Quando a água do mar e o homem se confundem, o que há são as ondulações do mar, as curvas da embarcação, as sinuosidades do corpo, tudo conformado numa imagem que remete a um movimento único. Mar-lugar de vertigens de vai-e-vem, de perplexidades diante da abundância ou míngua da pesca, de imensidão de água até onde os olhos não podem mais ver, de respeito pela maré cheia e pela maré seca, de saberes passados de pais para filhos nas permanentes e incontáveis trajetórias de pescas.
No mar há portos. Porto de barcos, porto de corpos. O primeiro lança e recebe homens do mar; o segundo, apenas recebe. O porto de barcos é lugar de partida, chegada e estada. Dele saem homens que sonham com pescas fartas, para ele chegam homens que sonham com descanso em terra firme e nele se instalam rotineiramente homens que se encontram para contar histórias de pescadores. O porto de corpos, lugar de areia em que os homens do mar são sepultados, é de serventia indispensável e, ao mesmo tempo, é carregada de desejo de protelação. Ali jazem homens que viveram no/com/do mar e que sabiam que, um dia, suas histórias seriam enterradas a beira-mar.
Ariana Campana