Última volta, primeiro passo: o último ano de curso

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Formar-se. Esse é um dos assuntos mais comentados na faculdade. Sempre há alguém falando sobre o cansaço, a sobrecarga, o medo e até o desespero. Apesar de sentimentos semelhantes, cada experiência é única. Para alguns, um alívio; para outros, um processo de luto. Há quem queira se livrar logo dessa fase e quem anseie por iniciar a carreira e ser reconhecido. E eu? Onde me encaixo nesse mar de emoções? Bom, sinto que estou me dissolvendo nele, enquanto a ansiedade de pegar o diploma toma conta de cada molécula do meu corpo.

Tudo começa com a inscrição para a prova de ingresso na ênfase. A ficha de que o fim está próximo cai no momento em que você aperta “enviar” no formulário. Embora a prova não seja difícil e eu nunca tenha ouvido falar de alguém que reprovou, o processo é psicologicamente desgastante. A sensação é parecida com a de fazer vestibular, o pensamento de que todo o futuro depende daquela prova, e independente de estar completamente exausta, é necessário que seja feito. Depois que encontra o seu nome na lista de aprovados é como se pudesse respirar pela primeira vez. É real, o capítulo “faculdade” está nas últimas páginas.

O luto, para mim, vem principalmente em relação ao time de vôlei da faculdade. Há quatro anos entrei para o time, e representar meu curso por meio do esporte foi a realização de um sonho. Foi também o que mais me ajudou a manter a sanidade ao longo dos anos. Ali, fiz as melhores amizades e vivi as mais diversas e intensas emoções: raiva, euforia, pertencimento, segurança, insegurança… São pessoas e momentos que têm um grande valor sentimental para mim. Pensar que só tenho mais oito meses para re-viver tudo isso me assusta. Estou na fase da negação, evitando encarar o que significa não fazer mais parte desse time.

O alívio, por outro lado, vem ao pensar na liberdade financeira que a formatura pode proporcionar. Saber que meus pais não precisarão mais pagar mensalidades acima de um salário mínimo já é um grande conforto. O fim da ansiedade com as semanas de prova, as notas e o fechamento de semestre também trazem um respiro. Mesmo que eu faça uma pós-graduação ou um mestrado, a sensação será diferente — afinal, meu diploma já estará na parede. Ou talvez não seja tão diferente assim. Mas, de qualquer forma, ter vencido essa etapa da vida será um grande motivador para enfrentar as próximas.

O maior desafio é ter paciência para deixar que o tempo coloque tudo no lugar. Enquanto isso, o que me dá sentido para continuar batalhando são os pacientes da clínica. A experiência é devastadora, intensa e gratificante. Com eles, percebo as diferentes formas que cada pessoa tem de lidar com as dificuldades e, ao mesmo tempo, me observo lidando com os desafios que surgem em cada atendimento. A cada história compartilhada, um novo aprendizado se revela dentro de mim, enquanto assumo o papel de profissional apta a auxiliar aquele ser humano em suas demandas.

Nesse processo, a insegurança está sempre presente. O sentimento de não estar fazendo o suficiente é, ao mesmo tempo, meu maior aliado e meu pior inimigo. Ele me impulsiona a estudar mais para ajudar mais, mas também me faz sentir inútil e insuficiente diante da complexidade da vida de cada paciente. E assim, eu percebo o quão difícil é ser psicólogo, e o quanto é cada vez mais desafiador lidar com os sentimentos de outra pessoa.

Mas enfim, continuo tentando manter a calma e não pensar no final, até porque sabemos que o mais importante é aproveitar o caminho enquanto tento evitar ao máximo que o medo do incerto tome conta dos meus pensamentos. Sempre perguntam: “O que vai fazer depois que formar?” e eu penso: “Eu deveria saber?”, é por isso que manter a calma é tão difícil, todo o resto conspira a favor de perder o controle e a ansiedade acaba se tornando a protagonista desse espetáculo chamado vida.

E no meio desse turbilhão de sentimentos, percebo que crescer também é aprender a dizer adeus. Adeus às rotinas que um dia pareceram eternas, às pessoas que se tornaram lar, às várias versões de mim mesma que existiram ao longo dessa caminhada. Mas, acima de tudo, é um “olá” ao desconhecido, ao que ainda está por vir, e agora, tudo o que posso fazer é seguir em frente, levando comigo a certeza de que, mesmo com medo, eu cheguei até aqui. E isso, por si só, já é extraordinário.

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“Sonhar não tem idade”: a jornada de Mafran Guimarães na psicologia aos 73 anos

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Quantas vezes ouvimos que “já passou da hora”? Que existe um momento certo para estudar, para recomeçar, para sonhar? Maria Francisca Guimarães, a Mafran, prova que o tempo não dita nossos passos, quem faz isso é a coragem. Aos 73 anos, ela não apenas retornou à sala de aula, mas escolheu um caminho desafiador: a Psicologia.

Em um mundo que insiste em colocar prazos de validade nos sonhos, Mafran mostra que a mente não envelhece – ela se expande. Sua história não é apenas sobre livros e diplomas, mas sobre resiliência, reinvenção e a ousadia de buscar significado mesmo quando a vida poderia simplesmente “pausar”.

Nesta entrevista emocionante para o portal (En)Cena, Mafran compartilha suas motivações, os desafios de voltar a estudar em turmas de jovens e como a Psicologia transformou sua maneira de enxergar a vida. Uma conversa que inspira, emociona e nos lembra: nunca é tarde para recomeçar. “O segredo é sonhar, não existe idade para isso”.

(En)Cena – Mafran, aos 73 anos, a senhora não está apenas cursando Psicologia – está reescrevendo o que significa existir em um mundo que muitas vezes acredita que sonhos têm prazo de validade. Qual é o segredo de quem olha para o futuro sem medo, mesmo sabendo que o caminho tem mais voltas do que o esperado?

Mafran Guimarães –  Sonhar. Não existe limite para sonhar. Sonho significa despertar para continuar a caminhar. O que me moveu a estar aqui, fazendo minha quarta graduação, já com 30 anos de aposentadoria como professora, é continuar sonhando. O corpo envelhece, mas a mente se renova. E eu quero usar essa renovação para fazer um trabalho voluntário, ajudando o próximo.

(En)Cena –  O que a motivou a escolher a Psicologia, especificamente?

Mafran Guimarães –   Durante a pandemia, vi o mundo adoecer. Jovens, idosos, crianças – todos fragilizados. Busquei na Psicologia uma forma de amenizar essa dor, de oferecer escuta e acolhimento. Quero ajudar as pessoas a encontrarem um norte. “Caí, mas não fiquei no chão.
Sempre me levantei”

(En)Cena – A senhora mencionou que, durante a pandemia, enfrentou um momento muito difícil, chegando a suspeitar de Alzheimer. Como foi esse processo e o que a fez buscar ajuda?

Mafran Guimarães –  Fiquei isolada, comecei a esquecer meu próprio nome, chorava sem motivo. Percebi que estava à beira de uma depressão. Então, tomei uma decisão: “Vou socializar, vou exercitar a mente”. Mudei para Palmas, entrei na faculdade e, hoje, estou 100%. Ressignifiquei minha história.

(En)Cena – como foi a reação da família e dos amigos?

Mafran Guimarães –  Alguns disseram: “Mais uma faculdade?”. Mas meus netos me veem como referência. Sabem que sou determinada. E eu digo: “Se alguém se incomoda, problema é deles. Eu sigo meu compasso”. “O preconceito existe, mas minha vontade é maior”

(En)Cena – A senhora já enfrentou situações de etarismo (discriminação por idade) na faculdade?

Mafran Guimarães –  Sim. Um colega me deu um terço de presente e disse: “Você devia estar na igreja, não aqui”. Respondi: “Quem poderia me barrar era a instituição, meu dinheiro ou eu mesma. Nenhum dos três me impediu”. Segui em frente. “A Psicologia me fez renascer”

(En)Cena – Como o curso tem transformado sua visão de vida?

Mafran Guimarães –  A Psicologia me deu um olhar científico, mas também mais humano. Aprendi a desconstruir velhos conceitos e reconstruir com empatia. E descobri que sempre fui resiliente – como uma grama que se levanta depois de pisada. “Não existe tempo insuficiente,
só tempo mal planejado”

(En)Cena – O que a senhora diria para quem acha que “já passou da hora” de realizar um sonho?

Mafran Guimarães –  Acorde! Nunca é tarde. O que importa não é a idade, mas a vontade. Planeje, tenha foco e vá. Se eu consegui, você também pode. “Meu propósito é devolver o que recebi”

(En)Cena – Como a senhora imagina o futuro com a Psicologia?

Mafran Guimarães –  Quero trabalhar como voluntária. Já tenho o suficiente materialmente – agora quero doar cuidado, escuta, esperança. A vida me deu muito, e quero retribuir.

Se a vida de Mafran fosse um livro, esse capítulo se chamaria “Pedaços de Mim Realizados para o Outro”. Sua história não é só sobre estudar, mas sobre resistir, recomeçar e, acima de tudo, provar que sonhar não tem idade.
E você? Qual sonho ainda espera para ser vivido?

Lilian e Mafran

📌 Acompanhe mais histórias inspiradoras no portal (EN)CENA!  

Entrevista conduzida por Lilian Rosa em 10/04/2025, Palmas – TO. 

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Relato de uma mulher que encarou uma nova graduação com 4 filhos

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Quando me tornei mãe, ganhei um título de muita responsabilidade, e aquele pequeno ser também me encheu de coragem para ir atrás dos meus sonhos. Eu olhava para ele, sentia tanto amor, tanta vontade de ser alguém melhor para ele, e pensava: “ – não dá para continuar vivendo da forma como vivo: imatura, amedrontada diante da vida, procrastinadora e iludida que eu tinha todo o tempo do mundo”. Foi aí o start que eu precisava para colocar para rodar tudo o que eu sonhava para a minha vida e viver de um modo que fizesse sentido pra mim. Um desses sonhos foi a graduação em psicologia.

Quando iniciei minha segunda graduação, meu primeiro filho estava com 2 anos. Eu nem acreditava que estava começando a realizar meu adormecido sonho. Dei uma volta na faculdade, andei pelos corredores, fui até a biblioteca colocar a mão nos livros que eu ia estudar, cada título me fascinava. Eu ainda estava no início da caminhada,mas já me sentia realizada por estar ali. O primeiro ano de faculdade foi de adaptação e encantamento. Olhando para o passado com tudo o que aprendi hoje, era fichinha fazer faculdade com um filho. Segui animada e grata, afinal a chegada dela foi um trampolim para a minha vida.

No decorrer do curso, ganhei mais um bebê. Apesar do medo de achar que não daria conta, do cansaço de alguns dias, do sono que me amarrava na cama, das dores e incômodos, eu já estava na metade do caminho e não estava disposta a desistir. Segui com ele no meu colo. Levava para a sala de aula, amamentava, dava colo. Tudo debaixo da compreensão e empatia dos professores e colegas. Não faltava colo para segurá-lo. A Universidade também dispõe de um espaço Kids que por muitos dias me ajudou bastante quando eu precisava me concentrar nas aulas práticas. 

No intervalo das aulas eu buscava eles na brinquedoteca da Ulbra – que me salvou muitas vezes – para fazer um lanchinho

A pandemia chegou e a ocupação com meus filhos e com a faculdade me ajudaram a não sucumbir ao desespero do momento. Eles me apontavam um horizonte, que eu mesma tinha almejado chegar. Seguimos as aulas em formato online. O mundo inteiro passava por uma readaptação. Nesse período tive mais um bebê. Em cada gestação não há como negar que batia um medo. Ainda que seja uma experiência familiar para mim, cada filho é único e cada momento da vida é diferente do outro. Precisei me adaptar à nova rotina pessoal e ao novo formato de aulas que, para mim, não foi nada fácil, apesar de estar em casa. As crianças pequenas não entendiam muito bem aquele movimento todo e faziam barulho ao meu redor, enfiava o rostinho na câmera e se concentrava toda a aula com a fofurice deles, ninguém sabia direito a dimensão do problema, nem quando iria passar, como faríamos para nos formar. 

As circunstâncias foram melhorando, mas dias desafiadores existem e sempre existiram. Faz parte da vida. Passei por vários deles! Por vezes tinha muitas demandas da faculdade e não podia dedicar tanta atenção a eles. Deixei de sentar no chão para brincar, coisa que eles mais adoram fazer comigo, para poder terminar um capítulo do trabalho. Abri mão de atuar nos campos de estágio que eu preferia para poder levá-los ao médico, ensinar tarefas e educá-los. Eles adoeciam e eu tinha prazos de entrega na minha cola. Inúmeras vezes levei junto comigo para a sala de aula. Já precisei trocar fralda e dar almoço no carro. 


Foto: Arquivo Pessoal
Após almoçar e trocar a fralda no carro, meu filho acabava dormindo no carro também.

Em meio as ocorrências kids, tive a oportunidade de desenvolver as minhas habilidades de foco, organização de tempo, prazos de entrega e resiliência. Como eu não tinha tempo para enrolação, aprendi a focar e otimizar o tempo que eu tinha para o estudo. A vida deles veio me mostrar o tamanho da minha capacidade de amar, de gerir o meu tempo, de me dedicar com atenção a uma tarefa e, principalmente, de superar os percalços e imprevistos para não desistir. Aprendi a fazer o melhor possível, com o que tenho em mãos hoje. 

O apoio do meu marido foi imprescindível para essa realização, do início até a conclusão. Ele ficava com as crianças, organizava as refeições deles para que eu pudesse finalizar minhas atividades. Levava eles ao parquinho para eu conseguisse participar de uma transmissão online. Organizava comidas e mochila e carrinho quando eu precisava levar para a faculdade comigo. Além dele, também foi essencial o apoio da minha mãe, irmã, fosse para dar uma atenção ou preparar um lanche quando eu precisava mergulhar nos livros. Hoje eu vejo que os três principais ingredientes foram compromisso com a solução, determinação e rede de apoio. Não batia aquela famosa culpa materna? Com certeza! Por muitas vezes me via no dilema: agora faço as atividades ou dou atenção às minhas crianças. Às vezes um ganha, às vezes o outro. Ainda assim eu afastava a culpa e seguia confiante, porque eu não queria me tornar aquela mãe que lá no futuro coloca a culpa do sonho não realizado nas crianças. Quero que eles sintam orgulho de mim pela minha determinação  em seguir junto com eles e que, eles não foram os empecilhos, foram então, os maiores motivos para eu seguir. 

Não só os familiares, mas muitos professores também acabam sendo nossa rede de apoio através da compreensão e empatia. Vários deles me permitiam entregar a atividade de sala no final do dia, pois eu estava com o braço ocupado amamentando. Me recebiam com largos sorrisos quando eu chegava com a criança, o que diminuía a minha preocupação de estar sendo inconveniente. Me permitiam fazer supervisões online, quando eu não podia ir até eles. Esse apoio dos professores ajudou, e muito, na realização do sonho de concluir esse curso.

Meu filhos e a faculdade me ensinaram demais. Talvez, sem eles eu não teria dado tanto de mim nessa formação, não conheceria o tamanho da minha capacidade. Minha circunstância de vida acabou virando matéria prima para o meu trabalho com a clínica infantil, já que precisei me aprofundar nos conhecimentos sobre o desenvolvimento humano. Os conhecimentos adquiridos na formação me guiaram para entender profundamente o que é uma criança, a importância de bons adultos na vida dela e todo o processo de formação de uma personalidade. Esses conhecimentos me foram úteis para exercer um maternar mais leve, perceber o quanto de mim há em cada filho, recolher as minhas projeções e saber que eles são como são, entender a minha função no desenvolvimento da personalidade de cada um deles. Como bem explica Calil Gilbran, eu sou “apenas o arco que lança as flechas”.

Foi uma jornada desafiadora e excitante para mim que sou movida a desafios. Em meio há inúmeras páginas, infindáveis artigos, pilha de livros, prazos apertados, eles me encheram de coragem para encarar os obstáculos. Pais felizes formam filhos felizes. E estudar sempre foi uma paixão para mim. Eu entendi que quando estamos realizadas isso se reflete na família. E é assim que eu concluo minha segunda graduação. Feliz e com a certeza de que filhos podem ser a desculpa ou o motivo. Eu tenho 4 fortes motivos! 

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Desafios da formação em especialização lato senso na rede de ensino privada

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O ato de aprender carrega singularidades e desafios que devem ser considerados no processo de formação, aspectos econômicos, sociais, culturais e geográficos são alguns dos elementos que podem estar diretamente associados ao nível de escolaridade alçado e à valorização da formação acadêmica como estratégia de superação da realidade. Fica a pergunta: como se formar em meio a tantos desafios?

Em prol dessa escuta e da compreensão da realidade atual, o (En)Cena convidou diferentes estudantes, da rede pública e privada para falarem sobre os desafios da formação acadêmica no Brasil. Nesta série de entrevistas eles falam sobre trajetória acadêmica, os aprendizados e os desafios que ainda precisam ser superados. As narrativas nos mostram o cenário atual de precarização não só das estruturas de formação, mas também do baixo índice de criticidade e autonomia dos alunos sobre seu processo de formação. Precisamos (re)aprender a aprender.

Visando preservar a identidade de nossos convidados e pensando na potência do ato de aprender livre de pressões institucionais, optamos por manter em sigilo o nome de todos os entrevistados e das instituições de ensino. Entendemos que suas falas alcançam, contemplam e priorizam, ainda que de modo particular, estudantes da rede pública e privada de nosso país.

A entrevistada de hoje é uma estudante de Pós-Graduação no Ensino Público, veremos a seguir as motivações que a levaram a seguir nesse processo de formação, são falas   carregadas de experiências pessoais e pontuações cheias de reflexões sobre o espaço acadêmico e o impacto que ele gera na formação do indivíduo. A estudante expõe sua visão sobre como o espaço acadêmico é também um ponto desafiador e por vezes desequilibrante no que tange a saúde mental dos estudantes. Vale a pena conferir…

Segue a entrevista na íntegra abaixo:

(En)Cena – Qual a importância da graduação na sua vida?

Estudante – O diploma de graduação a nível de mercado, tem sua valorização, e isso em si já é muito importante, mas para além disso existem as experiências de amadurecimento pessoal que é vivenciada enquanto passamos pela graduação. Maturidade essa que expande a forma de nos enxergarmos e também como passamos a enxergar o outro.

(En)Cena – Como você acha que a universidade te auxilia para alcançar seus objetivos de vida?

Estudante: A universidade abre caminhos mais profundos para o saber, e eleva ainda mais a potencialidade existente em cada aluno para que esses possam ingressar no mercado de trabalho com uma formação e embasamentos teóricos necessários. Somos preparados também pelas múltiplas áreas de atuação apresentadas no período de formação, e especialmente pela forma que é exposto cada conteúdo, por professores realmente capacitados para tal, mas tudo isso só pode trazer resultados positivos se em contrapartida o aluno se engajar no processo, e isso tudo apesar das limitações individuais, pois é na universidade que somos instigados a nos preparar e somos direcionados para uma área de atuação ao final da graduação e podemos competir por espaço no mercado de trabalho.

(En)Cena – O que você acha do modelo de ensino vigente?

 Estudante: Na graduação, achei o modelo bem mais teórico e com pouca prática. Na Pós, pelo menos na minha experiência, tenho achado bem mais dinâmico e focado nas necessidades de atuação do mercado especialmente dentro da abordagem que escolhi para atuação. Tenho me surpreendido e gostado bastante de passar pelo processo dos pós.

(En)Cena – Você enxerga o contexto acadêmico como inclusivo?

Estudante – A passos lentos sim, mas ainda falta muito para se igualar ao discurso que hoje é reverberado por aí de que já temos uma educação inclusiva, ainda não é real no meu ponto de vista. Acredito que a educação básica esteja bem mais preparada para inclusão do que o Ensino Superior, e fortalecendo isso na base fará muita diferença nos outros níveis.

(En)Cena – Você acha que a universidade pode afetar a saúde mental dos estudantes?

Estudante – Com certeza! Se fizéssemos uma pesquisa sobre trancamentos de matrículas e desistência ao longo do processo de formação, descobriremos que o número de alunos que o fazem sendo motivados pelo adoecimento da saúde mental é enorme. E a quantidade de alunos que chegam adoecidos ao fim da graduação também é um número considerável. E penso que isso se dá por diversos motivos, muitos desses alunos seguem na graduação precisando conciliar inúmeras responsabilidades pessoais e sem esse suporte profissional o desgaste é perceptível. Penso que é de extrema importância repensar alguns modelos de ensino e até a disposição por parte das universidades de oferecer algum tipo de suporte a esses alunos.

(En)Cena – Como foi seu trajeto até chegar na Pós Graduação?

Estudante – A pós-graduação foi uma necessidade de ampliar a compreensão da abordagem escolhida dentro do curso que me formei, Psicologia, e essas abordagens são apresentadas de forma limitado na Graduação até porque o universo da Psicologia é bem abrangente, e por conta disso percebi a necessidade de aprofundar o conhecimento e ser mais intencional para a minha atuação. Me graduei esse ano, e em seguida já engatei a pós e tem sido uma experiência enriquecedora.

(En)Cena – Há algum ensinamento que você aprendeu em sala de aula e que leva para vida?

Estudante – Se inspire nos bons professores e profissionais, eles não perderam de vista a razão pela qual começaram, estejam abertos às experiências que a formação proporciona, muitas dessas experiências serão revestidas de grandes desafios e muita disciplina, mas vale a pena, é transformador.

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Desafios da formação em ensino superior na rede de ensino pública

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O ato de aprender carrega singularidades e desafios que devem ser considerados no processo de formação, aspectos econômicos, sociais, culturais e geográficos são alguns dos elementos que podem estar diretamente associados ao nível de escolaridade alçado e à valorização da formação acadêmica como estratégia de superação da realidade. Fica a pergunta: como se formar em meio a tantos desafios?

Em prol dessa escuta e da compreensão da realidade atual, o (En)Cena convidou diferentes estudantes, da rede pública e privada para falarem sobre os desafios da formação acadêmica no Brasil. Nesta série de entrevistas eles falam sobre trajetória acadêmica, os aprendizados e os desafios que ainda precisam ser superados. As narrativas nos mostram o cenário atual de precarização não só das estruturas de formação, mas também do baixo índice de criticidade e autonomia dos alunos sobre seu processo de formação. Precisamos (re) aprender a aprender.

Visando preservar a identidade de nossos convidados e pensando na potência do ato de aprender livre de pressões institucionais, optamos por manter em sigilo o nome de todos os entrevistados e das instituições de ensino. Entendemos que suas falas alcançam, contemplam e priorizam, ainda que de modo particular, estudantes da rede pública e privada de nosso país.

A entrevistada de hoje cursa Pedagogia, no estado do Tocantins. De forma clara, a mesma relatou abertamente sobre a sua trajetória até a graduação. Percebe-se a importância que a estudante atribui ao ensino, mas também deixa claro que existem pontos negativos, que podem afetar diretamente na saúde dos estudantes.

Segue a entrevista na íntegra abaixo:

(En)Cena: Qual a importância da graduação na sua vida?

Estudante: Eu considero uma vitória, pois na minha casa estou sendo a primeira a fazer uma graduação, meus pais não tiveram essa oportunidade e eles me apoiam e celebram muito a cada semestre graduado. Além de uma realização pessoal, sei do valor que há um curso de nível superior nesse processo de competitividade no mercado de trabalho. Quero ocupar um espaço onde profissionalmente eu me sinta preparada para exercê-lo e também dê continuidade a formação após esse ciclo atual.

(En)Cena: Como você acha que a universidade te auxilia para alcançar seus objetivos de vida?

Estudante: Acredito que o conhecimento abre portas e nos conduz aos lugares que almejamos, entendo que a faculdade seja uma facilitadora, um “degrau”  para o futuro que desejo, então, sim, a universidade me auxilia nesse processo de conquista pessoal..

(En)Cena: O que você acha do modelo de ensino vigente?

Estudante: Acho que poderia ser melhor, no sentido de ser mais dinâmico e prático, acredito  também que tem outras maneiras de “medir” o aprendizado de alguém sem necessariamente fazer uma prova para isso. Tenho aprendido sobre isso nesse processo de formação com professores que estabelecem uma prática para além daquilo que é o comum e esperado, e isso me inspira como futura profissional na área da educação. O modelo pode e precisa ser expandido, e isso não invalida o processo, pelo contrário, enriquece-o.

(En)Cena: Você enxerga o contexto acadêmico como inclusivo?

Estudante: Sendo sincera, poderia ser bem melhor, ainda existe um grande desequilíbrio a respeito de quem consegue ter acesso a universidade comparado aqueles que não conseguem entrar por vários fatores e contextos, é visível a “desigualdade” nesse sentido, e quando se consegue essa inserção ainda há inúmeros desafios desde a pessoas que portam alguma necessidade específica a também os universitários que não possuem condições econômicas mínimas para que dêem continuidade ao processo de graduação..

(En)Cena: Você acha que a universidade pode afetar a saúde mental dos estudantes?

Estudante: Sim, particularmente já vivi algumas situações não tão legais, com professores que acabam sendo bem autoritários e tem a questão do excesso de atividades, esses pontos acabam gerando um desgaste emocional e mental.

(En)Cena: Como foi seu trajeto até chegar na Graduação?

Estudante: Eu estudei em escola pública a vida inteira, tive inúmeras experiências boas e também ruins, algumas dessas experiências foram limitantes,  mas também tiveram aquelas que foram potencialmente validantes, e quando chegou a hora de pensar em ingressar no Ensino Superior eu me vi diante de algumas opções de instituição de ensino e entendi que antes de pensar em qual entrar eu precisava me preparar muito para o ENEM,  realmente tinha a necessidade de passar numa faculdade pública ou conseguir alguma bolsa, se fosse de outra forma não conseguiria estar na graduação no momento, foi um desafio, está sendo um desafio, mas olho para todo esse trajeto e celebro, pois apesar de tudo o ensino público nos oportuniza espaços em lugares onde podemos sim realizar nossos sonhos.

(En)Cena: Há algum ensinamento que você aprendeu em sala de aula e que leva para vida?

Estudante: Sem dúvidas, aprendi muito sobre perseverança, sobre acreditar em mim, e sobre respeito a mim e aos meus limites, como também aprendi e aprendo sobre respeito ao outro e sua história de vida e particularidades no processo. Entendo que esse entendimento supera qualquer um outro, pois é onde baseiam os demais saberes, precisamos olhar para quem éramos, quem somos, e quem desejamos ser, e isso precisa passar também pelo próximo. O mercado de trabalho precisa ser pautado pela ética profissional, e isso é possível quando me vejo e enxergo o outro como um ser humano em seu processo de contínua formação.

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Desafios da formação em ensino superior na rede de ensino privada

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O ato de aprender carrega singularidades e desafios que devem ser considerados no processo de formação, aspectos econômicos, sociais, culturais e geográficos são alguns dos elementos que podem estar diretamente associados ao nível de escolaridade alçado e à valorização da formação acadêmica como estratégia de superação da realidade. Fica a pergunta: como se formar em meio a tantos desafios?

Em prol dessa escuta e da compreensão da realidade atual, o (En)Cena convidou diferentes estudantes, da rede pública e privada para falarem sobre os desafios da formação acadêmica no Brasil. Nesta série de entrevistas eles falam sobre trajetória acadêmica, os aprendizados e os desafios que ainda precisam ser superados. As narrativas nos mostram o cenário atual de precarização não só das estruturas de formação, mas também do baixo índice de criticidade e autonomia dos alunos sobre seu processo de formação. Precisamos (re) aprender a aprender.

Visando preservar a identidade de nossos convidados e pensando na potência do ato de aprender livre de pressões institucionais, optamos por manter em sigilo o nome de todos os entrevistados e das instituições de ensino. Entendemos que suas falas alcançam, contemplam e priorizam, ainda que de modo particular, estudantes da rede pública e privada de nosso país.

A entrevistada de hoje cursa Psicologia na rede privada, em uma instituição situada no estado do Paraná. De forma clara, a mesma relatou abertamente sobre a sua trajetória até a graduação. Percebe-se a importância que a estudante atribui ao ensino, mas também deixa claro que existem pontos negativos, que podem afetar diretamente na saúde dos estudantes.

Segue a entrevista na íntegra abaixo:

(En)Cena: Qual a importância da graduação na sua vida?

Resposta: Primária, a graduação é meu foco principal atualmente.

(En)Cena: Como você acha que a universidade te auxilia para alcançar seus objetivos de vida?

Resposta: Sem a faculdade eu não conseguiria realizar o sonho de me tornar psicóloga, pois só se pode  atender pacientes em clínica com domínio técnico e claro, o número no Conselho Regional. Portanto, a faculdade é o principal passo para que eu consiga atingir minhas metas profissionais.

(En)Cena: O que você acha do modelo de ensino vigente?

Resposta: Necessita de mudanças. A graduação de psicologia no Brasil ainda é atrasada em comparação aos outros países (especialmente EUA, Canadá e Inglaterra). Temos aqui uma grade horária antiga e que não recebe a atualização que deveria.

(En)Cena: Você enxerga o contexto acadêmico como inclusivo?

Resposta: Para pessoas privilegiadas socialmente, sem dúvida. Mas para aqueles que fazem parte de uma minoria, infelizmente a faculdade é um ambiente exclusivo, hierárquico e intelectualizado.

(En)Cena: Você acha que a universidade pode afetar a saúde mental dos estudantes?

Resposta: Sem dúvidas. Considerando a faculdade como algo que toma a maior parte da vida dos graduandos, seria impossível ela não afetar diretamente a saúde mental deles. Em cursos com carga horária alta e exigências desumanas, muitos estudantes sofrem com problemas sérios de saúde mental.

(En)Cena: Como foi seu trajeto até chegar na universidade?

Resposta: Fiz parte do ensino médio num intercâmbio nos EUA, depois voltei e finalizei o 3ao aqui no Brasil. No outro ano eu fiz cursinho e aí entrei na graduação com 18 anos.

(En)Cena: Há algum ensinamento que você aprendeu em sala de aula e que leva para vida?

Resposta: Seja sempre humilde. Independente do nível de conhecimento que você adquirir, mantenha a humildade e a compaixão pelas pessoas. Ajude as pessoas através do conhecimento que você tem.

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Marildes Andrade: é preciso investir em nosso autodesenvolvimento

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O (En)Cena entrevista a acadêmica de Psicologia do Ceulp/Ulbra, Marildes Martins da Silva Rocha Andrade, Piauiense, 52 anos, casada, mãe de três filhos. Marildes é servidora da Secretaria de Estado da Saúde do Tocantins há 27 anos, formada em Fisioterapia pela UEPB, Mestre em Saúde Coletiva pela UFBA. Na entrevista a seguir a entrevistada compartilha sobre a motivação que a levou a cursar psicologia, pontua seu interesse por literaturas relacionadas a essa área mesmo antes de ingressar no curso e quais são as suas expectativas futuras após a formação.

Confira este e outros detalhes na entrevista abaixo.

EnCena – O que te motiva a fazer psicologia já em uma fase mais amadurecida da vida?

A trajetória como fisioterapeuta me possibilitou trabalhar durante muito tempo em uma equipe multidisciplinar. Percebi o quanto era importante o paciente que estava em reabilitação também estar em psicoterapia, e como isso influenciava na evolução do tratamento fisioterapêutico. Também sempre gostei de leituras na área da psicologia. Paralelo a isso, a aposentadoria que se aproxima me fez refletir: o que farei quando me aposentar? Primeiro veio à aflição: não consigo me enxergar sem uma atividade, e por ocasião da pandemia em que fiquei um ano trabalhando em home-office veio a decisão de cursar psicologia.

Qual a área de atuação você pretende focar depois da formação?

Penso na clínica e na abordagem da psicologia analítica junguiana.

Qual dica você deixa para quem pretende cursar psicologia?

Primeiro, estudar psicologia exige muita dedicação e o aluno deve buscar leituras complementares, além das leituras acadêmicas. Segundo, estudar psicologia não é o mesmo que fazer psicoterapia, mas que fazer psicoterapia fará toda a diferença na vida profissional do aluno. Outra dica é que você pode fazer psicologia e escolher outras áreas que não seja a clínica, e para finalizar, a psicologia é uma ciência e isso é muito mais do que “ajudar os outros”.

Que aspectos internos foram mobilizados em sua vida a partir do curso?

Por meio de algumas aulas, gatilhos foram mobilizados e iniciei psicoterapia. Ainda em processo, percebo o quanto nos negligenciamos em prol de uma rotina estressante. E outro aspecto mobilizador, a importância de parar um pouco e nos voltarmos  para dentro de nós e o prazer de nos reencontrar.

Como é a experiência de conviver no curso com pessoas de diferentes idades e perspectivas?

Estou tendo uma ótima experiência. Aprendo muito observando seus comportamentos, seus posicionamentos e não me sinto diferente, nem inibida. Ali somos todos alunos.

Quais os maiores desafios enfrentados na pandemia relacionado à formação acadêmica?

Iniciei o curso durante a pandemia, então para mim foi uma forma de não me sentir “presa” em casa, pois durante a semana eu tinha aula e encontrava os colegas, mesmo virtualmente.

Qual mensagem você deixa para os nossos leitores?

Cuidem de vocês, se priorizem, pois quando a gente vê o tempo passou e se não cuidarmos de nós, da nossa saúde mental, chegaremos à velhice como a sensação de termos deixado de fazer o mais importante: nos amar.

 

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Giselle Thron: “não existe uma única realidade, uma única verdade…”

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O (En)Cena entrevista a acadêmica de Psicologia do Ceulp/Ulbra, Giselle Carolina Thron, natural do estado de São Paulo. Ela vive no Tocantins desde a adolescente, onde residiu em Porto Nacional e, há sete anos, se mudou para Palmas. A respeito de suas formações anteriores à Psicologia, Giselle nos contou que tem Licenciatura em História pela UFT e Especialização em História Social, e que após este período de sua primeira formação resolveu fazer o curso de Tecnologia em Estética e Cosmética na ULBRA, além disso também tem Especialização em Processos Educacionais Inovadores, pela UniCatólica.

Confira este e outros detalhes na entrevista abaixo:

EnCena – O que te motiva a fazer psicologia já em uma fase mais amadurecida da vida?

Bom, quando concluí o Ensino Médio, morava em Porto Nacional na época, despertei a vontade de cursar Psicologia, mas a minha realidade naquele período não me permitiu, pois já trabalhava e o curso mais próximo era em Palmas. Então, não tinha dinheiro para arcar com as despesas de transporte e a mensalidade, programas de bolsas e financiamentos eram difíceis e ainda tinha o agravante de ter que cursar também durante o dia. Por isso, dentre as opções que eu tinha na cidade: Letras, Geografia, Biologia e História, minha “escolha” foi a que mais se aproximava de mim: História. Quando decidi por uma segunda formação a vontade de cursar Psicologia aflorou novamente, mas as condições financeiras falaram mais alto e tive que adiar. Tempos depois, com mais estabilidade financeira eu pude voltar a pensar neste projeto que cultivei naquele momento. Também o fato de ser servidora da Ulbra me ajudou muito, pois posso ser bolsista e cursar com mais tranquilidade, embora, como milhares de estudantes trabalhadores é muito difícil conciliar várias tarefas e me dedicar tanto quanto eu gostaria.

Qual a área de atuação você pretende focar depois da formação?

Quando penso sobre isso eu vejo o meu nível de amadurecimento quanto à profissão. Antes de iniciar o curso eu tinha uma ideia totalmente diferente da Psicologia, não imaginava a imensa variedade de linhas teóricas e abordagens que temos para seguir. Sobre a área que mais me motiva é a Terapia Sistêmica, embora a abordagem freudiana também muito me encanta, mas neste momento estou me dedicando a Sistêmica.

Qual dica você deixa para quem pretende cursar psicologia?

Dica elementar… rs: Leitura. Leitura. Leitura! Outra dica que não poderia faltar para quem está pensando em cursar Psicologia é despir-se de julgamento e preconceitos e aprender que crenças pessoais devem estar ligadas apenas a sua vida particular. Ahh… e façam terapia!!

Que aspectos internos foram mobilizados em sua vida a partir do curso?

Tenho aprendido que não existe uma única realidade, uma única verdade, e que respeitar o ser humano é fundamental. Tenho aprendido a conviver melhor com as pessoas e aceitar minhas falhas e, sobretudo, a lidar com meus próprios traumas passados.

Como é a experiência de conviver no curso com pessoas de diferentes idades e perspectivas?

Esta é uma das delícias de cursar Psicologia. No início me incomodava um pouco, observava as turmas que frequentava e via uma espécie de “rachadura”: de um lado um grupo recém-saído do ensino médio que se considerava muito especial por ser jovem e de outro lado um grupo “mais velho”, que se achava muito especial por ter “experiência de vida”. Hoje já olho para estes dois grupos e consigo ver homogeneidade e uma intensa troca de experiências, vejo que todos nesses grupos estão ali para somar histórias e visões de mundo, estamos aprendendo a conviver com diferentes problemas e histórias de vida e isso é lindo, pois é isso que teremos em nossa profissão: Muitas histórias e dramas pessoais aos quais teremos que dar suporte para que estas pessoas possam superar seus desafios.

Quais os maiores desafios enfrentados na pandemia relacionada à formação acadêmica?

Sinto até certo incômodo a me referir a este período, pois sei que falo de uma posição de privilégio. Na verdade, eu não tive grandes dificuldades em dar sequências aos meus estudos, claro, o fato da distância incomodava um pouco no início, mas logo eu me habituei como aluna. Explicando minha posição de privilégio… Sou uma mulher solteira, sem filhos, tinha meu espaço tranquilo, conexão de qualidade e equipamentos para acompanhar a aula diferente de outros milhares de estudantes. Os problemas que observava que muitas colegas terem eu não tinha, tais como: assistir aula segurando o filho no colo que reclamava atenção e que a mãe fosse fazer um lanche, pois era a hora do lanche, ou colegas que compartilhavam o espaço com outras pessoas e havia apenas um computador na casa para todos. Neste sentido que digo que para mim foi totalmente tranquilo e sem maiores implicações.

Qual mensagem você deixa para os nossos leitores?

Sendo estes leitores estudantes de Psicologia ou pretensos estudantes, aconselho a olhar para o lado e ver seus colegas como sua rede de apoio. É incrível como no decorrer do curso muda-se nossa percepção sobre muitos colegas, convivemos durante anos com pessoas e vamos conhecendo suas incríveis histórias, histórias que podem ajudar a mudar sua percepção do mundo.

Sendo estes leitores de outras áreas a única coisa que posso falar é: façam terapia, mas antes, escolham bem os profissionais.

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Danúzia Alves Dalat: a riqueza de cursar Psicologia após a aposentadoria

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O (En)Cena entrevista a acadêmica de Psicologia do Ceulp/Ulbra, Danúzia Alves Dalat, 54 anos, divorciada, mãe de dois filhos. Atualmente Danúzia reside em Palmas-TO, e como ela mesmo se apresenta, é “paraisense de vivência e natural de Araguacema-TO”. Psicologia é a sua segunda formação superior, sendo a primeira graduação a Licenciatura em Geografia e pós graduada em Gestão Escolar.

Em uma breve apresentação pessoal a entrevistada pontua que depois de atuar por 32 anos como professora e coordenadora pedagógica, e aposentar-se aos 50 anos por tempo de contribuição, deu início ao processo de formação em Psicologia que já era um desejo antigo. Hoje no nono período de formação, ela fala com expectativa sobre a possibilidade de uma nova atuação profissional.

Confira este e outros detalhes na entrevista abaixo.

(En)Cena – O que te motiva a fazer psicologia já em uma fase mais amadurecida da vida?

A possibilidade de atender a um desejo antigo de fazer essa graduação; disponibilidade e maturidade para me dedicar aos estudos e a possibilidade de uma nova atuação profissional, que certamente me trará uma melhor qualidade de vida, considerando que o ser humano necessita ser ativo.

(En)Cena – Qual a área de atuação você pretende focar depois da formação?

Clínica e institucional.

(En)Cena – Qual dica você deixa para quem pretende cursar psicologia?

Estudar e estudar! Esforçar-se para vencer a procrastinação diante das atividades acadêmicas propostas pelos educadores. Penso que esse “fenômeno procrastinação” das atividades acadêmicas é uma demanda latente e com prejuízos.

(En)Cena – Que aspectos internos foram mobilizados em sua vida a partir do curso?

Sem dúvidas, o autodescobrimento, a autonomia e autoestima

(En)Cena – Como é a experiência de conviver no curso com pessoas de diferentes idades e perspectivas?

Riquíssima!! Conviver com pessoas de idades distintas, nos possibilita novos aprendizados. Na troca de experiências, ambos têm muito a oferecer se compreendermos que as habilidades múltiplas são fundamentais para a completude humana.

(En)Cena – Quais os maiores desafios enfrentados na pandemia relacionado à formação acadêmica?

O distanciamento do convívio entre os acadêmicos e professores para a contextualização e trocas de conhecimentos foi desafiador. Além das atividades em grupos, especialmente por não conhecer quem estava do outro “lado”, isso dificultava compreender o contexto vivenciado, considerando que todos nós estávamos vivendo em suas “bolhas”, com suas mais variadas demandas e perdas.

(En)Cena – Qual mensagem você deixa para os nossos leitores?

Na meia idade nós precisamos fazer o exercício “doloroso” de olharmos para dentro, para então, confrontarmos com o nosso eu e voltarmos pra nós mesmo, enxergar a nossa sombra e então, preencher a nossa ansiedade, o nosso vazio, para o que mais combatemos em toda a nossa vida. É descobrirmos que somos capazes de ser quem realmente somos, e oportunizar aos outros espaço para que eles sejam quem são e assim vivermos melhor conosco e com as outras pessoas.

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