Por Ângela Marques e Luciano Carneiro
Sem desmerecer àqueles tantos que do sertão falaram em suas músicas, poesias, andanças e falácias – até porque um sertanejo, em última instância, demora-se a falar mal d’alguém quando a garganta já é seca por desdizer do tempo agouro que castiga a cada dia, ou melhor, a cada sol, o seu corpo/couro e “natureza”, por ser ele um “nordestino marcado pelo destino de ser sempre um sofredor” – no que se refere às cenas apresentadas a seguir, escolhidas coloridas, pois se cinzentas poderiam sem muita peleja ferir, a começar pelos olhos, os sentimentos daqueles que distantes são desse mundo que é o sertão, não há melhores dizeres do quê aqueles que um homem, chamado João Guimarães Rosa, em sua obra “Grande Sertão: Veredas”,proferiu para retratar-nos este sertão que é ao mesmo tempo sozinho, sem lugar, cheio de vazios (se é possível ao cheio se associar ao vazio), do tamanho do mundo, e dentro da gente.
Como uma vez lido em algum lugar, território refere-se, dentre outras coisas, ao fato de uma pessoa reconhecer-se em algum lugar, em algo ou em alguém, embutindo a eles um sentido ou significado. Guimarães Rosa disse: “o sertão me produziu, depois me engoliu, depois me cuspiu do quente da boca”. Esse mesmo sertão, para o autor, é “onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o poder do lugar”.
O sertão, enquanto território, forma as pessoas que nele nascem, crescem, vivem e de lá, porventura, saem em busca de outros territórios mais concernentes ou aprazíveis. O sertão é a lembrança do retirante inicialmente desterritorializado. Eis algumas lembranças de pessoas que vem do sertão e podem não agradar.
Notas e referências:
– ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. – 1.ed. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006.
– Há referências às músicas “Sangue de Nordestino” (Luiz Gonzaga) e Disparada (Geraldo Vandré).
– Todas as fotos foram tiradas em um lugar do Centro-Sul baiano, chamado Lagoa do Mato, onde a vegetação predominante é a Caatinga.