Henri Paul Hyacinthe Wallon: vida e obra

Ana Carla Olímpio Soares- anacarlaolimpio@rede.ulbra.br

Henri Paul Hyacinthe Wallon, nascido no dia 15 de junho de 1879, em Paris, França. Wallon foi um filósofo, médico, psicólogo, exerceu a docência no Departamento de Psicologia do College de France e desempenhou até mesmo papel político, seguindo os passos de seu avô. No ano de 1899, de acordo com Frazão (2018), teve seu primeiro contato com a Escola Normal Superior, onde formou-se em filosofia, logo após, no ano de 1908, formou-se em sua segunda graduação, sendo medicina. Seguindo a carreira de médico, em 1914 prestou serviços como médico durante o período da Primeira Guerra Mundial.

Com o passar dos anos, Henri Paul Hyacinthe Wallon empenhou-se em seu trabalho na área da medicina no ramo da psiquiatria dando foco principal crianças portadoras de deficiência mental ou problemas em suas habilidades motoras. A partir de 1920, conforme Frazão (2018), Wallon se torna encarregado pelas conferências sobre Psicologia da Criança em algumas universidades. No ano de 1925, ele realiza a publicação de sua tese de doutorado intitulada de “A criança turbulenta”, sendo esse, de acordo com informações bibliográficas, um marco em suas produções de artigos direcionadas à área da Psicologia da Criança.

Fonte:

O interesse de Wallon pelas crianças com problemas motores ou deficiência mental, se fortalece por meio da sua atuação na linha de frente com o exército ao ficar lidando com os soldados que apresentavam lesões cerebrais como consequência da guerra enfrentada. De acordo com Cavalcante (2018), Wallon acreditava “a atividade mental tem sua sede em um órgão que depende de sua higidez, ou seja, de um estado de saúde perfeito”. Além disso, “afirma que a emoção é formada por reações orgânicas, controladas por centros cerebrais específicos, e caracterizada por transformações corporais visíveis. Essas transformações são os resultados da interação entre as funções tônica e clônica, onde ao mobilizar o meio social, possibilita o nascimento da consciência” (Silva, 2007 apud Cavalcante, 2018).

Enquanto isso, no ano de 1925, Henri Paul Hyacinthe Wallon é nomeado a diretor do laboratório de psicobiologia da criança na “Escola Prática de Estudos Avançados”, sendo esse, um meio de continuar com as pesquisas e o ensino. Cavalgante (2018) coloca que Wallon deu foco na psicomotricidade e nos mecanismos da memória ou capacidade de julgamento moral na área infantil. Ainda realiza o lançamento de obras que se tornaram grandiosas, como é o exemplo de “A evolução psicológica da criança”, “Do ato ao pensamento” e “As origens do pensamento na criança”. Ao mesmo tempo em que estava dedicando seus estudos à área da Psicologia da Criança, conforme Silva (2007) apud Cavalcante (2018), apesar de suas evoluções em seus estudos, Wallon viveu em uma época marcada de conflitos no campo social e vivenciando períodos de guerra.

Silva (2007) apud Cavalcante (2018) descreve momentos de conflitos, pois Henri Wallon ao viver os períodos das guerras, devido aos seus ideais políticos mais humanizados e antifascista, levou Wallon a ser perseguido pela Gestapo nazista. Como consequência, precisou viver de forma clandestina, vivendo em lugares em que o deixava em situação de risco, não podia usar seu próprio nome, sendo necessário o uso de um pseudônimo, René Hubert, de acordo com os autores, tudo isso com o intuito de tentar fugir do governo de Vichy e os policiais de Hitler.

Fonte:

Assim como seu avô, Wallon também foi uma personalidade ativa no campo político. Filiou-se ao Partido Comunista, que de acordo com Cavalcante (2018), era admirador. Após esse momento, em 1944, foi nomeado secretário geral do Ministério da Educação Nacional e instituiu na França a área da Psicologia Escolar. Quando em 1945, ao lançar a obra “As origens do pensamento na criança”, buscou defender, de acordo com a autora, que as diferentes etapas do desenvolvimento das crianças se dão em forma de alternância e preponderância funcional, sendo dividida entre aspectos emocionais e cognitivos.

No ano seguinte, Henri Wallon tornou-se eleito a deputado em Paris, onde ao ter espaço na Assembleia Constituinte, de acordo com Cavalcante (2018), buscou evidenciar uma nova visão política, em que existisse uma educação que se adequasse ao perfil de uma sociedade democrática, como trazida pela autora, uma educação mais justa. Essa tentativa se deu por meio do trabalho realizado nos anos de 1945 a 1947, onde procurava meios de rever o sistema educacional da França baseados nos princípios da justiça e dignidade. Cavalcante (2018) coloca que o projeto proposto por Wallon e outras personalidades ligadas a ele, apresentava valorização à cultura e destaque na educação, onde se faz necessário ter em primeiro momento uma orientação escolar para apenas depois ter a profissional.

Fonte:

Seguindo avanços, Wallon fundou  no ano de 1948 a revista nomeada de “Enfance”, essa apresentava cunho científico, onde ele realizava publicações de artigos referentes a psicologia e educação, Cavalcante (2018) traz que Wallon tinha o intuito de fornecer materiais aos pesquisadores ligados aos assuntos na época, esses materiais consistem em conteúdos próprios e trabalhos em conjuntos com outros autores. A autora traz alguns exemplos de publicações realizadas por Wallon, como “As Etapas da Sociabilidade na Criança”, escrito em 1952, que fizeram parte da coletânea “Psicologia e Educação da Infância” e os artigos: “A Evolução Dialética da Personalidade”, escrito em 1951, e “As Etapas da Personalidade na Criança”, de 1956, publicados na coletânea “Objetivos e Métodos da Psicologia”.

“Wallon se aposentou em 1949, mas manteve suas atividades científicas em seu laboratório até 1953. Posteriormente, continuou as investigações na sua residência devido a um acidente que o deixou paraplégico. Faleceu em 1 de dezembro de 1962, aos 83 anos, quando preparava seu último artigo “Mémoire et raisonnement” [Memória e]. Deixou uma vasta obra sobre a aprendizagem e o desenvolvimento humano. Sua teoria demonstra que a vida psíquica é consequência dinâmica da interação do indivíduo com o meio geográfico e humano” (Cavalcante, 2018).

Cavalcante (2018) traz em seu estudo diversos outros autores em que trazem que a entrada de Wallon na psicologia encontra-se bastante ligada ao contexto escolar. “Considerava que entre a psicologia e a pedagogia deveria haver: uma relação de contribuição recíproca” (Galvão, 2014 apud Cavalcante, 2018), Henri Wallon visualizava a pedagogia como um campo amplo de observação e investigação para a psicologia. Ao contrário, a autora traz que a psicologia servia como meio de oferecer melhora para a prática educacional.

Referente aos estudos produzidos por Wallon, ele propõe em sua teoria do desenvolvimento que crianças durante o desenvolvimento perpassam por 05 estágios de desenvolvimento, onde cada um desses estágios apresentará características próprias da criança e até mesmo dependerá do meio em que ela está inserida. O primeiro estágio, Wallon nomeou de “Impulsivo Emocional”, esse destaca-se no momento em que compreende a etapa do nascimento ao primeiro ano de vida. De acordo com Francelino (2022), a comunicação efetuada com o bebê ocorre por meio do emocional afetivo, em que contará com uma interação entre a criança e o meio social e se dará por meio de gestos que por vezes, o autor coloca que será desordenado e de total dependência desse meio.

Ao passar para a segunda etapa, Francelino (2022) traz o Sensório-Motor e Projetivo, em que consiste em uma maior aproximação da criança com o meio em que está habitando. Nesse estágio, ocorre uma maior percepção da criança com os objetos que estão próximos, inicia movimentos mais coordenados o que irá permitir os primeiros passos dados pelo bebê. “O pensamento projeta-se em ‘atos motores’. O domínio funcional é cognitivo, exteroceptivo, voltando para o meio social. Desenvolvimento da linguagem e predomínio das funções cognitivas.” (Francelino, 2022). “A aquisição da marcha e da preensão possibilitam-lhe maior autonomia na manipulação de objetos e na exploração de espaços” (Galvão, 1995, p. 44 apud Francelino, 2022).

Referente a terceira etapa, Francelino (2022) traz o Estágio Personalista, nesse momento ocorre a formação da personalidade da criança. Começa a desenvolver a consciência de si própria, essa será efetivada por meio das relações sociais, junto com esse desenvolvimento, ocorre o surgimento de conflitos, pois será o momento em que a criança buscará por independência. Após, vem o quarto estágio, nomeado de Categorial ou Escolar. Nesse momento poderá ser observado o surgimento da capacidade da criança em nomear as coisas, objetos e até mesmo os sentimentos, começa o desenvolvimento de classificar e diferenciar as coisas.

Ao passar para a última fase, o autor Francelino (2022) traz o Estágio da puberdade ou adolescência. Ocorrência de mudanças químico-físicas que dará mais ênfase aos conflitos internos relacionados à afetividade. O autor ainda expõe que é o momento em que há o surgimento da autoafirmação de si, estruturação do raciocínio lógico, predomínio da afetividade e até mesmo o surgimento da “rebeldia”.

Além de propor os cinco estágios, conforme exposto por Francelino (2018), Wallon dava bastante importância ao campo afetivo no processo de aprendizagem. Ademais, a interação com o meio ambiente também é de fundamental importância para esse processo de desenvolvimento. “O indivíduo é um ser social que se desenvolve de acordo com a convivência e interação com indivíduos da mesma espécie no decorrer da sua vida, por isso é importante estabelecer uma boa relação entre professor/aluno. Também é por meio dessa relação que o indivíduo desenvolve o cognitivo e intelectual” (Cavalcante, 2018).

De acordo com o que é relatado por Cavalcante (2018), Wallon, no ano de 1949, passou a dar continuidade em seus estudos e produções científicas de casa, pois havia sofrido um acidente que como consequência, deixou-o paraplégico. Em 01 de dezembro de 1962, Wallon morreu com 83 anos de vida e de acordo com a autora, estava trabalhando no seu último artigo produzido. Apesar de ter morrido há bastante tempo, Henri Paul Hyacinthe Wallon ainda é presente até o momento atual com seus estudos nos âmbitos acadêmicos, servindo como base para uma melhor compreensão e ponto de vista diferente sobre o processo de aprendizagem, desenvolvimento humano e como o meio social é um fator importante nesse processo também.

 

Referências

CAVALCANTE, Raquel Maria Santos. Henri Wallon, afeto e aprendizagem: um percurso teórico. Tese (Mestrado para a obtenção do grau de mestra em Teologia) – Faculdades EST. Programa de Pós-Graduação Mestrado Profissional em Teologia. Linha de Pesquisa: Ética e Gestão. São Leopoldo, p. 60. 2018. Disponível em: <http://dspace.est.edu.br:8080/jspui/handle/BR-SlFE/921> Acesso em: 24 mar. 2023.

FRANCELINO, Ricardo. Emoções e sentimentos no processo de ensino e aprendizagem: contribuições da teoria de Henri Wallon. Editora Dialética, 2022. Disponível em < https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=zkFnEAAAQBAJ&oi=fnd&pg=PT5&dq=henri+paul+hyacinthe+wallon+teoria+desenvolvimentista&ots=1XonM_R7I2&sig=k0LHI0paBh9xtLzy84EyrIZqEQE#v=onepage&q&f=false> Acesso em: 01 abr. 2023.

FRAZÃO, Dilva. Biografia de Henri Paul Hyacinthe Wallon. eBiografia: biografias de famosos, resumo da vida, obras, carreira e legado. 2018. Disponível em: <https://www.ebiografia.com/henri_paul_hyacinthe_wallon/> Acesso em: 24 mar. 2023.