A história é contínua: prevenção e promoção de saúde mental do idoso
29 de dezembro de 2023 Alexia Regina Santos
Insight
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Envelhecer com qualidade de vida recebeu a nomenclatura de envelhecimento ativo, o que implica em oportunidades de saúde, sociabilidade e segurança aos idosos. O termo envelhecimento ativo foi adotado pela Organização Mundial da Saúde para representar um desejo comum de que a velhice seja uma experiência positiva. Mas para isso é necessário o comprometimento de pessoas e de instituições públicas e privadas. Estar ativo é ter a possibilidade de participação contínua nas questões sociais, econômicas, culturais, espirituais e civis.
Isso traz a solidariedade entre as gerações como essencial para o envelhecimento ativo, já que o adulto é o idoso de amanhã.
O envelhecimento é o principal fator de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas, incluindo o câncer. As neoplasias representam mais de 45% dos óbitos em indivíduos acima de 80 anos, com tendência a um aumento gradativo de suas taxas de mortalidade. São Paulo: Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP, 2012)
De acordo com dados do Ministério da Saúde de 2018, há alta taxa de suicídio entre idosos com mais de 70 anos. Nessa faixa etária, foi registrada a taxa média de 8,9 mortes a cada 100 mil idosos. Para fins comparativos, a taxa média nacional é de 5,5 por 100 mil. BRASIL. Ministério da Saúde.. Portaria Nº 529, de 01º de abril de 2013.
Fonte:Freepick.com
Segundo a última Pesquisa Nacional de Saúde, realizada em 2019 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística a doença atinge cerca de 13% da população entre os 60 e 64 anos de idade. Ao redor do mundo, o transtorno afeta, em média, 264 milhões de pessoas de todas as idades. O abandono familiar e o sentimento de inutilidade são duas das principais causas de depressão no idoso. (IBGE, 2019)
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define os cuidados paliativos como uma abordagem que busca proporcionar a melhor qualidade de vida possível para pacientes e familiares que enfrentam doenças que ameaçam a vida por meio do alívio do sofrimento, tratamento da dor e de outros problemas físicos, psicológicos e espirituais
Para que haja um envelhecimento saudável, os bons hábitos precisam ser cultivados, como alimentação, atividades e sono de qualidade. Outra prática crucial é a interação social para que o idoso se sinta amado, respeitado e como pertencimento de onde está.
Fonte: google/imagens.com
Outra dica é evitar estereótipos e não se referir aos idosos com termos pejorativos como “ranzinza”, “teimoso” e “gagá”. Há uma diversidade muito grande no envelhecimento, com idosos conectados às redes sociais, que namoram, saem com amigos, enquanto outros seguem uma rotina mais tranquila. O importante é que os vínculos familiares se fortaleçam, que cada um respeite suas individualidades e estejam abertos às adaptações do processo de envelhecer.
Na terceira idade acontecem diversas mudanças psicossociais, vida pessoal e profissional das pessoas, além disso, alguns sintomas físicos e psíquicos começam a surgir como a diminuição da visão, a perda ou aumento de peso, maior dificuldade para se locomover, perdas cognitivas e outros. De acordo com Cataldo, por mais que esse processo seja natural, vivenciar essas mudanças no corpo e no âmbito social podem afetar a saúde mental das pessoas idosas
As percepções sobre o processo do envelhecer e adoecer denotam que, para eles, envelhecer constituiu um privilégio e, apesar das dificuldades, são gratos pela vida, por isso experimentaram integridade em vez de desesperança. Não obstante, o adoecimento e o acesso ao tratamento são percebidos como eventos geradores de estresse, constituindo fonte de angústia e sofrimento. Para fazer frente às perdas e adversidades do envelhecer e adoecer utilizam, sobretudo, as estratégias de enfrentamento características de um processo resiliente, destacando-se: o suporte espiritual, a reestruturação cognitiva e a aceitação.
Entende-se que a compreensão, pela equipe de saúde, das estratégias de enfrentamento dos doentes pode agregar qualidade no cuidado prestado a eles. Logo, sugere-se que essa temática seja difundida principalmente entre os profissionais que prestam cuidados aos idosos em cuidados paliativos por meio de discussões em grupo e atividades de educação continuada nas instituições de saúde.
Referência:
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 529, de 1º de abril de 2013. Institui o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP). Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2013. Disponível em: https://bvsms.saude.gov. br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt0529_01_04_2013.html. Acesso em: 04 dez. 2023.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida.
Academia Nacional de Cuidados Paliativos. Manual de cuidados paliativos. 2ª ed. São Paulo: ANCP; 2012.
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Ajude uma mulher vítima de violência doméstica: denuncie!!
Celebrado no dia 25 de novembro, o Dia Internacional de Combate à Violência Contra a Mulher, buscar incentivar o ato da denúncia, contra toda forma de violência a mulher, em todos os quatros cantos do mundo. De acordo com relatoria divulgado este ano, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), uma em cada três mulheres são submetidas as violências física e sexual por parte do parceiro. Conforme a organização, ao todo são 736 milhões de mulheres vítimas de violência ao longo da vida.
Segundo a OMS, as mulheres na faixa de etária de 15 a 24 aos, são as que mais sofrem violência praticada pelo parceiro, sendo que com a pandemia da Covid-19, houve um aumento nos casos de violência doméstica, em todo mundo. Entre os motivos explica a organização internacional, estão as medidas de lockdown, em que a mulher passou a ficar mais tempo dentro de casa junto ao companheiro. No Brasil não foi diferente, dados divulgados pelo Ministério da Família e Direitos Humanos, em 2020, informa que houve mais de 100 mil denúncias relacionadas a violência doméstica, pelo canal de atendimento 180.
Vieira (2020) apontam que as restrições às redes institucionais e familiares de apoio à mulher, a diminuição da renda familiar, estão entre as causas de aumento da violência contra a mulher no período mais crítico da pandemia, no Brasil. “A ampliação da manipulação do agressor sobre a vítima em razão do maior tempo de convivência, aumento dos níveis de estresse e aumento do consumo de álcool”, são outros fatores também, acrescentam Vieira (2020).
Fonte: Freepick
Sobre o assunto, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) realizou, este ano, a 3ª edição do relatório denominado, A Vitimização das Mulheres do Brasil, o qual destacou que 24,4% das mulheres entrevistadas sofreram algum tipo de violência, na pandemia. Em primeiro lugar com 18,6% está insulto, humilhação ou xingamento, enquanto ameaça de apanhar, empurrar ou chutar corresponde ao segundo na pesquisa com 8,5%. Infelizmente a agressão ultrapassa a esfera psicológica, considerada violência também, já que 1,5% das mulheres foram esfaqueadas ou levaram tiro; 27% tiveram algum tipo de lesão provocada por algum tipo de objeto que lhe foi atirado.
Os dados são assustadores, por isso é preciso que exista o engajamento da sociedade civil, poder pública e privado para a elaboração de políticas públicas mais eficazes no combate a violência contra a mulher, no Brasil. Atualmente a Lei de Nº 11.340, conhecida como Maria da Penha, criminaliza a violência doméstica e familiar contra a mulher. A lei entrou em vigor, no ano de 2006, mas ainda sofre duras críticas pelo fato do agressor não respeitar as medidas restritivas contra a mulher, e em alguns casos com ocorrência ao feminicídio, crime de ódio contra a mulher.
Caso veja uma mulher sofrendo algum tipo de violência psicológica e física denuncie nos canais de atendimento, por meio do número 180, Central de Atendimento à Mulher. Incentive a mulher a realizar um boletim de ocorrência na delegacia especializada da Mulher, o boletim pode ser feito virtualmente também. O órgão de segurança oferece também o disque denúncia pelo 197. Juntos na luta contra a violência doméstica contra a mulher.
VIEIRA, P.R; GARCIA, L.P; MACIEL, E.L.N. Isolamento social e aumento da violência doméstica: o que isso nos revela? Revista Brasileira de Epidemiologia 2020; 23.
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Terapia, muito amor e atividade física podem ajuda a recuperar a saúde mental dos idosos no pós-pandemia
A crise sanitária ocasionada pela pandemia da Covid-19 mudou a rotina de todas as pessoas dos quatro cantos do mundo, como o uso obrigatório da máscara e o distanciamento social, como forma de conter o avanço do vírus e salvar vidas. No Brasil o cenário não foi diferente, todos se viram obrigados a ficar o maior tempo possível dentro de casa, como forma de prevenção da doença. No entanto, a sociedade não esteva preparada para enfrentar uma pandemia, em especial, a terceira idade, que foi a mais afetada pelo coronavírus.
Considerada o grupo mais vulnerável a contrair o vírus, a terceira idade teve sua rotina totalmente modificada, e por recomendação da OMS, os familiares tiveram que evitar as visitas para não contaminarem os parentes mais velhos. Então, muitos avós celebraram virtualmente os aniversários dos filhos e netos, e as declarações de amor e abraços calorosos, foram substituídos por mensagens de áudio e abraços virtuais. Ninguém estava preparado para essa mudança, situação que mexeu com a emoção de muito idoso.
Sobre o assunto, Rodriguez (2020) explica que as pessoas idosas, fazem parte do grupo de maior risco para a COVID-19, devido à maior exposição à comorbidades associadas ao aumento da letalidade da doença. Ou seja, por ser o grupo prioritário, foi preciso precaução para evitar o contágio, mesmo assim, muitos idosos morreram, antes da entrega da vacina em massa. Fatores que desencadearam efeitos psicológicos nesse público.
Fonte: Freepick
Insônia, medo de ser contaminado, ansiedade, bem como as preocupações com os familiares, além da frustração por não saber como seria o desfecho da pandemia são alguns fatores que afetaram a saúde mental do grupo pertencente à terceira idade informaram Rocha, Dias, Silva, Lourenço e Santos (2020). Ainda reforçam que a falta de atividade física, pelo fato de ficarem mais tempo em casa, contribuiu para o desgaste emocional.
De acordo com Fiorillho e Gorwood (2020) o aumento da solidão por não estarem mais próximos dos familiares fisicamente, como consequência a redução das interações sociais colaboraram para que muito idoso desenvolvesse quadros de depressão geriátrica. E foi para evitar uma depressão por morar sozinho, o ator Ary Fontoura, de 88 anos, resolveu compartilhar sua rotina durante o lockdown, que fez um sucesso nacional, o que acumulou para o artista três milhões de seguidores, no Instagram. Atividades físicas, receitas estão entre seus postes que mais rederam likes nas redes sociais.
Fonte: Freepick
Infelizmente a história de muitos idosos foram diferentes do ator global, e por isso é necessário a procura de um profissional para ajudar a equilibrar e curar as dores emocionais, de muitas pessoas, em especial, da terceira idade, o que irá trazer uma melhor qualidade de vida, em especial a aqueles que perderam entes queridos. Ademais agora que os estabelecimentos voltaram a funcionar, incentive o idoso da sua família a fazer atividade física orientada, para evitar qualquer tipo de lesão. Por fim, faça muitas visitas aos seus familiares, que já estão na terceira idade, só não se esqueça de usar álcool gel e máscara em lugares públicos.
Referências
Fiorillho A, Gorwood P. The consequences of the COVID-19 pandemic on mental health and implications for clinical practice. Eur Psychiatry( 2020)
A crise sanitária mundial ocasionada pela pandemia da Covid 19, iniciada em Wuhan, na China, no ano anterior, trouxe várias consequências negativas à saúde mental da humanidade, nos quatros cantos do mundo. No Brasil, não foi diferente. Conhecido por ser um povo alegre e festeiro, o brasileiro viu-se obrigado a ficar mais tempo, em casa, bem como foi preciso manter um distanciamento social, para evitar a disseminação do vírus. Apesar da vacina ter sido elaborada, em tempo recorde, e distribuída para imunização em massa, os efeitos do coronavírus à saúde mental das pessoas não passaram. Haja vista que durante a pandemia, muitos indivíduos perderam familiares, vítimas do vírus, outros o emprego. Situações que contribuíram para o desequilíbrio emocional de muita gente.
Outro fator que levou muitos brasileiros ao desespero, foi o consumo desenfreado de fakes sobre a doença. Torales, O’Higgin, Castaldelli, Ventriglio (2020) apontam que a falta de uma fonte confiável aumentaram a incerteza e o medo do indivíduo, em face ao desconhecido. Efeito agravado no Brasil, pela crise institucional entre o Governo Federal e os Estados da federação, informou a revista científica Lancet (2020), bem como os veículos brasileiros de comunicação. “Conforme editorial escrito na Lancet” (2020), o Brasil atravessou a pandemia em meio a uma crise político-institucional de grandes proporções, pelo fato dos governantes terem um posicionamento diferente ao enfrentamento da doença, que vitimou mais de 600 mil brasileiros, informou a Organização Mundial de Saúde (OMS).
A Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais de Saúde (CNDS, 2008) observa que a equidade ganha cada vez mais destaque no debate brasileiro e mundial a respeito da organização dos sistemas de saúde, para responder à questão de como melhorar o acesso e resolubilidade do sistema, para diminuir as imensas disparidades no estado de saúde entre indivíduos, grupos da população e países. Nesse sentindo, o Sistema Único de Saúde (SUS) foi determinante para o recebimento de diversos pacientes com Covid, 19, haja vista que a rede particular de saúde não conseguiria atender a demanda de pessoas, bem como nem todo mundo tem condições de arcar com um plano de saúde.
As ondas da pandemia foram um verdadeiro cenário de guerra, a humanidade não estava preparada emocionalmente para viver um cenário pandêmico que vitimou muitas famílias. As cenas de filas de carros de funerária em cemitérios de todo o país, para enterrarem os mortos pela Covid 19, ficou eternizado na memória de cada brasileiro. A saúde mental de quem perdeu alguém precisa ser levada em consideração, muitos perderam todo uma família, os relatos podem ser assistidos pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid.
Fonte: Freepick
Outro ponto é a crise econômica, no Brasil, tem tirado o sono de muitos brasileiros, que são arrimos de família, ou seja, provedores dos lares. Situação que provoca um quadro de ansiedade e até mesmo de depressão, em muitas pessoas, por não saberem, como lidar com as dívidas, e não deixar faltar o alimento aos entes. Esse cenário pode ser explicado pela alta da inflação, a qual influencia diretamente no aumento dos preços. Somente este ano, o gás de cozinha e a gasolina aumentaram mais de uma vez, fora o aumento da cesta básica. Sobre o assunto, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), disse que a economia brasileira encolheu 4,1%, no ano de 2020. Segundo o órgão os problemas de ordem econômica foram piorados com a pandemia, que deixou muitas pessoas desempregadas.
Os últimos dois anos não têm sido fáceis para o povo brasileiro, o qual vivencia uma crise econômica e de saúde, oriundas da pandemia. Fatores que interferem na saúde emocional de uma forma direta. Por isso, é necessário cuidar da mente, por meio do SUS, que oferece tratamento gratuito. É preciso falar sobre saúde mental, em especial, em momentos de crise. Além de buscar ajuda profissional evite ficar ligado muito tempo no noticiário, concentra-se em soluções.
Fonte: Freepick
Referência
Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais de Saúde (CNDS,2008)“As causas sociais das iniquidades em saúde no Brasil.
Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE)(2020). Disponível em < https://www.ibge.gov.br/> Acesso: 27, de out de 2021.
Organização Mundial de Saúde (OMS)
Revista Eletrônica BBC. PIB: Pandemia agrava o que seria pior década de crescimento do Brasil em mais de um século. Publicação 3 de março, de 2021. Disponível em < https://www.bbc.com/portuguese/brasil-56257245> Acesso. 27, de out de 2021.
Brasil, Senado Federal. Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), da Covid 19.
Torales J, O’Higgins M, Castaldelli-Maia JM, Ventriglio A. The outbreak of COVID-19 coronavirus and its impact on global mental health. Int J Soc Psychiatry. 2020.
The Lancet. COVID-19 in Brazil: “So what ?” (Editorial). Lancet. 2020.
O termo saúde segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), nos remete a um estado de completo bem-estar, que pode ser físico, mental e social, que não representa apenas a ausência de doenças ou enfermidades. Entende-se que este conceito de saúde recebeu inúmeras críticas, por ter um significado irreal, no qual as diversas limitações humanas e ambientais fariam o estado de completo bem-estar impossível de ser alcançadas (GAINO et al., 2018).
No que tange à Saúde mental, percebe-se que por muito tempo o discurso psiquiátrico prevaleceu, que a entendia como oposta à loucura. A ideia era de que a pessoa com algum transtorno era “louca” e que a mesma não teria discernimento para gerir sua vida, como se suas crises ou sintomas fossem contínuos (GANIO et al.,2018).
Fica evidente que as críticas recebidas em torno do tema saúde resultaram em discussões sobre o novo paradigma de “Saúde” que passa a ser vista como produção social, com base na abordagem da medicina preventiva e da saúde integrativa. O conceito foi revisado e discutido principalmente na 8° Conferencia Nacional de Saúde (1986), gerando um movimento que buscava a desinstitucionalização deste termo, provocando mudanças na forma de pensar sobre as concepções de saúde mental, embasadas no movimento da Reforma Psiquiátrica (AREND et al .,2017).
Em 2017, a Organização Mundial de Saúde – OMS define saúde mental como um estado de bem-estar onde o indivíduo percebe suas habilidades, lidando com os estressores do cotidiano, podendo trabalhar com produtividade e sendo capaz de contribuir positivamente para a comunidade. Percebe-se que o termo ‘’bem-estar’’ está presente na definição da OMS tanto para o conceito de saúde, quanto para saúde mental.
A ausência de saúde mental pode comprometer diversas áreas da vida do indivíduo, tais como: esfera profissional; esfera afetivo relacional; pode envolver as condições do corpo, influenciando a qualidade do sono, apetite, a motivação do dia-a-dia e também hábitos e estilo de vida; pode afetar padrões de comportamento, de pensamento e de interações sociais (MORAIS et al., 2012).
Durante nossa rotina, a saúde mental acaba sendo pouco compreendida – por vezes nem mesmo é percebida – devido a seu caráter invisível, ou seja, ela não é tão óbvia quanto algumas limitações físicas que nós podemos apresentar. Isso faz com que as pessoas criem expectativas irrealistas sobre a forma como a saúde funciona e as formas de cuidar da saúde mental, ou de como lidar com o sofrimento humano (GAINO et al.,2018).
Segundo Amarante (2007), para além de como nos sentimos e experienciamos os acontecimentos da vida, saúde mental também é área do conhecimento, que diz respeito ao estado mental dos sujeitos e das coletividades. Percebe-se também que nesse contexto de saúde mental, o paciente, a família e os profissionais são os maiores provedores de cuidado. E isso exige que haja articulação entre os serviços de saúde que contém os diferentes os diferentes níveis de atenção (CARDOSO; GALERA, 2011).
Cardoso e Galera (2011) postulam que o cuidado em saúde mental não se limita apenas em reduzir as internações ou controlar os sintomas. Este cuidado atualmente envolve questões sociais, pessoais, emocionais e financeiras, têm relação com a convivência e com o adoecimento mental. Ou seja, é melhor compreender a saúde mental, quebrando suas barreiras ao cuidado digno dessas pessoas adoecidas.
Referências
AMARANTE, Paul. Saúde Mental e atenção psicossocial. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2007.
CARDOSO, Lucilene; GALERA, Sueli Aparecida Frari. O cuidado em saúde mental na atualidade. Revista da Escola de Enfermagem da USP, v. 45, n. 3, p. 687-691, 2011.
GAINO, Loraine Vivian et al. O conceito de saúde mental para profissionais de saúde. SMAD Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool e Drogas (Edição em Português), v. 14, n. 2, p. 108-116, 2018.
MORAIS, Camila Aquino et al. Concepções de saúde e doença mental na perspectiva de jovens brasileiros. Estudos de Psicologia (Natal), v. 17, n. 3, p. 369-379, 2012.
Organização Mundial da Saúde. Constituição da Organização Mundial da Saúde (OMS/WHO) – 1946. 2017.
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REIKI – energia e acolhida durante a pandemia
16 de fevereiro de 2021 Carolina Vieira de Paula
Mural
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Você conhece o REIKI?
Trata-se de uma terapia integrativa, na qual o profissional estende suas mãos sob partes do corpo do paciente para canalizar energia vital universal, com a finalidade de reestabelecer o equilíbrio físico (orgânico), regularizar suas funções vitais e equilibrar o campo mental e emocional.
Segundo o site, www.minhavida.com.br, o REIKI é reconhecido como “técnica pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e também é aplicado no Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil, através do projeto de Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares, que contempla outros tratamentos alternativos, como meditação, arteterapia, musicoterapia, tratamento naturopático e quiropraxia”.
Durante a pandemia da COVID 19, a clínica Espaço Acolher de Palmas-TO vem desenvolvendo um trabalho gratuito de REIKI presencial, por agendamento, ou à distância, toda terça feira, das 21 às 21:30. O trabalho apoia pessoas a reequilibrar seus chacras e a fortalecer sua energia vital nestes tempos adoecedores. Para participar da iniciativa, basta acessar o instagram da @espacoacolherto ou o whatsapp (98111 5373), colocar seu nome na lista disponível no feed e se preparar para relaxar e se reenergizar.
Somos imersos em nossas próprias incapacidades e temos que lidar com a própria impotência de não saber de tudo.
O executivo da área de telecomunicações Nabor Coutinho de Oliveira Júnior, 43 anos, é o principal suspeito de assassinar a mulher e os dois filhos antes de ter cometido suicídio. O crime ocorreu numa manhã de segunda-feira, em um condomínio de classe média alta na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio.
O prédio do Fórum Trabalhista Ruy Barbosa, na Zona Oeste de São Paulo, foi cenário para mais um ato de suicídio. O caso aconteceu também numa segunda, quando um pai se jogou do décimo sétimo andar com o filho nos braços. O edifício, inclusive, já totaliza desde 2007, 7 casos de suicídio.
Um dos motivos mais comuns a consumar o suicídio é proveniente de depressão, situação na qual a pessoa vai perdendo sua própria identidade, descuidando de si próprio. A pessoa fica engessada a pensamentos negativos até permanecer apática e melancólica em relação a si, às pessoas e à vida. O segundo maior motivo de suicídio é a esquizofrenia e a terceira o uso de substâncias tóxicas, conforme dados da OMS (Organização Mundial da Saúde).
Fonte: encurtador.com.br/hIOW6
Taxas
A própria entidade conduziu um estudo e elaborou uma lista dos dez países com as maiores taxas de suicídio. Encabeçando a lista temos a Guiana. O país com o maior número de suicídios do mundo é nosso vizinho, fazendo divisa com Roraima e Pará. A Guiana – 44 casos para cada 100 mil habitantes – sofre com problemas de saúde pública, pobreza rural e abuso de álcool, e é por isso que vários de seus cidadãos tiram suas próprias vidas. São citados ainda a Lituânia, em quinto lugar, com 28 casos, e é o país com o maior número de suicídios na Europa, e as Coreias, a do Norte em segundo lugar, com 38 casos, e a do Sul, em terceiro lugar, com 29 casos.
O suicídio se divide em algumas categorias, como o suicídio consumado, ou seja, o ato concretizado. Caso não aconteça, o suicídio é frustrado. Porque por alguma causa a intenção não foi sustentada pelo indivíduo. A intenção de suicídio é um dano autoinfligido e com o intuito de morrer ou causar fortes lesões. Este comportamento aproxima-se da concepção dos gestos suicidas que são comportamentos também destrutivos e permeados de significados inconscientes.
Ainda a estas categorias temos o suicídio coletivo, grupo de pessoas que, geralmente, induzidas por um líder, são conduzidas a concretizar o ato. Caso que ilustra isso aconteceu nos Estados Unidos em 18 de Novembro de 1978, quando Jim Jones, líder de uma seita religiosa promoveu um suicídio coletivo de 918 pessoas, sendo 270 crianças, através da ingestão de veneno.
Fonte: encurtador.com.br/kqyR5
Freud
O psicanalista Sigmund Freud, em uma de suas teorias, descreve a pulsão, uma pressão ou força (carga energética, fator de motricidade) que faz o organismo tender para um objetivo. Embora não seja instinto, a pulsão é uma energia que transita entre o psiquismo e o aspecto somático, força propulsora da personalidade. Existe uma dualidade entre as pulsões, Eros (vida) e Tânatos (morte).
Uma pulsão de vida é construtiva e faz com que a pessoa consiga enaltecer características próprias e ao prazer de si mesmo. Já na pulsão de morte acontece a redução completa das tensões, ou seja, são pulsões autodestrutivas e conduzem a pessoa a um estado anorgânico. Manifestam-se de maneira agressiva e autodestrutiva. No suicídio poderíamos dizer que as pulsões de morte predominam sobre as pulsões de vida.
Somos imersos em nossas próprias incapacidades e temos que lidar com a própria impotência de não saber de tudo. Na vida as respostas não são imediatas, ora buscamos, ora construímos. As perguntas e questionamentos sobre si, o mundo, as pessoas e o sentido da vida se multiplicam e, ao indivíduo, resta administrar estas indagações e dar sentido a ideias e concepções obscuras.
Fonte: encurtador.com.br/eDFV7
Morte
A morte desperta curiosidade e até certo fascínio, tanto quanto viver e todos os prazeres atribuídos a esta vida. Mas assim como se escolhe viver, igualmente a morte é uma escolha. A existência é sentida como um castigo divino.
O suicídio é um assunto que não é explorado na sociedade e tampouco na mídia, que deveria ter um papel importante para a compreensão deste fenômeno de massa. O que permeia o suicídio como a depressão, angústia, receios, melhor qualidade de vida não dá ibope. As futilidades, frivolidades e banalizações são mais lucrativas. Um desafio para psicólogos, médicos e psiquiatras que devem se antecipar e prevenir situações de risco e perigo, bem como a sociedade precisa olhar com mais atenção às manifestações, impasses e conflitos da alma.
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Psicologia do Ceulp participa da Semana de Filosofia da UFT
O professor de Filosofia no curso de Psicologia, Sonielson Sousa, e os acadêmicos Mateus Aquino e Elisa Lopes, foram convidados para conduzir uma mesa redonda representando o Ceulp na Semana de Filosofia da Universidade Federal do Tocantins – UFT, que ocorre de 26 a 30 de novembro próximo, no Campus Palmas.
Fonte: Arquivo Pessoal
Os representantes do Ceulp irão abordar a interface entre Solidão e Depressão. Para tanto, terão como base teórica autores da Filosofia que dialogam com a Psicanálise e com o Existencialismo, duas linhas com forte representação no escopo das intervenções na Psicologia.
A mesa redonda vai ocorrer na noite de terça-feira, dia 27 de novembro, em sala e bloco a confirmar. O link para inscrições no evento será disponibilizado em breve.
Solidão e Depressão
Uma das patologias mais desafiadoras deste século, a depressão, resulta de interações que nem sempre se apresentam de forma clara, como uma gripe ou uma conjuntivite, por exemplo. Esta psicopatologia também está associada a um estilo de vida individualista, que isola o sujeito e enfraquece os laços sociais. De acordo com a Organização Mundial da Saúde – OMS, atualmente há em todo o mundo algo em torno de 350 milhões de pessoas acometidas por este mal, e entre os países em desenvolvimento, o Brasil é um dos que lideram a preocupante estatística. Estes dados também apontam a solidão – sobretudo a solidão urbana – como disparador do problema. Ainda de acordo com a OMS, as mulheres são mais afetadas, sobretudo porque se leva em conta o “peso” da “depressão pós-parto” nos números totais divulgados pela organização.
Algumas das mais comuns e recentes teorias que tentam explicar o “boom” de doenças como a depressão, acabam por apontar o atual estilo de vida pós-capitalista como o grande catalisador do problema. É o caso do incansável Zygmunt Bauman, que questiona insistentemente sobre “o que esperar de uma sociedade que ao mesmo tempo em que incentiva o constante esvaziamento dos espaços públicos, também (e paradoxalmente) desestimula os momentos de introspecção”.
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Redes de Proteção em uma Sociedade em “rede”: possíveis implicações ao Suicídio
O contexto atual da sociedade reflete corretamente a liquidez apontada por Bauman (2001). Instituições, crenças e relações se modificam constantemente, gerando certa insegurança quanto ao que pode suceder a qualquer dessas instâncias. Simultaneamente, amplia-se a possibilidade de comunicação à distância, sobretudo virtualmente, acrescentando uma peculiaridade à conjuntura contemporânea: o uso de redes sociais tomando, aceleradamente, o lugar de relações pessoais próximas e corroborando com a fluidez pois, ao mesmo tempo em que possibilitam certa “aproximação”, também facilitam a “dissolução” dos contatos.
Com base no pressuposto de que as relações pessoais recíprocas são fatores de proteção ao sujeito – ou seja, contribuem à saúde física e mental –, aborda-se a contribuição do contexto descrito no desencadeamento de fatores de risco para o suicídio. A despeito da abundância de comunicação/informação disponível na contemporaneidade, quando se trata do tema suicídio as massas se calam. Em vista dos sentimentos gerados pela dor da perda e do estigma causado aos familiares e comunidade, no que tange aos motivos que levam o sujeito a cometer tal ato, percebem-se grandes dilemas causados por essa sociedade do excesso e da volatilidade.
Fonte: goo.gl/M3XTBz
Faria e Souza (2011, p. 37) indicam que “A essência da identidade constrói-se em referência aos vínculos que conectam as pessoas umas às outras e considerando-se esses vínculos estáveis”. Na sociedade atual, em virtude dos inúmeros modelos identitários disponibilizados (ou impostos) – bem como pela sua volubilidade – e preponderância de vínculos impessoais, questiona-se: como pode-se construir uma identidade sólida? E quais as consequências ao sujeito mediante tais instabilidades?
Fonte: goo.gl/BpuqRy
Diante do cenário traçado, convém destacar os números disponibilizados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e Ministério da Saúde do Brasil. Estima-se que
804 mil pessoas tenham se suicidado no mundo em 2012 […], [sendo] 2.200 casos por dia, um a cada 40 segundos.
[No Brasil], entre 2002 e 2012, a taxa de crescimento dos suicídios em todo o país (33,6%) é superior à do crescimento da população no mesmo período […] (TRIGUEIRO, 2015, p. 20, 27).
Os dados são alarmantes e refletem apenas os casos notificados. Uma vez que é um tema delicado, e em muitos lugares considerado até como um crime, as estatísticas são ainda maiores. Voltando-se à proposição dos vínculos pessoais reais como fatores de proteção, é feita uma análise mais detalhada da virtualização dos relacionamentos em detrimento dos contatos estreitos, bem como o desenvolvimento de fatores predisponentes do suicídio.
Considerando a relevância dos relacionamentos interpessoais, poder-se-ia afirmar que atualmente a expansão das redes sociais contribui para que as pessoas estejam cada vez mais interligadas, independentemente da distância geográfica. Contudo, tal constatação é apenas em parte verdadeira.
Os avanços tecnológicos têm possibilitado a comunicação instantânea entre partes distintas do globo. No entanto, a despeito da velocidade e quantidade de comunicação à distância, questiona-se o caráter das relações que se constituem nesse contexto. Escritores como Zygmunt Bauman (1998 apud SMEHA; OLIVEIRA, 2013) pontuam a ausência de relacionamentos verdadeiros enquanto resultado do medo de lidar com aspectos difíceis que os tais podem oferecer. Aqui a comunicação virtual seria preferível por manter-se uma distância “segura” e facilitar a exclusão das relações insatisfatórias (BAUMAN, 2010 apud MARTINS, 2013). Contudo, ainda que desafiadores, um dos fatores de proteção mais relevantes ao sujeito são os relacionamentos próximos e recíprocos. Estes contribuem à constituição da identidade do sujeito e, consequentemente, ao melhor enfrentamento de possíveis adversidades. Acrescenta-se a premissa de Berkeley (1710 apud PINTO, 2008), que as características pessoais individuais são conferidas pelo outro, acentuando o papel das relações pessoais.
Fonte: goo.gl/95dASd
Para além de facilitadores da comunicação, as mídias sociais, especificamente – mas podendo-se destacar também os apetrechos tecnológicos utilizados para o acesso àquelas -, constituem-se como bens de consumo. Seguem a lógica de disseminar modos de ser e viver que devem ser “adquiridos” por todos. Há uma identidade e um senso de pertencimento atrelados às tais (THOMPSON, 2008, apud TASSO; NAVARRO, 2012). E como bens a serem consumidos, são constantemente substituídos por outros mais “atualizados” e “adequados”.
O impasse dessas novas configurações reside no impacto das tais sobre a identidade. Se a pós-modernidade favoreceu o distanciamento das relações, somado ao que se oferece no mundo virtual, não há bases para a constituição de uma identidade, diga-se “segura”, no que tange a um suporte para melhor enfrentamento de crises. Primeiro, pela ausência de vínculos pessoais reais; e, segundo, pela instabilidade dos modelos oferecidos pelas mídias. Na conceituação de Bauman (2004a apud LEITE, et. al., 2016, p. 6), trata-se de um contexto de liquidez, “[…] onde tudo é temporário, e […] como os líquidos, ela caracteriza-se pela incapacidade de manter a forma. […] Quadros de referência, estilos de vida […] e convicções mudam antes que tenham tempo de se solidificar em costumes”.
Pesquisas comprovam que o gasto excessivo de tempo nas redes sociais favorece o sentimento de solidão e baixa autoestima (PAMOUKAGHLIAN, 2011 apud PIROCCA, 2012). A insatisfação a priori em áreas da vida também pode intensificar o uso das mídias, por implicar na ausência de habilidades para enfrentar contrariedades (BREZING, et. al., 2010; YOUNG, et. al., 2010 apud PIROCCA, 2012). Percebe-se, então, uma influência mútua entre ausência de suporte social e utilização exacerbada de redes sociais. Sem relacionamentos pessoais sólidos, aliado à fluidez dos modelos com os quais se mantém maior contato – através das mídias sociais –, tem-se um ambiente propício ao surgimento de distúrbios no funcionamento social e psíquico.
Um dos fatos extremos que podem ser desencadeados a partir do isolamento social e sentimento de inferioridade é o suicídio. No entanto, ressalta-se que tal ato não pode ser reduzido apenas aos aspectos supracitados – visto que é um fenômeno complexo –, tampouco ser entendido como consequência inevitável do uso excessivo das redes sociais. No entanto, restringe-se essa discussão à relação entre o suicídio e os efeitos da virtualização das relações pessoais.
Fonte: goo.gl/jnFQua
O suicídio é um problema de saúde pública que registra altos índices de ocorrência em diversos países. Entretanto, os tabus que o cercam – como o “contágio” – e as consequências do ato (ou da tentativa) à família e sociedade como um todo, dificultam a abordagem ao tema e consequente proposição de medidas efetivas de prevenção.
Indivíduos que gastam horas a fio em redes sociais virtuais e aplicativos possuem baixa ou nenhuma satisfação com o mundo físico, isolando-se no mundo virtual. Em se desenvolver, dentre outros, a solidão, estão mais propensos a colocarem um fim na própria existência. Trigueiro (2015, p. 87), questiona “em que medida esse contexto agrava angústias existenciais e, em alguns casos extremos, leva […] a um ato tão desesperado como o autoextermínio?”.
O autor supracitado enfatiza a difusão de aparelhos tecnológicos facilitadores do acesso às redes sociais. Atualmente, é praticamente impossível encontrar alguém que não possua (ou deseje) um desses aparatos. Aqui também reside um outro fator de risco, o status conferido pelo consumo dos referidos objetos. Não consumi-los, bem como às referidas mídias, é quase um sinônimo de não existir, implicando no sentimento de inferioridade decorrente da exclusão. O outro extremo, do consumo excessivo, como já foi evidenciado, também produz implicações ao sujeito.
Ao contrário do que acontece nas redes sociais virtuais, as relações sociais presenciais inevitavelmente requerem um sólido compromisso entre as pessoas envolvidas. Tal compromisso, sendo aprazível, torna-se um fator que diminui a possibilidade do suicídio. Ornish (1998) afirma a relevância dos vínculos sociais, considerando que influenciam sobremodo a saúde física e psicológica do sujeito. O autor elenca uma série de estudos científicos fidedignos, ambos comprovando os efeitos positivos de relacionamentos estreitos e satisfatórios. Sem vínculos importantes, até mesmo para dividir as adversidades, a morte pode ser vista como mais significativa, em detrimento de enfrentar as contrariedades.
Fonte: goo.gl/ocMKeS
Leandro Karnal expressa em vídeo (PROVOCAÇÕES FILOSÓFICAS, 2016) o caráter desatento das relações, onde “ninguém ouve ninguém”. Em meio à “correnteza” da sociedade líquida, as relações, quando aparentemente “próximas”, são apenas episódicas e superficiais, não deixando, portanto, nenhuma consequência no que tange à reciprocidade (BAUMAN, 2007). Essa fragilidade dos vínculos e até a sua ausência tem sido associada a inúmeras patologias orgânicas e, como já mencionado anteriormente, pode predispor condições que levem ao ato extremo de autoextermínio.
Tendo sido evidenciados os aspectos negativos, destaca-se dados relevantes que associam o “outro” à proteção contra o suicídio. A partir de um site de pesquisas, Trigueiro (2015, p. 62) lista dados obtidos por Durkheim (1897):
Taxas de suicídio são maiores entre homens do que mulheres (embora mulheres casadas que permanecem sem filhos por alguns anos registrem taxas altas de suicídio).
Taxas de suicídio são maiores entre solteiros do que casados.
Taxas de suicídio são maiores entre os que não têm filhos do que os que têm.
Taxas de suicídio são maiores entre soldados que civis.
Taxas de suicídio são maiores em tempos de paz do que em períodos de guerra.
Estudos mais recentes, por sua vez, têm mostrado que o número de filhos também tem papel importante ao diminuir a possibilidade de autoextermínio por parte dos pais; ter um filho pequeno parece ser um significante fator protetor para mulheres; e mulheres grávidas têm um menor risco de suicidarem do que mulheres em idade fértil que não estão grávidas (REDUCING SUICIDE, 2002). Percebe-se como o “outro” possui um papel protetor ao sujeito, não apenas nas interações familiares mas também nas demais relações sociais. Ornish (1998) salienta que o contato próximo e frequente com amigos, familiares, comunidades religiosas, dentre outros, apresenta efeitos positivos extremamente relevantes a quadros em que já há patologias orgânicas e também na proteção contra as tais. Pode-se então alargar essas proposições, atestando o poder dos vínculos contra uma atitude drástica como o suicídio.
É evidente o papel protetor e acolhedor de relações interpessoais para lidar com os mais diversos problemas. Diversos estudos evidenciam que pessoas cujos relacionamentos são fortes e diversos podem lidar melhor com várias tensões como luto, estupro e doenças físicas, além de desfrutarem de saúde psicológica melhor. Assim sendo, o apoio social amortece potencialmente os efeitos de eventos negativos que poderiam resultar em suicídio (REDUCING SUICED, 2002).
Fonte: goo.gl/CsEbSR
Considera-se que o excesso em meios virtuais contribui ao enfraquecimento de relacionamentos sociais e também pode resultar deste. A crítica feita no decorrer do presente trabalho não implica em que se deva abolir o uso de redes sociais, visto que não se pode relegar suas contribuições à própria comunicação entre pessoas. E, como já foi mencionado, não se deve reduzir o suicídio a uma única explicação, como simplesmente pela ausência de relacionamentos satisfatórios. Semelhantemente, entende-se que a prevenção ao ato implica em uma gama de fatores, não apenas relacionais. Contudo, para os fins propostos a este trabalho, propõe-se que sejam priorizadas interações reais e recíprocas, considerando seus efeitos à saúde como um todo. Nas palavras de Ornish (1998, p. 30) “Quando nos sentimos amados, bem cuidados, apoiados, e íntimos, temos maior probabilidade de ser feliz e de ter saúde [– mental, física e espiritual]”.
REFERÊNCIAS
BAUMAN, Z. A vida fragmentada: ensaios sobre a moral pós-moderna. Lisboa: Relógio d’Água, 2007.
BAUMAN, Z. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001. [digital]. Disponível em: <https://vk.com/doc259715455_314878368?hash=7ed08d30138922e147&dl=ce61f64b4afd45294f>. Acesso em: 21 mai. 2017.
FARIA, E. de; SOUZA, V. L. T. de. Sobre o conceito de identidade: apropriações em estudos sobre formação de professores. Psicologia Escolar e Educacional. (Impr.), Maringá, v. 15, n. 1, p. 35-42, 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-85572011000100004&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 20 mai. 2017.
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LEITE, E. L., et. al. A superficialidade das relações na contemporaneidade. V Congresso em Desenvolvimento Social. 2016. Disponível em: <http://www.congressods.com.br/index.php/anais-gt-05>. Acesso em: 15 mai. 2017.
MARTINS, L. J. O papel das mídias sociais na construção da identidade social do sujeito pós-moderno. 2013. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização). ROCA. Universidade Tecnológica Federal do Paraná.
ORNISH, D. Amor e Sobrevivência: a base científica para o poder curativo da intimidade. Trad. Aulyde S. Rodrigues. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
PINTO, J. Fraturas do linear e a cultura das redes. Psicologia em Revista, Belo Horizonte, v. 14, n. 2, p. 221-226, 2008. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-11682008000200015&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 20 mai. 2017.
PIROCCA, C. Dependência da internet, definição e tratamentos: revisão sistemática da literatura. Lume – UFRGS. 2012. Disponível em: <http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/40120>. Acesso em: 16 mai. 2017.
NINGUÉM ouve ninguém. Leandro Karnal em Palestra para XVI Encontro Paulista de Farmacêuticos. Canal Provocações Filosóficas. YouTube. Disponível em: <https://youtu.be/O_KuOYHIaX8>. Acesso em: 21 mai. 2017.
SMEHA, L. N.; OLIVEIRA, M. V. de. Os relacionamentos amorosos na contemporaneidade sob a óptica dos adultos jovens. Psicologia: Teoria e Prática, São Paulo, v. 15, n. 2, p. 33-45, 2013. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-36872013000200003&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 20 mai. 2017.
TASSO, I.; NAVARRO, P., (orgs). Produção de identidades e processos de subjetivação em práticas discursivas [online]. Maringá: Eduem, 2012. Disponível em: <http://static.scielo.org/scielobooks/hzj5q/pdf/tasso-9788576285830.pdf>. Acesso em: 20 mai. 2017.
TRIGUEIRO, A. Viver é a melhor opção. 1 ed. São Bernardo do Campo: Correio Fraterno, 2015.