CAOS: Zanello: é preciso fazer uma revisão epistemológica na Psicologia

A palestra de encerramento do Caos 2017 – Congresso Acadêmico dos Saberes em Psicologia, ocorrida na última sexta-feira, dia 25, mobilizou a comunidade acadêmica, que participou de maneira intensa da temática abordada: as microviolências contra a mulher. O assunto foi conduzido pela professora (UNB) e psicóloga Valeska Zanello, conhecida feminista brasileira e uma das mais profícuas pesquisadoras nesta área.

Zanello fez uma abordagem direta e provocante, convidando os/as acadêmicos/as a saírem de suas zonas de conforto para que, desta forma, pudessem entender a dinâmica cotidiana enfrentada pelas mulheres brasileiras que são marcadas, segundo a professora, por um machismo e misoginia estruturais e por formas institucionalizadas de violência. Para tanto, Valeska se utilizou de reportagens, propagandas e recursos audiovisuais.

De acordo com a professora, que fez um amplo levantamento histórico sobre as condutas e formas de interações de poder entre gêneros, a própria psicologia se colocou como um instrumento para “colonizar” as formas de atuação social da mulher (que são eminentemente performáticas, assim com as dos homens), delimitando modos de ser a priori específicos para a condição feminina, modos estes que, por vezes, reforçaram estigmas como o de que as mulheres necessariamente nasceram para ser mães. “Por isso, eu venho propondo uma revisão epistemológica da Psicologia, pois ainda nos baseamos em autores homens, que pertencem a uma dada classe social, de uma dada cor de pele e região do mundo. É preciso diversificar este olhar a partir da própria necessidade das mulheres”, reforçou Valeska, ao destacar a importância de empoderar a mulher para que esta ocupe o seu lugar de fala e, assim, seja a protagonista de sua história.

Valeska também comentou sobre as práticas institucionalizadas de violência contra a mulher, violências estas que de tão comuns já foram relativizadas socialmente, como a objetificação e hipersensualização da mulher. Ao final de sua apresentação, a palestrante foi bastante aplaudida e os/as acadêmicos/as interviram com uma série de questionamentos, sobretudo no que tange a dimensão da teoria da performatividade, de Butler, para quem os papeis de gênero não são naturais e, portanto, acabam sendo assimilados por processos históricos e performativos, repetitivos, sendo que os que ousam quebrar esta dinâmica são severamente punidos.

De acordo com a coordenadora do curso, profa. Dra. Irenides Teixeira, a palestra encerrou com maestria a semana de atividades. “Este espaço de produção do saber, onde o olhar do outro e o debate saudável predominam, faz do Ceulp/Ulbra uma referência regional em excelência. É gratificante ver a participação e envolvimento de todos, sobretudo em temas tão atuais e emergentes, que envolvem sobremaneira o profissional de psicologia”, pontuou.

O acadêmico Lenício Nascimento disse que “a palestra foi uma oportunidade única de estar diante de um tema novo, desafiador e enriquecedor. Ouvir a Valeska nos faz repensar nossa maneira de atuar mundo, ampliando o olhar e respeitando as diferenças”.

Para a próxima edição do CAOS, em breve a coordenação de Psicologia dará mais informações sobre o evento.

Psicólogo. Mestre em Comunicação e Sociedade (UFT). Pós-graduado em Docência Universitária, Comunicação e Novas Tecnologias (UNITINS) e em Psicologia Analítica (UNYLEYA-DF). Filósofo, pela Universidade Católica de Brasília. Bacharel em Comunicação Social (CEULP/ULBRA), com enfoque em Jornalismo Cultural; é editor do jornal e site O GIRASSOL, Coordenador Editorial do Portal (En)Cena.