Há mais de mil anos, após a suposta descoberta dos restos mortais de Tiago, apóstolo de Cristo na Galícia (Espanha), nasceu um caminho de peregrinação que se transformou em uma das principais rotas da cristandade. Ao longo dos séculos, por razões políticas, espirituais, militares e econômicas foram se desenvolvendo monastérios, catedrais e castelos que cruzavam florestas, campos, montanhas e bosques ao longo dos quase oitocentos quilômetros. Por ali já passaram reis, santos, cavaleiros templários, salteadores e milhões de pessoas em busca de algo que transcendesse suas vidas. Nasceram fábulas e muito mistério. Vários outros caminhos acessórios surgiram, permanecendo o chamado Caminho Francês como o mais tradicional e penoso. Estende-se do sudoeste da França, atravessando o imponente monte dos Pirineus até chegar a Santiago de Compostela onde estariam os restos do apóstolo Tiago e também onde se adquire o certificado que atesta oficialmente a via crucis do peregrino.

Sejam por razões espirituais, esportivas, históricas ou meramente aventureiras, é assombroso que pequeninas estradas que se perdem dentro de florestas escuras e frias podem manter-se durante tanto tempo atraindo milhares de pessoas a cada ano, guiando-as ainda hoje, em pleno século XXI, apenas por setas amarelas, ora pintadas em pedras, ora no chão, ora em árvores, mas sempre ali indicando, certeiras o caminho, e denunciando que o aglomerado de tempo e matéria humana que por ali passa se transforma quanticamente em pura energia vibrante, instituinte de um novo sentido à vida dos peregrinos. Um lugar assim tem que ser visto e experimentado! É seguramente um dos tesouros mais preciosos que desde o ano 800 D.C nos escancara a pequenez individual diante da grandiosidade histórica da humanidade.

Médico Psiquiatra com pós graduação pela Universidade Complutense de Madrid-Espanha e Servizio di Saluti Mental de Trieste-Itália; especialista em psiquiatria pela AMB e ABP. Mestre em Ciências da Saúde pela UNB.