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As identidades em tempos líquido-modernos

121111Fonte: http://criseterno.blogspot.com.br/2013/12/as-pessoas-nao-mudam-elas-se-revelam.html

Identidade é um livro que apresenta a entrevista concedida por Zygmunt Bauman a Benedetto Vecchi. A obra trata da identidade no mundo líquido-moderno. O jornalista Italiano e o sociólogo discutem a questão da identidade no contexto da tese de Bauman (Modernidade líquida) aonde ele explica como nós mudamos de um estado sólido para uma fase líquida na modernidade, aonde nada mantém sua forma e formatos sociais estão constantemente mudando em alta velocidade, radicalmente transformando a experiência de ser humano.

A maneira como o livro foi escrito é bem diferente quanto à maneira em que a entrevista foi feita, não foi faca a face, inclusive, Bauman e Vecchi nunca se conheceram pessoalmente. Os questionamentos e respostas foram feitas através do e-mail, que por sua vez fez com que o conteúdo da conversa fosse mais clara e mais bem explicativa, pois havia um tempo para ponderação entre a pergunta e a reposta. Justamente por esse motivo foi gerada uma obra com grande coerência em seus debates.

Utilizando a metáfora de um quebra cabeça para tentar explicar a identidade. Bauman explica que como o brinquedo, a identidade seria formada por peças, porem ao contrário do jogo que pode ser completado o jogo de quebra cabeça da identidade nunca pode ser finalizado e no qual faltam muitas peças, e nunca saberemos exatamente quantas peças. Bauman explica que, diferente do jogo que se compra na loja de brinquedos que já tem uma imagem final na qual a criança tem apenas o trabalho de encaixar cada peça que também foi elaborada para chegar nessa imagem fim. O jogo de quebra cabeça da identidade não tem uma imagem final e as peças nunca se encaixem perfeitamente então nunca se terá um resultado coeso. Enquanto no jogo, tudo é direcionado com um objetivo, no caso da identidade, o trabalho é direcionado para os meios.

Com tudo isso, Identidade propõe em seu tema central o problema da formação da identidade em um mundo cada vez mais “líquido”, em constante mudança. Bauman sublinha que o desejo por uma identidade, finalmente conseguir descobrir o que você é, tem em sua base uma ânsia por segurança e calmaria. Desejo contraditório, afirma, pois no mesmo momento que o indivíduo intenta por um ponto de apoio em meio ao caos de estímulos do mundo moderno, a “proteção” oferecida pela (máscara?) de uma identidade torna-se um problema, pois priva-nos de compartilhar de novas identidades, de novas possibilidades de realização.

Fonte: http://www.sonhosestrategicos.com.br/planejamento-pessoal/como-planejar-num-mundo-repleto-de-incertezas-e-mudancas

Nosso ambiente exige de nós adaptação, mudança, capacidade de transformação constante e rápida. Mais que isso ele exige que desejemos a mudança, que procuremos ansiosamente por novas formas de vida o tempo todo. Relações rígidas são cada vez mais mal vistas; e nenhum contrato comercial é fechado hoje sem uma cláusula de anulação logo nas primeiras linhas; se todo este ambiente rarefeito nos envolve, não é difícil concluir que com as identidades também ocorre o mesmo.

Zygmunt Bauman argumenta a identidade como um problema pós-moderno ou como em sua tese “modernidade – liquida” aonde os códigos sociais são extremamente flexíveis e aonde as regulamentações econômicas proporciona uma liberdade inédita deixando as pessoas livres para escolher e “comprar” sua identidade. Com essa facilidade de “comprar” uma nova identidade, é tanto quanto fácil se desfazer da sua identidade e criar uma nova. Tudo isso sem o compromisso de longo prazo, pois tudo pode ser feito e desfeito de forma rápida. E como ele enfatiza, fácil.

No ponto de vista individual, essa liberdade criada pela facilidade de troca de identidade torna-se um problema quando se percebe a sua maleabilidade de não ter que ser “você” o tempo todo. Isso vem criando com o tempo uma sociedade de pessoas com problemas de autoestima, problemas com depressão, e pessoas loucas. Pois cria uma falsidade e desarmonia entre o meio social. As pessoas usam a identidade que lhes cabem melhor, apenas para se amostrar nos meios de comunicação, apenas para tentar fazer sua vida uma ilusão para você mesmo. O que mais importa agora e a imagem que a pessoa cria.

A identidade é algo construído. Não nascemos brasileiros, americanos, tocantinenses, nem mesmo homens ou mulheres. Bauman demonstra que todas as identidades são construções. A diferença é que, diferente de nossos avós, que dispunham de roteiros idênticos bem determinados, hoje estamos navegando em um mar revolto, cujas ondas nos arremessam para lá e para cá, e até mesmo nos joga para fora do barco. E assim ficamos mais e mais entrelaçado com o nosso meio social em que vivemos hoje. É preciso buscar uma forma nova de entender o problema da identidade, sob pena de aplicarmos conceitos ultrapassados que mais deformam que explicam a realidade.

Fonte: http://bit.ly/28Nz9mY

Por ser o “papo do momento”, a identidade não é mais objeto de meditação filosófica, e nem seus fundadores poderiam dar um significado a questão de identidade que abarcasse a modernidade líquida (SILVA MONTE, 2012). Segundo Bauman (2005, p. 35), “as identidades ganharam livre curso, e agora cabe a cada indivíduo, homem ou mulher, capturá-las em pleno voo, usando seus próprios recursos e ferramentas”. Na era da modernidade líquida, pensar em um sujeito inflexível é ser malvisto pelos outros, uma vez que, para muitos, já se solidificou a ideia de identidades heterogêneas e que cada sujeito sabe dos riscos que pode sofrer por estar dentro do jogo de identidade. Podemos reconhecer que, em todo lugar e de diferentes formas, novas identidades surgem ou se incorporam as já existentes, transformando mais e mais o sujeito pós-moderno.

Somos confrontados diariamente por uma multiplicidade de identidades possíveis, tendo em vista que os novos modos de vida propostos pela modernidade rompem com o passado estável das identidades, substituindo essa estabilidade por uma pluralidade de centros de poder, que são orientados conforme a necessidade do sujeito na sociedade. Com isso, percebemos que a afirmação de Bauman (2005) revela, mas, ao mesmo tempo, não fecha a discussão sobre essa questão tão intrigante das identidades surgidas na era da globalização, a partir do qual os estudos ainda estão longe de elucidar.

 

REFERÊNCIAS:

DA SILVA MONTE, Sheila. UFRN. A IDENTIDADE DO SUJEITO NA PÓS-MODERNIDADE: ALGUMAS REFLEXÕES. Revista fórum identidades. ISSN: 1982-3916.

BAUMAN, Zygmunt. Identidade. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005.

VECCHI, Benedetto. Introdução. In: BAUMAN, Zygmunt. Identidade. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005, p. 7-14.

MADALENA, Juliano. Resenha a “Identidade”, de Zygmunt Bauman. Civilistica.com. Rio de Janeiro, a. 2, n. 4, out.-dez./2013.

ZYGMUNT BAUMAN – sobre os laços humanos, redes sociais, liberdade e segurança. Disponível em < https://www.youtube.com/watch?v=LcHTeDNIarU&feature=youtu.be >. Acesso: 17/06/2016.

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