A teoria de Kierkegaard sobre o Existencialismo

Fonte: http://i.telegraph.co.uk/multimedia/archive/02553/kirk_2553405c.jpg

O existencialismo consiste em um conjunto de teorias que são caracterizadas em centrar sua análise na existência, entendida esta não como fato de ser, mas como realidade individual (BARSA, 2005, vol. 6, p. 165). Kierkegaard (imagem acima) foi um autor influente no pensamento do século XX e é difícil enquadra-lo em uma corrente teórica ou religiosa por ser um pensador de múltiplas faces, é um pensador agostiniano que tem muito a contribuir para a compreensão contemporânea da fé e da relação que existe entre a fé e a razão. Foi conhecido como percursor do existencialismo, nos leva a refletir sobre as problemáticas levantadas sobre fé e razão (BARSA, 2005, vol. 8, p. 404).

O EXISTENCIALISMO DE KIERKEGAARD

Sören Aabye Kierkegaard (1813 -1855) foi o primeiro autor a escrever sobre o existencialismo, que foca, principalmente, sobre o aparente sentido da vida (ou a falta dele), sobre a busca de sair do tédio existencial e sobre as escolhas livres. Já que o homem precisa da liberdade para definir sua própria natureza. A infância de Kierkegaard é marcada pela figura paterna e sua influência sobre ele para se conhecer a bíblia, a língua grega e o latin, o que o fez-se decidir pela carreira teológica como forma, também de devoção e celebração divinas. Na Universidade de Copenhague, conheceu a filosofia do alemão Hegel e seu racionalismo na busca do absoluto. Porém, após um estudo profundo sobre as obras do autor, começa a discordar da abordagem que este faz das questões ligadas à fé e o cotidiano, pois a verdade conceitual proposta por Hegel não o convencia por completo já que a pessoa e suas vivências imediatas e intransferíveis estavam afastadas em prol da racionalidade, como exposto por Cobra (2001)

Fonte: http://osamigosdasabedoria.blogspot.com.br/

Segundo Pinheiro (2016), a ascensão do existencialismo dá-se por fatores que, primeiro, afetaram o positivismo de Comte como forma de pensar, neste positivismo apenas o conhecimento científico é válido, ignorando qualquer verdade provinda de algo sobrenatural ou divino. Comte dividia a sociologia em duas áreas, a estática social e a dinâmica social. (VASCONCELOS apud LAGAR et al., 2013, p. 18).

No entender de Comte, a sociedade apresenta duas leis fundamentais: a estática social e a dinâmica social. De acordo com a lei da estática social, o desenvolvimento só pode ocorrer se a sociedade se organizar de modo a evitar o caos, a confusão. Uma vez organizada, porém ela pode dar saltos qualitativos, e nisso consiste a dinâmica social. Essas duas leis são resumidas no lema ‘ordem e progresso’”.

Essa ordem de Comte foi questionada com o início da primeira guerra mundial no começo do século 20, que “mostrou a vacuidade de todos os sistemas filosóficos para dar conta de uma compreensão sobre a complexidade da problemática humana” (PINHEIRO, 2016). A queda do positivismo, com o fracasso das grandes ideias humanitárias; e o ambiente de insegurança e pessimismo ideológico gerado pela técnica e pela ciência dão origem a uma angústia vital.

“Esta filosofia apresentou aos vivos e sobreviventes as interrogações que lhes eram pertinentes e próprias: qual é o sentido da existência? Da morte? Da dor? Da liberdade? Do desespero? Da angústia?” (PINHEIRO, 2016).

A Existência vem antes da essência, ou seja, não existe uma essência humana que determine o homem, mas ele constitui a sua essência na sua existência. Com essa essência provinda das experiências, o homem é capaz de realizar novas escolhas, tornando-se assim um homem livre.

Kierkgaard cria que se a condição de existência humana era essa, então o ser humano vive em uma constante angústia, tendo que escolher o próximo caminho a todo o momento e, consequentemente, refletindo sobre si, sobre seus feitos e sobre as próximas ações o tempo todo, como representa uma de suas frases, ilustrada abaixo.

Fonte: http://2.bp.blogspot.com/-pbCOl4-zys0/VQxGM9JmAGI/AAAAAAAAO68/4taErJ-oSrw/s1600/00000000.jpg

Segundo Celeti (2016), outra característica é o desespero, aquilo que nos torna quem somos pode ser perdido e nos deixar em desespero. Toda a existência humana está assim, visto que o homem precisa de coisas externa (as quais não controla) para se sentir quem ele é.

Somos livres para escolher, mas isso nos traz angústia e, eventualmente, o desespero do medo de perder tudo. Estamos desamparados, não temos muletas, desculpas ou quem ficar culpando por nossas escolhas.

“O existencialismo é o conjunto de ideias que coloca no ser humano a responsabilidade por se construir e por seus atos. Não há desculpas ou justificativas para nossas ações, o que somos ou o que fazemos não é produto da nossa história, da nossa criação, do destino ou da divindade. Estamos sozinhos lançados no mundo, para nos inventar, pois não há nada anterior à nossa existência para definir o que somos” (CELETI, 2016).

Fonte: https://resenhasdefilosofia.files.wordpress.com/2013/03/kierkegaard.jpg?w=660

No livro “O Conceito de Angústia”, Kierkegaard aborda uma questão ética polêmica, ao indagar se um julgamento moral pode ser suspenso em virtude de um poder maior. Ele exemplifica com o episódio em que Abraão recebe de Deus a ordem de matar Isaac. Assim ele vê o sacrifício de Abraão e Isaac: obediência a um dever, no caso a obediência a uma ordem de Deus que é a essência de tudo que é ético, mas que exigia dele um ato não ético. Kierkegaard buscava justificar-se por haver rompido seu noivado, o que ele considerava um ato não ético, porém o fez por um motivo que considerava eticamente superior, sua dedicação a Deus. Dos três modos de vida que ele considerava possíveis, o modo de vida estético, o modo de vida ético e o modo de vida religioso, este último era superior aos demais. “Esses estágios são ‘determinantes existenciais’ do caráter humano, uma instância que se oferece ao indivíduo, ao longo de sua existência, para o encontro de sua verdade mais própria” (SECCO, 2004. p. 928).

Modos: No caminho da vida há várias direções, embora se coloquem em três categorias de escolha. Assim é que distingue três tipos de vida a escolher, três escolhas fundamentais do homem: a estética, a ética e a religiosa que não são três concepções teóricas do mundo, mas sim, três maneiras de viver. Inicialmente Kierkegaard apresenta apenas dois modos de vida, ou estágios, se tomados como etapas transientes. Segundo Reale (1945, p. 180 apud BORGES, 2016) “Kierkegaard procurou estabelecer os três estágios, desde a vida estética que é a do puro gozo, a vida ética, que é a subordinação ao dever e do triunfo da vontade até a vida religiosa, que é a autêntica, a dolorosa experiência do divino que se põe perante nós oculto e longínquo”.

Borges (2016) afirmava que quem está sob o modo de vida estético vive no instante e não conhece outro fim da vida senão aproveitar o instante que passa. Infiel, quer sempre provar novidades, foge permanentemente ao tédio, recusa engajar-se, são os Don Juans ou o intelectual cético e diletante.

No modo de vida ético o homem encarna as regras universais do dever. Trabalhador consciente, marido e pai devotado, leva tudo a sério, é pouco flexível, prisioneiro de ideias acabadas, e se crê cidadão exemplar.

No modo de vida religioso o homem não está submetido a regras gerais, mas é um indivíduo diante de Deus. Sua relação com Deus não se traduz em conceitos e regras gerais, mas em inspiração fora do universo da razão. Abraão está pronto para sacrificar seu filho Isaac porque Deus o ordena, mas esta ordem não é justificada por nenhuma finalidade ética.

Um existencialista é um sujeito que coloca o foco em sua existência pessoal, preza acima de todas as coisas o livre arbítrio e a autonomia do indivíduo.

Kierkegaard nos ensina a ousar, a não ter medo de ir contra a corrente. A verdade segundo ele está sempre junto com a minoria, com ele também aprendemos o valor de tomar riscos na vida.

REFERÊNCIAS

PINHEIRO, Rita Josélia de Capela. O Homem, a Angústia e sua Existência. Disponível em http://www.existencialismo.org.br/jornalexistencial/rita.htm. Acesso em 15 de mar de 2016.

FERRARI, Marcio. Augusto Comte, o homem que quis dar ordem ao mundo. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/auguste-comte-423321.shtml?page=3#. Acessado em: 15 de mar de 2016.

COBRA, Rubem Queiroz. Época, vida e pensamentos de Søren Aabye Kierkegaard. 2001. Disponível em: <http://www.cobra.pages.nom.br/fcp-kierkegaard.html>. Acesso em: 25 abr. 2016.

Grande Enciclopédia Barsa. 3. ed. São Paulo: Barsa Planeta Internacional, 2005. 18 p. 18 v.

SECCO, Frederico Schwerin. O conhecimento essencial segundo Kierkegaard. v, 14 n. 5. Goiânia: Fragmentos de Cultura. maio 2004. pp. 925-941.

CELETI, Felipe Rangel. Existencialismo e a Condição de Existência Humana. Disponível em: <http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/filosofia/existencialismo.htm>. Acesso em: 25 abr. 2016.

BORGES, Renato. Estético, ético e religioso, segundo Kierkegaard. Disponível em: <http://www.professorrenato.com/index.php/filosofia/textos/113-ilson-oliveira-e-andre-roberto-cremonezi>. Acesso em: 25 abr. 2016.