A importância de cuidar de quem cuida considerando o envelhecimento populacional

Com o direito ao acesso à saúde a partir de 1988, com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), reforça esse direito à saúde sendo assegurado pela Constituição Federal e dever do Estado. Desse modo, tem como objetivo proporcionar saúde de qualidade ao Cidadão, além disso, tem a função de regular, fiscalizar, controlar e executar ações públicas de saúde. As ações públicas, também chamadas de Políticas Públicas, são ações e planos do governo para proporcionar o bem-estar da sociedade, buscando a solução dos problemas de interesse público. Apesar de serem campos próximos, se distinguem quanto ao seu enfoque. (CARVALHO, 2013; OLIVEIRA, 2016).

Nesse contexto, a implantação da Unidade de Saúde da Família (USF), prevê a atenção contínua nas especialidades básicas e constitui o primeiro contato do usuário com o sistema de saúde, ou seja, “porta de entrada” do sistema. Ela tem que ser resolutiva, com profissionais capazes de assistir aos problemas de saúde mais comuns e de manejar novos saberes que, por meio de processos educativos, promovam a saúde e previnam doenças em geral (SOUSA; NETO, 2000). 

Em decorrência da expectativa de vida, o envelhecimento do ser humano aumenta os encargos sobre os sistemas de saúde, pois a incidência de doenças aumenta e a autonomia diminui. O alto número de ocorrências de multimorbidades é um problema que vem sendo estudado no Brasil, sendo caracterizado como um problema emergente. Isso mostra que um idoso vivendo muito tempo com multimorbidades é um problema para a saúde pública, pois o SUS não está sendo suficiente para proporcionar um envelhecimento saudável (ANDRADE; GUIMARÃES, 2013).

O envelhecimento populacional, processo natural da vida, é uma realidade no mundo inteiro, principalmente no Brasil, onde estima-se que nos próximos anos seja o sexto maior país do mundo com população idosa. As pessoas dessa faixa etária de 60 anos ou mais se tornam mais vulneráveis a desenvolverem doenças cardiovasculares, AVC, Alzheimer, entre outras. Isso é preocupante, pois necessitam ser assistidas e cuidadas quando ocorrem casos mais graves. (DA CONCEIÇÃO, 2010; CALDAS e MOREIRA, 2007).

Diante disso, a Política Nacional do Idoso prevê a promoção do envelhecimento saudável e digno, com a prevenção de doenças, cuidados para recuperação e reabilitação dos que adoecem. Mas, na realidade, quando se pensa na saúde e bem-estar destes idosos, o SUS, que é carente de recursos e políticas sociais, designa aos familiares os cuidados de apoio social (BRÊTAS, 2003)

E diante desse cenário, alguns dos idosos necessitam de cuidados e acabam recebendo estes cuidados por um cuidador de idosos, sejam eles formais ou informais, com conhecimento especializado ou um familiar leigo. Essas pessoas que se dispõe a cuidar de um idoso dependente ou semi-dependente, que na maioria das vezes são esquecidos pelo sistema de saúde e tendo o seu trabalho como foco principal na sua vida. O cuidador formal é um profissional capacitado e treinado para auxiliar o idoso, ou seja, é um terceiro que realiza o seu trabalho diante das instruções que lhes foi dado (CONCEIÇÃO, 2010).

Quando envolve um familiar, passa-se a chamar cuidador informal ou familiar. É aquele filho ou filha, que na maioria dos casos é eleito pela família a ser o único e exclusivo, denominado cuidador principal. Além de não ser um serviço remunerado, o cuidador familiar, na maioria das vezes, não tem capacitação, conhecimento e orientações de como ser um cuidador, o que piora e dobra as chances de afetar a integridade da sua saúde (CALDAS; MOREIRA, 2007).

Em suma, o cuidador é aquele que, diariamente alimenta, cuida da higiene pessoal, dá medicamentos e faz companhia ao seu dependente. Esse intenso trabalho pode, futuramente, trazer consequências como problemas de saúde, tanto física quanto mental. Focar nos problemas dos cuidadores dos idosos, que sofrem por estafa mental, são mais estressados, deprimidos, que possuem níveis menores de bem-estar subjetivo e de senso de autoeficácia, intervindo com ações que minimizem esses efeitos seria de grande valia para a saúde pública (SOUSA; NETO, 2000).

Portanto, a existência de serviços de apoio educativo, psicológico e social é essencial para reduzir as consequências advindas do ato de cuidar. A intervenção psicoeducacional pode contribuir significativamente para a melhora do bem-estar, para a aquisição de estratégias de enfrentamento da situação de cuidado, diminuição de sentimentos e pensamentos disfuncionais, melhora no senso de autoeficácia, entre outros benefícios. Contudo, há necessidade de uma padronização da abordagem em termos de estrutura, duração e conteúdos abordados, para que se obtenham informações mais precisas sobre o efeito desse tipo de intervenção (SOUSA; NETO, 2000; LOPES; CACHIONI; 2012).

Coautores:

  • Bruno Soares Oliveira
  • Juliano Martins Moreira
  • Jackson Nunes Cardoso
  • Lívia de Souza Caixeta
  • Nicole Deiss 
  • Sara Regina Batista da Silva. 

REFERÊNCIAS 

BRÊTAS, Ana Cristina Passarella. Cuidadores de idosos e o Sistema Único de Saúde. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 56, p. 298-301, 2003. 

CARVALHO, Gilson. A saúde pública no Brasil. Estudos avançados, v. 27, p. 7-26, 2013. 

CERQUEIRA, Ana Teresa de Abreu Ramos; OLIVEIRA, Nair Isabel Lapenta de. Programa de apoio a cuidadores: uma ação terapêutica e preventiva na atenção à saúde dos idosos. Psicologia Usp, v. 13, p. 133-150, 2002.

CONCEIÇÃO, Luiz Fabiano Soriano. Saúde do idoso: orientações ao cuidador do idoso acamado. Rev Med Minas Gerais, v. 20, n. 1, p. 81-91, 2010. 

GUIMARÃES, Raphael Mendonça; ANDRADE, Flavia Cristina Drumond. Expectativa de vida com e sem multimorbidade entre idosos brasileiros: Pesquisa Nacional de Saúde 2013. Revista Brasileira de Estudos de População, v. 37, 2020. 

LOPES, Lais de Oliveira; CACHIONI, Meire. Intervenções psicoeducacionais para cuidadores de idosos com demência: uma revisão sistemática. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, v. 61, p. 252-261, 2012.

MOREIRA, Marcia Duarte; CALDAS, Célia Pereira. A importância do cuidador no contexto da saúde do idoso. Escola Anna Nery, v. 11, p. 520-525, 2007. 

OLIVEIRA, Vanessa Elias de. Saúde Pública e Políticas Públicas: campos próximos, porém distantes. Saúde e Sociedade, v. 25, p. 880-894, 2016. 

SOUSA, M F; NETO, M M da C. Cadernos de atenção básica: programa da saúde da família. Brasília: Ministério da Saúde, 2000.