Relato de experiência: perspectivas das práticas clínicas de um estagiário de Psicologia

Uma visão de acadêmico sobre a clínica

Neste texto, quero compartilhar um pouco da minha experiência como acadêmico, algumas coisas que eu uso no meu dia a dia na clínica, pois queria que alguém tivesse me dado essas dicas. Portanto, este texto é destinado a acadêmicos em busca de algumas dicas referentes à prática neste curso de psicologia. Espero que gostem.

Eu sou Arthur, nasci em Palmas, acostumado com o calor, mas às vezes sinto falta de um ar-condicionado. Achava incrível como os psicólogos conversavam com as pessoas e ‘liam as mentes’ delas; meu sonho era fazer o que eu chamava de ‘três GIAS’, que envolve psicologia, teologia e pedagogia.

Bem, o primeiro escolhi porque achava curioso como os psicólogos conversavam com uma pessoa e encontravam a solução para os seus problemas. ‘Uau, posso ajudar as pessoas somente conversando com elas.’ Teologia sempre foi uma escolha minha, pois fui e sou ligado à igreja, e como pastor eu poderia ajudar com seus dilemas, e também palestrar, que é uma coisa que gosto bastante, e na última, como já disse, gosto de ensinar algumas coisas que eu sei, e acho que pedagogia seria uma boa oportunidade de passar para frente aquilo que aprendi.

Hoje estou no final do curso de psicologia, e sinceramente vou pensar duas ou três vezes antes de continuar os outros, ou pelo menos deixá-los um pouco mais para frente. Fiz o ensino médio na Ulbra, e agora, findando o ensino superior também na Ulbra.

Uma das matérias em que vejo os acadêmicos mais nervosos em relação ao atendimento é a avaliação. Eu também fiquei nervoso, mas sempre gosto de fazer contextualizações para meus clientes e uma dessas que gosto muito é falar que os testes são como se fosse um exame de sangue, que busca saber o que acontece onde nossos olhos não podem ver, e como não podemos fazer um exame de sangue dos nossos pensamentos fazemos esses testes. Se quiser, pode acrescentar que, como um exame de sangue, ele tem que ser refeito em determinado tempo, assim os testes também têm uma data de validação, e que esse resultado não é o ultimato.

Confesso que fui sempre receoso com relação a algumas coisas, principalmente atender uma pessoa sozinho; para mim era um desafio e tanto, mas com o passar do tempo fui me acostumando a atender, e claro que é um impacto, algo totalmente novo. Mas é só pensar que é uma novidade, tanto para você quanto para o paciente/cliente, e que é uma grande oportunidade de mostrar o que você aprendeu e colocar em prática essas coisas.

Na clínica, ao atender uma pessoa, uma das primeiras coisas que temos que focar é estabelecer uma boa relação terapêutica, e em uma relação é preciso abrir mão de algumas coisas e na clínica não é diferente, temos que abrir mão da necessidade de falar a todo momento, pois o silêncio também é terapêutico, é claro que tem que ter um ‘feeling’ de saber se aquele silêncio é bom ou não.

Como exemplo, imagina que uma pessoa falou uma coisa que contradiz ela mesma, e você, que já está com uma escuta atenta a essas contradições, usando as palavras da própria pessoa, expõe essa contradição, e com isso o cliente/paciente fica refletindo em silêncio. Quando perceber que ele está neste momento de reflexão, não tenha pressa em interromper, pois esse silêncio também ajuda.

Tem um conceito japonês que nos leva a isso, uma palavrinha de duas letras que tem bastante importância, esse conceito ou ideia se chama ‘MA’, ela faz referência a um espaço vazio de reflexão e pausa, e trazendo isso para a clínica, é um momento de pausa e um espaço para a cliente refletir sobre aquilo que está sendo proposto ou discutido, use com moderação.

Tem um livro que estou lendo agora e ele chama ‘Mindfulness e Psicoterapia’, e se você gosta de ler, eu recomendo. Tenha paciência, pois ele tem mais de 300 páginas, mas é uma experiência que vale a pena. Na página 90 deste livro, tem um parágrafo que me chamou muita atenção e gostei bastante; vou compartilhá-lo aqui com vocês:

“(…) ‘cuidar dos outros requer cuidar de si’(…) Essa informação faz sentido na medida em que não podemos acolher completamente outro indivíduo imperfeito, quando rejeitamos a nós mesmos por imperfeições semelhantes.”

Esse pequeno trecho faz referência a importância da autocompaixão, tanto nos atendimentos quanto na caminhada acadêmica, pois é nítido que nesse processo de aprendizagem, nós focamos mais no paciente do que em nós mesmos e esse livro, nos faz inverter essa visão, a fim de que aprendemos a cuidar de nós mesmos para depois cuidar dos outros.

                                       Fonte: https://pixabay.com/pt/images 

Uma coisa que vale a pena ressaltar é a respeito da atenção ao que o paciente fala, pois com o passar do tempo você pode repetir algumas falas do próprio paciente a fim de que ele reflita sobre aquilo, ou que tenha apenas uma confirmação de que o que ele falou, isso ajuda o cliente a se sentir mais acolhido, visto que o terapeuta está prestando atenção no que ele diz. 

Já que é um texto focado em dicas para acadêmicos, principalmente de psicologia, sugiro que participe do evento diálogos clínicos, nesse evento você pode ter uma visão mais clara das abordagens e de suas práticas, sim são muitas abordagens para escolher, mais esse evento já vai te dar uma ideia do que esperar de cada abordagem. Eu me descobri na análise do comportamento desde o primeiro dia de aula, mas vejo que quem tá chegando em ênfase ainda carrega essa dúvida de qual abordagem escolher, e esse evento poderá te ajudar.

Uma das principais bases de uma relação terapêutica é a escuta sem julgamentos, é só imaginar que aquela pessoa está vindo até você em busca de não ser julgada, pois não encontrou ninguém que a acolhesse. Uma coisa boa de se pensar é que essa pessoa está propensa a medos, pensamentos ruins, ela também ama, chora e tem suas dores, e essa forma de pensamento ajuda com a empatia do terapeuta para com o paciente.

Visando essa interação clínica, o terapeuta pode adotar algumas características corporais, como acenar com a cabeça, validando assim o que o paciente fala, mais cuidado tenha muita atenção para não validar aquilo que não é pra validar, em um momento de descontração do cliente, o psicólogo pode ficar moderadamente descontraído também. 

Um dia um professor falou para a sala “ que a menor distância entre duas pessoas é o bom humor” acho que vale a pena levar isso para a clínica Também, pois um dia eu estava atendendo uma criança, na verdade ele tinha 14 anos, adolescente já, e falou que era mais aberto comigo pois eu era engraçado, e que ele já fora atendido por outro psicólogo que era mais sério e por isso ele ficava “só na minha calado no meu canto” (SIC). 

As vezes queremos ser muito profissionais, talvez pelas burocracias dos locais onde estamos, ou apenas para parecer mais experiente, mas esquecemos que esse “profissionalismo” toda faz nos distanciarmos daquela pessoa que está ali sendo atendida, às vezes isso pode até trazer um desconforto para aqueles pacientes/cliente que são mais humildes, pode nos levar a um caminho totalmente diferente do que precisamos para uma boa relação terapêutica com o paciente. 

Precisamos que essa superioridade posta a nós pelos próprios clientes seja quebrada, para que tenha uma convivência mais linear, dando assim mais abertura para a pessoa poder falar de igual para igual. Se for necessário pode contar até uma experiência que você teve parecida, para mostrar que você também é humano e comete erros, isso ajuda a ter uma visão mais horizontal de cliente para com psicólogo.

Um dia fui atender uma pessoa, já era adulta, e ela disse que estava desconfortável de ser atendida por uma psicóloga que só andava muito bem arrumada, com brincos e roupas chiques, e isso afastou a cliente da psicóloga, “ eu me sentia muito rebaixada quando eu estava com ela” SIC.

Enfim, lembre-se sempre de que não adianta você saber aplicar testes, nem ter todos os métodos de atendimento, se você não criar vínculo terapêutico com aquela pessoa, (acho que já ouvi isso em algum lugar, será que foi Freud ou Jung?). Aaa! Sim lembrei: “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana” CARL JUNG.