Marcel Proust: refundando o tempo

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Como o escritor buscou fundar sua obra a partir de sua relação com o tempo.

O tempo, enquanto instrumento de criação, parece ser um tema universalmente abordado entre todos aqueles que se dispõem à tarefa de escrever. Afinal, todos somos, invariavelmente, atravessados por ele. Faz parte de nossa característica fundamental enquanto seres perecíveis, e está intimamente ligado à ideia da morte. Nossas histórias, nesse sentido, estão sempre estruturadas a partir da perspectiva dessa temática universal, ainda que o tempo não se caracterize como personagem principal das narrativas em que está inserido, ou que se inserem em seu bojo.

Proust, no entanto, parece subverter essa lógica, quando seus personagens emergem como pano de fundo para dar relevo àquele que figura como o grande protagonista de toda a sua obra – O tempo.

Seria lícito supor que nenhum outro escritor tenha se debruçado com tamanho afinco para tratar desse tema, e sua obra “Em busca do tempo perdido”, dividida em sete volumes, levou grande parte de sua vida para ser produzida. A memória constitui a força motriz que conduz o autor por entre os meandros da história que se desvela, e que mistura fantasia e realidade em um ritmo poético. Muitas questões são abordadas enquanto o tempo desempenha seu papel de maneira inexorável – dentre eles o amor, o ciúme, luto, e a homossexualidade.

Proust é considerado um dos primeiros autores clássicos a trazer o tema da homossexualidade, ainda no início do século XX, para sua obra. A forma como trata de maneira aprofundada os afetos que enlaçam e separam seus personagens demonstra uma capacidade de compreensão singular – até mesmo em relação a outros autores clássicos.

Mesmo tendo sido contemporâneo de Freud, acredita-se que ambos desconheciam a obra do outro, ainda que seja possível relacionar muito do estilo de Proust ao que depois viria se denominar como teoria psicanalítica. O autor também era um explorador inveterado dos recônditos da mente humana, e muito da complexidade de seus personagens provêm de sua consciência da incapacidade da razão em tentar apreender tudo que envolve a experiência humana.

As lembranças surgem, nesse sentido, não como retrato fiel daquilo que ocorreu, mas substância maleável, onde os afetos e a fantasia agem como forças da própria natureza do ser, moldando sua experiência e imprimindo no relevo daquilo que se lembra a sua própria subjetividade. É reconhecido o caráter autobiográfico de sua obra, não obstante seja impossível delimitar a fronteira entre realidade e ficção. Na verdade, essa parece uma provocação constante em sua escrita. Afinal, o que seria realidade diante daquilo que se lembra? Talvez o tempo e nada mais.

A experiência de contato com sua obra é transformadora, ainda que se mostre um desafio – dada a sua extensão e complexidade. Proust nos oferece, ao tentar capturar o tempo em sua essência, uma extraordinária viagem pela mente de um dos maiores escritores da literatura mundial. Em sua sanha por vencê-lo, o autor apresenta o tempo como um adversário inigualável, capaz de submeter até mesmo os seres mais elevados. O tempo não faz concessões, e por isso mesmo não demonstra escrúpulos ao lançar luz sobre as irregularidades humanas. Ao homem, sob tal perspectiva, não resta senão a alternativa de empregar alguma dignidade em sua batalha – o que pode se entender como o ideal estético perseguido pelo escritor nos mais variados âmbitos da produção artística.

Fonte: Imagem do Freepik

O tempo como uma estação que nos leva para outro lugar de nós mesmos.

“Porque não se pode mudar, ou seja, tornar-se outra pessoa, e continuar a obedecer aos sentimentos da pessoa que não se é mais.”, escreve o autor em determinada passagem de seu primeiro volume, “No caminho de Swann.” O tempo, como personagem principal, nos conduz a lugares alheios a nós mesmos, onde temos a oportunidade de refundar a nossa história, e consequentemente o nosso ser. Proust parece ter compreendido isso ao se propor a grandiosa tarefa de sair em busca do tempo perdido. Seu encontro com ele é, para nós, um grande legado. A celebração de alguém que, se não foi capaz de vencer o tempo, nos deixa um belo retrato de sua batalha.

 

Ficha Técnica:

Em busca do tempo perdido

  • Editora: ‎ Nova Fronteira; 3ª edição (16 junho 2017)
  • Idioma: ‎ Português
  • Capa dura: ‎ 2472 páginas
  • ISBN-10: ‎ 8520926509
  • ISBN-13: ‎ 978-8520926505
  • Dimensões: ‎ 24.6 x 16.6 x 13.8 cm
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Como você tem se saído como gerente de sua mente?

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A forma de um indivíduo pensar é traduzida em suas diversas ações, em diferentes lugares, seja em casa, no ambiente de trabalho ou apenas em uma fila de supermercado. Já observou que, no último caso, sempre tem uma pessoa estressada que reclama o tempo todo, até chegar ao caixa para efetuar o pagamento. Mas, por que existem comportamentos tão diferentes? O psiquiatra e escritor, Augusto Cury (2015) explica que toda atitude, passa em primeiro lugar pelo campo da mente, e por isso é necessário a gestão de pensamentos.

Atualmente fala-se muito sobre gestão de tempo. No entanto, o que seria a gestão de pensamentos? Cury (2015) declara que o termo consiste na compreensão da formação do pensamento, ou seja, a busca pelo autoconhecimento sobre sua construção. Por isso, segundo o escritor, é imprescindível a produção do pensar positivo, em detrimento ao negativo.  “Critique, cada ideia pessimista e preocupação excessiva e capacite o seu eu” Cury (2015).

A preocupação excessiva vai ao encontro do volume de informação recebida diariamente. Desde cedo, a pessoa acorda e checa o celular para saber se recebeu algum tipo de informação, posteriormente verifica as redes sociais, e por fim liga a televisão. Antes mesmo de sair de casa, ela foi bombardeada por diferentes tipos de informações, que influenciarão na sua forma de pensar, no dia.  Burgos (2014) observa que todo aparato tecnológico deveria ser um meio para se crescer como pessoa, não como um fim em si; ou seja, a excesso de informação influencia na elaboração do pensamento acelerado.

Fonte: Freepik

Como solução Burgos (2014) aponta que a autoanálise, tomar consciência e o monitoramento dos hábitos são algumas das estratégias possíveis no processo de relação mais sadia com a tecnologia. “Creio que o uso moderado das ferramentas que temos à disposição – do smartphone às redes sociais – pode ser certamente mais enriquecedor que a negação total, e o tempo necessário para uma desaceleração pode variar bastante de pessoa pra pessoa” (BURGOS, 2014).

Nessa perspectiva Carr (2014) alerta sobre o mau uso da tecnologia, no dia a dia, como forte influenciador na produção de pensamentos, sem passar pelo autoconhecimento e análise. “Nossa tendência é usar tecnologias para facilitar nossa vida, não para dificultar e, com os computadores em rede, esse desejo por conveniência está tendo uma enorme influência sobre nossas vidas intelectuais, assim como em nas físicas. Acho que existem evidências de que essa tal facilidade pode obstruir nosso aprendizado e nossa memória, e talvez até mesmo nossa disposição para a empatia.” (Carr, 2011).

Carr (2011) explica que a dependência excessiva pelas tecnologias tem prejudicado o ser humano no processo de formação de ideias e do saber. Ou seja, as pessoas estão deixando de serem críticas, produtores de ideias e pensamentos, e estão absorvendo, sem nenhuma análise, o conteúdo exposto na internet.

Fonte: Freepik

Adorno (1971) destaca que a infância tem um papel primordial para a formação do pensamento do indivíduo, bem como acrescenta que a construção do caráter do mesmo acontece quando criança. Compactuando com a ideia de Adorno, que Cury (2015) relata que uma criança de sete anos possui mais informação do que tinha um imperador, na Roma antiga.  Nesse sentido, é preciso regular o tempo de uso das redes sociais, se a forma de pensar de um adulto é influenciada pelo consumo de conteúdo, como enfatizou Carr (2011), imagina uma criança que está em processo de formação do caráter.

A projeção de um adulto crítico, que não deixa se influenciar por tudo que está exposto, no universo da internet, inicia na infância, e como alertou Augusto Cury (2014) uma criança tem mais informação que uma pessoa da antiguidade.  Por isso, é necessário a gestão de tempo, das crianças com as mídias digitais, para futuramente ser uma pessoa que tenha uma gestão de pensamento. Ou seja, somos aquilo que pensamento e permitimos. E para que se tenha pensamentos saudáveis e saber impor limite ao outro sobre as relações interpessoais, começa na infância.

REFERÊNCIAS

Adorno, T W. Emancipação e Educação. Rio de Janeiro. Paz e Terra. 1971.

BURGOS, Pedro M. Conecte-se ao que importa: Um manual para a vida digita saudável. São Paulo: LeYa, 2014.

CARR, Nicholas. A geração superficial: o que a internet está fazendo com os nossos cérebros. 1ª Ed. Tradução de Mônica Gagliotti Fortunato Friaça. Rio de Janeiro: Agir, 2011.

Cury, A. Gestão da emoção: Técnicas de coaching emocional para gerenciar a ansiedade. 2015.

Cury, A. Ansiedade: como enfrentar o mal do século: a Síndrome do Pensamento Acelerado: como e porque a humanidade adoeceu coletivamente, das crianças aos adultos.  Primeira edição. Saraiva. 2014.

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Soneto dos tempos líquidos

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Fonte: Google Imagens

 

O celular vibra 

A notificação nova chega 

O coração dispara 

E inicia então mais uma entrega

 

Conversa vai, conversa vem 

Dia após dia cresce a curiosidade

De se conhecer, de se degustar e desenvolvem

O medo domina! Será se sou atraente o suficiente?

 

Enfim cara a cara, enfim pele com pele

Troca de calor, de suor, de pudor

O tempo passa, e tudo é novo

 

Depois, perde o encanto, cadê a novidade?

E descarta, deixa de lado, 

Já conheci, já sei como é, próximo! 

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Procrastinação: as causas psicológicas camufladas

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A procrastinação, conhecida como adiamento das atividades ao qual devem ser feitas, pode trazer uma sequência de episódios que possuem questões ambientais, cognitivos, comportamentais e pessoais. Se tratando de algo presente no cotidiano de um acadêmico espera-se que seu desempenho seja prejudicado, tanto quanto um misto de sentimentos decorrentes das circunstâncias advindas pelo processo de acúmulo de tarefas que vão só aumentando, tendo relação das tarefas deixadas para depois e dos sentimentos desagradáveis que a pessoa sente concomitantemente. 

Para que fique claro, procrastinar não significa fazer nada, mas fazer algo menos importante que não seja necessário naquele momento. Nem tudo o que parece é; para algumas pessoas pode caracterizar-se somente como um desleixo e falta de zelo, mas por trás desse desinteresse em realizar tarefas do dia a dia, esconde a temida procrastinação. No entanto, o que é procrastinar? Conforme Dicio (2021), procrastinar significa “adiar ou deixar alguma coisa para depois; não fazer o que precisa ou se programou para fazer no tempo estipulado.” 

A prática dessa atitude poderá revelar possíveis transtornos mentais, como a ansiedade, depressão e problemas com baixa autoestima. Segundo Brito e Bakos (2013) é notável o efeito da procrastinação relacionado à qualidade de vida dos indivíduos, afetando assim o bem-estar; provocando apreensão pela busca de conhecimento a respeito dos motivos de estar agindo de tal forma, e, de como deveria tratá-la. 

 

Fonte: Free pick

 

Falta de interesse, desânimo, rotina estressante, desorganização, dificuldade para chegar no horário são alguns aspectos que precisam ser observados com mais atenção.  Aquela olhadinha de mais de uma hora no Instagram, necessidade de abrir a todo o momento o WhatsApp para ver se recebeu algo interessante, em detrimento ao serviço e aos estudos também não podem passar despercebidos, algo que tem se agravado na pandemia, atual situação que estamos passando, devido ao aumento exagerado do uso de dispositivos eletrônicos.

Conforme a professora de psicologia da Universidade do Rio Grande do Sul, Ana Cristina Garcia Dias, o comportamento de procrastinar pode estar associado a inúmeras consequências negativas, como maiores níveis de estresse, depressão, níveis baixos de bem-estar- físico e mental. Segundo ela, a pandemia piorou a situação com o isolamento, bem como o aumento de atividades nos lares tenha provocado maior índice de procrastinação.

 

Fonte: encurtador.com.br/eqtxK

 

Já Marcos Vinícius Santoro (2019), em seu trabalho de conclusão de curso, na Universidade de Brasília (UNB) destaca que a falta de tempo é um dos motivos que leva o indivíduo a ter a procrastinação como comportamento. Segundo ele, a gestão de tempo é uma alavanca propulsora para vencer a procrastinação, tendo como necessidade acabar com a desorganização e estabelecer prioridades para que a pessoa não fique adiando todas as tarefas que tem para fazer.

Para não procrastinar segue algumas dicas com o intuito de ajudar nas atividades do cotidiano: Não tente resolver tudo de uma vez, ao invés disso, faça uma tarefa de cada vez, além disso tenha o hábito de usar uma agenda para gerenciamento de tempo, como mencionado. Vale ressaltar que essas dicas não substitui a importância de procurar um profissional de psicologia, o qual é capacitado para entender melhor o quadro mental de cada indivíduo. Não seja vencido pela procrastinação, procure ajuda.

Referências

Brito, Fernanda de Souza e Bakos, Daniela Di Giorgio Schneider. Procrastinação e terapia cognitivo-comportamental: uma revisão integrativa. Rev. bras. ter. cogn. vol.9 no.1. Rio de Janeiro. jun. 2013. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-56872013000100006 Acesso em: 20 set. 2021.

DIAS, Ana Cristina. Como lidar com a procrastinação?. Departamento de Psicologia e do Desenvolvimento da Personalidade da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 9 de julho de 2020. Disponível em https://www.ufrgs.br/jornal/como-lidar-com-a-procrastinacao/. Acesso em: 15 set. de 2021.

PROCRASTINAR In.: DICIO, Dicionário Online de Português. Porto: 7Graus, 2021. Disponível em: https://www.dicio.com.br/procrastinar/ Acesso em: 20/09/2021.

SANTORO, Marcos Vinícius. Relação entre a procrastinação e as dificuldades encontradas pelos alunos de ciências contábeis da Universidade de Brasília na produção do TCC. 2019. Disponível em https://bdm.unb.br/bitstream/10483/24091/1/2019_MarcosViniciusPiresSantoro_tcc.pdf. Acesso em:15 set. de 2021.

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A aquisição de um novo hábito requer tempo, força de vontade e repetição

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Criar uma rotina mais saudável, alimentar-se melhor, ter sono de qualidade, cultivar laços sociais positivos, cuidar da mente, fazer uma atividade física, começar um curso novo sempre são metas colocadas no fim de ano para serem realizadas no ano novo que se inicia. As pessoas ficam mais propensas a mudanças de hábitos, o problema é que muitos objetivos ficam, somente, no papel, e o comportamento continua igual ao ano anterior.

O ato de mudar demanda uma quebra de paradigma para que reais transformações aconteçam na rotina do indivíduo. Ou seja, uma mudança de mentalidade que requer esforço para a inserção de novos costumes, para começar o dia com bons hábitos; mesmo encontrando na maioria das vezes dificuldades para a inserção desses novos hábitos, podendo ser vistos como comportamentos governados por regras, que sendo formuladas podem ser mais aceitáveis do que apenas seguidas.

Para muitos, a ideia de introduzir um novo hábito na rotina acaba sendo algo considerado difícil, e muitas das vezes, visto como praticamente impossível. No entanto, é importante lembrar que após o hábito existir, não é possível acabar com ele, e sim modificá-lo, e mudar um velho hábito, que, caso o estímulo para o mesmo volte como era a princípio, esse mesmo hábito ressurgirá imediatamente. Duhigg (2012) ao retratar as ideias de Claude Hopkins certifica que “para mudar um velho hábito, você precisa abordar um anseio antigo. Precisa manter as mesmas deixas e recompensas de antes, e alimentar o anseio inserindo uma nova rotina.”

Fonte: encurtador.com.br/hvwJK

Conforme Covery (2014), a mudança de hábito está relacionada a transformação do caráter, é preciso ser “de dentro para fora” para que realmente exista uma eficácia pessoal e interpessoal. “A abordagem de dentro para fora privilegia um processo contínuo de renovação baseada nas leis naturais que governam o crescimento e o progresso humanos”.

A força de vontade é um pontapé inicial para a formação de novos hábitos, mas para permanecer é preciso consistência e muito esforço diário. As histórias de pessoas bem-sucedidas, que servem de inspiração, ajudam até um certo ponto, pois quando a motivação acaba o que sobra é a disciplina.  Nesse contexto, que Goleman (2005) reforça a ideia de que a inteligência emocional ajuda traçar metas, desenvolver a inteligência intelectual, por meio do gerenciamento das emoções.  Ou seja, a administração das emoções pode ser um meio para a elaboração de novos hábitos, os quais não tenham uma memória volátil, mas sim duradoura.

Caso queira começar sua mudança hoje, segue algumas ideias para a construção de novos hábitos: Primeiramente, não tente mudar de uma só vez, um passo de cada vez, já que seu cérebro está recebendo novos estímulos. Anote tudo em um caderno, mas não o deixe guardado em uma gaveta, deixei- a vista para sempre lembrar de seu objetivo.

Fonte: encurtador.com.br/tCISZ

Uma dica de ouro para uma mudança real, comece a conviver com grupos sociais, os quais já possuem o hábito que deseja adquirir. Por exemplo, se deseja ser um corredor, procure um grupo de corrida. Por fim, mantenha um planejamento de metas, crie boas estratégias elaboradas, mantenha o foco e não desista, é possível mudar.

 

REFERÊNCIAS

Duhigg, Charles. O poder do hábito [recurso eletrônico]: por que fazemos o que fazemos na vida e nos negócios / Charles Duhigg ; tradução Rafael Mantovani. – Rio de Janeiro : Objetiva, 2012.

COVEY, Stephen R. Os 7 Hábitos das pessoas altamente eficazes. Rio de Janeiro: Bestseller, 2014.

GOLEMAN, Daniel. Inteligência emocional: A teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005.

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Grupo de Estudos: observações sobre o luto e o tempo 

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O Grupo de Estudos em Psicanálise em Palmas-TO, com o apoio do Instituto Suassuna, convida os interessados em psicanálise para participar da aula online com a psicanalista praticante e associada ao Instituto de Psicanálise da Bahia, membro fundadora do Grupo de Estudos FaLA – Percurso de Freud a Lacam, Luisa Carvalho, que se realizará no dia 25 de setembro de 2021, sábado, às 14horas via meet.

As inscrições devem ser solicitadas com antecedência pelo whatsapp (63) 984185596. 

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Que grade seguir: aberta ou fechada?

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O mínimo que devemos saber sobre o funcionamento da grade curricular

É comum na escolha da graduação você se interessar pela composição das matérias pertencentes a grade curricular daquele dado curso em questão, no entanto na maioria das vezes é de costume que os acadêmicos de primeira viagem não se importem em saber e levar em consideração se essa grade é aberta ou não, o que futuramente lhe trará intromissão em seu cotidiano. “Para Gargantini (1996) a existência de um currículo é uma questão acadêmica e não somente legal e burocrática. Ensinar um conteúdo não é gerar cópias dele mas, sim, ensinar a fazer ciência, é recriá-lo” (CALAES e PACHECO, 2001).

A grade aberta permite que o estudante pegue as disciplinas em horários flexíveis e a quantidade que lhe for conveniente; em uma instituição de ensino particular o benefício pode estar relacionado a questão financeira, pois possibilita você pagar menos (pegando menor quantidade de matérias) e continuar com os estudos, outro fator positivo é você poder trabalhar ou possuir outras obrigações que não permita que no horário estabelecido (como na grade fechada) você esteja, viabilizando que seu tempo não fique concorrido, caso haja tempo e condições, você também poderá acrescentar mais matérias além das que pertencem aquele período, concedendo que o acadêmico adiante seu curso, terminando em menos tempo; ao contrário disso existe a possibilidade da pessoa exceder o tempo previsto para a conclusão do mesmo.

Contudo, o ponto positivo mais plausível é o de permitir organizar sua rotina e agenda tal como poder escolher quais dias e horários da semana estará na faculdade; por outro lado muitas vezes acontece de mesmo a grade sendo aberta determinada matéria ter apenas em um horário especifico disponível, o que torna necessário a pessoa ter que se enquadrar naquele determinado tempo; muito comum acontecer nos últimos períodos, próximo a conclusão do curso, que você se sente na obrigação de pegar aquela matéria exclusiva, principalmente quando essa é pré-requisito para outra.

Fonte: encurtador.com.br/anwxK

A grade fechada é quando existe a obrigatoriedade de você pegar todas as matérias daquele dado semestre, se tratando de um curso que tenha apenas em um período do dia (matutino, vespertino ou noturno) você estará sujeito a se adequar aquele horário, sem flexibilidade de alteração. Assim, aguarda-se que dentro do tempo pré-estabelecido o estudante esteja saindo da instituição de ensino ao qual entrou para a graduação, não ocasionando na antecipação ou retardo de tempo para a conclusão, apenas em caso de trancamento de matricula, sendo possível enquadrar a grade fechada na grade aberta, basta que você siga as disciplinas pertinentes a cada período.

Aqui abro um parêntese para uma vivência desagradável, aconteceu assim que iniciei a graduação, logo no 1° período, sem muita noção, me deparei na mesma turma/sala com estudantes do 8°, tendo que compartilhar de conhecimentos com pessoas que possuíam bem mais facilidade do que quem acabou de entrar e estava se adaptando a instituição; uma coisa é certa, na vida nem tudo é como pensamos, por isso é melhor nos permitir sermos surpreendidos.

Por mais que tenha achado aquilo embaraçoso, é como diz a frase de Michael John Boback “Todo progresso acontece fora da zona de conforto”. Com isso lá na frente me vi estando além dos calouros, e outro fator positivo extraído disso são as pessoas que passamos a nos relacionar e conhecer ao longo do curso, pois certamente com a grade fechada você inicia e termina com a mesma turma, e na grade aberta existe uma rotatividade de pessoas, ou seja, nem sempre eu estaria com quem gostaria, mas estaria na possibilidade de conhecer quem ainda não tivesse tido contato, e assim seguia, uma valsa de dissabor e delícias.

Fonte: encurtador.com.br/bgEJ7

A aquisição do saber, diante de tudo isso é o que temos de mais essencial, não descartando o impacto que isso trará ou trouxe, se tratando do aprendizado nas relações interpessoais seja nas disciplinas obrigatórias, optativas ou institucionais, o que sempre prevalecera será a vivencia extraída daquele momento. Logo, o conhecimento nos faz ir além, com esse objetivo podemos pôr na balança se é ideal fixarmos em uma grade aberta ou fechada, independente da realidade do que almejamos alcançar.

REFERÊNCIAS

Calais, Sandra Leal; Pacheco, Elisabeth M. de Camargo. Formação de psicólogos: análise curricular. Psicol. esc. educ. v.5 n.1 Campinas jun. 2001. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-85572001000100002> Acesso em: 18 de abril de 2021.

Boback, Michael John. Disponível em: <https://www.suramajurdi.com.br/2020/09/25/frase-inspiracao-todo-progresso-contece-fora-da-zona-de-conforto-michael-john-bobak/>. Acesso em: 18 de abril de 2021.

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A Ghost Story – uma história sobre a enormidade do tempo e a preciosidade de pequenos gestos

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Nas buscas por respostas para a questão da vida, experimentei exatamente o mesmo sentimento que um homem experimenta na floresta.

Saí numa clareira, subi numa árvore e vi claramente o espaço infinito, mas vi que lá não há nenhuma casa, nem pode haver; fui para a mata fechada, para a escuridão, e vi a escuridão, e lá também não havia nenhuma casa.

Desse modo, vaguei pela floresta dos saberes humanos, entre os raios de luz dos saberes matemáticos e experimentais, que desvelavam para mim horizontes claros, mas em cuja direção não podia haver nenhuma casa, e vaguei entre a escuridão dos saberes especulativos, na qual, quanto mais eu avançava, mais afundava, até que por fim me convenci de que não havia saída nem podia haver.

Uma Confissão, Liev Tolstói [1]

 

É possível que cada um de nós, à sua maneira, já tenha pensado sobre a brevidade da vida, a complexidade do tempo e, especialmente, sobre a nossa relevância em meio a tudo isso. A cada geração, várias coisas mudam, mas essa angústia perante a morte ou ao desconhecido é perene, constante. A Ghost Story é um filme originalmente diferente,  mas que fala sobre coisas que são tão comuns, especialmente essa busca por um sentido que nos liberte do ciclo de perguntas que se formam quando oscilamos entre o medo de ser esquecido e o peso da enormidade de existir para sempre.

O filme conta a história de um casal, protagonizado por Rooney Mara e Casey Affleck, e não há nenhum grande esquema no roteiro sobre isso, ou seja, o casal faz aquilo que as pessoas costumam fazer, dormem juntos, discutem sobre a divergência de pensamentos, se assustam, ouvem música, riem. Mas, para que fazer um filme que tem como base questões tão complexas a partir de algo tão comum? Talvez porque o sentido que buscamos no infinito, no cosmo, na religião, nos livros, na loucura, na fé, esteja estranhamente nas pequenas coisas que compõem o nosso dia a dia.

A vida rotineira e feliz do casal é interrompida pela morte do jovem marido. Assim, quando sua esposa vai ao necrotério reconhecer o corpo e o cobre com o lençol, e depois sai, deixando-o sozinho, tem-se o início de uma nova jornada. Um fantasma, como aqueles que construíamos na infância com um enorme lençol e dois furos para representar os olhos, passa a ser a personagem principal da história. Sua figura melancólica, quase estática, nos conduz nos infinitos quadros que compõem a vida que o cerca. Como o fantasma, nos tornamos observadores da vida das pessoas que viveram e viverão naquela casa, onde o jovem marido morto vivenciou seus melhores dias e cuja necessidade de entender um pequeno gesto é tão pungente que o prende ali por séculos.

Como um personagem fala em um dado ponto do filme, parece que sempre fazemos questão de criar um contexto que nos permita ser lembrados, mesmo quando já não existirmos. Seja Beethoven com sua sinfonia, um escritor com sua grande obra, os pais por meio das lembranças de seus filhos.  Porque parece que ser esquecido é a maior constatação da finitude. Mas há alguma chance, considerando a ínfima parte que representa nossa existência no tempo e no espaço, disso em um dado momento não acontecer?

O filme não traz respostas, mas reforçam alguns questionamentos, traz à tona uma estranha sensação de que alguém conseguiu enxergar nossas inquietações e representá-las tão bem e uma forte constatação de que nos apegamos, de fato, a poucas coisas nessa vida. Por isso, que a explicação inicial que a esposa dá ao marido sobre o motivo que a leva a deixar pequenos bilhetes escondidos pelas casas que passa é tão reveladora, ainda que tão íntima.

– Eu escrevia bilhetes e os dobrava bem pequeno, então os escondia.

– O que eles diziam?

– Eram só coisas que eu gostaria de lembrar para o caso de que se eu quisesse voltar, haveria um pedaço de mim esperando.

E ela parte… A casa fica só com o fantasma e sua busca, que é a de conseguir resgatar aquele pequeno pedaço de papel, a última motivação consciente de alguém que não tem mais uma existência, mas tem um propósito. O luto geralmente é apresentado nos filmes através da visão de quem fica. Nesse filme, em particular, acompanhamos, no silêncio e na ausência de expressão, o luto de um fantasma que só tem uma casa e um desejo: descobrir o que alguém que partiu gostaria de lembrar. Segundo Elisabeth Kubler-Ross [2], há cinco fases do luto: a negação, a raiva, a barganha, a depressão e a aceitação, e vimos todas elas em um lençol com dois buracos em forma de olhos. O que mostra a direção espetacular de David Lowery.

E nada é mais solitário do que o diálogo silencioso entre duas almas, cada uma em sua casa. Uma delas (o fantasma da casa vizinha) espera alguém chegar, mas sem conseguir mais lembrar quem é esse alguém. Talvez ser esquecido seja mesmo inevitável. Quando a alma esquecida tem a sua casa destruída, finalmente a sua imagem de fantasma desaparece.

Mas o nosso fantasma em particular fica na casa, mesmo quando no lugar não há mais casa, nem paredes, nem nada. Mesmo quando ele está em um tempo anterior à sua própria existência, um tempo que ainda não existe a mulher que amou, o bilhete que quis alcançar, ainda que o propósito de alcançá-lo permaneça vivo.

O tempo…. Ah, o tempo…. Já assisti inúmeros filmes de ficção científica que tem como foco essa temática, mas nenhum me tocou tão profundamente quanto esse. Não há máquinas mirabolantes, nem teorias cientificamente plausíveis, há apenas o tempo em sua forma mais brutal nos mostrando que sabemos tão pouco sobre as coisas, sobre o mundo e, especialmente, sobre a nossa existência.

O tempo (anos, décadas, séculos) passa diante da figura contemplativa do fantasma e do seu olhar melancólico, mostrando-nos que, talvez, as escalas que compõem nossa saudade, nossa esperança, nossas dores, nossos sonhos, sejam apenas variações em um dado tempo x espaço, mas não podem responder as perguntas que temos ou explicar aquelas que nem mesmo conseguimos formular, já que a linguagem também não é suficiente. Em uma escala maior, por exemplo, o universo, em qualquer contexto que observamos, o ser humano parece sempre tão pequeno, tão insignificante. O que importa ao final? Essa resposta não está no filme. Talvez esteja em nós, mas ainda não seja plenamente compreendida.

Referências:

[1] TOLSTÓI, Liev. Uma Confissão / Liev Tolstói; tradução Rubens Figueiredo. 1ª. Edição – São Paulo, 2017.

[2] KUBLER- Ross, E. “Sobre a morte e o morrer”: 8ª Ed., Martins Fontes. São Paulo, 1998.

FICHA TÉCNICA DO FILME

Roteiro e Direção: David Lowery
Música: Daniel Hart
Elenco: Casey Affleck e Rooney Mara
Ano: 2017

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Apagaram-se as luzes, perdi o show

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Meu pai só gostava de músicas sertanejas, mas quando o cantor Roberto Leal aparecia na TV, ele me chamava para assisti-lo e ficava ouvindo junto. Ele sabia que aquele loirinho era o ídolo da filha de 15 anos. Numa época sem Internet e YouTube, eu dependia da TV para ver meu cantor predileto e das rádios para ouvir suas músicas. Seus discos me inspiraram a criar diários e a sonhar com o amor. Um dia lhe escrevi uma carta. A resposta veio rápida e com uma foto autografada. 

Aos 17 anos, mudei-me para São Paulo. Estaria mais perto do ídolo, mas continuei o vendo só pela TV e ouvindo suas músicas pelas rádios, porque assistir a um show para mim era um luxo na época. O tempo passou e substituí o ídolo da adolescência por outros da minha juventude. As décadas passaram e ao passar de meio século de vida, eu tive uma crise de flashback. Mergulhei nas profundezas do tempo e na descida encontrei algumas frustrações e tristezas que deixei no fundo do mar do passado onde já estavam naufragadas. Para a superfície, resgatei alguns tesouros, como a paixão pelo ídolo dos 15 anos.

Fonte: encurtador.com.br/CTY08

 O ano era 2017 e, na ânsia de dar vida a desejos antigos, decidi assistir a um show do cantor. 365 dias voaram. Adiei o desejo para 2018. Mais um ano voou e veio 2019. Prometi que daquele ano não passaria. Eu estava certa. Jamais passaria de 2019. Um dia, olhando mensagens no celular, uma notícia me paralisou. A vida tinha me dado uma rasteira por ter me esquecido do hoje e confiado no amanhã. Os olhos do cantor loirinho Roberto Leal que tantas alegrias me deu na adolescência se fecharam em 15 de setembro de 2019. Não o vi e jamais o verei num palco. Restou a imortalidade do ídolo.

Eu não sabia da luta do cantor contra o câncer. Mas sabia que a morte é a realidade da vida. No vídeo de seu último show, Roberto Leal disse que jamais se imaginou cantando sentado e eu que sempre me imaginei aplaudindo-o de pé. Um ano após sua morte, o consolo é a foto autografada emoldurada e os vídeos no YouTube.

Os sonhos são os combustíveis da vida. Existem aqueles sonhos mais singelos e acessíveis de curto prazo e os grandes de longo prazo. Não importa o tamanho e o tempo de um sonho, o importante é não se iludir com mais 365 dias de um ano vindouro para dirigir alguns quilômetros rumo a uma casa de show ou para dar pequenos passos diários rumo aos grandes sonhos de longo prazo. 

A luz da vida do cantor se apagou. As músicas brilharão para sempre. 

Vira-vira! Arrebita! 

Aplausos ao show da vida!

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