Construindo pontes: Os obstáculos e oportunidades na dinâmica das equipes interprofissionais.

A psicóloga e coordenadora ABA, Lariane Medeiros, compartilha uma narrativa envolvendo seu cotidiano inserida em uma equipe interprofissional.

(En)Cena entrevista Lariane Medeiros, Psicóloga (CRP 23/2344), Pós-graduanda em Análise do Comportamento Aplicada e Especialista em Terapia Cognitiva Comportamental. Atualmente atua como coordenadora ABA em uma clínica para pacientes neurodivergentes e como psicóloga clínica em consultório particular. 

(En)Cena: Qual foi o percurso profissional que a conduziu até o presente momento?

Lariane: Iniciei minha carreira profissional como estagiária de recursos humanos em uma construtora, depois me mantive na área em outras empresas até chegar a ocupação de um cargo de liderança no RH de um atacarejo, ao todo fiquei 6 anos na área de psicologia organizacional. Em 2021 fiz a transição de carreira para a clínica iniciando com atendimentos online de adultos e desde então sigo como psicóloga clínica. Após uma mudança de estado devido a questões pessoais, iniciei em uma clínica infantil de atendimento interprofissional, onde tenho atuado há pelo quase 2 anos como coordenadora

(EnCena): Como a coordenadora clínica lida com a diversidade de abordagens e processos decisórios dos demais profissionais na equipe interprofissional?

Lariane: É comum dentro de um acompanhamento interprofissional termos diversidade nas abordagens e decisões de cada profissional que acompanham um caso em comum, dessa forma, eu busco sempre estar em contato com cada área compartilhada, visando sempre focar na evolução do paciente e na contribuição que cada profissional tem para oferecer para o caso que acompanho.  Dessa forma, consigo facilitar minha visão sobre o caso e acolho os demais profissionais dentro do que for viável e possível. 

(EnCena): Quais são os principais desafios enfrentados por uma coordenadora clínica ao integrar as intervenções da terapia intensiva baseada na Análise do Comportamento Aplicada com as práticas de outras áreas, como terapia ocupacional, fonoaudiologia e escolar?

Lariane: Um desafio comum na prática interprofissional se dá quando o paciente não é atendido no mesmo contexto clínico, quando ocorre alguma intervenção por profissionais que não estão no mesmo ambiente, em alguns contextos existem profissionais que não facilitam a comunicação e a troca para acompanhamento do caso. Outro desafio se dá quando os profissionais de áreas parceiras que atendem a mesma criança não aceitam ou compreendem as intervenções propostas, o que dificulta a generalização de comportamentos esperados do paciente em todos os contextos que ele é atendido. O que observo é que quando os profissionais estão alinhados, isso facilita a evolução do caso e a criança e a família são beneficiadas nesse processo de troca interprofissional. 

(EnCena) :Como a coordenadora clínica gerencia divergências de opinião ou conflitos entre os membros da equipe interprofissional durante a tomada de decisões em relação aos casos dos pacientes?

Lariane: Busco gerenciar sempre através do respeito a cada profissional que participa do caso de cada paciente considerando que as experiências são válidas para contribuição e evolução do caso, compreendo que cada profissional terá a sua área específica, sua abordagem e seus objetivos, mas sempre tenho como referência que o foco é na qualidade de vida do paciente e na família atendida. Nesse cenário, acredito que parceria faz total diferença para esse tipo de acompanhamento, quando ocorre divergência de opiniões ou conflitos, a melhor opção que considero é o que será mais adequado para o caso e para a família.

(EnCena): Quais são os principais obstáculos enfrentados por uma coordenadora clínica ao alinhar as metas terapêuticas da equipe interprofissional com as expectativas e necessidades das crianças e suas famílias?

Lariane: Os maiores obstáculos diante desse cenário são famílias que demandam expectativas que não são inerentes ao processo, ou ainda que se isentam da participação e colaboração do contexto de intervenção. É notório que algumas famílias necessitam de mais orientação e acompanhamento que outras, o que faz com que cada intervenção seja personalizada e adequada para cada criança e família atendida.

(EnCena): Como uma coordenadora clínica monitora o progresso do paciente dentro do contexto de uma equipe interprofissional, considerando diferentes perspectivas, áreas e métodos de intervenção?

Lariane: O monitoramento do progresso do paciente é de suma importância dentro do contexto interprofissional. Assim, o acompanhamento ocorre de modo periódico através de comunicação com a equipe para alinhamentos, reuniões e trocas a fim de contribuir para que o paciente seja beneficiado e que a evolução do paciente seja eficiente mesmo com as particularidades de cada área onde o paciente é atendido. 

(EnCena): Qual deve ser o papel da família na contribuição e implementação das estratégias e planos de intervenção fora do ambiente clínico?

Lariane: O papel da família dentro do processo de intervenção é de grande importância. Uma observação que faço desse período trabalhando na área é que quanto mais a família é engajada na implementação das estratégias e mais envolvida com o plano terapêutico maiores são as chances de eficiência e generalização de comportamentos apropriados e adaptativos em casa e em outros ambientes externos ao ambiente clínico. No entanto, quando a família não se aproxima ou se mostra interessada em realizar as orientações dadas durante o acompanhamento, isso traz barreiras significativas para a evolução do caso e extrapola os limites da atuação profissional.

(EnCena): Quais são as vantagens percebidas ao trabalhar com uma equipe interprofissional?

Lariane: Trabalhar com uma equipe alinhada e colaborativa possibilita que o paciente tenha uma melhor qualidade de vida e que as evoluções sejam observadas pelo olhar de outros profissionais; e que ele seja visto como um ser único que recebe uma intervenção interprofissional proporcionando objetivos em comum e trocas significativas dentro do contexto clínico. 

(EnCena): De que maneira a diversidade de conhecimentos e experiências em uma equipe interprofissional pode contribuir para resultados mais favoráveis no tratamento do paciente?

Lariane: A diversidade de conhecimentos e experiências da equipe podem contribuir de modo significativo para o tratamento e evolução do paciente quando existe a troca de ponto de vista, quando existe a compreensão de que o paciente é um indivíduo único que é atendido por vários profissionais. Por exemplo, algumas vezes acontece de termos habilidades que são estimuladas em um determinado contexto e através da comunicação entre os profissionais e até mesmo orientações de como podem ser feitas essas estimulações, tendem a facilitar o manejo das habilidades nos demais ambientes e favorecer o tratamento do paciente.