas, ao pronunciar ou concordar com enunciados preconceituosos ou ao admitir comportamentos de conteúdo racista em relação a negros.
O filme é carregado de muitas críticas, mas traz tudo com um humor ímpar que faz o espectador dar muitas risadas, mas que também é capaz de trazer muitas emoções e reflexões do nosso cenário Brasileiro, que necessita muito das ações promovidas pela psicologia, mas também de efetividade em quesito de amparo e cumprimento das pautas governamentais destinadas às pessoas que vivem de forma precária, que necessitam muito de necessidades básicas. São importantes também as reflexões acerca do valores éticos e desconstrução de valores negativos que se formaram ao longo dos séculos como racismo e formas de preconceito no país.
Em resumo o filme traz um reflexo de preconceitos, situações de exploração, estigmas, mas também nos mostra muitos aspectos enriquecedores acerca de aspectos da realidade no Nordeste do país e características desse povo, suas crenças e sua alegria, sendo o filme aclamado com vários prêmios e críticas positivas tanto de profissionais da área como do público geral deixando ainda o gosto de “quero mais”.
FICHA TÉCNICA
Fonte: encurtador.com.br/ctDV2
Título: O Auto da Compadecida Direção: Guel Arraes Elenco: Matheus Nachtergale, Selton Mello, Rogério Cardoso, Lima Duarte Ano: 2000 País: Brasil Gênero: Comédia, Drama
REFERÊNCIAS
BORGES, Luciana Souza; DE ALENCAR, Heloisa Moulin. VIOLÊNCIAS NO CENÁRIO BRASILEIRO: FATORES DE RISCO DOS ADOLESCENTES PERANTE UMA REALIDADE CONTEMPORÂNEA. Revista brasileira de crescimento e desenvolvimento Humano, v. 25, n. 2, 2015.
DANTAS, Candida Maria Bezerra; OLIVEIRA, Isabel Fernandes de; YAMAMOTO, Oswaldo Hajime. Psicologia e pobreza no Brasil: produção de conhecimento e atuação do psicólogo. Psicologia & Sociedade, v. 22, n. 1, p. 104-111, 2010.
DE SOUZA, Ana Paula Lemes; SIMIONI, Rafael Lazzarotto. O Congresso Nacional entre o “mýthos” e o “lógos”: religião e corrupção sistêmica no cenário político brasileiro. Anamorphosis: Revista Internacional de Direito e Literatura, v. 3, n. 2, p. 465-487, 2017.
DORNELLES, João Ricardo W. O desafio da violência, a questão democrática e os direitos humanos no Brasil. Revista Direito, Estado e Sociedade, n. 29, 2006.
FARIA, Juliana Bernardes de; SEIDL, Eliane Maria Fleury. Religiosidade, enfrentamento e bem-estar subjetivo em pessoas vivendo com HIV/AIDS. Psicologia em estudo, v. 11, n. 1, p. 155-164, 2006.
O AUTO da Compadecida. Direção de Guel Arraes. Brasil: Globo Filmes, 2000. 1 DVD (104 min.)
SILVEIRA, Daniel. Extrema pobreza se manteve estável em 2019, enquanto a pobreza teve ligeira queda no Brasil, aponta IBGE. G1.Globo.com, rio de Janeiro, 12, novembro de 2020. ECONOMIA. Disponível em: <https://g1.globo.com/economia/noticia/2020/11/12/extrema-pobreza-se-manteve-estavel-em-2019-enquanto-a-pobreza-teve-ligeira-queda-no-brasil-aponta-ibge.ghtml>. Acesso em: 20, novembro de 2020.
SAKAMOTO, Leonardo. Trabalho escravo no Brasil do século XXI. Brasília: Organização Internacional do Trabalho, 2006.
TURRA, Cleusa; VENTURI, Gustavo. Racismo cordial. São Paulo: Ática, 1995.
Compartilhe este conteúdo:
Saúde Mental da população negra em foco: (En)Cena entrevista a Psicóloga Izabella Ferreira
No período de 15 de agosto até 15 de setembro de 2020, o curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra estará fazendo parte da campanha “Saúde Mental da População Negra Importa!”, promovida pela Articulação de Psicólogas (os) Negras (os) e Pesquisadoras (es) (ANPSINEP). Instigados por reivindicações que envolvem a saúde mental da população negra no âmbito clínico e também na saúde pública, o postal (En)Cena entrevista a psicóloga Izabella Ferreira dos Santos.
Izabella é graduada em Psicologia pelo Centro Universitário Luterano de Palmas (Ceulp/Ulbra), é Especialista em Saúde Mental e Atenção Psicossocial e Mestre em Ciências da Saúde. Confira a entrevista a seguir:
(En) Cena – Qual a importância de uma psicologia antirracista?
Izabella Ferreira – É possível pensar em uma Psicologia que não seja antirracista? A Psicologia, que traz em seu escopo de premissas éticas a necessidade de contribuir no combate e eliminação de formas de opressão e violência, pode ser pensada a partir de uma perspectiva que ignora a existência de opressões de raça, gênero, classe? Quando penso sobre isso, percebo o quanto a luta antirracista deveria ser inerente à própria Psicologia, de modo que acharíamos inclusive redundante falar Psicologia antirracista. Porém, sabemos que a Psicologia já serviu muito a projetos excludentes e apartados de nossa realidade social e que hoje traz contribuições muito importantes, mas ainda incipientes frente a magnitude do racismo e dos agravos que ele acarreta à saúde mental das pessoas. O Brasil possui uma população formada em sua maioria por pessoas negras. A população negra vive atravessada por vivências de racismo que infelizmente estruturam a nossa sociedade. Quanto sofrimento físico e mental é resultante desse processo? A Psicologia não pode se omitir frente a esses dados. Precisa estar comprometida com um projeto de enfrentamento ao racismo, pois este causa sofrimento e adoecimento psíquico. Não consigo pensar uma Psicologia que não esteja comprometida com a temática das relações raciais e no combate ávido ao racismo.
(En) Cena – Como é ser uma psicóloga negra diante de um país onde o racismo é velado?
Izabella Ferreira – É desafiador e cansativo! O racismo faz com que as pessoas pressuponham que não somos intelectualmente capazes ou que somos menos capazes que pessoas brancas, por exemplo. Isso faz com que pessoas negras sejam direta ou indiretamente questionadas quando ocupam espaços que são entendidos como legitimamente de pessoas brancas. Algumas profissões, por exemplo, são vistas como legitimamente destinadas a pessoas negras, a saber: profissões que exigem baixo nível de instrução. A Psicologia é uma profissão ainda muito elitista e predominantemente branca. Pensam que esse espaço não é nosso e, logo, passível de ser questionado. Enquanto psicóloga negra percebo em minha trajetória profissional muitas reações de surpresa e/ ou incredulidade quando digo que sou psicóloga. Acompanhado dessa surpresa percebo muitas vezes uma espécie de regime de suspeição quanto à minha capacidade técnica enquanto profissional. Observo o quanto isso me demanda emocionalmente por que estou sempre precisando “provar” que sou capaz. Isso marcou e marca toda a minha trajetória acadêmica e profissional. Sempre senti que precisava me esforçar para ser muito boa no que faço, por que a minha cor chega primeiro e o racismo faz com que as pessoas a leiam como sinônimo de baixa capacidade intelectual. Tudo isso não é dito de maneira direta, pois no Brasil o racismo opera de maneira bastante velada.
(En) Cena – Durante sua formação, foi abordada a saúde mental de pessoas negras?
Izabella Ferreira – Durante os cinco anos de graduação, eu só me recordo de uma vez onde o tema foi abordado numa aula de psicologia social. Será que apenas uma aula ao longo de cinco anos de curso seria capaz de contemplar toda a amplitude e complexidade do tema Psicologia e relações raciais e fundamentar a atuação de futuras/os psicólogas/os frente ao cuidado à saúde mental da população negra? É razoável pensar em profissionais que se formam e apresentam em sua prática certa miopia (quiçá, cegueira total) frente às questões raciais? Este é um tema que não será esgotado em uma aula e/ ou em uma única disciplina, mas precisa perpassar toda a grade curricular da formação. Ouço muitos relatos de pessoas que tiveram experiências em psicoterapia onde psicólogas/ os minimizavam, anulavam ou negavam seus relatos e sofrimentos decorrentes do racismo. Isso significa acentuar o sofrimento e a Psicologia precisa atuar para combatê-lo, não reproduzi-lo.
(En) Cena – Como o racismo irá afetar a saúde mental dessa população?
Izabella Ferreira – O racismo afeta diariamente a vida das pessoas negras. São várias vivências de violência sendo orquestradas historicamente pelo racismo na sociedade brasileira. A população negra é maioria dentre a população brasileira, porém é a que tem menos acesso à saúde, educação, trabalho e renda, por exemplo. Isso torna essa população mais vulnerável a diversas opressões e violências. A intensidade do estresse vivido cotidianamente por essas pessoas marca também a intensidade dos agravos. A subjetivação das pessoas negras é permeada por conteúdos apresentados desde a tenra idade e que reflete uma visão onde esses sujeitos se entendem como inferiores. Isso afeta diretamente a autoestima e autoconfiança das pessoas negras. Além disso, segundo a Política Nacional de Saúde Integral à População Negra, entre os agravos e doenças prevalentes nesta população estão reconhecidamente a depressão, o estresse, sofrimento psíquico e transtornos mentais decorrentes do uso abusivo de álcool e outras drogas. Outro dado alarmante é que o número de suicídios entre jovens negros tem aumentado. Segundo a cartilha Óbitos por suicídio entre adolescentes e jovens negros 2012 a 2016, “a proporção de suicídios entre negros aumentou em comparação às demais raças/ cores”. Esta mesma pesquisa identificou o racismo como determinante de risco para suicídio. O que estes dados revelam é a cruel e inegável extensão das conseqüências do racismo à saúde mental da população negra.
(En) Cena – De que maneira o racismo no Brasil se mostra mais difícil de ser combatido?
Izabella Ferreira – No Brasil, ele se dá de maneira velada. Isso significa dizer que ele pode ser manifestado de maneiras não explícitas, o que dificulta sua identificação e reconhecimento. No nosso país, as pessoas ainda reforçam o mito da democracia racial que passaria a imagem de que vivemos harmoniosamente numa diversidade étnico-racial e sem discriminações. Assim, é freqüente ouvir as pessoas dizendo que os Estados Unidos são um país racista, que lá sim os negros sofrem racismo, revelando uma visão distante do racismo enquanto problema no Brasil. O racismo está tão implícito que muitas pessoas negras chegam a duvidar se realmente vivenciaram uma situação de racismo, bem como se podem fazer alguma coisa a respeito. O racismo no Brasil pode vir em forma de ofensa travestida de falso elogio quando, por exemplo, nos dizem que somos “da cor do pecado”. Dadas as características mencionadas acima, é muitas vezes difícil identificar o racismo contido em tais falas e quando identificadas muitas pessoas protestam dizendo “hoje em dia não se pode falar nada” ou “hoje em dia tudo é racismo”. Quando o racismo é negado ele se torna ainda mais fácil de ser combatido, pois como vamos combater algo que não é reconhecido como um problema? Algo que não existe? Ele precisa ser identificado e nomeado. Negá-lo faz parte da própria estrutura racista que apenas endossa tais violências.
(En) Cena – Além de ser antirracista, como a Psicologia pode contribuir com a saúde mental da população negra?
Izabella Ferreira – Uma Psicologia que engloba em seu projeto político uma postura de fato antirracista já direciona todos os seus caminhos rumo ao enfrentamento ao racismo, bem como suas conseqüências à saúde mental da população negra. Assim, a Psicologia contribui quando forma profissionais capacitados/as para identificar e cuidar dos agravos à saúde mental decorrentes do racismo; produz e divulga conhecimento em torno da Psicologia e relações raciais; atua juntamente com órgãos, instituições e sociedade civil na busca do enfrentamento ao racismo, atuando também diretamente no controle social de tais questões.
(En) Cena – Em nosso país, há políticas que englobam a saúde mental de pessoas negras? Se sim, acredita que são devidamente aplicadas?
Izabella Ferreira –O SUS é a principal política pública que operacionaliza o acesso de todas as pessoas à saúde. Porém, como disse anteriormente, as pessoas negras são as que menos têm acesso a tais serviços. É também nos próprios serviços de saúde que muitas situações de racismo ocorrem (racismo institucional), fragilizando ainda mais aqueles que necessitam de cuidados em saúde. Também foi falado como alguns agravos e doenças são prevalentes na população negra, demandando ações específicas para essa população. Então, em 2007 é implantada a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra que busca combater as vulnerabilidades raciais em saúde, buscando a promoção da saúde integral da população negra, bem como a melhoria das condições de saúde dessa população. A PNSIPN também traz como objetivo fundamental o combate ao racismo. Tais políticas possuem muitas fragilidades no tocante a sua operacionalização. O momento político que estamos vivendo no país acentua tais fragilidades, pois não reconhece a saúde da população negra como uma prioridade. Vivemos um período de retrocesso e de perda de direitos. Precisamos sempre exigir que as políticas sejam cumpridas, exercendo nosso papel enquanto controle social mesmo diante de contextos temerosos como o que vivemos. Integro um coletivo feminista de mulheres negras do TO e na edição do Julho das Pretas realizada esse ano, nós juntamente com vários outros movimentos sociais do Estado elaboramos notas de posicionamento cobrando ações e serviços voltados para a população negra. Dentre as notas, foi elaborada uma nota que versava sobre a saúde mental das mulheres negras que foi direcionada em forma de ofício para os poderes públicos responderem e tomarem as devidas providências. Tais ações de mobilização são importantes para que acompanhemos e cobremos melhores condições de vida e saúde para nossa população.
(En) Cena – Me conta a sua percepção perante as constantes notícias de violência policial exibidas nas redes sociais, TV e os protestos que se iniciaram nos EUA e continuaram no Brasil.
Izabella Ferreira – As notícias e cenas de violência contra pessoas negras são sempre muito impactantes e dolorosas para mim. Causam indignação, raiva, revolta e tristeza. E é exatamente nesses momentos que o racismo assume sua forma mais explícita e cruel. Não são atos pontuais, são rotineiros e estão sendo cada vez mais registrados e divulgados. No Brasil, falamos de um genocídio da população negra que denuncia que os corpos negros são alvo constante de violência e morte. A polícia brasileira é considerada a mais letal do mundo. Os atos que sucederam após a morte do americano George Floyd foram uma resposta exausta de quem vive com medo e prejudicado em seus direitos mais fundamentais. Aqui no Brasil, um adolescente foi morto quando brincava em sua própria casa pela polícia no Rio de Janeiro. Estas mortes acontecem o tempo todo. São vidas interrompidas, famílias ceifadas pelo braço do Estado. A população negra nunca parou de lutar pelos seus direitos. Não há descanso para nós, pois o tempo todo tentam negar nossa história, nossa identidade, nossa cultura, nossos conhecimentos e nossa existência.
O novo coronavírus, denominado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) de SARS-CoV-2, responsável pela doença Covid-19, emergiu e foi identificada em Wuhan, na China, em dezembro de 2019 (LANA et al. 2020). Em 11 de março de 2020, em virtude ao acelerado ritmo de disseminação do vírus, a OMS declarou a pandemia de Covid-19. Conforme dados da Organização Pan-Americana de Saúde (2020), foram ratificados, em nível mundial, 789.197 óbitos até 21 de agosto de 2020, ademais 22.536.278 casos de infecção foram confirmados.
As dores e inquietações provenientes das epidemias, além de serem condições de saúde, também estão associadas a problemas políticos e culturais, pois essas experiências são contextuais e relacionais, visto que o ser humano compreende dimensões biológicas, psicológicas e sociais. Diante disso, à vista dos dados consolidados e expostos pelos veículos de imprensa e informação, constata-se que, conforme Cunha (2020), há populações que se encontram mais sujeitas a contaminação e, consequentemente, a letalidade do vírus. Haja vista que alguns indivíduos configuram maior exposição e, por esse motivo, estão mais suscetíveis a serem atingidos e vitimados em razão de suas circunstâncias sociais, econômicas e de saúde. No cenário brasileiro, a pandemia do novo coronavírus atinge e afeta de modo desigual a população negra, periférica e vulnerável (AMPARO, 2020).
Acontecimentos lastimáveis como esse, além de deixarem rastros de mortes, sofrimento e muita dor, evidenciam um enorme abismo social. A constância da desigualdade presente neste país produz, no imaginário social, uma naturalização da mesma, o que “resulta de um acordo social excludente, que não reconhece a cidadania para todos, onde a cidadania dos incluídos é distinta da dos excluídos e, em decorrência, também são distintos os direitos, as oportunidades e os horizontes.” (HENRIQUES, 2001, p. 1).
Fonte: encurtador.com.br/fESV7
Racismo individual, institucional, estrutural
Silvio de Almeida, grande intelectual jurista, filósofo e professor, evidencia, em seu livro denominado Racismo Estrutural, que o racismo é sempre estrutural. O movimento histórico que aconteceu no século XVI com a ampliação da economia mercantilista junto ao descobrimento do chamado novo mundo, e logo após o iluminismo que contribuiu de forma significativa e projetou ferramentas que se constituíam dos fatores biológicos, psicológico, econômico e linguístico, para classificar grupos de humanos, serviu basicamente de ponto de partida do que seria o modelo de “homem universal”, baseado no homem europeu.
O positivismo já no século XX, com suas técnicas mensuráveis, foi manejado de tal forma a contribuir com a disseminação do racismo científico. Através das concepções deterministas da época, defendeu-se então a superioridade do homem branco europeu sobre as demais raças, se utilizando de parâmetros da biologia e da física para afirmar que as características físicas, biológicas e ambientais eram capazes de explicitar “as diferenças morais, psicológicas e intelectuais entre as diferentes raças” (ALMEIDA, 2019, p. 25).
Numa perspectiva do racismo individual, o fenômeno é visto como um comportamento patologizado/anormal de um sujeito ou grupo isolado, assim, não havendo uma sociedade ou instituição racista, mas pessoas e grupos racistas. Este horizonte se mostra superficial sobre a análise de que o racismo não nasce e se desenvolve isoladamente, mas é um construto que a todo momento se modifica em prol de uma manutenção do poder de determinados grupos raciais em detrimento de outro, o que não quer dizer que sujeitos que cometem atos discriminatórios não devam ser julgados.
O termo racismo institucional traz em sua concepção que o racismo se reverbera da sociedade para as instituições e das instituições para a sociedade refletindo-se nas normas, padrões de funcionamento e comportamento, influenciando as nossas decisões, preferências e sentimentos. Portanto, levando em consideração que são os homens brancos que ocupam esse lugar de poder nas instituições, a manutenção e a formulação desses padrões sociais, são feitos para privilegiar pessoas brancas.
Este processo se configura sistematicamente, numa estrutura que acaba por normalizar o racismo no âmbito de esferas importantes e que norteiam a sociedade como nas áreas política, jurídica, econômica e social, ou seja, ele é estrutural. Portanto, é necessária uma agenda política que de fato trabalhe na desconstrução desse sistema, dessa estrutura que privilegia pessoas brancas em detrimento de pessoas negras.
Fonte: encurtador.com.br/iACIS
Racismo no Brasil
O Brasil, último país das Américas a abolir a escravidão, em 1888, não propiciou de nenhuma maneira aos negros que, supostamente, tinham recebido de volta sua liberdade após receberem as cartas de alforria, políticas que fizessem com que fossem inseridos socialmente e economicamente na sociedade. Além do governo brasileiro não construir estratégias de emancipação econômica para a população negra, promoveu a imigração europeia ao Brasil, com o intuito de embranquecer a população. A esse respeito tem-se que:
A desagregação do regime escravocrata e senhorial se operou, no Brasil, sem que se cercasse a destituição dos antigos agentes de trabalho escravo de assistência e garantias que os protegessem na transição para o sistema de trabalho livre. Os senhores foram eximidos da responsabilidade pela manutenção e segurança dos libertos sem que o estado a igreja ou qualquer instituição assumisse encargos especiais, que tivessem por objetos prepará-los para o novo regime de organização da vida e do trabalho. O liberto se viu, sumária e abruptamente, em senhor de si mesmo, tornando-se responsável por sua pessoa e por seus dependentes, embora não dispusesse de meios materiais e morais para realizar essa proeza nos quadros de uma economia competitiva. (FERNANDES, 2008, p. 29).
Petrônio Domingues (2007) diz que ao longo do período republicano o movimento negro, por meio de diversas modalidades de protesto e mobilização, buscou a inclusão social do negro e a superação do racismo na sociedade brasileira. Seguindo essa mesma ideia Gay e Quintans (s/d) afirmam que durante a redemocratização do Brasil o movimento negro assume “novos contornos, e passa a reivindicar uma série de direitos e políticas públicas capazes de combater o racismo e reduzir as desigualdades” (GAY; QUINTAS, s/d, p. 3). Pode se dizer que estas lutas possibilitaram alguns progressos tais como: acesso à educação, à saúde, participação política, igualdade perante a lei conforme está garantido na Constituição Brasileira de 1988 inspirada na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Contudo, na prática muitos desafios ainda precisam ser superados.
Nesse sentido, para Silva (2013) a educação tem sido um trampolim de ascensão para que os negros consigam vencer os obstáculos impostos pelos dispositivos de poder e seleção para chegar ao ensino superior, embora ela sozinha não consiga vencer o racismo estrutural. De modo que, mesmo entre os negros com os melhores níveis de escolaridade, os salários são inferiores aos dos brancos. Nesse aspecto a mulher negra é a mais atingida, mesmo aquelas com mais anos de estudo ganham menos que os homens brancos, mulheres brancas e homens negros. Portanto, fica claro que “a desigualdade se mostra articulada não apenas com a categoria raça, mas também com a categoria gênero” (SILVA, 2013, p. 101).
Fonte: encurtador.com.br/hqFY3
Racismo no âmbito do mercado de trabalho
O racismo estrutural, faz parte de todas as esferas da sociedade de modo a impedir intergeracionalmente a ascensão econômica e social do povo negro de forma violenta e voraz. Nesse processo, a mulher negra foi estuprada cotidianamente, obrigada a trabalhar na cozinha da família branca, enquanto outras trabalhavam nas lavouras, executando o mesmo trabalho dos homens. Angela Davis (2016, p. 17), em seu livro intitulado Mulheres, raça e classe, explicita que as mulheres negras eram vistas apenas como “unidades de trabalho lucrativas, para os proprietários de escravos elas poderiam ser desprovidas de gênero.” Mesmo após a Lei Áurea a situação não mudou muito para a maioria, que continuou a trabalhar como empregada doméstica na casa das famílias aristocratas e burguesas, possibilitando a emancipação da mulher branca que pôde investir no campo intelectual e profissional.
“A história de privação das mulheres negras, se as tornam invisíveis também as desumaniza, daí a naturalização de sua pobreza e exploração, daí também a sua presença majoritária nas funções de pior remuneração”. (SILVA, 2013, p. 102). Exemplo disso é que um dos primeiros casos de coronavírus no país, no estado do Rio de Janeiro no Alto Leblon, um bairro da zona sul, foi o de uma empregada doméstica de 63 anos que trabalhava há dez anos na casa da família da patroa que a contaminou e que acabara de chegar da Itália, país que se mostrou um dos epicentros da doença no início da pandemia. A vítima veio a óbito no dia seguinte ao apresentar os sintomas da Covid-19.
Em depoimento ao site UOL (2020), a cunhada da vítima relatou que “ela era muito trabalhadora. Pegava três conduções para chegar ao trabalho. Para voltar, era a mesma coisa: dois ônibus e um trem. Ela saía de casa no domingo e só voltava na quinta”. Essa é a realidade de trabalho de muitos negros no Brasil, com jornada de trabalho extensa e com baixa remuneração, tendo que enfrentar as dificuldades de mobilidade, já que as cidades são projetadas para separar as classes mais “altas” de classes mais “baixas”. Muitas vezes, por não conseguirem trabalhos formais de carteira assinada, precisam trabalhar na informalidade para tentar garantir o mínimo para o sustento de suas famílias. Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em 2003, 27% das mulheres negras trabalham como empregadas domésticas e apenas 23% possuem carteira assinada, enquanto 12% das mulheres brancas que são empregadas domésticas, 30% tem registro na carteira.
Este dado supramencionado mostra o impacto direto em questões como a aposentadoria, pois para receber o benefício é necessário um tempo de contribuição, sendo no caso das mulheres, 30 anos, e, dos homens, 35 anos, conforme evidencia o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), em 2019. Devido ao processo histórico, conforme expõe Goes, Ramos e Ferreira (2020, p. 1), a população negra encontra-se, majoritariamente, presente nos indicadores negativos, tais como “atividade no mercado de trabalho informal, que limita o acesso a direitos básicos como a remuneração pelo salário mínimo e a aposentadoria.” Acresce-se ainda que a pandemia desvela a desigualdade do Brasil e salienta o quão pouco este país avançou na superação do racismo, dado que, como já supracitado, esta configura um dos fatores determinantes para este cenário de altas taxas de mortalidade.
Neste cenário atual de pandemia pode-se ressaltar também que atender a necessidade de exercer o isolamento social sem que haja comprometimento do trabalho de onde advém a renda, representa um grande desafio, tendo em vista que muitos ocupam cargos informais, ou ofícios considerados essenciais durante a pandemia, que demandam presença física e trabalho manual, e não estão amparados por benefícios ou direitos trabalhistas.
Fonte: encurtador.com.br/iCE56
Impacto do racismo na saúde dos negros
A saúde, conforme prevê a Constituição Federal de 1988, Art. 196, visa alcançar o bem-estar e a justiça social, além de ser reconhecida como direito de todos e dever do Estado, por intermédio de políticas públicas e econômicas que objetivem reduzir riscos e agravos, bem como acesso universal e igualitário às ações e serviços para prevenção, promoção, proteção e recuperação. Outrossim, a mesma ainda estatui a respeito de direitos sociais fundamentais como trabalho, segurança, lazer, previdência social e proteção à maternidade e à infância.
Nesta perspectiva, averígua-se que as desigualdades de saúde presentes nos países, bem como a maioria das enfermidades, decorrem de questões socioeconômicos, raciais, étnicas e de gênero, assim como circunstâncias de nascimento, moradia, trabalho e renda, isto é, Determinantes Sociais da Saúde (DDS), que, em um contexto racista, restringe o acesso à informações e serviços disponíveis, visto que as condições de vida dos indivíduos estão diretamente relacionadas a sua situação de saúde (BUSS; FILHO, 2017).
À vista disso, faz-se necessário ampliar debates sobre o fato de que o racismo se configura como determinante social da saúde, uma vez que grande parcela da comunidade negra está exposta e vulnerável a conjunturas de padecimento, violência, enfermidades e morte, em bairros excludentes, com maior poluição e sem acesso a serviços fundamentais. (GOES; RAMOS; FERREIRA, 2020).
Institucionalmente, as desigualdades e injustiças sociais estorvam e engendram o acesso a serviços essenciais, bem como a oportunidades, em consequência do racismo estruturado. Desta forma, verifica-se o intenso sofrimento, negligenciado pelo Estado, que negras e negros vivenciam em suas realidades, assim como o padecimento devido aos impactos da pandemia da Covid-19 e seus múltiplos desdobramentos negativos. No começo da pandemia os casos de infectados não eram divulgados por cor. Segundo o site globo.com (2020) “os boletins só passaram a incluir tais números a partir do dia 11 de abril, quase 1 mês e meio depois da confirmação do primeiro caso de Covid-19, e graças a pressão da coalizão negra por direitos”, dado este que demonstra a tentativa de invisibilização da população negra.
Neste ínterim, cabe ressaltar que, segundo Santos (2013), às condições insalubres de moradia, a falta ou precariedade na infraestrutura de saneamento básico historicamente negligenciada pelas políticas públicas à população negra submete-a a diversas mazelas socioambientais como: utilizar água não potável, conviver com lixo e esgoto a céu aberto, falta de limpeza urbana, enchentes, desmoronamentos de encostas, estas e outras situações causadoras de diversas doenças. Assim, a discriminação fundamentada em fatores raciais/étnicos, de gênero, socioeconômicos contribui decisivamente para dificultar o acesso dos negros a direitos básicos e os submete a um tratamento desigual geradores de condições de vida degradantes levando-os ao adoecimento físico e mental podendo chegar a comorbidades e mortalidade graves.
Sob essa luz se justifica a afirmação feita por Thiago Amparo no site Folha de São Paulo (2020): “Mede-se racismo por quão descartável é o corpo negro. Se a Covid-19 desnuda as feridas do racismo que estrutura nossa desigualdade, curar esta pandemia pressupõe, antes de tudo, expô-las.” À vista do que foi exposto, conclui-se que condições sociais possuem forte influência no processo saúde-doença e, posto isso, entende-se a necessidade de implementar-se ações que envolvam todos os setores visando a promoção do bem-estar. Destarte, observa-se que a atual esfera exige procedimentos específicos para o combate ao racismo e suas consequências.
Fonte: encurtador.com.br/rACG1
O papel da Psicologia frente ao racismo
A psicologia, enquanto ciência e profissão, tem sua ação fundamentada na Declaração Universal dos Direitos Humanos, conforme explicita o Código de Ética Profissional de Psicologia. Além disso, é uma ciência aplicada nos processos coletivos e atua na “promoção, prevenção e reabilitação na esfera psíquica do ser humano. Portanto nas esferas social, econômica, política, cultural, biológica” (RIBEIRO, 2017, p.175). Nesse sentido, a psicologia social vislumbra o indivíduo como biopsicossocial, ou seja, considera-o de maneira integral tendo em vista sua história de vida.
O Conselho Federal de psicologia (CFP), lançou referências técnicas em torno da atuação dos psicólogos referentes a questões raciais. Neste documento, entre as várias pautas abordadas, a discussão sobre a formação do profissional de psicologia é necessária e urgente, visto que a grade curricular tem certa carência sobre racialidade. Assim o texto traz que
A formação da(o) psicóloga(o) é um momento privilegiado para a construção de conhecimento, de saberes e de práticas sobre diversos assuntos vividos no cotidiano dos sujeitos. Portanto, é nesse momento que se faz necessário apresentar aos estudantes temas relevantes, para despertar o interesse na busca do conhecimento e possibilitar o reconhecimento dos aspectos que envolvem as relações raciais e seus efeitos psíquicos presentes no cotidiano em nossa sociedade. (CFP, 2017, p. 105).
Portanto, os profissionais que se encontram no exercício da profissão, bem como os acadêmicos de Psicologia necessitam compreender a amplitude e especificidade de como se processam as relações raciais no contato social “e principalmente que há um sofrimento psíquico peculiar sutil ou explícito presentes no cotidiano das pessoas negras”, conforme apresenta a referência técnica (CFP, 2017, p. 107).
Na atuação deste profissional, é apropriado aplicar em seu cotidiano os princípios fundamentais propostos, visando extinguir quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão dos direitos, visto que é dever deste atuar com responsabilidade social de forma crítica, considerando as diversas realidades.
Dessa forma, o racismo deve ser um tema trabalhado não só pela Psicologia Social, mas também pelas outras abordagens de forma transversal para que as consequências psicossociais do racismo sejam entendidas como um aspecto que compõe a subjetividade dos sujeitos brancos e negros, indo para além de uma conceitualização superficial, reconhecendo, compreendendo, problematizando e combatendo ações racistas e suas diversas consequências, prevenindo e evitando sua eventualidade. Sendo assim, a Psicologia deve unir-se a outros campos do conhecimento, posto que o racismo ataca por múltiplas frentes (ESPINHA, 2017).
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Flávio Aparecido de. A psicologia social e o papel do psicólogo na sociedade contemporânea. 2018
ALMEIDA, S. L. de. Racismo estrutural. 1 ed. São Paulo: Polén, 2019.
AMPARO, Thiago. Por que a Covid-19 é tão letal entre os negros? Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/colunas/thiago-amparo/2020/04/por-que-a-covid- 19-e-tao-letal-entre-os-negros.shtml>. Acesso em: 01 de jul. de 2020.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988, 292 p.
BUSS, P. M. ; PELLEGRINI FILHO, Alberto. A saúde e seus determinantes sociais. Physis: revista de saúde coletiva, v. 17, p. 77-93, 2007.
Código de Ética Profissional do Psicólogo. Conselho Federal de Psicologia, Brasília, agosto de 2005.
CUNHA, L. R. da. População negra como vítima da covid-19 e os deveres do estado, medidas necessárias e não efetivas. 2020
DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe.1 ed. São Paulo; tradução Heci Regina Candiani: Boitempo, 2016.
DOMINGUES, Petrônio. Movimento Negro brasileiro: alguns apontamentos históricos. In: Tempo, 2007.
FERNANDES, F. A integração do negro na sociedade de classes. 5. ed. São Paulo: Globo, 2008.
FOLHA informativa – COVID-19 (doença causada pelo novo coronavírus). Organização Pan-Americana de Saúde, 2020. Disponível em: <https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=6101:covid19&Itemid=875>. Acesso em: 29 de jun. de 2020.
ESPINHA, T. G.. A temática racial na formação em psicologia a partir da análise de projetos político-pedagógicos: silêncio e ocupação. 2017.
GAY, Antonia, QUINTANS, Mariana Trotta Dallalana. Movimento Negro Brasileiro: alguns apontamentos históricos. Disponível em: <http://publicadireito.com.br/artigos/?cod=7d7733c8d01b7352>. Acesso em: 23 de ago. de 2020.
GOES, E. F.; RAMOS, Dandara de Oliveira; FERREIRA, Andrea Jacqueline Fortes. Desigualdades raciais em saúde e a pandemia da Covid-19. Trabalho, educação e saúde, Rio de Janeiro, v.18, n.3, 2020. Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-77462020000300301#aff>.Acesso em: 03 de jul. de 2020.
HENRIQUES, Ricard, (2001). Desigualdade racial no Brasil: evolução das condições de vida na década de 90. Rio de Janeiro: IPEA (Texto para discussão, nº 807).
HERINGER, Rosana. Desigualdades raciais no Brasil: síntese de indicadores e desafios no campo das políticas públicas. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro , v. 18, . p. 57-65, 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2002000700007&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 02 de jul. de 2020.
LANA, R. M. et al. Emergência do novo coronavírus (SARS-CoV-2) e o papel de uma vigilância nacional em saúde oportuna e efetiva. Cadernos de Saúde Pública, [S.l.], v. 36, n. 3, 2020.
LIBBY, D. C. ; PAIVA, E. F.. A escravidão no Brasil: relações sociais, acordos e conflitos. 2ª ed. São Paulo: Moderna, 2009.
MARASCIULO, M.. Na pandemia de Covid-19, negros morrem mais do que brancos. Por quê?. Revista Galileu, 2020. Disponível em: <https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2020/05/na-pandemia-de-covid-19-negros-morrem-mais-do-que-brancos-por-que.html> Acesso em: 10 de jul. de 2020.
MELO, Maria Luisa de. UOL: Primeira vítima do RJ era doméstica e pegou coronavírus da patroa no Leblon, 2020. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2020/03/19/primeira-vitima-do-rj-era-domestica-e-pegou-coronavirus-da-patroa.htm>. Acesso em: 09 de jul. de 2020.
PEREIRA, Neuton Damásio. A trajetória histórica dos negros brasileiros: da escravidão a aplicação da lei 10.639 no espaço escolar. 109 f. (Especialização em educação das relações étnicos-raciais) Universidade Federal do Paraná, Paraná, 2015. Disponível em: https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/52792/R%20-%20E%20-%20NEUTON%20DAMASIO%20PEREIRA.pdf?sequence=1&isAllowed=y Acesso em: 04 de jul. 2020.
REVISTA DE HISTÓRIA DA BIBLIOTECA NACIONAL. Quilombos: escravos desafiam o poder. Ano 3, n. 27, dezembro, 2007.
REVISTA DE HISTÓRIA DA BIBLIOTECA NACIONAL. Abolição: a ascensão dos negros antes da Lei Áurea. Ano 2, n. 19, maio, 2005.
RIBEIRO, Emanuele Oliveira. Psicologia, racismo e saúde mental: formas de intervenção no trabalho do psicólogo. Odeere: Revista do Programa de Pós-Graduação em Relações Étnicas e Contemporaneidade. Bahia, v. 2, n. 4, 2017.
SILVA, René Marc da Costa. História dos trabalhadores negros no Brasil e desigualdade racial. Universitas JUS, v 24, n. 3, p. 93-107, 2013. Disponível em: https://www.google.com/search?q=SILVA%2C+Ren%C3%A9+Marc+da+Costa.+Hist%C3%B3ria+dos+trabalhadores+negros+no+Brasil+e+desigualdade+racial.+Universitas+JUS%2C Acesso em: 09 jul. de 2020.
SONIA, Santos Beatriz. Famílias Negras, Desigualdade e Saneamento Básico no Brasil. Rev Tempus Actas Saúde Col, 2013. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/302452785_Familias_Negras_Desigualdades_Saude_e_Saneamento_Basico_no_Brasil Acesso em: 04 de jul. 2020.