A expansão dos princípios da Abordagem Centrada na Pessoa na Psicologia Clínica

Desde a sua concepção, a psicologia clínica tem passado por processos de evolução, diversas abordagens teóricas e práticas surgem ao longo dos anos e deixam sua marca na construção dos princípios da psicologia. Uma das influências marcantes nesse processo foi a contribuição da Abordagem Centrada na Pessoa (ACP) de Carl Rogers na formação da história. No contexto em que emergiu, a ACP contrastava com abordagens predominantes, como a psicanálise e a análise do comportamento, ao enfatizar elementos como empatia, aceitação incondicional e a importância do vínculo terapêutico.

A abordagem de Rogers foi importante por ser a precursora em sua ênfase na relação terapêutica como catalisadora do processo de mudança. Rogers postulou que um ambiente terapêutico caracterizado pela empatia do terapeuta, aceitação incondicional e congruência promove a autoexploração e a autorrevelação do cliente, facilitando assim o crescimento pessoal e a resolução de problemas psicológicos (Rogers, 1957). Esses princípios, porém, que são advindos da terapia centrada na pessoa, na decorrência do tempo, se tornaram reconhecidos como fundamentais em toda psicologia clínica.

A empatia, por exemplo, foi amplamente reconhecida como uma habilidade crucial para estabelecer uma aliança terapêutica sólida em diferentes contextos clínicos (Bohart & Greenberg, 1997). A habilidade do terapeuta de compreender e refletir as experiências emocionais e cognitivas do cliente é considerada essencial para promover uma maior compreensão e aceitação do self do cliente.

Além disso, a aceitação incondicional, conceito central na ACP, influenciou a forma como os terapeutas abordam as experiências e comportamentos dos clientes. Ao adotar uma postura de aceitação genuína, os terapeutas são capazes de criar um ambiente seguro e não julgador que encoraja a autoexploração e a expressão autêntica do cliente (Truax & Carkhuff, 1967), a partir deste posicionamento, promove-se o contexto em que na psicoterapia, o paciente/cliente, pode se sentir seguro, pois o terapeuta não irá contribuir para um ambiente de rejeição.

Outro aspecto importante da ACP que se expandiu para a psicologia clínica moderna é a ênfase no vínculo terapêutico. A qualidade da relação entre terapeuta e cliente tem sido consistentemente associada aos resultados terapêuticos positivos (Horvath & Symonds, 1991). Um vínculo terapêutico forte e seguro proporciona ao cliente um ambiente propício para explorar desafios emocionais e cognitivos, facilitando assim o processo de mudança e crescimento pessoal.

É importante ressaltar que, embora os princípios da ACP tenham sido amplamente adotados na psicologia clínica moderna, isso não significa que outras abordagens tenham sido descartadas. Pelo contrário, muitas abordagens integraram esses princípios em suas práticas, reconhecendo a importância da relação terapêutica na promoção do bem-estar psicológico dos clientes.

A abordagem cognitivo-comportamental (TCC), por exemplo, surgiu da integração das técnicas comportamentais com a teoria cognitiva, enfatizando a relação entre pensamentos, emoções e comportamentos (Knapp; Beck, 2008). Os princípios da ACP foram incorporados na TCC através do reconhecimento da importância da aliança terapêutica e da relação terapeuta-cliente na eficácia do tratamento (Safran & Muran, 2000).

Dentro da TCC, a empatia é vista como uma habilidade fundamental para compreender as crenças e emoções do cliente, enquanto a aceitação incondicional é vista como uma atitude terapêutica que promove a abertura e a autenticidade do cliente (Persons & Tompkins, 2013). Esses princípios são integrados em técnicas como a formulação cognitiva, onde o terapeuta colabora ativamente com o cliente para entender e modificar padrões de pensamento disfuncionais.

Dessa forma, os princípios da Abordagem Centrada na Pessoa continuam a influenciar não apenas as práticas terapêuticas, mas também a compreensão mais ampla da psicologia clínica como um campo dedicado ao cuidado e ao bem-estar emocional dos indivíduos cheios de empatia e aceitação incondicional.

Referências:

 

Knapp, P;  Beck, A. Fundamentos, modelos conceituais, aplicações e pesquisa da terapia cognitiva, Revista Brasileira de Psiquiatria;30(Supl II):S54-64. 2008

Bohart, C., & Greenberg, S. Empatia e Psicoterapia, Associação de Psicologia Americana, 1997

Cury, E. ACP: encruzilhada de perspectivas. Boletim da Abordagem Centrada na Pessoa.1988

Horvath, A & Symonds, D. Aliança terapêutica: estabelecimento, manutenção e rupturas da relação. Revista de Psicologia de Aconselhamento, 1991

Rogers, C. As condições necessárias e suficientes para a mudança de personalidade terapêutica. Psicologia Consultiva. 1957

Safran, J., Muran,C. Negociando a aliança terapêutica: Um guia de tratamento relacional. Biblioteca de Psicologia Descleé de Brouwer, 2000.

Truax, B, Carkhuff, R. Para uma orientação e psicoterapia eficazes, Aldine Publishing, 1967