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A coragem de ser imperfeito: A Humanização na Prática Terapêutica

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O livro A coragem de ser imperfeito, de Brené Brown, oferece uma leitura poderosa sobre a vulnerabilidade como força, e não como fraqueza. A autora, pesquisadora e professora, parte de experiências pessoais e profissionais para desmistificar a ideia de perfeição e mostrar como a autenticidade é fundamental para viver uma vida plena, o que eu considerei extremamente válido para quem está se formando em psicologia. Na prática clínica, se o terapeuta tenta sempre se mostrar impecável, invulnerável e dono de todas as respostas, pode acabar perdendo a conexão humana genuína com o paciente.

Brown traz conceitos que não se aprendem apenas em sala de aula. A disposição para o “desconforto emocional” e a aceitação de que não temos controle sobre tudo são habilidades fundamentais tanto na vida quanto na prática psicoterapêutica. Ao contrário do que muitos pensam, a verdadeira força do terapeuta pode estar justamente na capacidade de se permitir imperfeito e, ainda assim, acolher o outro com compaixão.

A escrita de Brené Brown é acessível, mas profunda. Ela constrói uma narrativa que entrelaça pesquisa com vivência, criando uma ponte entre teoria e prática, algo que, como estudante, me trouxe muito aprendizado. Ao falar sobre vergonha, empatia, pertencimento e coragem, a autora nos convida a uma autorreflexão sincera, mostrando que a jornada do terapeuta também é uma jornada de autoconhecimento. Suas reflexões são especialmente importantes para quem está começando na profissão, pois nos lembram que ser humano é, inevitavelmente, ser vulnerável.

Ao longo do livro, Brown desmonta a ideia do “ideal inatingível” que muitas vezes persegue os profissionais de saúde mental. Ela reforça que a conexão autêntica com os pacientes nasce da coragem de mostrar quem realmente somos com nossas imperfeições, dúvidas e limitações. Isso, longe de desqualificar o terapeuta, torna o vínculo terapêutico mais real, mais empático e mais potente.

Um ponto que me tocou bastante foi a forma como a autora mostra que o medo de não ser suficiente, de não ser bom o bastante, experiente o bastante ou perfeito o bastante é um sabotador silencioso. E que essa autocrítica severa é muitas vezes o que impede profissionais e pacientes de avançarem em seus próprios processos. Com isso, Brené Brown aponta para a importância da autocompaixão e da aceitação radical, que são fundamentos essenciais tanto para quem cuida quanto para quem é cuidado.

O livro reforça ainda que a verdadeira mudança não vem da negação da dor, mas da disposição em enfrentá-la com coragem e verdade. Isso é especialmente aplicável à psicoterapia: é ao abraçar a imperfeição que se abre espaço para o crescimento genuíno. Essa perspectiva é acolhedora para estudantes e iniciantes na área, pois tira o peso de se sentir “pronto” ou “completo” para começar.

Brown não apresenta um manual de técnicas, mas um convite à reflexão profunda. A coragem de ser imperfeito é um guia honesto e inspirador, que ressoa com qualquer profissional em formação ou prática, e que entende que o cuidado com o outro começa, inevitavelmente, com o cuidado consigo mesmo.

Ao final, fica claro que o caminho da psicoterapia, tanto para o paciente quanto para o terapeuta, é um caminho de coragem, imperfeição e conexão. O livro é uma leitura indispensável para quem deseja compreender não apenas a prática clínica, mas também as bases emocionais e éticas da relação terapêutica.

Ficha Técnica

Título: A Coragem de Ser Imperfeito

Título original: The Gifts of Imperfection

Autora: Brené Brown

Tradução: Carolina Caires Coelho

Editora: Sextante

Ano de publicação no Brasil: 2013

Número de páginas: 200 (varia um pouco por edição)

ISBN: 978-85-431-0038-6

Gênero: Desenvolvimento pessoal / Psicologia / Autoajuda

Formato: Físico e digital (e-book, audiobook)

Idioma: Português (original em inglês)

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