O Pequeno Príncipe: “O Essencial é invisível aos olhos”

Giovanna Bernardo Serra (Acadêmica de Psicologia) – giovannabernardo@rede.ulbra.br

Escrito em abril de 1943, o livro “O Pequeno Príncipe”, do autor francês Antoine de Saint-Exupéry se trata de uma das maiores obras existencialistas do século XX, além de ser um dos livros mais traduzidos da história, perdendo apenas para o Alcorão e a Bíblia. Antes de se tornar escritor e ilustrador, Antoine de Saint-Exupéry ingressou no serviço militar no Regimento de Aviação de Estrasburgo, após ter sido reprovado na Escola Naval. Depois de um ano acabou obtendo a licença para pilotar e a partir disso foi se desenvolvendo na carreira de piloto, o que acabou influenciando na escrita de sua obra.

Seu livro se caracteriza como literatura infantil, mas possui um grande alcance no público adulto. Aborda diversas reflexões profundas, de forma leve e simples, sobre amizade, dinheiro, amores, entre outros assuntos. A narrativa gira em torno do personagem do Pequeno Príncipe, um jovem, não habitante da terra, que visita diversos planetas em busca de novas aventuras. Em uma dessas viagens ele acaba pousando no meio de um deserto do planeta Terra e lá conhece um piloto de avião que após um pouso complicado, se encontrou inesperadamente perdido neste mesmo lugar.

O livro apresenta a frustração do piloto por sentir que ninguém compreende suas ilustrações e à medida que ele vai se lamentando, o pequeno príncipe vai narrando as aventuras que viveu e trazendo diversas reflexões. Nesse contexto, cresce o elo entre o pequeno princípe e o piloto perdido, e ambos começam a refletir juntos sobre assuntos tão importantes que acabam sendo esquecidos à medida que crescemos e tomamos outras responsabilidades. Para além de apenas mais uma trama infantil, a obra apresenta grandes reflexões sobre os valores que cultivamos e as prioridades que vão se perdendo ao decorrer do tempo. Por esse motivo, esse livro acabou alcançando em demasia o público adulto, ao abranger diversas interpretações que podem ser aplicadas ao contexto em que cada leitor se encontra.

                                                                                              Fonte: https://www.otempo.com.br/

Ilustração extraída do livro “O pequeno príncipe”

Em um momento da narrativa eles conversam sobre o afeto que o príncipe têm por sua rosa, a qual cuida com tanto carinho e zelo. Nesse contexto é dita uma das frases mais marcantes do livro: “Foi o tempo que dedicaste à tua rosa que a fez tão importante”. Dentre tantas coisas que essa frase nos leva a pensar, chamo a atenção para o tempo que gastamos com aquilo que tanto importa para cada um de nós. Em 2010, uma pesquisa feita pela International Stress Management Association Brasil apontou que 60% dos brasileiros carregam um sentimento recorrente de falta de tempo. Paralelamente a isso, a agência de marketing digital Sortlist analisou o uso médio de navegação dos brasileiros em diferentes aplicativos. Os dados revelam que os brasileiros gastam em média 10 horas diárias navegando na internet, sendo três horas desse tempo destinadas ao acesso de redes sociais.

Talvez você esteja se perguntando como todos esses dados e pesquisas se relacionam com a história do Pequeno Príncipe. O fato é que a mensagem das palavras desse personagem pueril não devem deixar de ecoar ou ao menos nos incomodar, por menor grau que seja. Assim como ele dedicou tempo à sua rosa, também dedicamos muito tempo às coisas ao nosso redor. No entanto, com a aceleração contemporânea, dificilmente comparamos como gostaríamos de estar investindo nosso tempo e como realmente estamos gastando.

                                                                                                       Fonte: https://www.otempo.com.br/

Imagem extraída do filme “O pequeno príncipe”

Cabe a nós, fazer uma autoanálise para entendermos como estamos gastando nosso tempo. Estamos negligenciando aquilo que deveria ser essencial em nossas vidas? Como por exemplo, os relacionamentos saudáveis que nos cercam, ou sonhos que por muitas vezes se encontram engavetados, ou até mesmo a apreciação das coisas ordinárias da vida? Um dia chuvoso ou ensolarado, um final de semana de descanso, um trabalho bem feito, entre tantas outras coisas que podem perder valor à medida que crescemos e amadurecemos. Quão estranho é pensar que quanto mais “amadurecemos” mais nos esquecemos dos nossos valores, de cuidar daquilo que verdadeiramente importa e de pôr em prática aquilo que o autor diz no livro:“o essencial é invisível aos olhos”.

Vamos crescendo e a busca desenfreada por algo que nos preencha e traga felicidade faz com que fixemo-nos em coisas perecíveis demais que são incapazes de nos realizar na proporção que desejamos. passamos a focar na felicidade como um objetivo a ser alcançado e não como uma consequência do caminho que trilhamos.

A leitura do pequeno príncipe nos traz de volta à consciência daquilo que realmente importa, sem menosprezar as necessidades que a vida nos impõe a viver. Longe de ser uma literatura apenas para crianças, o livro se faz ainda mais necessário para aqueles que entraram no modo automático da vida e sem perceber, encontram-se perdidos de si.

REFERÊNCIAS

Antoine de Saint-Exupéry: Escritor e piloto francês. eBiografia, 2003. Disponivel em:

https://www.ebiografia.com/antoine_de_saint_exupery/. Acesso em 31 de agosto de 2023.

Você tem ideia de quanto tempo passa nas redes sociais?. Blog Affix, 2023. Disponível em: https://www.affix.com.br/voce-tem-ideia-de-quanto-tempo-passa-nas-redes-sociais/#:~:text= Um%20estudo%20revelou%20que%20os,da%20rede%20em%20diferentes%20aplicativos.

Acesso em 31 de agosto de 2023