Mary Whiton Calkins

 

No dia 08 do mês de março, comemora-se o Dia Internacional da mulher. A história sobre esse dia é surpreendente e bela. Não há meios para eu saber o que é “ser mulher”, pois mulher não sou, mesmo que reconheça de mulheres coisas que há em mim, aberturas e fechamentos, desenhos e partituras, amadurecimento e infertilidade, felicidades e tristezas, sentidos e incompreensões. Então, certamente esse devir “ser mulher” passa por minhas sensações, percepções e apercepções que se fossem. E isso não quer dizer que o que acho que seja “ser mulher” seja de fato o que realmente é o “SER MULHER”, pelo contrário, afirmo que o que acho não me permite afirmar que o sei, e se acho é por querer achar, afinal trata-se de um “Ser” realmente interessante, sensual, atraente e habilidosa, e se os devires trevosos da humanidade lhes atravessa, como o devir calculista, vingativo e controlador, não o faz menos nos homens ou qualquer outro gênero humano. Os atravessamentos são da ontologia da humanidade, que logicamente se faz juntamente com a ontologia da mulher, mas não a possui por inteiro, ou seja, o que compõe a essência da MULHER transcende a essência da HUMANIDADE, uma vez que a essência da HUMANIDADE não se faz só do “SER MULHER”, mas, também, por uma infinidade de formas de ser. Contudo, o todo, a essência da HUMANIDADE, não é a mesma coisa que a soma das partes, não somente pelo fato de ELE (o todo) ter mais do que a soma das partes, mas também pelo fato de as partes não estarem em apenas um todo.

Mesmo assim, é unânime nos historiadores da Psicologia, ou seja representa um todo, a consideração de que a história da Psicologia Moderna, quando refere-se aos seus primórdios, negligencia a mulher tanto pela importância dada na propulsão da psicologia quanto pela real submissão a leis elaboradas somente por homens, como no caso da Europa do fim do século XIX e começo do século XX, momentos no qual as mulheres organizavam-se em busca de melhores condições de trabalho e universalidade de direitos, como no caso do voto.

O dia 28 de fevereiro de 1909 foi comemorado como o Dia Internacional da Mulher pela ação do Partido Socialista da América. O dia 19 de março de 1911 foi comemorado como o Dia Internacional da Mulher em quatro países europeus por ação da Internacional Socialista, decorrente da proposta da alemã Clara Zetkin.

Clara Zetkin, http://sociologosplebeyos.com/2012/07/09/hace-155-anos-nacia-clara-zetkin-la-gran-organizadora-de-las-mujeres-obreras-y-socialistas/

 

E o incêndio que tanto é designado como fundador do Dia Internacional da Mulher ocorreu seis dias depois, no dia 25 de março, portanto. Foi considerado o pior dos incêndios de Nova York até os atentados do dia 11 de setembro, que nunca foi considerado o Dia das Mulheres. O ano de 1975 foi o Internacional da Mulher e as Nações Unidas resolveram celebrar o 8 de março como o dia Internacional das Mulheres e em 1977, a Assembléia Geral proclamou o dia para o Direito das Mulheres e Paz Internacional no qual o Secretário Geral das Nações Unidas pronuncia-se, no 8 de março. O lema desse ano foi “Uma promessa é uma promessa: este é o momento de agir para acabar com a violência contra as mulheres”.

Falando no 11 de setembro, não deixa de ser surpreendente a história da atriz Gwyneth Paltrow que encontrou-se com Lara Lundstrom num cruzamento em que essa quase foi atropelada por aquela, momento no qual as duas se entreolharam com tempo e modo suficientes para que, numa reação em cadeia, Lara perdesse o trem que lhe levaria ao World Trade Center, antes das 8h:46min, momento no qual o primeiro avião se arrebentava no prédio. Dez anos depois, Lara mandou uma carta a Gwyneth, contando como foi significativa aquela pausa…curiosamente, Gwyneth voltava da aula de Yoga. Duas mulheres conseguem contar uma história bonita sobre o dia 11 de setembro. Isso faz parte da ontologia feminina.

Sendo assim, mesmo que eu ache que todos os dias são de todas as pessoas, sei também que as desgraceiras de nossa história humana, como as situações em que se geraram os protestos das mulheres, devem também ser compartilhadas, dosadas e modificadas, resgatando, para tanto, a história das coisas, a vida nas histórias e as histórias de vida. E, sendo assim ainda, que comemoremos sim um Dia Internacional da Mulher, mas também acabemos cotidianamente com os microfascismos que atenta contra a liberdade, de todos nós. Sendo assim, finalmente, que esse personagem seja mulher, não somente pelo dia 08 nem somente pelo mês de março, mas para ressaltar a modificação que a história da Psicologia vem sofrendo, reposicionando o lugar da mulher nessa história. E se reposicionamentos históricos ocorrem é devido à limitação das formas hegemônicas de se olhar para o processo social; os discursos devem sempre mudar, pois as relações que fazemos intergeracionalmente vão mutando, por análise combinatória, as posições sociais e a dinâmica de poder ao longo da história. Mutante mudando.

Os discursos caducam, voltam, renascem, crescem, reproduzem-se e morrem. Mas, se sempre foi verdade que no mundo que fazemos coletivamente precisa ser mais belo e justo, sem as mulheres esse mundo definitivamente não é possível. Pelo contrário, o meio em que vivemos mostra um homem que preserva mal…morre e mata em filas, nas ruas, assassinados (por nós mesmos), queimados, bombanucleados, escravizados, suicidas, desesperados, depressivos, desafetados, acidentados e esfomeados….a nossa vantagem evolutiva, não é sermos inteligentes, mas, antes, muitos…o descarte não oferece risco para a nossa espécie…estamos preocupados em crescer e não em nascer e se há, nesse mundo, um ser que saiba realmente o que é um nascimento esse ser é a mulher.

Se falarmos no nascimento da Psicologia, por nascimento ser, necessariamente envolve uma mulher, talvez chamada Maria, talvez Maria chamada. Isso nos leva a personagens como:

 

Mary Whiton Calkins (1863 – 1930), http://www.s9.com/Biography/Calkins-Mary-Whiton

 

Mary Calkins estudou na Universidade de Harvard. Em sua época, mulheres não podiam estudar nas universidades e Mary Calkins foi convidada por Willian James, famoso na história da Psicologia e por seu livro Princípios de Psicologia (1890). Calkins nunca foi considerada estudante de Harvard…para a burocracia da universidade ela era nomeada “convidada”. Posteriormente recebeu reconhecimento de Phd por outra universidade, mas negou o pedido, uma vez que achava justo receber da universidade em que estudara. Calkins morreu em 1930, de câncer, sem o seu título acadêmico.

Escreveu uma centena de artigos de psicologia e filosofia. Foi a primeira mulher a assumir a cadeira de presidência da Associação de Psicologia Americana e da Associação de Filosofia Americana. Estudou a memória e criou a base para o a psicologia cognitivista. Estudou, quando cursou o doutorado em Harvard, a associação de ideias, desenvolvendo o que, futuramente, foi chamado de “aprendizagem por associação de pares” e da importância desse método no desenvolvimento da memória.

Desenvolveu estudos em torno do conceito de self, compreendendo o homem a partir de sua vida social. Questionou e desconstruiu a concepção de que a mulher possui inteligência inferior à do homem.

A primeira mulher a ter reconhecido o título de Phd foi  Margaret Floy Washburn.



http://www.uc.edu/News/NR.aspx?ID=9334

 

Washburn estudou no laboratório de Edward Bradford Titchener (1867-1927), o britânico que foi para os Estados Unidos, desenvolver a Psicologia estudada na Alemanha. Estudou os efeitos das imagens visuais sobre a sensibilidade tátil, em 1894. Foi um dos poucos trabalhos não desenvolvidos em Leipzig que conseguiu publicação na revista “Estudos Filosóficos” desenvolvida por Wundt.

Tanto Mary Calkins quanto Margaret ousaram em seu tempo e com seus gestos produziram fissuras importantes na história do saber humano e na gestão coletiva. Ambas nunca se casaram.

O sítio http://mulher.pol.org.br/ apresenta, de forma singular, a história das muitas mulheres que compõem a psicologia brasileira. Iniciativa revolucionária, num território como o Brasil em que a Psicologia ainda não deu cria ao seu próprio paradigma uma vez que nossa história pouco tem sido contada. Está para nascer.

 

Referências:

BROZEK, Josef e MASSIMI, Marina. Historiografia da Psicologia Moderna – A versão brasileira. Edições Loyola, São Paulo, Brasil, 1998.

GOODWIN, C. James. História da Psicologia Moderna; tradução Marta Ross; – 4° ed. – São Paulo: Cultrix, 2010.