A infância atravessada pela tecnologia e por redes sociais

Reflexões sobre a influência das tecnologias no desenvolvimento infantil

Naiane Ribeiro de Oliveira Silva – naianeribeiro@rede.ulbra.br 

(EN)Cena entrevista Adriane Carvalho, psicóloga clínica especialista em TCC (Terapia Cognitiva Comportamental) que tem o trabalho focado na ansiedade e no atendimento a jovens adolescentes, assim como a mulheres. Nessa entrevista conversamos com Adriane sobre as relações entre as mídias sociais e o uso delas por jovens e crianças.

(En) Cena- Adriane, as mídias sociais têm se tornado cada vez mais presentes no cotidiano das pessoas, inclusive das crianças. Na sua perspectiva, como o uso das mídias sociais influenciam crianças e jovens? 

-As mídias têm tomado uma proporção grande na vida das crianças e jovens, porque eles nasceram nessa geração tecnológica, e geralmente já fazem o uso, seja monitorado ou não pelos pais, eles já possuem acesso a whatsapp, instagram, youtube entre outros. As redes acabam sendo motivo de distração e entretenimento como na época em que a TV fazia esse papel, e a influência dependerá muito de quais os conteúdos essa criança e jovem tem acessado.

 

(En) Cena- O uso indiscriminado e sem acompanhamento das redes sociais pode ser um ambiente perigoso para crianças e jovens, uma vez que nem sempre sabemos quem são as pessoas do outro lado da tela. Assim, temos visto cada vez mais as mídias sociais sendo utilizadas para pedofilia. Como você vê essa questão?

-Acredito que assim como a rede social pode promover diversão, brincadeira e entretenimento, ela pode ser muito perigosa. No que se refere a pedofilia é de suma importância que os pais tenham acesso às contas que os filhos acessam e com quem conversam. Na vida presencial os pais não vão deixar o filho ir para a casa de um coleguinha que não conhecem ou não sabem das procedências familiares, é necessário que a mesma postura seja tomada no que se refere aos cuidados de com quem esse filho está conversando no ambiente virtual, afinal esse ambiente também é real e no caso de crianças que sofrem pedofilia, os traumas psicológicos são causados da mesma forma.

(En) Cena- Qual o papel dos pais e/ou responsáveis pelas crianças e jovens na prevenção desse tipo de violência no contexto virtual?

-Orientar as crianças e os jovens sobre os perigos, e essa orientação talvez será repetitiva, mas ela tem que acontecer.Entender que dependendo da idade do seu filho, você precisa sim monitorar o que ele acessa e com quem conversa, as crianças e adolescentes não possuem uma psique desenvolvida o suficiente para perceberem quando estão em risco, por isso os pais precisam sim, estar tendo acesso aos conteúdos acessados.

(En) Cena- De que forma a psicologia poderia prevenir ou intervir sobre esses casos?

-Conscientizando tanto crianças e adolescentes sobre os riscos reais que esse ambiente pode promover, com palestras, oficinas, grupos e até mesmo nos atendimentos individuais. Para os pais também promover rodas de discussão para que os mesmos percebam e ajam em favor da proteção das crianças/adolescentes, entendendo que nem sempre as redes sociais são apenas distração, mas também podem oferecer riscos.Em casos onde a criança já passou pela violação de um pedófilo, a terapia irá trabalhar em cima das queixas da criança para superação do trauma e diminuição dos prejuízos acarretados nos pensamentos, emoções e comportamentos.

(En) Cena- Em um caso recente um homem foi preso por estupro pela internet depois de conversar e influenciar um menino de 10 anos. Esse contato entre eles foi feito por 3 anos antes de o homem ser preso, quais os alertas que os pais/responsáveis, ou mesmo a sociedade como um todo, podem estar sensíveis para perceber indícios disso?

-A conscientização dos adultos e responsáveis, sobre o quanto crianças e adolescentes não terão maturidade para interagirem em rede social sozinhos e sem monitoramento. Não aceitarem que a criança tenha contato com pessoas desconhecidas do rol de amigos dos pais ou que são apenas “amigos virtuais” , pois essa criança pode estar sendo enganada. Algo que também devemos nos atentar são as idades que cada aplicativo ou meio midiático indica para se fazer o uso, creio que uma ótima medida, seria os pais ou responsáveis monitorar para que seu filho não tenha uma rede social até a idade permitida pelo próprio

app.

(En) Cena- Com as mudanças e possibilidades das redes sociais, os pais ou responsáveis de crianças muito novas também tem um espaço e um meio de expor crianças, essa exposição de imagem muito cedo e feita de forma constante pode ter consequências psicológicas para elas?

-Não podemos afirmar que tenha consequências, pode ser que sim e pode ser que não. Por que vai depender de outros fatores, como: essa exposição atinge essa criança de que forma? Esses pais sabem lidar com essa exposição? Já vimos varias crianças que cresceram sendo alvos da mídia, e de holofotes e que não tiveram prejuízos significativos em sua saúde mental, mas também vemos o extremos de crianças que cresceram nesse meio e se tornaram adultos problemáticos, logo precisamos entender que são vários fatores envolvidos que determinam se a pessoa terá ou não prejuízos psicológicos no futuro. Talvez a criança fique mais exposta a consequências, no entanto não podemos afirmar

que terá.

(En) Cena- Até que ponto os pais podem verificar as redes sociais dos filhos, sem que isso seja uma invasão da privacidade ou individualidade?

-Em algumas idade, como dito anteriormente o cuidado deve ser lidado como aquelas perguntas básicas que os pais fazem aos filhos quando estão indo para a casa de um colega que eles não conhecem, ou seja sempre, explicando o motivo de estar monitorando o celular.Em caso de adolescentes, o indicado é o diálogo antes de monitorar, mostrar para esse filho que não é uma questão de invasão, mas de cuidado e amor.

 

(En) Cena- Como os pais podem abordar temas como esses com os filhos, para que eles também fiquem cientes?

-Sempre que possível. Podem usar das manchetes ou de casos que aconteçam com pessoas próximas, para alertar a criança/adolescente sobre os perigos. O assunto pode até parecer chato para o filho, no entanto através da repetição, eles vão aprendendo a ficar em alerta com a situação.