Câncer feminino: uma abordagem médica

A rotina de uma paciente com câncer é bem intensa e envolve, em sua maioria, todo o núcleo familiar. No geral, entre iniciar o processo de tratamento e seguir firme diariamente requer muito mais que força.  É preciso superação de todos os limites.

Para falar um pouco mais sobre o tratamento e o passo a passo das etapas do tratamento entrevistamos o médico oncologista Fabiano Coelho, que atua no Instituto Oncológico do Tocantins, em Palmas. Fabiano é médico especialista em oncologia clínica pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA-RJ) e membro-titular da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC). Em conversa, ele aponta quais são os maiores entraves e como ser mulher pode ser o diferencial na aceitação da doença.

Foto: Nayara Cardoso

(En)Cena – Quais são os principais tipos de câncer que afetam as mulheres no Tocantins? 

Fabiano Coelho – Os tipos mais comuns de câncer na mulher são o de mama, colo do útero e colo retal. No Tocantins a incidência do câncer do colo do útero é maior que o da media nacional.

(En)Cena – Como encarar o tratamento e quais são as principais angustias na fase inicial?

Fabiano Coelho – O primeiro passo é a aceitação da doença, esse é o marco principal. Em sua grande maioria quem tem câncer depende do sistema público de saúde e por saberem que o processo desde a realização dos exames iniciais até o tratamento é demorado e é doloroso se entregam antes mesmo de tentar. O querer se curar, é o fator crucial e em grande parte as mulheres são bem mais fortes para enfrentar tudo o que o câncer pode trazer.

(En)Cena – A mulher traz naturalmente o peso de cuidar, tanto de si quanto dos que estão á sua volta. No geral como elas lidam com a ideia de estar com câncer?

Fabiano Coelho – Todo o paciente que tem câncer sabe que isso vai alterar todo o sistema imunológico, físico e mental e na mulher isso é potencializado, ela pode perder peso, tem a questão da queda do cabelo e dependendo do tipo e do estágio da doença é preciso passar por mutilação e ninguém está preparado para isso, mas elas têm tanta garra que passam por tudo isso com melhor ânimo que os homens. É comum até brincarmos, com câncer a mulher leva os filhos na escola, faz compra e tudo o mais, já o homem com uma gripezinha nem sai da cama.

(En)Cena – Equilíbrio emocional aumenta a resistência da paciente durante o tratamento?

Fabiano Coelho – O equilíbrio mental faz toda a diferença, ter uma boa base familiar também. É delicado ter que passar por todo o processo de quimioterapia, radioterapia ou até por mutilação e em vários casos a mulher é abandonada pelo esposo, isso acontece muito e nesse caso ter apoio e auxilio de todos reflete no final quando a paciente está curada e pode voltar á sua rotina.

(En)Cena –Existe algum tratamento psicológico paralelo à quimioterapia? Como é feito?

Fabiano Coelho – O modelo ideal seria que o tratamento paliativo, que tem por objetivo dar o suporte necessário a pacientes em todas as suas necessidades em cada fase do tratamento fosse bem aplicado, e isso inclui um psicólogo na equipe multidisciplinar, mas a realidade do SUS não é bem assim.

(En)Cena – Depois de passar por esse furacão físico e emocional, quais são as prioridades dessas mulheres?

Fabiano Coelho – No geral elas querem retomar tudo que tiveram que deixar de ladoelas passam a dar mais valor à vida em si, a todos os momentos de felicidade possíveis e felicidade pode ser algo simples como só ficar perto da família.

(En)Cena – Que medidas preventivas devem ser tomadas para que elas sigam sua vida “normalmente”?

Fabiano Coelho – A paciente que acabou de sair de um câncer precisa ter cuidados bem específicos como, ter uma alimentação equilibrada, fazer exercício regularmente, se fumava esquecer cigarro para o resto da vida e não ganhar peso também é fundamental.

Durante a entrevista Fabiano ressaltou a importância dos exames preventivos como mamografia e o Papanicolau que podem diagnosticar qualquer alteração que possa vir a se tornar um câncer. No Brasil cerca de 230 mil mulheres morrem anualmente em decorrência do câncer, a falta de políticas públicas e campanhas de conscientização colaboram para que esses números continuem altos.

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