Janinne Rodrigues – Psicóloga Clínica – E-mail: janinne.rod@gmail.com
Instagram: janinnerodrigues.psi
A ansiedade vem sendo assunto em todos os cantos, desde o consultório até as mesas de bar, é um assunto que gera dúvidas, curiosidades e angústias. As pessoas buscam encontrar formas para resolver os impactos que a ansiedade vem provocando no dia a dia, com isso junto à ansiedade, é comum encontrar alguns verbos como: “controlar”, “resolver”, “lutar contra”, “vencer”, buscando manter um controle sobre ela. Porém, segundo Pinto (2021) a melhor forma para lidar com a ansiedade é dialogando com a mesma, tirando-a do papel de vilã, e, essa será a discussão nesta resenha.
Aquelas sensações de: falta de ar, coração acelerado, sudorese, insônia, medo constante, pensamentos catastróficos, cansaço frequente, dificuldade de concentração, são alguns sinais que aparecem do nosso organismo chamando atenção para algo, são sofrimentos patológicos que circundam na história de cada pessoa, podendo ser genéticos, ambientais, afetivos, conscientes ou não, resultado dos mistérios da existência humana (PINTO,2021).
Nota-se que são sintomas que uma hora ou outra alguém já sentiu, assim a pessoa vai se identificar, porém, acaba gerando confusão e preocupação. Pensam na ansiedade como uma doença, que precisa de cura, ou por vezes até, como algo que já pertence a ela, quantas vezes escuta-se algo do tipo “é porque eu tenho ansiedade”, sim, de fato essa frase é real, todos têm ansiedade, a diferença é como ocorre a vivência dela de pessoa por pessoa, em cada situação (PINTO,2021).
Mas, o que é a ansiedade? Segundo Perls, Hefferline e Goodman (1977) a ansiedade é o vácuo que existe entre o agora e o depois, ou seja, é estar em um lugar que não é o agora e nem o depois. É aquele pensamento acelerado que tira a pessoa do presente, aquele momento que está pensando em tudo, menos no que está fazendo ou sentindo, é aquela sensação de estar aéreo, vazio.
A compreensão da ansiedade é complexa e muda de acordo com teorias, abordagens da psicologia e cada situação que a pessoa vive. Conforme Pinto (2021) a ansiedade é uma defesa que produz sinais de alerta no organismo humano, é uma vivência pessoal e saudável, um sinal insistente que se não der atenção pode provocar sofrimento e gerar ansiedade patológica. A ansiedade causa desconforto, germina necessidade de mudança, exige sair da zona de conforto, anunciando que algo precisa ser modificado.
Dessa forma, quando se fala de mudanças, muitas pessoas se mostram resistentes, tentando lutar contra essa energia. Conforme Perls, Hefferline e Goodman (1977) a ansiedade é uma excitação que ocorre no organismo e pode manifestar diversos comportamentos quando é interrompida, assim percebe-se que quanto mais luta, mais sofre.
Fonte: Organização Mundial da Saúde (OMS)
O Brasil é considerado o país mais ansioso do mundo e o quinto mais depressivo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Concordante, Pinto (2021) fala que a sociedade tenta lutar contra a ansiedade ao invés de compreender e dialogar com ela, o que acaba trazendo consequências danosas, se for repetitivas. Ela provoca desconforto, exige novos ajustamentos, dá sinal de que algo não está mais adequado e precisa ser flexibilizado. Diante disso, a ansiedade exige uma autorregulação pessoal, e esse é um dos objetivos da psicoterapia na abordagem da Gestalt.
A Gestalt é uma abordagem terapêutica que tem como foco a compreensão do indivíduo como um todo, considerando suas emoções, pensamentos e comportamentos em relação ao ambiente em que está inserido (PERLS; HEFFERLINE;GOODMAN, 1977). O manejo para tratamento da ansiedade pela Gestalt começa com a compreensão da experiência do indivíduo. O terapeuta busca entender como o paciente vivencia a ansiedade, quais são os pensamentos e emoções que o acompanham, e como ela afeta seu comportamento e suas relações interpessoais.
A partir dessa compreensão, o terapeuta pode ajudar o paciente a identificar e expressar suas emoções de forma mais clara e autônoma, e desenvolver uma maior consciência de si mesmo e do ambiente em que está inserido. Como por exemplo, ao ser escolhido para fazer uma apresentação, pode aparecer várias emoções no momento e muitas vezes o sujeito não pára para observar e identificá-las. Dependendo de como o indivíduo receber o convite para apresentação, a ansiedade poderá paralisar a pessoa e ela não conseguirá se preparar para apresentá-la, terá nervosismo, sudorese, gagueira, entre vários sintomas que aparecem, essa será uma ansiedade patológica, onde a pessoa não consegue se reajustar diante da situação.
Nesse ínterim, também tem a ansiedade saudável, que dentro desse exemplo, mesmo com várias emoções à tona, a pessoa consegue identificá-las, compreendê-las e se ajustar diante da situação. O sujeito se encontra aberto para novas exigências. Em ambos os casos, é necessário compreender como a ansiedade é vivida pela pessoa, qual sentido ela tem naquele momento, e daí encontrar o potencial para vivenciar essa apresentação de trabalho de forma criativa e saudável.
Para trabalhar com a ansiedade na linha da Gestalt, não interessa o episódio da ansiedade e não se trata da ansiedade como patologia, utiliza-se o termo para ficar mais fácil a compreensão da diferença das ansiedades. Na Gestalt trabalha-se com vivências, não trata por exemplo, da síndrome do pânico, mas trata das pessoas que estão vivenciando esse transtorno, entendendo que a vivência de uma pessoa será diferente da outra (PINTO, 2021).
O mesmo autor ainda relata que, para compreender melhor a ansiedade que cada um está sentindo, poderá trazer à terapia a ansiedade vivida ali no momento, dentro do setting terapêutico, ou relatar como algo que foi vivido no cotidiano. O terapeuta trará perguntas de “como”, “o que”, questões que permitirão dialogar com a ansiedade que está sendo emergida no presente da sessão terapêutica. Perguntas de : “como se sente nesse momento?”, “o que está passando por ai agora?”, “o que aconteceu agora quando você fala sobre isso?”.
Então o manejo não se refere a ansiedade, mas a vivência da ansiedade que o indivíduo experiencia naquela situação, e , assim a Gestalt atua em todos os outros campos, trabalhando diretamente com a vivência de cada sujeito dentro da sua realidade biológica, psicológica e social, dialogando com o que aparece como sinais de alerta no organismo, buscando suas potencialidades.
Em suma, para a abordagem gestáltica a ansiedade aparece na vida de todo ser humano, de acordo com Pinto (2021) é uma qualidade humana, que não tem como escapar e pode ser vivida de maneira saudável ou patológica. Assim, seu manejo depende da postura do terapeuta, da experiência observada e sentida pelo cliente, da compreensão da vivência no como e no agora, do diálogo com a ansiedade, promovendo a responsabilidade pessoal do cliente, ajudando-o a compreender que ele é o responsável e precisa buscar soluções criativas para viver de forma mais autônoma e satisfatória.
Referências:
PINTO, Ênio Brito. Dialogar com a ansiedade: uma vereda para o cuidado. São Paulo. Summus editorial, 2021,
PERLS, Frederick; HEFFERLINE, Ralph; GOODMAN, Paul. [tradução Fernando Rosa Ribeiro]. São Paulo: Summus, 1997.