Karl Marx e o conflito essencial para a construção do sujeito histórico

As ideias dominantes de cada época sempre foram as ideias de sua classe dominante.

Karl Marx

Para Karl Marx o motor da mudança era a luta entre classes. É importante reconhecer essa visão de Marx, onde não existia a concepção de consenso ou equilíbrio; ele acreditava que o conflito era necessário para a manutenção do sistema.

Marx acreditava que tinha alcançado um insight excepcionalmente importante sobre a natureza da sociedade através dos tempos. Abordagens anteriores da história tinham enfatizado o papel dos heróis e líderes individuais ou ressaltado o papel desempenhado pelas ideias, mas Marx focou numa longa sucessão de conflitos de grupo, incluindo aqueles entre antigos mestres e escravos, lordes medievais e servos, e empregadores modernos e seus empregados. Foram os conflitos entre essas classes, ele afirmou, que provocaram mudanças revolucionárias (BUCKINGHAM, 2011).

Para Magee (1998, p. 465), no tocante a questões humanas, o modo como Marx acreditava que a dialética operava era algo parecido com o que segue. A coisa inescapável que os seres humanos têm de fazer se quiserem viver é obter os meios de subsistência: devem ter como se alimentar, se vestir e se abrigar, e atender a outras necessidades básicas. Produzir essas coisas é uma tarefa que não pode ser evitada. Mas tão logo os meios de produção se desenvolveram além do estágio mais primitivo, tornou-se do interesse dos indivíduos especializar-se, porque descobriram que seria muito melhor se o fizessem. E isso os tornou dependentes uns dos outros.

A produção dos meios de vida torna-se uma atividade social e já não uma tarefa individual. Dentro dessa dependência mútua, que obviamente é a sociedade mesma, a característica definidora de cada individuo é a relação com os meios de produção: o que ele faz para viver determina boa parte das coisas básicas acerca de seu modo de vida. Determina também, quem mais, na divisão do produto social, tem os mesmos interesses que ele, e quem está em conflito com eles. Isso faz surgir as classes socioeconômicas, e também o conflito entre as classes. Todavia, os meios de produção estão num constante processo de mudança. Assim, a mútua relação entre as pessoas tendem a seguir mudando.

A cada grande mudança nos meios de produção, a composição das classes sociais se altera, e com ela o caráter do conflito de classe. Marx vê cada um desses níveis diferentes como se desenvolvendo dialeticamente. No nível da base, o determinante fundamental de toda mudança social e o desenvolvimento dos meios de produção. Em seguida, vem o desenvolvimento das classes sociais e o conflito entre as classes. Por fim, vem o que Marx chama de “superestrutura”: instituições sociais e políticas, religiões, filosofias, artes, ideias, todas essas coisas, diz ele, crescem na base da infraestrutura econômica e são, ao fim e ao cabo, determinadas por ela.

Como Marx viu o desenvolvimento da luta de classes, a luta entre as classes foi inicialmente limitada às fábricas. Eventualmente, dado o amadurecimento do capitalismo, a crescente disparidade entre as condições de vida da burguesia e proletariado, e a crescente homogeneização dentro de cada classe, lutas individuais se generalizaram a associações em fábricas. O conflito de classes cada vez mais se manifesta para vários setores da sociedade. A consciência de classe é aumentada, interesses e políticas comuns são organizados, e o uso de luta pelo poder político ocorre. Classes tornam-se forças políticas (RUMMEL, 1977).

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Fonte: http://www.galizacig.gal/avantar/opinion/2-6-2010/a-luta-de-classes-esta-de-volta

Marx escreveu o Manifesto Comunista com o filósofo alemão Friedrich Engels, que ele tinha conhecido quando ambos estudaram filosofia acadêmica da Alemanha, no final da década de 1830. Engels contribuiu com ajuda financeira, ideias e habilidade literária. Mas Marx foi reconhecido como o gênio por trás da publicação conjunta (BUCKINGHAM, 2011).

A história de toda a sociedade é a história de lutas de classes. [Homem] livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo [Leibeigener], burgueses de corporação [Zunftbürger] e oficial, em suma, opressores e oprimidos, estiveram em constante oposição uns aos outros, travaram uma luta ininterrupta, ora oculta ora aberta, uma luta que de cada vez acabou por uma reconfiguração revolucionária de toda a sociedade ou pelo declínio comum das classes em luta. Nas anteriores épocas da história encontramos quase por toda a parte uma articulação completa da sociedade em diversos estados [ou ordens sociais — Stände], uma múltipla gradação das posições sociais. Na Roma antiga temos patrícios, cavaleiros, plebeus, escravos; na Idade Média: senhores feudais, vassalos, burgueses de corporação, oficiais, servos, e ainda por cima, quase em cada uma destas classes, de novo gradações particulares. A moderna sociedade burguesa, saída do declínio da sociedade feudal, não aboliu as oposições de classes. Apenas pôs novas classes, novas condições de opressão, novas configurações de luta, no lugar das antigas. A nossa época, a época da burguesia, distingue-se, contudo, por ter simplificado as oposições de classes. A sociedade toda se cinde, cada vez mais, em dois grandes campos inimigos, em duas grandes classes que diretamente se enfrentam: burguesia e proletariado.Dos servos da Idade Média saíram os Pfahlbürger das primeiras cidades; esta Pfahlbürgerschaft desenvolveram-se os primeiros elementos da burguesia [Bourgeoisie]. (MARX, 1848, p.01)

A burguesia, controladora de todo o comércio, não estabelecia ligações entre as pessoas. Do contrário, o individualismo e o interesse próprio eram o que prevalecia. Segundo Marx o ser humano passa a não valer mais o que essencialmente de fato é, e sim o que possui. Os valores que existiam, eram apenas aqueles pagos em dinheiro. E o proletariado era a grande vítima da classe dominante. “De cada um, de acordo com suas capacidades, para cada um, de acordo com suas necessidades” (MARX, 1848).

Populariza-se a ideia de que entendendo o sistema de propriedade, independente da sociedade, independente da época, podemos obter a chave para a compreensão das relações sociais. Marx também acreditava que uma análise da base econômica de qualquer sociedade nos permite ver que, quando seu sistema de propriedade se altera, também mudam as “superestruturas”, política, leis, arte, religiões e filosofias. Estas se desenvolvem para servir aos interesses da classe governante, promovendo seus valores e interesses e desviando a atenção das realidades políticas (BUCKINGHAM, 2011). “A abolição da religião como felicidade ilusória do povo é necessária para a felicidade real” (MARX, 1848).

Assim, a história é o curso das relações autoritárias de reprodução de lutas de poder das classes sobre o status quo; há períodos de paz social, de mudança social incremental na adaptação às mudanças no saldo estrutural, e etc.. Possivelmente, a violência em toda a sociedade serve para criar um novo equilíbrio de autoridade (RUMMEL, 1977).

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Fonte: http://apoyomutuo.net/sindicalismo-y-trabajo/

A classe burguesa nasce do interior do mundo feudal, nega-o e supera-o, dando origem à sociedade capitalista. Mas, pela lei do devir dialético, o desenvolvimento do capitalismo comporta o surgimento do proletariado e das contradições que produzirão a sua superação.

Todas as sociedades que existiram até aqui se fundaram no antagonismo entre classes que oprimem e classes oprimidas. Contudo, para poder oprimir uma classe é preciso garantir-lhe ao menos as condições de manutenção da sua existência servil. O operário moderno, ao contrário, em vez de elevar-se graças ao progresso da indústria desce cada vez mais abaixo das condições da sua classe. O operário torna-se pobre e o pauperismo desenvolve-se ainda mais rapidamente do que a população e a riqueza. Daí se deduz que a burguesia não é capaz de continuar por muito tempo como a classe dirigente da sociedade. Não é capaz de dominar porque não é capaz de garantir a existência do próprio escravo nem mesmo dentro dos limites da sua escravidão. (NICOLA, 2005)

A condição essencial para a existência e o domínio da classe burguesa é a acumulação da riqueza em mãos privadas, a formação e o crescimento do capital; a condição do capital é o trabalho assalariado. O trabalho assalariado baseia-se exclusivamente na concorrência dos operários entre si. O capitalismo não é capaz de manter a sociedade unida. Sem revolução não existem possibilidades de melhoria para o proletariado. A tendência é o empobrecimento progressivo. O proletariado nada possui, nada tem a perder, por isso vencerá. (NICOLA, 2005)

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Fonte: http://www.opalheiro.com.br/luta-de-classes-e-classes-de-luta/

Marx raramente discutiu a possibilidade de que novas ameaças à liberdade pudessem surgir depois de uma revolução bem-sucedida: ele supunha a pobreza como única causa real da criminalidade. Seus críticos também alegam que ele não compreendeu suficientemente as forças do nacionalismo e que não explicou o papel da liderança pessoal na política. De fato, o movimento comunista do século XX, produziria cultos a personalidades poderosas em quase todos os países aonde marxistas chegaram ao poder. (BUCKINGHAM, 2011). Apesar das críticas e crises que as teorias de Marx provocaram, suas ideias foram muito influentes. Como crítico poderoso do capitalismo comercial e como teórico econômico e socialista “Marx ainda hoje é considerado relevante para a política e a economia”. (BUCKINGHAM, 2011)

De fato Karl Marx teve uma grande contribuição para o entendimento da economia no mundo. Com suas ideias, fez com que o capitalismo – apesar de ser uma corrente tão poderosa – fosse questionado por muitos. Além de contribuir com a influência do seu pensamento, para que o proletariado tivesse voz e direitos.

REFERÊNCIAS

BUCKINGHAM, Wiliian, 2011. KIM, Douglas, 2011. Livro da Filosofia. 1º edição. Editora Globo, 2010.

MAGEE, Bryan, 1998. História da Filosofia. 3º edição. São Paulo: Editora Loyola, 1999.

NICOLA, Ubaldo, 2005. Antologia ilustrada de Filosofia.  Editora Globo, 2010.

RUMMEL, R. J. Conflito na Perspectiva. 3º ed. Beverly Hills, CA: Sage Publications, 1968.