“A mulher não existe. Temos de tomá-las uma a uma”.

Por Alano de Freitas

 

Há uma certa mulher na obra de Chico Buarque. Uma mulher apaixonada, algo passiva, disposta a tudo dar para seu homem. Uma mulher que “com açúcar e com afeto”, faz o doce preferido do amor que tarda. Não é diferente em Vinícius, já que em suas canções também identificamos uma certa mulher, agora com um quê de etéreo, feita para a apreciação e o deleite de quem a contempla. Para Vinícius, a mulher é aquela que passa e, apenas por ser bela, transforma o mundo e liquefaz a tristeza. Poderíamos também identificar uma determinada figura de mulher no samba, no axé, no funk  etc.

É curiosa a insistência em se tentar capturar a essência do feminino, algo que, sistemática e felizmente, se recusa à captura. Algo que, mais próximo do dito francês “Cherchez la femme!”, esconde-se e resvala a cada tentativa de busca.

Observando as imagens abaixo, temos dificuldade em conceber  uma figura específica de mulher. Não há uma mulher em Alano. Há delas gordas,magras, cansadas, paradas, em movimento, alegres e tristes. Talvez, Alano, analisado por anos, concorde com Lacan, que dizia – cheio de duplos sentidos, mas verdadeiramente – sobre a dificuldade de se conceber o feminino:  “A mulher não existe. Temos de tomá-las uma a uma”.

É isso que Alano faz…

Mardônio Parente