Giselle Thron: “Tenho aprendido que não existe uma única realidade, uma única verdade, e que respeitar o ser humano é fundamental”

O EnCena entrevista a acadêmica de Psicologia do Ceulp/Ulbra, Giselle Carolina Thron, natural do estado de São Paulo. Ela vive no Tocantins desde a adolescente, onde residiu em Porto Nacional e, há sete anos, se mudou para Palmas. A respeito de suas formações anteriores à Psicologia, Giselle nos contou que tem Licenciatura em História pela UFT e Especialização em História Social, e que após este período de sua primeira formação resolveu fazer o curso de Tecnologia em Estética e Cosmética na ULBRA, além disso também tem Especialização em Processos Educacionais Inovadores, pela UniCatólica.

Confira este e outros detalhes na entrevista abaixo.

 

EnCena – O que te motiva a fazer psicologia já em uma fase mais amadurecida da vida?

Bom, quando concluí o Ensino Médio, morava em Porto Nacional na época, despertei a vontade de cursar Psicologia, mas a minha realidade naquele período não me permitiu, pois já trabalhava e o curso mais próximo era em Palmas. Então, não tinha dinheiro para arcar com as despesas de transporte e a mensalidade, programas de bolsas e financiamentos eram difíceis e ainda tinha o agravante de ter que cursar também durante o dia. Por isso, dentre as opções que eu tinha na cidade: Letras, Geografia, Biologia e História, minha “escolha” foi a que mais se aproximava de mim: História. Quando decidi por uma segunda formação a vontade de cursar Psicologia aflorou novamente, mas as condições financeiras falaram mais alto e tive que adiar. Tempos depois, com mais estabilidade financeira eu pude voltar a pensar neste projeto que cultivei naquele momento. Também o fato de ser servidora da Ulbra me ajudou muito, pois posso ser bolsista e cursar com mais tranquilidade, embora, como milhares de estudantes trabalhadores é muito difícil conciliar várias tarefas e me dedicar tanto quanto eu gostaria.

Qual a área de atuação você pretende focar depois da formação?

Quando penso sobre isso eu vejo o meu nível de amadurecimento quanto à profissão. Antes de iniciar o curso eu tinha uma ideia totalmente diferente da Psicologia, não imaginava a imensa variedade de linhas teóricas e abordagens que temos para seguir. Sobre a área que mais me motiva é a Terapia Sistêmica, embora a abordagem freudiana também muito me encanta, mas neste momento estou me dedicando a Sistêmica.

Qual dica você deixa para quem pretende cursar psicologia?

Dica elementar… rs: Leitura. Leitura. Leitura! Outra dica que não poderia faltar para quem está pensando em cursar Psicologia é despir-se de julgamento e preconceitos e aprender que crenças pessoais devem estar ligadas apenas a sua vida particular. Ahh… e façam terapia!!

Que aspectos internos foram mobilizados em sua vida a partir do curso?

Tenho aprendido que não existe uma única realidade, uma única verdade, e que respeitar o ser humano é fundamental. Tenho aprendido a conviver melhor com as pessoas e aceitar minhas falhas e, sobretudo, a lidar com meus próprios traumas passados.

Como é a experiência de conviver no curso com pessoas de diferentes idades e perspectivas?

Esta é uma das delícias de cursar Psicologia. No início me incomodava um pouco, observava as turmas que frequentava e via uma espécie de “rachadura”: de um lado um grupo recém-saído do ensino médio que se considerava muito especial por ser jovem e de outro lado um grupo “mais velho”, que se achava muito especial por ter “experiência de vida”. Hoje já olho para estes dois grupos e consigo ver homogeneidade e uma intensa troca de experiências, vejo que todos nesses grupos estão ali para somar histórias e visões de mundo, estamos aprendendo a conviver com diferentes problemas e histórias de vida e isso é lindo, pois é isso que teremos em nossa profissão: Muitas histórias e dramas pessoais aos quais teremos que dar suporte para que estas pessoas possam superar seus desafios.

Quais os maiores desafios enfrentados na pandemia relacionada à formação acadêmica?

Sinto até certo incômodo a me referir a este período, pois sei que falo de uma posição de privilégio. Na verdade, eu não tive grandes dificuldades em dar sequências aos meus estudos, claro, o fato da distância incomodava um pouco no início, mas logo eu me habituei como aluna. Explicando minha posição de privilégio… Sou uma mulher solteira, sem filhos, tinha meu espaço tranquilo, conexão de qualidade e equipamentos para acompanhar a aula diferente de outros milhares de estudantes. Os problemas que observava que muitas colegas terem eu não tinha, tais como: assistir aula segurando o filho no colo que reclamava atenção e que a mãe fosse fazer um lanche, pois era a hora do lanche, ou colegas que compartilhavam o espaço com outras pessoas e havia apenas um computador na casa para todos. Neste sentido que digo que para mim foi totalmente tranquilo e sem maiores implicações.

Qual mensagem você deixa para os nossos leitores?

Sendo estes leitores estudantes de Psicologia ou pretensos estudantes, aconselho a olhar para o lado e ver seus colegas como sua rede de apoio. É incrível como no decorrer do curso muda-se nossa percepção sobre muitos colegas, convivemos durante anos com pessoas e vamos conhecendo suas incríveis histórias, histórias que podem ajudar a mudar sua percepção do mundo.

Sendo estes leitores de outras áreas a única coisa que posso falar é: façam terapia, mas antes, escolham bem os profissionais.